Raquel Grabauska

Conselho tutelar não é bicho-papão

Raquel Grabauska
29 de setembro de 2023

Quando comecei a ouvir sobre a eleição para o Conselho Tutelar esse ano, morri de vergonha. Eu nunca votei! Com a voz fraca, tímida, fui contando para as pessoas com quem eu ia conversando. E fui vendo as caras de espanto quando elas, constrangidas, também assumiam que nunca tinham votado. Nós, progressistas, pessoas de esquerda, empenhadas na luta por um mundo mais justo, lutando contra o fascismo, racismo, machismo e tantas outras lutas que nem sei dizer, nunca votamos para o Conselho Tutelar. Nós, classe média, nunca votamos. 

Acontece que quem vota no Conselho Tutelar são as pessoas das comunidades da periferia. São as pessoas que mais precisam. Elas enfrentam evasão escolar, denúncia de maus-tratos, abuso sexual e acionar o CT é a única maneira que elas tem de protegerem suas crianças e adolescentes. Essas coisas não acontecem só na periferia, a gente sabe que não. Mas a classe média tem psicólogo, psicopedagoga, psiquiatra e acesso a inúmeras alternativas de proteção. Tem convênio. 

Mas eu não quero que seja bom só para mim ou para os meus filhos. Nem só para ti ou para os teus. Porque enquanto não for bom para a maioria, não será para nenhum de nós que acreditamos nessa luta. E a gente pode, nesse domingo, mudar a vida de muitas crianças e adolescentes votando em conselheiros tutelares que sejam comprometidos com os direitos dessas pessoas. 

Segundo dados do Cenário da Infância e Adolescência no Brasil deste ano, divulgado pela Fundação Abrinq, mais de dez milhões de crianças entre 0 e 14 anos vivem na extrema pobreza. O mesmo estudo mostra que 75% das notificaçoes de violência e exploração sexuais são contra menores de 19 anos. Em 2021, foram 20.774 notificações em todo o Brasil. Além disso, mais de 17 mil adolescentes menores de 14 anos deram à luz em 2021. Oito dessas meninas tinham menos de dez anos de idade. Imagine, mãe aos oito anos. 

O Conselho Tutelar não é o bicho-papão, como muitos fazem crer. Ele existe para proteger e precisa ser fortalecido com a nossa participação. A extrema-direita se organiza há anos e, há anos, consegue ocupar esses espaços que devem ser de pluralidade e acolhimento incondicional. Por isso, não podemos nos omitir. Participar da votação é a única maneira de garantirmos proteção às crianças e adolescente.

As listas com os nomes dos candidatos e seus respectivos números para votação podem ser consultadas nos sites das prefeituras de cada município. Assim como os locais de votação.

Foto de capa: Fernando Frazão / Agência Brasil

Raquel Grabauska

Praga de filho!

Raquel Grabauska
25 de agosto de 2023

Dias desses comentei com o namorado de um amigo que já tem filhos grandes sobre o sono que estava sentindo. Contei que meus filhos acordaram váááááááááááárias vezes durante a noite, fazendo com que eu me tornasse um zumbi matinal. Foi quando ele me disse: “Filhos pequenos dão trabalho. Filhos grandes dão dor de cabeça”. Nunca mais parei de pensar nisso. Resolvi aproveitar para me divertir um pouco com o trabalho que os filhos pequenos nos dão.

Às 10h da manhã, o filho menor pede colo para o pai. O objetivo é ver o que tem no armário das comidas. Descobriu um pirulito que jazia escondido. Começa a negociação. O pai não cede. Filho frustrado. Manha, fúria, desgosto. Por fim, desabafo: “Se eu fosse adulto, eu faria o que queria”. Certamente o primeiro ato da sua vida adulta será comer um pirulito às 10h da manhã de um feriado.

Por aqui, quando não deixamos fazer alguma coisa que querem muito, ouvimos coisas terríveis:

– Não vou te convidar pro meu aniversário!

– Não vou te emprestar os meus brinquedos!

– Não gosto mais de ti, só do papai!

– Não gosto mais de ti, só da mamãe!

– Ninguém me entende!

Nada de amor!

Essas duras palavras duram em torno de doze segundos. Daí vem o melhor abraço do mundo. Sempre. E somos novamente convidados para o aniversário. E podemos brincar com seus brinquedos. E eles ficam sabendo que os amamos.

Imagem de Rudy and Peter Skitterians por Pixabay

Raquel Grabauska

Meu colar está inteiro

Raquel Grabauska
4 de agosto de 2023

Quem anda perto de mim sabe que eu adoro um colar no pescoço. Quem anda perto sabe que quando as coisas estão pesadas, meus colares caem. Meus colares quebram. Não tem cola pra colar colar. Quando quebra, deixo ir. Um dia alguém me disse: foi um encanto que se quebrou. Haja colar.

Fui fazer um pudim. Adoro fazer pudim. Adoro fazer pudim pra quem amo. Açúcar pra calda, pra caramelizar a forma. Peguei o pote de vidro e ele achou que estava numa Olimpíada, deu um salto triplo, voou lindamente pelo ar e se espatifou por completo no chão da cozinha.

No impulso de parar a dor da queda do outro – que pretensão essa minha – coloquei o pé para impedir o contato brusco com o chão. Eu estava com uma botina que ganhei de uma amiga, por sorte. Muita sorte. Foi vidro pra todos os lados. Açúcar para todos os lados.

Meu colar está inteiro. Meu pé está inteiro. Eu estou aprendendo ficar inteira. Tem açúcar para todo lado. Dizem que derrubar sal dá azar. Tem açúcar para todo lado.

Imagem: Raquel Grabauska / Arquivo Pessoal

Raquel Grabauska

Por cem anos

Raquel Grabauska
21 de julho de 2023

Eu acredito num amor que dure cem anos – pelo menos cem. Acredito em dormir abraçado, acordar junto. Acredito em café na cama. Carinhos, muitos carinhos. Em bons assuntos. Cuidados. Delicadezas.

Acredito em verdades e em saber dizer as verdades. Não as do outro, as do outro a gente ouve. As nossas verdades. Sinceridade, com carinho, mas sinceridade. Acredito em dizer o que quero e o que sinto. Porque o outro não tem como me adivinhar. Não tem como e não tem porquê.

Acredito em reapaixonar mil vezes pela mesma pessoa. Pelo sorriso, pelo que fez ou que deixou de fazer. Em saber como foi o dia. Em ter uma comida gostosa pra se deliciar juntos. Com vinho. Carinho e vinho.

Acredito em dançar na sala, na rua. Sem pudor por estar feliz. Rir junto, rir do outro, rir de si.

Não sei como fazer isso por cem anos. Mas adoraria tentar.

 

Imagem por Gerd Altmann from Pixabay

Raquel Grabauska

As laranjas e as despedidas

Raquel Grabauska
14 de julho de 2023

O último pedido do meu irmão mais velho antes de morrer foi que eu levasse uma laranja para ele no hospital. Ele não chegou a comer e eu demorei muito a fazer as pazes com as laranjas. Agora, de vez em quando tem um dia que me dá uma gana de comer uma, como em homenagem a ele. Saboreio, lembro da nossa vida juntos, do churrasco e das comidas deliciosas que ele fazia, dele cantando comigo ou assobiando do jeito mais bonito e melancólico que já ouvi.

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Esses tempos pude colher laranjas, muitas laranjas, e, nossa, como me fez bem

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Enquanto colhia, conversava em silêncio com elas. E com ele. Nós nos divertimos muito nessa colheita, eu tinha muita coisa para contar. E as laranjas também gostaram das minhas histórias.

Distribui as laranjas para muitas pessoas queridas. Algumas viraram geleia. Algumas eu comi. Elas entenderam que não era pessoal, a dona laranjeira já deu os frutos que podia me dar esse ano. Ela vai se cuidar, se fortalecer e quando estiver pronta, se estiver pronta, novos frutos virão. Pensando na laranjeira sem laranjas, penso no assobio do meu irmão, mesmo que ele não esteja mais aqui. 

Image by Lakeblog from Pixabay

Raquel Grabauska

A criança no trem

Raquel Grabauska
7 de julho de 2023

Fazia muito tempo que não andava no trem. Remete a minha infância. Quando o Trensurb foi inaugurado, em 1985, meu pai me levou para passear. Anos depois, virou meu transporte até o colégio. Saía de Canoas, descia na rodoviária de Porto Alegre e caminhava até a UFRGS. É um lugar que mexe em lembranças.

Em cada estação entra uma pessoa diferente, vendendo itens diferentes. E claro que lembrei também – tô propensa a lembranças hoje –  da minha mãe. Quando meu pai morreu, ela passou a sustentar a gente vendendo salgados. Fazia um monte, enchia as sacolas e carregava aquele peso imenso. E no outro dia, tudo de novo.

Orgulho dessa mulher, saudade gigante. E, talvez por isso, cada vez que vejo alguém vendendo algo, desejo ter dinheiro para comprar. Aprendi a segurar o ímpeto, mas ainda não consegui modificar o sentimento.

Depois de passar um estudante universitário vendendo carregador de celular, um homem vendendo descascador de verduras lançado pela Ana Maria Braga, outro com bolinhas saltitantes e outros que tentei não olhar, chegou uma senhora bem idosa com uma caixinha de torrone na mão. Caminhava com um passinho calculado, cuidando para andar no momento certo, de acordo com o balanço do trem. 

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Justo hoje, só tenho 50 centavos. O torrone custa um real

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Aquele sentimento veio intenso e eu só pensava que queria ter os 20 reais que me dariam o direito de ter aqueles torrones todos. Daí pensei na minha pretensão e na imaturidade por não ter conseguido superar a infância, ainda.  

Alguém perguntou algo e ela: só tem mais seis. Nisso, um senhor perguntou se tinha sabor cebola. Ela deu alguns passinhos para perto dele, tentando entender, e ele repetiu, perguntou se tinha sabor cebola. Ela respondeu pacientemente que não. “É um delicioso torrone, feito de amendoinzinho. Só tem mais seis.” E ficou parada. Ele riu, se achando engraçadíssimo. Ela deu mais alguns passinhos e uma mulher se aproximou e comprou os seis que faltavam. 

Eu deixei de acompanhar os passinhos dela pra ficar olhar pra o idiota da cebola. A cebola me fez chorar. Disfarcei no trem em que eu voltei a ser criança.  

Imagem de Harald Meyer-Kirk por Pixabay

Raquel Grabauska

Os primeiros 50, a gente não esquece 

Raquel Grabauska
29 de junho de 2023

Um dia antes do meu aniversário de 50 anos, acontece o seguinte diálogo:

⁃ O Tigols morreu.

⁃ De novo?

⁃ Dessa vez, em definitivo.

O Tigols morreu. O Tigols IV, na verdade. Tigols é o peixe. Os Tigols I, II e III não tiveram o passamento anunciado, mas uma hora temos que amadurecer e eu consegui contar pra o meu filho que o Tigols morreu – que esse Tigols morreu, omiti os outros porque não temos que amadurecer tanto assim. Seguindo, fui fazer uma ecografia pra ver como estava um caroço no seio que descobri no ano passado, enquanto estava com COVID.

De repente, pensei: “Que que eu tô fazendo, cacilda?  O peixe morreu ontem, justo um dia antes de eu ver como tá o maldito caroço, e o resultado do maldito do caroço vai sair no dia dos meus 50 anos. Emblemático. Será que tudo isso aconteceu pra eu preparar o meu filho para as perdas? Ele estava na minha barriga quando minha mãe morreu e sempre é difícil, pra mim, falar de morte com ele.” Tudo isso meu cérebro pensou e meu corpo sentiu nos minutos em que fiquei deitada, esperando a médica me examinar.

A atendente me instruiu a deitar e esperar. Perguntou: alguém com câncer de mama na família? Eu: sim, minha tia. Morreu aos 36 anos. Ela: ah…parte de pai ou de mãe? Eu: mãe. Ela: ahhhh…

A médica chegou e eu tive vontade de pular no colo dela com um ataque de choro. Em vez disso, fiz um pedido: me dá um presente? Amanhã faço 50 anos. Preciso de uma notícia boa. Ela sorriu. Tenho certeza de que quis me abraçar. Disse: vou te dar, sim. Começou o exame. Com aquele gel gelado que já arrepia a alma, independente de bom ou mau presságio. Ela se demorou no lugar do caroço. Foi e voltou. E foi. E voltou. Parou, me olhou. Eu parei. Parei até de respirar. Ela: o caroço sumiu! Eu não sei se ela queria o abraço, mas abracei. E chorei.

O Tigols morreu e vamos lidar com isso. Amanhã completo 50 anos e vamos lidar com isso. Vivas pra mim! O caroço sumiu!

Imagem: Desenho do Tigols feito pelo Benjamin Gonzaga Grabauska

Raquel Grabauska

Pílula de força para uma mãe

Raquel Grabauska
16 de abril de 2023

Tenho me sentido frágil. Por vários motivos, tenho me sentido muito frágil. Mas ontem eu me senti forte e fazia muito tempo que não me sentia assim.

Pois acontece que os guris – Benjamin e o Tom, meus filhos de quase 12 e nove anos respectivamente – tiveram aula o dia todo e os dois estavam muito cansados. O menor me contou que o dia tinha sido ruim, e normalmente gosta dos dias. O ápice da ruindade do dia foi quando o melhor amigo, sem querer, deu uma cotovelada no rosto dele. E o pior, “ele não sabe nem pedir desculpas direito”, me disse.

A coisa já não estava fácil quando a gata se esgueirou para trás dele e, como naqueles dias em que acordamos com o pé esquerdo, o pé esquerdo dele pisou na gata acidentalmente e ela reagiu instintivamente retribuindo a pisada no pé dele. Nem marcou o pé, mas a alma, meus amigos, essa doeu. Ele pediu beijo para curar. Ganhou vários. Curamos.

Depois, os três assistimos a um vídeo de uma bobagem que eles estão vendo só para debochar. Quando me contaram o que era, expliquei que achava perda de tempo ver algo que consideram idiota só pra gozação. Mas o maior me disse que aquilo é tão ruim que chega a ficar bom e eu acabei vendo três episódios com eles e agora estou louca para que chegue o fim do dia de hoje para repetirmos o programa. Riso frouxo cura a alma também. Curamos.

O mais velho estava atirado no sofá. Em nove dias, vira oficialmente adolescente – torçam por mim! -, ainda assim, me disse: tu pode ler uma história pra gente? Eu ri. Quase 12 e ama ler. O de nove correu, acendeu a luz e escolheu um livro: A Menina do Cabelo Vermelho, de Lolita Goldschmidt. Ele comparou com o próprio cabelo e se divertiu. Adormeceram me ouvindo. Que super-poder, esse.

Em tempos de ameaças e atentados em escolas, de bueiros abertos para os fascistas saírem, de ódio disseminado por Fake News, uma boa história para ninar os filhos é uma pílula de sanidade e força para qualquer mãe.

Imagem de capa: Pixabay / Montagem com ilustração de Benjamin Grabauska

Raquel Grabauska

Meu filho ex-baterista

Raquel Grabauska
11 de janeiro de 2020

Quando li sobre a morte Neil Peart hoje, um turbilhão de memórias surgiu aqui. Quando o meu filho Benjamin tinha perto de dois anos, recebemos num espaço cultural que o Cuidado Que Mancha administrava,  o Circo da Silva, um grupo de música para crianças. No elenco havia um polvo baterista. Era fascinante. Das partes boas de ter a mãe administrando um espaço, o Benja pôde ficar tocando bateria com o polvo depois que o espetáculo findou.

Foi amor à primeira baqueta. O guri nunca mais quis parar de tocar. Isso foi em outubro. Em dezembro, ele ganhou uma bateria de presente. Foi mais forte que nós. Mesmo sabendo que eram os nossos ouvidos que iriam passar o dia se arrependendo, ele ganhou a bateria. A única vizinha próxima era surda. Tava tudo sob controle.

Íamos almoçar em um restaurante que oferecia hashis. Logo eram transformados em baquetas. O porta-guradanapos em prato. E logo tava montada a bateria. Ele pedia panos para colocar no cabelo e usar como bandana, pois já tinha sido apresentado ao Neil Peart. Neil pra ele. Já era íntimo.

Com a avó como plateia, ele tocava três horas por dia. Nunca pedimos. Nunca mandamos. Nunca. Ele ia lá.  E tocava. Fez lindas aulas com a incrível Biba Meira (que tem um grupo mara de percussão para mulheres, As Batucas). Ele nunca gostou de abraços que não fossem dos pais ou da avó. A Biba abraçava ele. E ele gostava.

Quando ele tinha dois anos e seis meses, a vó morreu. Ele estava fazendo aula de música. Naquela semana, não tocou. Na aula, se aninhou no meu colo, ficou quietinho. Nada soava bem…
E nunca mais tocou. O público dele tinha ido embora. E ele não suportou tocar para mais ninguém.

Raquel Grabauska

O ano dos guris

Raquel Grabauska
28 de dezembro de 2019

7/1 – Benja chateou o Tom, que me disse: O benja quebrou meu sentimento;

18/1 – O Tom quer ver algo na TV e não quer que eu saiba. Daí disse: Mamãe, tu pode ir pra outro lugar? Agora a sala de TV tá ocupada pelo Tom;

20/1 – Papai, você pode ficar a noite toda acordado pra ver se eu caminho durante a noite dormindo? Eu te deixo descansar outro dia. Na verdade, quando a pessoa fica a noite sem dormir, fica cansada;

29/1 – O Tom perguntou: por que as mamães são meninas? Eu: Porque sim, só mulher pode ser mãe. Ele: Ai… Eu: Então, a partir de hoje, eu sou o papai! O Benja: Então se tu é o papai, pode ceder mais fácil, né?  Eu: Como assim? Benja: Eu pedi pra ver YouTube e tu não deixou. Pedi pro papai e ele deixou;

6/2 – Eu disse pro Tom: Sou apaixonada por ti. E ele: Ai, não quero namorar. Que nojo!

10/2 -Benja pediu um celular pra o Gonza. Pedido negado, explicações dadas, filho conformado: Criança com celular é a mesma coisa que gato comendo bacon;

22/2 – Almoço no Bar do Beto, comemoração do aniversário da Geórgia. Tom patifando. Benja: Mamãe, tu não vai dar educação pra o teu filho mais novo?

24/2 – Quarto dente do Benja que vai! Foi linda a queda do dente! Estávamos no aniversário da Alice, filha da Diva, que é a amiga mais antiga dele. Estávamos brincando os dois e o dente voou!

11/3- Li uma história sobre porco espinho pro Tom. Quase dormindo, ele disse: Mamãe, porco espinho ataca as pessoas? Eu disse: Acho que não, filho. Só se alguém atacá-lo. Tom: Acho que ninguém ataca ele, porque ele tem espetos muito afiados. Que nem minhas unhas agora. Ninguém cortou  minhas unhas…

26/3 – Benja olhando o Tom passar manteiga na bolacha: Ai, crescidinho do Benja, já tá usando faca…

28/3 – Benja fez slime no colégio e ficou um pouco duro. Uma colega disse que pasta de dente deixava mole. Ele testou, não funcionou. Conclusão: Mamãe, isso que ela leu da pasta de dentes só pode ser fake news!

31/3 – Benja dizendo nomes de filmes: Caminhada no lugar. Traduzindo: a volta dos que não foram;

12/4 – Hoje aconteceu uma das cenas mais singelas da minha vida. Madrugada, Tom com febre e eu dando homeopatia de 15 em 15 minutos. Quando fui tentar colocar as bolinhas na boca dele, ele, dormindo, deu beijinho na minha mão;

25/4 – Mamãe, não tem a cor azul no arco-íris, sabia? Não, filho. Tem uma linha faltando. E o céu reflete nela. Eu não aprendi isso na aula, é uma teoria, disse o Benja;

27/4- Benja: “Mamãe, acho que tô com febre. Meu saco tá quente. Quando tenho febre, meu saco fica quente”;

8/5 – Tom fez cocô e me chamou para limpar. Abriu o vaso e me mostrou que não tinha nada. “Eu fiz um cocô silencioso”;

7/8 – Benja foi de novo essa semana abordado para ser modelo. Fez aquela cara de “que novidade…”. Ontem ele me disse que queria pensar num jeito de ganhar dinheiro, mas sem ser modelo. Hoje ele viu minhas fotos do ensaio de ontem e me disse: tu tá desfilando como modelo, mamãe?

20/8 – Benja: Mamãe, por que gente idosa é sempre mais simpática? Idosos seriam bons vendedores de lojinha

17/12 – Montando a árvore de Natal, Benja viu os enfeites que minha mãe fez quando ele era pequeno. “Como que a Dadá sabia que eu ia gostar disso depois de grande? Ela devia me amar muito…”

24/12 – Tom quer ver Star Wars no cinema. Classificação, 12 anos. Dissemos que não rola. Ele: tenho um plano secreto… (depois confessou que vai entrar conosco no cinema para ver outro filme e vai pé por pé para a sala onde tá o filme que ele quer)

Imagem: Pixabay