Raquel Grabauska

Pílula de força para uma mãe

Raquel Grabauska
16 de abril de 2023

Tenho me sentido frágil. Por vários motivos, tenho me sentido muito frágil. Mas ontem eu me senti forte e fazia muito tempo que não me sentia assim.

Pois acontece que os guris – Benjamin e o Tom, meus filhos de quase 12 e nove anos respectivamente – tiveram aula o dia todo e os dois estavam muito cansados. O menor me contou que o dia tinha sido ruim, e normalmente gosta dos dias. O ápice da ruindade do dia foi quando o melhor amigo, sem querer, deu uma cotovelada no rosto dele. E o pior, “ele não sabe nem pedir desculpas direito”, me disse.

A coisa já não estava fácil quando a gata se esgueirou para trás dele e, como naqueles dias em que acordamos com o pé esquerdo, o pé esquerdo dele pisou na gata acidentalmente e ela reagiu instintivamente retribuindo a pisada no pé dele. Nem marcou o pé, mas a alma, meus amigos, essa doeu. Ele pediu beijo para curar. Ganhou vários. Curamos.

Depois, os três assistimos a um vídeo de uma bobagem que eles estão vendo só para debochar. Quando me contaram o que era, expliquei que achava perda de tempo ver algo que consideram idiota só pra gozação. Mas o maior me disse que aquilo é tão ruim que chega a ficar bom e eu acabei vendo três episódios com eles e agora estou louca para que chegue o fim do dia de hoje para repetirmos o programa. Riso frouxo cura a alma também. Curamos.

O mais velho estava atirado no sofá. Em nove dias, vira oficialmente adolescente – torçam por mim! -, ainda assim, me disse: tu pode ler uma história pra gente? Eu ri. Quase 12 e ama ler. O de nove correu, acendeu a luz e escolheu um livro: A Menina do Cabelo Vermelho, de Lolita Goldschmidt. Ele comparou com o próprio cabelo e se divertiu. Adormeceram me ouvindo. Que super-poder, esse.

Em tempos de ameaças e atentados em escolas, de bueiros abertos para os fascistas saírem, de ódio disseminado por Fake News, uma boa história para ninar os filhos é uma pílula de sanidade e força para qualquer mãe.

Imagem de capa: Pixabay / Montagem com ilustração de Benjamin Grabauska

Raquel Grabauska

Quando o filho menor cresce

Raquel Grabauska
14 de dezembro de 2019
Hoje foi o primeiro dia de aula do meu filho mais novo. Ele tem cinco anos. Até agora sempre ficou perto de mim.
Vantagens e desvantagens de se ter uma escola de arte …

 

A escolha da escola para o filho mais velho foi árdua. Sou a mãe chata, o terror de qualquer diretora. Eu quero saber de tudo, reclamo dos pais que estacionem em fila dupla, converso sobre as coisas com as quais não concordo e sobre as que eu concordo também.

Já até mudei ele de escola, até que cheguei em um lugar onde ele foi muito bem recebido. Mais que isso, respeitado. Como ser humano. Como criança. Com um ser que pensa e sente. Agora é a vez de o segundo ir. Mesma escola, claro.

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Essa escola trabalha com multi-idade. As turmas se agrupam de 3 em 3 anos. Então, primeiro, segundo e terceiro ano, juntos. Meus filhos serão colegas
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Terão dois dias de vivencia nessa semana. O menor estava temeroso. Como iria para escola se ele não sabe matemática? O maior, aclamando o irmão. “Se acontecer qualquer coisa, eu te protejo, mano. ” O menor desistindo de ir. O maior achando chato e dizendo que não quer mais que estudem juntos.

Um pai e uma mãe com olhos arregalados. E lá foram eles. Chorei. É claro que chorei. Chorei por sentir tanto amor. Por confiar. Eles cresceram. Eu também cresci hoje. Agradeço a este espaço que permite que eu seja uma mãe chata. E que permite aos meus filhos cresceram no seu tempo.

Na foto: Benjamin e Tom, no primeiro dia de aula do menor

Raquel Grabauska

Chantagem – quem nunca?

Raquel Grabauska
30 de novembro de 2018

Eu nunca gostei de condicionar as coisas aqui em casa. Tipo: se não te comportar, não ganha… Pra mim sempre foi crucial combinar, explicar, dialogar. Como é lindo o mundo das mães na teoria. E quando tu tá atrasada pra uma reunião e o filho não consegue decidir qual brinquedo ele vai levar pra passear? E quando tá tudo pronto e ele toma um gole de água e um micro pingo na roupa é motivo de choro, escândalo, olhar sinistro dos vizinhos que pensam em te denunciar pro conselho tutelar? E quando tu conseguiu deixar tudo bem e do nada fica tudo ruim? E? E? E?

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Nada como uma boa psicologia do desespero. Daí a gente faz o que é possível. Conversa, negocia, tenta, tenta, tenta. E apela.
Bah, apelar é necessário. Quem nunca?
Se atirar a primeira pedra, é certo que só o fez por não ter filho

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Nessas horas em que já tentamos até o impossível, pensamos em mil soluções. Uma delas, claro, é a chantagem. Evita-se ao máximo. Mas tem vezes…

Essa semana meu filho mais velho queria fazer algo, nem lembro mais o que era. Eu não permiti. Ele ficou chateado. Mas mais chateado ficou o irmão mais novo, o defensor do mano. Eles insistiram. Eu mantive a negativa. Depois de argumentos, contra-argumentos, réplica, tréplica e o escambau, o mais novo diz:

(antes disso é importante citar que dia desses ele achou um creme meu e com a desculpa de me fazer massagem, desfez-se da metade do conteúdo)

– Mamãe, tu quer um creme novo? Pensa bem, mamãe, tu pode ganhar um creme novo.
– Porque, filho?
– Deixa o mano fazer o que ele quer.
– Não dá, filho.
– Mamãe, tu que sabe… Tu que decide se quer o creme ou não…

Ai do discípulo que não supere o mestre.

Raquel Grabauska

Meu filho (quase) fugiu de casa

Raquel Grabauska
23 de novembro de 2018

Meu filho mais novo tentou ir embora de casa pela primeira vez

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Estavam os dois irmãos mega brincando. Brincando de um jeito comovente. Até tentei entrar na brincadeira e me deram uma excluída. Fiquei na minha, deixa eles, é o espaço deles, blá,blá, blá. Mãe tentando ser madura. O mais velho cansou da brincadeira. O mais novo continuou. O mais velho pediu para parar. O mais novo continuou. Um pedia para parar, o outro continuava. E assim foi por um bom tempo.

O mais velho se irritou. Muito. Foi dar um chute no irmão. Não um chute qualquer. Eu vi que a mira era no rosto. Peguei o pé no ar.  Proferi um sermão da montanha. Os dois silenciaram. Depois do discurso voltei a respirar. Me dei conta do risco que havíamos corrido. Passou, pronto, passou…

Quando o mundo parou de girar, olhei para as duas crianças. O mais novo com cara de susto e o mais velho com cara de mais susto. Imaginei a minha cara de susto também. Percebemos os três que estava tudo bem. O mais novo começou uma manha. Expliquei que o que o mano tinha feito não era aceitável, mas que ele deveria ter parado quando foi pedido. Que ele deveria ter ouvido o não. Respeito.

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Nisso, vi que ele foi para perto da porta. Calçou os crocs, me olhou profundamente e girou a maçaneta

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Perguntei para onde ele ia e ele disse que precisava ir embora até eu querer ser uma boa mãe. O mais velho pediu pra ele não ir. Eu aproveitei a deixa e fiz aquela chantagem básica: "Ué, tu queria chutar o mano.” Horrível, eu sei. O mais novo assistindo a nossa conversa, com aquela cara. Daí disse: "O mano que escolhe se eu fico ou vou!"

Resumindo, os dois se abraçaram, foram juntos brincar  de novo. E eu fiquei assistindo.

Meu filho mais novo tentou ir embora de casa pela primeira vez

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Estavam os dois irmãos mega brincando. Brincando de um jeito comovente. Até tentei entrar na brincadeira e me deram uma excluída. Fiquei na minha, deixa eles, é o espaço deles, blá,blá, blá. Mãe tentando ser madura. O mais velho cansou da brincadeira. O mais novo continuou. O mais velho pediu para parar. O mais novo continuou. Um pedia para parar, o outro continuava. E assim foi por um bom tempo.

O mais velho se irritou. Muito. Foi dar um chute no irmão. Não um chute qualquer. Eu vi que a mira era no rosto. Peguei o pé no ar.  Proferi um sermão da montanha. Os dois silenciaram. Depois do discurso voltei a respirar. Me dei conta do risco que havíamos corrido. Passou, pronto, passou…

Quando o mundo parou de girar, olhei para as duas crianças. O mais novo com cara de susto e o mais velho com cara de mais susto. Imaginei a minha cara de susto também. Percebemos os três que estava tudo bem. O mais novo começou uma manha. Expliquei que o que o mano tinha feito não era aceitável, mas que ele deveria ter parado quando foi pedido. Que ele deveria ter ouvido o não. Respeito.

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Nisso, vi que ele foi para perto da porta. Calçou os crocs, me olhou profundamente e girou a maçaneta

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Perguntei para onde ele ia e ele disse que precisava ir embora até eu querer ser uma boa mãe. O mais velho pediu pra ele não ir. Eu aproveitei a deixa e fiz aquela chantagem básica: “Ué, tu queria chutar o mano.” Horrível, eu sei. O mais novo assistindo a nossa conversa, com aquela cara. Daí disse: “O mano que escolhe se eu fico ou vou!”

Resumindo, os dois se abraçaram, foram juntos brincar  de novo. E eu fiquei assistindo.

Raquel Grabauska

O monstro da fome

Raquel Grabauska
19 de outubro de 2018

Eu sempre tentei ser uma pessoa legal. Claro, tem vezes que a gente não consegue. Daí é a hora de ser legal com a gente, se perdoar, seguir em frente e tentar não cair no mesmo buraco outra vez. Quando temos filho, acerto e erro são, por vezes, desesperadores. A pressão que se cria é algo quase possível de entender ou sentir.

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Ver os filhos cometendo os teus mesmos erros, explicitando os teus próprios defeitos é um exercício difícil de amadurecimento, para todos

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Meu filho mais velho fica mega furioso quando está com fome. Normalmente ele é bastante calmo, mas vira uma fera, respondão, intratável, irracional. Igual a mim antes de ter ele. I-G-U-A-L! Hoje ele teve um mega ataque de fome: “vocês vão me matar de foooomeee!” E dizendo isso de verdade, sentindo de verdade. Eu sei. Eu era igual, igual, igual.  Quando deu a primeira garfada, o monstro desapareceu e ele voltou a sorrir e conversar normalmente.

Expliquei pra ele que era assim comigo também antes dele. Ele ficou surpreso: “como tu fez pra melhorar”. Eu ri e expliquei que quando nasce um filho, a gente esquece, muitas vezes, da gente, porque nosso instinto se volta todo para a cria. Expliquei que não entendia muito como, mas que tinha mudado. E ele: então sou teu milagre!

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Sim, meu milagre. Indescritível enxergar o meu humor nele. O sorriso. As caretas. Indescritível me enxergar nele. Isso sim é o verdadeiro milagre

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E depois de escrever, fui fazê-lo dormir. Do nada: mamãe, sabia que eu tenho uma marca de nascença que tu me deu? Eu já tava emocionada e perguntei: qual? Ele: a imaginação. A criatividade. Meu milagre. Meu milagre.

Raquel Grabauska

O Dia dos Pais e o dia em que me senti a pior mãe do mundo (e arredores)

Raquel Grabauska
10 de agosto de 2018

Estávamos fazendo uma viagem em família. Passeio gostoso, com tempo, caminhadas sem pressa ou destino. Parávamos para contemplar o que queríamos, crianças correndo atrás dos pombos. Éramos o próprio comercial de margarina (se é que existe comercial de margarina ao ar livre).

Só uma coisa, antes de continuar a história: sou o tipo de pessoa que perde o amigo, mas não perde a piada. Sempre. Já me meti em cada fria, cada constrangimento. Mas não aprendo. Quando vi, a bobagem já saiu.

Voltando ao passeio. Eu estava andando de noite com minha querida cunhada. Vimos uma faixa com um pitoresco desenho que era IGUAL ao meu marido. Na manhã seguinte, repetimos o caminho com a família toda e eu estava ansiosa pela piada. Quando chegamos, apontei para a faixa, bem feliz mostrando aos meus filhos.

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Olhem só, uma foto do papai!!!!!

Os dois me olharam incrédulos. O menor logo mudou o foco. O maior ficou paralisado: “esse não é o meu pai!!!!!” Eu achei estranha tamanha veemência. Ele tem bastante senso de humor. Fazemos muitas piadas juntos.  Olhei pra ele, olhei pra faixa, olhei pra ele e olhei pra faixa de novo. Olhei de novo e gritei!

A pintura da faixa tinha uma grande faca cravada nas costas
Eu só não tinha percebido esse pequeno detalhe

Depois disso, haja pombos, passeios e brincadeiras pra extrair a culpa das minhas costas! Um feliz Dia dos Pais para todos os pais. Especialmente para o pai dos meus filhos, que além de ter me dado os nossos dois gurizinhos, ainda segue comigo há 15 anos. Com todas as minhas piadinhas.

Raquel Grabauska

Viajar sem filhos

Raquel Grabauska
22 de junho de 2018

Sempre ouvi as pessoas falarem sobre como faz bem ficar longe pra sentir saudades. Tempo de qualidade, quantidade não importa. Respeito as opiniões. Não tem mais mãe ou menos mãe pra mim. Mesmo. Claro que me dá vontade de dar colo pra todos os bebês que ficam em creches ou em qualquer outro lugar que não seja um bom colo quando precisam.  Assim como sinto vontade de dar colo para muitas pessoas adultas que conheço.

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Quando meu primeiro filho nasceu, minha mãe e minha sogra me recomendaram muito sobre o perigo do colo dado aos bebês: estraga a criança

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Confesso que eu estava impressionada. Estava tendendo a não dar colo, não queria “estragar o guri”. Num dos primeiros choros, meu marido me olhou e sem titubear um segundo, deu colo pro filho. Eu falei sobre os comentários das nossas mães e ele: “não vou deixar meu filho chorando”. Chorei eu. Achei tão lindo e sábio. Ele não estava preocupado com a opinião de ninguém. Nem da mãe, nem da sogra, muito menos a minha. Ele só estava sendo pai. Criando vínculo. Foi bonito de ver. Foi bonito sentir o ruir daquela “sapiência da mulher” que tudo sabe sobre ter um filho. Ver ele agindo como um pai que ama e cuida, me ensinou muito sobre ser mãe.

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Fim de semana passado fiquei longe pela primeira vez do meu filho menor

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Quatro aninhos grudados. Não senti alívio. Tinha medo de sentir. Trabalhei, me diverti, dormi, mas foi bem bom voltar e ter a nossa rotina. Estamos todos crescendo. Logo vai ser normal ficarmos tempo longe. Por ora, quero aproveitar.

Raquel Grabauska

O poder da palavra

Raquel Grabauska
1 de junho de 2018

Quando eu era pequena, minha família passou por diversos apertos financeiros. Uma boneca legal, um passeio, alguma roupa ou uma sandália eram sonhos quase sempre inalcançáveis. Sempre perto do meu aniversário acontecia algo e a situação piorava. Parecia uma tradição, já.

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Quando eu tinha quase 7 anos, uma amiga prometeu uma festa linda. Eu podia escolher o que quisesse. Escolhi uma festa à fantasia.

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Todas as crianças ganhariam fantasias de bicho. Planejamos por dois meses. O pai dela era rico e daria de presente. Ela pediu segredo. Eles moravam numa casa tão simples como a minha, mas eram muito ricos e disfarçavam para não serem roubados. E assim fiquei, em segredo. Dois meses planejando cada detalhe, sorrindo sem perceber, flutuando no pensamento daquela felicidade que viria.
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Foi chegando perto do dia e nada acontecia. E eu entendendo. No dia seguinte veríamos a fantasia. No dia seguinte teria o … no dia seguinte.

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Chegou o dia da festa e nada aconteceu. Lembro da sensação de desmoronar. Não ter a festa foi ruim, é claro. Mas me desmanchou perceber que minha amiga não tinha falado a verdade. Lembro do assombro e tristeza da minha mãe quando contei pra ela. Lembro de perguntar: porque ela fez isso, mãe? E minha mãe, sem conseguir responder, deu aquele abraço gostoso que só a mãe da gente dá e faz sumir a dor.

Dia desses meu filho foi enganado por um colega numa troca de brinquedos. Foi muito injusto. Nós tentamos orientar, mas deixamos ele resolver a situação. Ele não quis nos ouvir, pois questionamos (para ele) o que o amigo estava fazendo. Ao perceber que não era como havia sido combinado, ruiu um tanto. E perguntou: porque ele fez isso, mamãe? Dei meu melhor abraço e falei. Dias depois meu filho mais novo estava contando algo que um amigo havia contado. O mais velho percebeu que não era verdade: mano, isso é mentira! Ao que o outro respondeu: nãoooo!! Meu amigo falou!

Palavra de amigo tem poder. Que a gente sempre possa crescer com os amigos que nos dizem palavras importantes.

Raquel Grabauska

Colo de mãe

Raquel Grabauska
29 de setembro de 2017

Semana passada tive uma dor forte e acabei parando na emergência de um hospital. Deu tudo certo, fui liberada.

Mas o que chorei…

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O primeiro choro foi pela dor. Pra sair de casa na hora de fazer os guris dormirem pra ir num hospital no feriado, não era pouca coisa. O segundo choro foi pensando neles, os filhos. Aquele medo de não ficar bem para estar com os filhos é uma sombra assustadora. O terceiro, bom, foram muitos mesmo.

Mas estava eu lá, quieta num canto, depois de fazer todos os exames e estar esperando acabarem a medicação na veia (dizer que é na veia é só pra perceberem o tempo que fiquei lá esperando o Ping-Ping das gotas). Chegou uma moça quase desmaiada, amparada pelos pais. Os dois apavorados. Muito apavorados. As enfermeiras pediram para um dos dois saírem. Saiu o pai.

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A filha pedia que a mãe apertasse sua barriga. Assim a dor aliviava

A mãe apertava a barriga e distribuía beijos

Ai, aqueles beijos…

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Vi a filha naquele sofrimento e pensei na dor dela. E na dor do menininho que tinha visto antes, chorando porque tinha o braço quebrado. Chorei disfarçadamente, pensando na dor dos filhos. Pensei naquela vontade que mãe tem de pegar a dor do filho pra si. Olhei pra mãe que beijava. Os olhos dela carregados de lágrimas. Elas não desciam. A mãe não podia chorar, tinha que ser forte pra ajudar a filha. Nesse instante ela envolveu a filha num abraço. Beijou de novo. Ai, aquele beijo…

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O choro disfarçado deu lugar a um choro solto. A dor misturou com a saudade do colo da minha mãe. Ela faleceu quando eu tinha 40 anos. Aproveitei muito. Ganhei colo até os 40

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E tudo que queria naquele momento era aquele colo. Aquele beijo. Aquele abraço. Fechei meus olhos pra chorar quietinha. Senti uma mão segurando a minha. Ao meu lado, na emergência, tinha um senhor muito debilitado. 86 anos, alzheimer. Estava sem se alimentar. A filha acompanhava o pai. Essa filha viu meu choro e foi ser minha mãe. Me deu abraço e beijo, fez passar meu choro.

Nunca vou conseguir descrever quão bonito foi. Quando acalmei, me contou que a filha tinha ido morar na Holanda. Faz dois dias que foi. Ela me viu como filha, eu a vi como mãe. Aliviou nossas dores.

Raquel Grabauska

Batmãe

Raquel Grabauska
19 de maio de 2017

Aos olhos dos filhos, me sinto muitas vezes uma heroína.

Tom com 3 anos: Mamãe, desenha o Thor?

Desenhei.

Ele ficou muito feliz e se entusiasmou: Mamãe, desenha um lobo?

 

 

Benjamin, 6 anos:

Mamãe, tu só sabe desenhar o Batman?!

(agora ficou evidente o motivo pelo qual acabei no teatro)