Tenho me sentido frágil. Por vários motivos, tenho me sentido muito frágil. Mas ontem eu me senti forte e fazia muito tempo que não me sentia assim.
Pois acontece que os guris – Benjamin e o Tom, meus filhos de quase 12 e nove anos respectivamente – tiveram aula o dia todo e os dois estavam muito cansados. O menor me contou que o dia tinha sido ruim, e normalmente gosta dos dias. O ápice da ruindade do dia foi quando o melhor amigo, sem querer, deu uma cotovelada no rosto dele. E o pior, “ele não sabe nem pedir desculpas direito”, me disse.
A coisa já não estava fácil quando a gata se esgueirou para trás dele e, como naqueles dias em que acordamos com o pé esquerdo, o pé esquerdo dele pisou na gata acidentalmente e ela reagiu instintivamente retribuindo a pisada no pé dele. Nem marcou o pé, mas a alma, meus amigos, essa doeu. Ele pediu beijo para curar. Ganhou vários. Curamos.
Depois, os três assistimos a um vídeo de uma bobagem que eles estão vendo só para debochar. Quando me contaram o que era, expliquei que achava perda de tempo ver algo que consideram idiota só pra gozação. Mas o maior me disse que aquilo é tão ruim que chega a ficar bom e eu acabei vendo três episódios com eles e agora estou louca para que chegue o fim do dia de hoje para repetirmos o programa. Riso frouxo cura a alma também. Curamos.
O mais velho estava atirado no sofá. Em nove dias, vira oficialmente adolescente – torçam por mim! -, ainda assim, me disse: tu pode ler uma história pra gente? Eu ri. Quase 12 e ama ler. O de nove correu, acendeu a luz e escolheu um livro: A Menina do Cabelo Vermelho, de Lolita Goldschmidt. Ele comparou com o próprio cabelo e se divertiu. Adormeceram me ouvindo. Que super-poder, esse.
Em tempos de ameaças e atentados em escolas, de bueiros abertos para os fascistas saírem, de ódio disseminado por Fake News, uma boa história para ninar os filhos é uma pílula de sanidade e força para qualquer mãe.
Imagem de capa: Pixabay / Montagem com ilustração de Benjamin Grabauska

