Cantinho da Leitura #33 Como falar de trabalho com as crianças
Geórgia Santos
2 de fevereiro de 2024
Capa do livro "Mamãe foi trabalhar", de Kes Gray.
Créditos: Reprodução
Neste episódio do podcast Cantinho da Leitura, como falar de trabalho com as crianças. A jornalista Geórgia Santos conversa com Flávia Cunha, jornalista, mestre em Literatura pela UFRGS, produtora editorial de livros infantojuvenis e colunista do Vós.
Mães e pais muito ocupados podem gerar uma sensação de abandono nas crianças. Mas como explicar as obrigações do trabalho para os pequenos sem romantizar o excesso de obrigações profissionais?
A nossa convidada é Denise Ceroni, professora de Pedagogia da UniRitter, doutora e mestre em Educação, especialista em Psicopedagogia Clinica e em Educação Especial e Inclusiva, graduada em Pedagogia, com formação em Mediação de Conflitos.
Uma das sugestões de leitura é “Mamãe foi trabalhar”, de Kes Gray, lançado aqui no Brasil pela editora Globinho. A capa do livro tá na capa do episódio. Para mais dicas de leitura, aperta o play.
Fazia muito tempo que não andava no trem. Remete a minha infância. Quando o Trensurb foi inaugurado, em 1985, meu pai me levou para passear. Anos depois, virou meu transporte até o colégio. Saía de Canoas, descia na rodoviária de Porto Alegre e caminhava até a UFRGS. É um lugar que mexe em lembranças.
Em cada estação entra uma pessoa diferente, vendendo itens diferentes. E claro que lembrei também – tô propensa a lembranças hoje – da minha mãe. Quando meu pai morreu, ela passou a sustentar a gente vendendo salgados. Fazia um monte, enchia as sacolas e carregava aquele peso imenso. E no outro dia, tudo de novo.
Orgulho dessa mulher, saudade gigante. E, talvez por isso, cada vez que vejo alguém vendendo algo, desejo ter dinheiro para comprar. Aprendi a segurar o ímpeto, mas ainda não consegui modificar o sentimento.
Depois de passar um estudante universitário vendendo carregador de celular, um homem vendendo descascador de verduras lançado pela Ana Maria Braga, outro com bolinhas saltitantes e outros que tentei não olhar, chegou uma senhora bem idosa com uma caixinha de torrone na mão. Caminhava com um passinho calculado, cuidando para andar no momento certo, de acordo com o balanço do trem.
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Justo hoje, só tenho 50 centavos. O torrone custa um real
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Aquele sentimento veio intenso e eu só pensava que queria ter os 20 reais que me dariam o direito de ter aqueles torrones todos. Daí pensei na minha pretensão e na imaturidade por não ter conseguido superar a infância, ainda.
Alguém perguntou algo e ela: só tem mais seis. Nisso, um senhor perguntou se tinha sabor cebola. Ela deu alguns passinhos para perto dele, tentando entender, e ele repetiu, perguntou se tinha sabor cebola. Ela respondeu pacientemente que não. “É um delicioso torrone, feito de amendoinzinho. Só tem mais seis.” E ficou parada. Ele riu, se achando engraçadíssimo. Ela deu mais alguns passinhos e uma mulher se aproximou e comprou os seis que faltavam.
Eu deixei de acompanhar os passinhos dela pra ficar olhar pra o idiota da cebola. A cebola me fez chorar. Disfarcei no trem em que eu voltei a ser criança.
Neste episódio do podcast Cantinho da Leitura, o assunto é Rita Lee. A jornalista Geórgia Santos conversa com Flávia Cunha, jornalista, mestre em Literatura pela UFRGS, produtora editorial de livros infanto-juvenis e colunista do Vós.
O legado imenso de Rita Lee para a Arte vai além da música. Muito se tem falado sobre as autobiografias da artista, mas a incursão de Rita na literatura infantil não é tão comentada. E é por isso que a gente vai fazer uma justa homenagem à também escritora Rita Lee.
Cantinho da Leitura #25 Como falar de divórcio com crianças
Geórgia Santos
7 de abril de 2023
Neste episódio do podcast Cantinho da Leitura, como falar sobre divórcio com as crianças. A jornalista Geórgia Santos conversa com Flávia Cunha, jornalista, mestre em Literatura pela UFRGS, produtora editorial de livros infanto-juvenis e colunista do Vós.
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A gente sabe que família de comercial de margarina não existe mesmo. Mas às vezes os adultos percebem que o melhor para eles é acabar com o casamento
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Dados do IBGE divulgados em fevereiro de 2023 apontam um recorde de quase 387 mil divórcios em 2021, um aumento de 17 por cento na comparação com 2020. Só que quando se trata de um casal com filhos, é inevitável que as crianças estejam envolvidas nessa mudança na vida familiar. Mas como contar para uma criança que os pais não são mais um casal? Existe uma fórmula ideal? E como a literatura pode ajudar nesse processo?
Neste episódio do podcast Cantinho da Leitura, como falar de eleições com as crianças. A jornalista Geórgia Santos conversa com Flávia Cunha, jornalista, mestre em Literatura pela UFRGS, produtora editorial de livros infanto-juvenis e colunista do Vós. O Cantinho da Leitura é um podcast parceiro da Companhia das Letrinhas.
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Falar sobre eleições com as crianças parece ser um grande desafio
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Afinal, muitos adultos não entendem direito o sistema eleitoral e as atribuições de cada cargo, como presidente, deputados, senadores e governadores. Mesmo assim, acreditamos que possa haver caminhos para trabalhar esse assunto com os pequenos, usando alguns recursos como os livros infantis, claro, mas também outras ferramentas, como vídeos, além de muita conversa em família.
Cantinho da Leitura #20 Livros infantis e o desenvolvimento da empatia na infância
Geórgia Santos
6 de agosto de 2022
Neste episódio do podcast Cantinho da Leitura, falamos do desenvolvimento da empatia na infância. A jornalista Geórgia Santos conversa com Flávia Cunha, jornalista, mestre em Literatura pela UFRGS, produtora editorial de livros infanto-juvenis e colunista do Vós. O Cantinho da Leitura é um podcast parceiro da Companhia das Letrinhas.
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A empatia, a capacidade de se colocar no lugar do outro, é uma necessidade social urgente
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Para um futuro melhor, precisamos, então, entender como ajudar as crianças a desenvolver cada vez mais essa habilidade. E, claro, os livros infantis podem auxiliar na abordagem para termos crianças mais empáticas e sensíveis.
A convidada deste episódio é Michelle Girade Pavarino, psicóloga da área comportamental que estuda a empatia como um fator de prevenção da agressividade na infância.
Isso é meu, de Blandina Franco e José Carlos Lollo, da Companhia das Letrinhas; É conversando que a gente se entende, de Carolina Bittencourt Luz e Júlia Luz, da Outras Letras Editora; Onde está o Bóris?, de Janine Rodrigues, da editora Piraporiando; Invisível, de Tom Percival, da editora Catapulta.
O Ministro da Educação, Milton Ribeiro, anuncia o relatório final do Grupo de Trabalho da reestruturação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação, está preso desde a manhã desta quarta-feira por suspeita de corrupção. Mas um homônimo da área da Literatura encara com muito bom humor a infeliz coincidência de compartilhar o nome com uma figura tão emblemática dos defeitos do governo Bolsonaro. Nesta quarta-feira, não foi diferente e ele resolveu publicar no Twitter uma “nota oficial” sobre não estar preso.
Iguais apenas no nome
Porém, é bom explicar aos desavisados: o Milton Ribeiro livreiro e escritor em nada se assemelha ao seu xará, envolvido em suspeita de liberação irregular de verbas, em um esquema que envolveria dois pastores e até propina em ouro.
Desde que o Milton pastor assumiu o cargo, em julho de 2020, o Milton dos livros ganhou junto a carga de ser hostilizado nas redes sociais por quem é de esquerda. Uma ironia do destino, já que o homônimo do ministro é contrário a Bolsonaro desde 2018 e não esconde isso nas redes sociais.
Falando com o homônimo que interessa
Em entrevista à coluna Voos Literários, Milton Ribeiro comentou que logo que o ministro assumiu o governo, sua reação foi de incômodo. Mas, com o tempo, foi aprendendo a lidar com a situação.
“Depois que o xará entrou no governo, todos os dias no twitter @miltonribeiro recebia aplausos e críticas. Em um primeiro momento, eu sempre negava ser o ministro. Depois, comecei a me divertir.”
Entre os momentos cômicos, Ribeiro cita que respondia a apoiadores do governo com comentários como “Fora, Bolsonaro”, o que provocava perplexidade. A confusão era tão recorrente que seu perfil no twitter chegou a ser marcado em publicações do Ministério da Educação. Então, o Milton que não é pastor aproveitava para fazer críticas ao governo, o que gerava espanto por parte dos seguidores.
A ressalva aos militantes de esquerda também era continuamente necessária, já que muitos não compreendiam que aquele perfil não era do integrante do primeiro escalão do governo.
“Em determinadas situações, aproveitei a visibilidade para abordar temas que achava importantes, como a descriminalização do aborto. Também aproveitei para fazer publicidade da Bamboletras e dos livros que vendemos lá. No final, consegui enxergar como cômica essa coincidência”, explicou.
Tempos cinzentos em busca de esperança
E convenhamos que só recorrendo mesmo a um pouco de humor e à Arte para a gente suportar tantas e tantas desgraças nesse Brasil bolsonarista. Um país com uma população cada vez mais sofrida, que precisa lidar com a dor de assassinatos de quem defende causas nobres. Suportar crianças coagidas a manterem a gravidez decorrentes de estupros. Se compadecer com pessoas LGBTs atacadas diariamente por simplesmente existirem, entre outras barbáries.
Por isso, aproveitamos a dica de leitura do Milton Ribeiro que realmente nos interessa, o que ama os livros, e não o que exalta armas e conservadorismo (hipócrita). Sendo assim, também recomendamos Carcereiros, de Drauzio Varela. A obra trata do cotidiano dos agentes penitenciários a partir do olhar sensível de quem também vivenciou o cotidiano do sistema prisional brasileiro.
O livro tem na Bamboletras, claro. Porém, vale a ressalva: aqui na coluna Voos Literários não ganhamos propina para divulgar boas iniciativas literárias, ao contrário de algumas pessoas meio suspeitas por aí. Pois acreditamos em conceitos utópicos como redes colaborativas e amor aos livros para que, um dia, o mundo seja mais agradável para quem defende os direitos humanos e a cultura. Entretanto, estes são tempos difíceis para os sonhadores, como disseram a Amélie Poulain. Porém, seguimos em frente, com esperança de que o futuro seja melhor.
Este texto foi sugerido pela editora-chefe do Vós, Geórgia Santos, com produção de Igor Natusch. Quer enviar uma sugestão de pauta para a coluna Voos Literários? Então, escreva para flavia@vos.homolog.arsnova.work ou me siga no Instagram @fcunhaprodutora, onde dou mais dicas de literatura e do mercado editorial.
Cantinho da Leitura # 17 Livros infantis para sonhar e aprender com as profissões
Geórgia Santos
29 de abril de 2022
Neste episódio do podcast Cantinho da Leitura, livros infantis para sonhar e aprender com as profissões. A jornalista Geórgia Santos conversa com Flávia Cunha, jornalista, mestre em Literatura pela UFRGS, produtora editorial de livros infanto-juvenis e colunista do Vós. O Cantinho da Leitura é um podcast parceiro da Companhia das Letrinhas.
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O tema profissões é instigante para a criançada
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Afinal, quem de nós já não teve mil planos e sonhos na infância quando ouvia a clássica pergunta: “o que você quer ser quando crescer?” Pois é sobre profissões e também como os adultos devem abordar esse assunto com os pequenos, o tema do nosso episódio de hoje.
A convidada é Janaina Tokitaka, paulistana, que é escritora e roteirista na área audiovisual. Têm mais de 40 livros publicados, entre eles o ABCDelas, pela Companhia das Letrinhas. Um abecedário que conta a história de mulheres pioneiras em diferentes profissões, de A a Z.
Cantinho da Leitura #15 A literatura e os laços afetivos
Geórgia Santos
25 de fevereiro de 2022
Neste episódio do podcast Cantinho da Leitura, a literatura e os laços afetivos. A jornalista Geórgia Santos conversa com Flávia Cunha, jornalista, mestre em Literatura pela UFRGS, produtora editorial de livros infanto-juvenis e colunista do Vós. O Cantinho da Leitura é um podcast parceiro da Companhia das Letrinhas.
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Falar sobre afeto é algo bem importante em todas as faixas etárias
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E nós, adultos, podemos ajudar as crianças a entender e cultivar os laços afetivos que vão além da relação com pai ou mãe. O afeto com avós, tias, tios, amigas, amigos, colegas. E também mostrar que objetos comuns podem se transformar em itens especiais quando existe um valor sentimental associado. E para falar sobre afeto e literatura para a infância, nossa convidada é a artista plástica, ilustradora e escritora Ivone Rizzo Bins.
Nas dicas de leitura, O Túnel, de Anthony Browne, da editora Pequena Zahar; O Armário da Vovó, Ivone Rizzo Bins, editora Libretos; Eu Fico em Silêncio, de David Ouimet, editora Companhia das Letrinhas; Clarice Quer Um Amigo, de autoria de Graça Lima, da editora Escrita Fina; e a A Raposa Vai de Carro, da escritora Susanne Straber, da editora Companhia das Letrinhas.
Cantinho da Leitura #14 Livro infantil não é livrinho
Geórgia Santos
31 de janeiro de 2022
Neste episódio do podcast Cantinho da Leitura, livro infantil não é livrinho. A jornalista Geórgia Santos conversa com Flávia Cunha, jornalista, mestre em Literatura pela UFRGS, produtora editorial de livros infanto-juvenis e colunista do Vós. O Cantinho da Leitura é um podcast parceiro da Companhia das Letrinhas.
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A literatura infantil, por vezes, enfrenta um certo preconceito, como se fosse algo menor ou menos importante do ponto de vista cultural
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O que vamos defender nesse episódio é que os bons livros escritos para crianças são tão importantes como qualquer outro. Ouvimos o autor Christian David, que tem mais de 20 livros lançados, e a a atriz, diretora de teatro e escritora Raquel Grabauska.
A Flávia ainda traz dicas de leitura de autores que ficaram consagrados para o grande público por livros para adultos mas que também escreveram livros infantis que não tem nada de livrinho.
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Aliás, vamos falar sobre isso aqui também, será que chamar de livrinho já é uma forma de menosprezar esse tipo de literatura?