Tag: Educação
Todo dia Oito. Todo dia oito, uma história. Todo dia oito, uma mulher
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No quarto episódio do podcast, Luciana, a feminista do século 19. Achou que o feminismo tinha sido inventado no Twitter? Pois Luciana de Abreu já defendia a equidade de gênero nos idos de 1870, em Porto Alegre. O direito ao estudo e ao trabalho. Ela defendia a independência das mulheres em tribunas e na prática.
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QUEM FAZ
Produção: Vós
Pesquisa: Flávia Cunha
Roteiro: Geórgia Santos e Flávia Cunha
Direção Artística: Raquel Grabauska
Apresentação e edição: Geórgia Santos
Locução:
Raquel Grabauska como Luciana de Abreu,
Andrea Almeida como a mãe de Luciana;
Participação especial de Mirna Spritzer, Juçara Gaspar e Boina Galli
Trilha sonora original: Gustavo Finkler
BSV Especial Coronavírus #44 A luta por sobrevivência do Brasil que anda de moto
Estamos há quase um ano vivendo a pandemia do novo coronavírus no Brasil e mais, muito mais, de 200 mil pessoas já perderam a vida em função da Covid-19. E como estamos chegando perto dessa marca de um ano, nós resolvemos mostrar, com depoimentos e entrevistas, como essa pandemia afetou as pessoas de forma diferente. Em meio a mobilização de olhar, de forma justa, para os profissionais de saúde, fragilizados e agredidos publicamente, outros trabalhadores passaram ao largo das atenções midiáticas e sociais. E é deles que vamos falar nos próximos quatro episódios.
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Neste semana, falamos sobre a luta por sobrevivência do Brasil que anda de moto. Vamos falar dos motofretistas e entregadores de delivery
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Para diminuir o contato entre as pessoas, em diversas cidades, como Porto Alegre e São Paulo, apenas atividades essenciais foram mantidas funcionando durante alguns meses de 2020. Shoppings, comércio de rua, escolas, universidades, tudo fechado. Em casa, muitos recorreram ao delivery e compras online.
Comida, pacotes, presentes, eletrônicos, medicamentos. O Brasil andou de moto e bicicleta durante alguns meses de 2020. Mas ainda que na maioria das cidades do Brasil o trânsito tenha se reduzido, a situação para os motofretistas e entregadores não mudou para melhor.
Na Palavra da Salvação, Flávia Cunha traz a coluna Breque dos apps: o espírito da revolta.
Participam Geórgia Santos, Flávia Cunha e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
Na semana passada, escrevi meu ponto de vista a respeito da importância da literatura infantil antirracista. Mas o tema é amplo e as reflexões a respeito do assunto merece mais olhares. Por isso, convidei para ocupar a coluna de hoje Gislene Sapata Rodrigues, bibliotecária, contadora de história e especialista em Teoria e Prática da Formação do Leitor. Gislene, que vivencia em seu dia a dia o encantamento das crianças com a literatura, traça um necessário panorama sobre a presença de escritores negros no Brasil, além de apontar o impacto de livros antirracistas para humanizar o olhar infantil e evitar que considerem vidas negras descartáveis. Boa leitura!
Histórias pretas importam: o papel da literatura infantil para a construção de uma sociedade antirracista
A literatura para a infância é vasta e diversa em autoria, obras e temas. Engana-se quem vê apenas caráter pedagógico e utilitário da produção literária para a infância e quem acredita que a literatura infantil é apenas fruição, passatempo e mero entretenimento (apesar de também sê-lo). A literatura é arte das palavras e, embora não pretenda essencialmente, é capaz de nos mobilizar, de nos convocar a ampliar e modificar o nosso olhar sobre nós mesmos, os outros e o mundo.
Antonio Cândido, em Direito à literatura, descreve a literatura como direito humano e demonstra o papel humanizador que a literatura tem em nossa vida. Já Nancy Huston nos descreve, seres humanos, como espécie fabuladora, que necessita da fabulação e das histórias para existir. Da mesma forma, em estudo recente, o psicólogo Keith Oatley defende que ler literatura nos torna mais empáticos, capazes de vivenciar outras vidas, dado que a habilidade de colocar em palavras o que a vida não comporta é matéria da arte e, como não poderia ser diferente, da literatura também.
Contudo, surge a pergunta: quantos escritores negros você tem na biblioteca de casa, na biblioteca que você frequenta?
Num país em que 54% da população é autodeclarada negra e parda, a produção editorial de escritores negros e de escritoras negras corresponde, segundo estudo da professora Regina Dalcastagnè (UnB), a apenas 7% dos livros publicados no Brasil. A participação tímida dos autores negros e das autoras negras no mercado editorial brasileiro contrasta com a população carcerária no Brasil 70% negra. E aqui reside o perigo de uma história única, apresentado por Chimamanda Ngozi em uma palestra de 2009 no programa TED Talk, cujo problema consiste em ler sempre a história contada pelos brancos. Desse modo, a população negra não está nas estantes das bibliotecas, mas apenas na mira do fuzil do Estado.
A construção de novas narrativas em um país tão desigual socialmente e economicamente está lá nas paredes da escola pública sucateada. O acesso à educação pública e de qualidade será a virada de chave. A caminhada é longa, e fica registrada aqui a solidariedade a tantos profissionais que estão remando contra a maré e que, no contexto da pandemia, não têm o menor horizonte de como dar continuidade ao ano letivo. Mas uma solução para diversos obstáculos está na escola, na biblioteca da escola, cuja existência é obrigatória nas escolas da rede pública e privada, conforme a Lei 12.244/2010. É na biblioteca, na escola, que podemos efetivar a educação antirracista. Trabalhos como aquele da educadora Larisse Moraes com o coletivo Afroativos nos dão alento e esperança, mostrando que é, sim, possível que existam novas narrativas. O lançamento da obra A gente que lute no ano passado, escrita por estudantes oriundos da escola pública sob a coordenação de professoras como a professora Ana Paula Cecato, evidenciam que é possível (e necessário) usar a leitura e a escrita como arma para lutar contra o racismo.
E é nas escolas que a leitura de livros de temáticas afro-brasileiras e africanas, com a leitura de autores negros, é um passo importante na busca de uma educação antirracista, pois se os estudantes têm acesso a obras escritas por autores negros, como Conceição Evaristo, Kiusam de Oliveira, Ryane Leão, Bell Hooks, Jarid Arraes, estamos subvertendo a ordem e o cânone, estamos avançando em relação a narrativas únicas sobre os negros no Brasil e no mundo, reconhecendo, assim, a intelectualidade negra.
Para as crianças negras, a busca da ancestralidade e o fato de se sentirem representadas nas páginas de um livro e nas estantes de uma biblioteca dão a todas uma oportunidade de reconhecerem-se e de construírem sua autoestima.
Reconhecer outras narrativas além das impostas pela mídia e pelo cânone e do uníssono da escravidão presente nos livros de história, dessa forma, se configura como muito importante, dado que o racismo estrutural no Brasil acaba por silenciar e apagar o corpo negro e suas feições. Falar com as crianças negras sobre racismo também lhes proporciona ferramentas para o enfrentamento de algo sutil e danoso a sua psiquê, à sua autoimagem e aos seus sonhos.
Para as crianças não-negras e brancas, o contato com as histórias, os personagens e as autorias negras permite que desenvolvam relações de respeito e afeto, impedindo que essas tornem os corpos, as subjetividades e as vidas negras descartáveis. A partir do momento em que conseguimos engajar todos na questão racial, inclusive percebendo seus lugares de fala e de cala, estamos caminhando para um olhar mais crítico e responsável em relação a um problema que ceifa tantas vidas.
A professora Eliane Debus (2018), da UFSC, em sua pesquisa sobre temática africana e afro-brasileira na literatura infantil, organiza essa produção literária em três categorias: literatura que tematiza a cultura africana e afro-brasileira; literatura afro-brasileira escrita por escritores negros e escritoras negras; e literaturas africanas, escrita pelos autores do continente africano que cada vez mais têm sido traduzidos, como, Ondjaki, Chimanda Ngozi e Noémia de Sousa.
É importante também observar como os personagens negros aparecem retratados.
São desumanizados? Estão em posição de subordinação aos personagens brancos? Essas são questões importantes para analisarmos se pensarmos que, de alguma forma, a escrita de literatura feita pela imensa maioria de homens brancos acaba por reproduzir o status quo. E nem me venham com Lobato.
Gostaria de compartilhar algumas produções potentes que devem fazer parte da sua biblioteca pessoal e das crianças da sua vida:
- Um mundo no black power de Tayó. Kiusam de Oliveria. Ed. Peirópolis
- Coleção Black Power. Editora Mostarda.
- Quando a escrava Esperança Garcia escreveu uma carta, Sônia Rosa. Pallas Editora.
- A Dona da Festa. Elisa Lucinda. Galerinha.
- O Caderno de Rimas de João. Lázaro Ramos. Pallas Editora.
- Amoras. Emicida. Companhia das Letrinhas.
- Heroínas Negras Brasileiras em 15 cordéis, Jarid Arraes. Ed. Pólen.
- Meu crespo é de rainha. Bell Hooks, Editora Boitatá.
- O Ônibus de Rosa. Fabrizio Silei. Editora SM.
- O Cabelo de Lelê. Valéria Belém. Ibep. JR.
- Mandela: o africano de todas as cores. Alain Serres. Editora Pequena Zahar.
- O Pequeno Príncipe Preto. Rodrigo França. Editora Nova Fronteira.
- A Princesa e a Ervilha, Rachel Isadora. Editora Farol.
- A Cor de Coraline. Alexandre Rampazo. Ed. Rocco.
- Minha mãe é negra sim. Patrícia de Santana. Editora Mazza.
Além disso, gostaria de fazer um convite para vocês buscarem as ótimas editoras que se dedicam a disseminar obras de escritores negros e temáticas afro centradas em suas publicações:
Educar para a diversidade em um país racista não é fácil, mas é urgente.
Imagem capa: Suad Kamardeen/Unsplash
Imagem texto: Reprodução/Internet
Não foi nada fácil fazer uma retrospectiva de 2019. De todo modo, todos nós, do Vós, concordamos que o ano foi marcado pelo desgoverno de Jair Bolsonaro. Então selecionamos alguns temas em que esse desgoverno se destacou. Começamos com as questões ambientais, em especial os incêndios na amazônia e vazamento de óleo – sem esquecermos, é claro, das declarações estapafúrdias do presidente.
Outro tema em destaque é a corrupção. Porque apesar de o ministro Sérgio Moroafirmar que não houve corrupção em 2019, encerramos o ano com mais notícias das rachadinhas do clã Bolsonaro – sem falar no escândalo da Vazajato.
Não podemos esquecer que 2019 também foi o ano em que a educação foi acossada, universidades federais atacadas e Paulo Freire, sim, Paulo Freire, demonizado. A desigualdade aumentou e o ministro da economia, Paulo Guedes, não parece se incomodar com isso. Sem contar os constantes ataques às minorias, que foram normalizados – senão institucionalizados.
Para acompanhar as discussões dos jornalistas Geórgia Santos, Tércio Saccol e Igor Natusch, selecionamos algumas das entrevistas que fizemos ao longo de 2019 para o Bendita Sois Vós. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
Hoje foi o primeiro dia de aula do meu filho mais novo. Ele tem cinco anos. Até agora sempre ficou perto de mim.
Vantagens e desvantagens de se ter uma escola de arte …
A escolha da escola para o filho mais velho foi árdua. Sou a mãe chata, o terror de qualquer diretora. Eu quero saber de tudo, reclamo dos pais que estacionem em fila dupla, converso sobre as coisas com as quais não concordo e sobre as que eu concordo também.
Já até mudei ele de escola, até que cheguei em um lugar onde ele foi muito bem recebido. Mais que isso, respeitado. Como ser humano. Como criança. Com um ser que pensa e sente. Agora é a vez de o segundo ir. Mesma escola, claro.
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Essa escola trabalha com multi-idade. As turmas se agrupam de 3 em 3 anos. Então, primeiro, segundo e terceiro ano, juntos. Meus filhos serão colegas
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Terão dois dias de vivencia nessa semana. O menor estava temeroso. Como iria para escola se ele não sabe matemática? O maior, aclamando o irmão. “Se acontecer qualquer coisa, eu te protejo, mano. ” O menor desistindo de ir. O maior achando chato e dizendo que não quer mais que estudem juntos.
Um pai e uma mãe com olhos arregalados. E lá foram eles. Chorei. É claro que chorei. Chorei por sentir tanto amor. Por confiar. Eles cresceram. Eu também cresci hoje. Agradeço a este espaço que permite que eu seja uma mãe chata. E que permite aos meus filhos cresceram no seu tempo.
Na foto: Benjamin e Tom, no primeiro dia de aula do menor
No episódio 40 do podcast, os jornalistas do Bendita Sois Vós discutem o retrocesso com relação aos direitos das pessoas com deficiência que está em curso no Brasil. O novo marco regulatório da educação especial propõe que estudantes com deficiência estudem em escolas e classes especiais.
Além disso, projeto de lei encaminhado pelo governo de Jair Bolsonaro ao Congresso Nacional pretende modificar a atual política afirmativa para o acesso de pessoas com deficiência ao emprego. Segundo o texto do PL 6.195/2019, as empresas poderão substituir a contratação pelo pagamento de um valor equivalente a dois salários mínimos mensais.
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Hoje, as pessoas com deficiência no Brasil somam 14 milhões, e elas estão prestes a perder seus direitos
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Para compreender o tamanho do retrocesso, o convidado da semana é o professor Felipe Mianes, doutor em educação e especialista em educação inclusiva. Participam os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha e Igor Natusch. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
No Bendita Sois Vós desta semana, os jornalistas Geórgia Santos, Igor Natusch e Tércio Saccol falam sobre os seis meses do governo de Jair Bolsonaro. Um período bastante turbulento e de muita disputa política. Após três meses, apenas, Bolsonaro já tinha a pior avaliação entre presidentes de primeiro mandato da história do período democrático.
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Foram seis meses de muitas mudanças no primeiro escalão, decretos e mais decretos, declarações polêmicas e gafes múltiplas
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Um governo marcado pela proximidade inegável com milicianos e que tem à frente um presidente com filho senador investigado. Sem falar no desmonte da educação; o ministro Sérgio Moro sob pressão da Vazajato e com o pacote anticrime congelado; e um Congresso rebelde.
Para discutir a performance do governo nas mais diversas áreas, o podcast traz os depoimentos do cientista político Augusto de Oliveira; do especialista em segurança pública Marcos Rolim; da professora Jananína Maudonett, especialista em educação e movimentos sociais; e ainda dos jornalistas Airan Albino, ativista do movimento negro; e Samir Oliveira, ativista da causa LGBT.
No Sobre Nós, inspirados na discussão sobre a Reforma da Previdência, um dos temas mais importante do planalto, Raquel Grabauska e Angelo Primon trazem A Velhice de Simone de Beauvoir e O Velho e o Mar de Ernest Hemingway.
Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
Peço licença aos meus leitores para fazer uma homenagem muito pessoal ao meu pai. Diferente do que fiz nesse texto, em que havia uma certa pretensão ao ficcional, dessa vez foi uma singela carta ao Além, originalmente publicada no meu perfil pessoal no Facebook. Uma forma de lidar com o luto mas também de alertar meus amigos nessa rede social sobre como meu pai, mesmo sendo de direita, era uma pessoa a favor das Artes e das Ciências Humanas. Nesses tristes tempos em que vivemos, penso que talvez algumas pessoas mais conservadoras possam fazer reflexões, a partir desses relatos, sobre como o atual governo está tendo atitudes descabidas e absurdas.
Pai,
hoje seria teu aniversário e eu fico aqui me perguntando como tu estaria com 73 anos se ainda estivesse nesse plano. Sabe, pai, é difícil pra pessoas como nós, sem fé, lidar com a morte. Acho que pra ti também era, tu só prefiria não conversar a respeito.
Mas deixa eu te contar, véinho, que desde da tua partida, lá em 2015, eu resolvi escrever sobre umas lembranças aqui no Facebook. Tem gente que já me comentou que acha isso legal, então vou aproveitar o teu aniversário pra dividir com outras pessoas mais uma história nossa.
Mas primeiro, pai, tenho que te comentar que infelizmente a política brasileira tá de mal a pior. Mesmo tu, antipetista, ia concordar comigo que é um vergonha um governo ser contra professores universitários. Tu acredita, pai, que o atual presidente do Brasil declarou que os cursos de humanas não servem pra nada?
Daí eu lembrei de uma história tua pra contar pra quem nos lê aqui. De quando teus amigos engenheiros ficavam perplexos quando te viam lendo um livro de literatura ou tu comentava a respeito de alguma obra literária.
Jamais vou esquecer do teu tom, entre o irônico e o espantado, ao concluir o relato, dizendo: “Flá, me perguntaram pra que serve ler Umberto Eco ou Saramago. Acredita?”
O que esses teus amigos não sabiam, a exemplo do atual presidente, é que conhecimento não se coloca na balança pra ver o que vale mais.
E é por isso que eu sempre tive orgulho de ti, um engenheiro tão respeitoso com as Artes e com os artistas.
No dia do teu aniversário, acho que a maior homenagem que posso fazer é contar o quanto aprendi contigo sobre a área de Humanas mesmo tu tendo uma formação na área de Exatas. O quanto falamos sobre Hemingway. O quanto foi legal participar contigo de um clube de leitura sobre Fitzgerald. E quantos livros trocamos de presente ao longo da nossa convivência.
Por isso, pai, eu sigo por aqui lutando com as armas que tu me deu: estudo, comprometimento profissional e amor pelo que se faz. Transformei tudo isso em uma pequena empresa que leva teu sobrenome. Espero que tu de alguma forma saiba que tudo isso é pra ti.
Um beijo com saudade da tua filha.”
Imagem: Escada do Conhecimento, Universidade de Balamand (Líbano)/Reprodução Internet
Fiquei durante cerca de 20 minutos no topo do Viaduto Otávio Rocha, nesta quarta-feira, observando os manifestantes de Porto Alegre que passavam logo baixo, de um ponto a outro da avenida Borges de Medeiros. Em nenhum momento consegui enxergar o final da massa humana, seja de um lado, seja do outro. Não sou bom nesse tipo de conta e não vou me arriscar, mas era muita gente. Mesmo. Bem mais do que eu imaginava que seria. Muitos universitários, sim, e muita gente ainda mais jovem, que quer ter a chance de ser universitário ou universitária um dia.
Ouvi buzinas e vi pessoas aplaudindo das janelas. Ouvi o motorista do ônibus que me levou até o Centro de Porto Alegre comentando com passageiros sobre o protesto, demonstrando concordância, explicando os cortes na educação com bastante propriedade. Vi outro cobrador, no circular que me levou ao trabalho no começo da tarde, usando o celular para registrar, solidário e sorridente, professoras que se dirigiam ao abraço simbólico em um instituto federal. Não vi um xingamento sequer – seja contra vagabundos, contra petralhas ou qualquer outra coisa.
Segundo o Nexo, manifestações em defesa da educação aconteceram em cerca de 200 cidades brasileiras.
Os atos de 15 de maio foram um grande sucesso. São indicativo claro de que algo está acontecendo. E, seja lá o que for, não é nada bom para Jair Bolsonaro.
A tentativa de listar brevemente os problemas do governo é um esforço condenado ao fracasso, pois é impossível ser breve com tanta coisa a mencionar. No curto espaço da metade de uma semana, vimos a derrota brutal do governo na convocação do ministro Amadeu Weintraub ao Congresso, observamos líderes partidários outrora favoráveis fumegando de raiva após serem chamados publicamente de mentirosos, vimos o presidente da Câmara dar repetidos sinais de que está lavando as mãos. A reforma da previdência, praticamente um sine qua non para a viabilidade do governo, parece uma miragem inalcancável. Os investimentos fogem do país, o desemprego cresce, os índices sociais são cada vez piores. Até a visitinha improvisada ao Texas rende constrangimentos à entourage presidencial, com um ex-presidente norte-americano admitindo que recebeu Bolsonaro em sua casa no improviso, apenas para não cometer uma indelicadeza com um chefe de Estado.
Jair Bolsonaro está desnorteado, sem trunfos na mão, carente de amigos, ausente de aliados. E tudo isso sem citar a quebra de sigilo bancário de Flávio Bolsonaro, que coloca a família inteira diante de perspectivas funestas na esfera criminal.
A posse, vale lembrar, foi há menos de cinco meses.
Penso que não há sentido em procurar grandes estratégias onde nada indica que elas existam. O que estamos vivenciando, no Brasil, não é um esforço coordenado e metódico de construir um regime duradouro: o que se vê é um plano semi-articulado de autoritarismo de direita, à Viktor Orban / Recep Erdogan, incapaz de manter sua própria coesão interna e ruindo muito antes de conseguir consolidar seus alicerces. Aliás, se há algo que esses regimes nos ensinam, é que o autocrata moderno não se faz com explosões espalhafatosas, mas contaminando e sequestrando a legalidade. É trabalho para populistas, sim, mas não para tolos: requer método, paciência e manutenção do apoio popular.
Dos três itens, Bolsonaro só tem – ainda – o último.
E aí está a tragédia que 15 de maio simboliza para o presidente: é um sinal claro de que essa popularidade está se esvaindo.
Brigar com as universidades foi um desastre tático. Graças a esse confronto inútil, rancoroso e impulsivo, as ruas trocaram de sinal. Agora, o barulho que ecoa delas é contra Bolsonaro.
Será preciso muito mais que sinais de arminha com a mão e hashtags fajutas no Twitter para reverter esse quadro.
Foto: Carol Ferraz / Sul21

