Raquel Grabauska

Chantagem – quem nunca?

Raquel Grabauska
30 de novembro de 2018

Eu nunca gostei de condicionar as coisas aqui em casa. Tipo: se não te comportar, não ganha… Pra mim sempre foi crucial combinar, explicar, dialogar. Como é lindo o mundo das mães na teoria. E quando tu tá atrasada pra uma reunião e o filho não consegue decidir qual brinquedo ele vai levar pra passear? E quando tá tudo pronto e ele toma um gole de água e um micro pingo na roupa é motivo de choro, escândalo, olhar sinistro dos vizinhos que pensam em te denunciar pro conselho tutelar? E quando tu conseguiu deixar tudo bem e do nada fica tudo ruim? E? E? E?

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Nada como uma boa psicologia do desespero. Daí a gente faz o que é possível. Conversa, negocia, tenta, tenta, tenta. E apela.
Bah, apelar é necessário. Quem nunca?
Se atirar a primeira pedra, é certo que só o fez por não ter filho

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Nessas horas em que já tentamos até o impossível, pensamos em mil soluções. Uma delas, claro, é a chantagem. Evita-se ao máximo. Mas tem vezes…

Essa semana meu filho mais velho queria fazer algo, nem lembro mais o que era. Eu não permiti. Ele ficou chateado. Mas mais chateado ficou o irmão mais novo, o defensor do mano. Eles insistiram. Eu mantive a negativa. Depois de argumentos, contra-argumentos, réplica, tréplica e o escambau, o mais novo diz:

(antes disso é importante citar que dia desses ele achou um creme meu e com a desculpa de me fazer massagem, desfez-se da metade do conteúdo)

– Mamãe, tu quer um creme novo? Pensa bem, mamãe, tu pode ganhar um creme novo.
– Porque, filho?
– Deixa o mano fazer o que ele quer.
– Não dá, filho.
– Mamãe, tu que sabe… Tu que decide se quer o creme ou não…

Ai do discípulo que não supere o mestre.

Raquel Grabauska

Um dia depois do primeiro turno

Raquel Grabauska
26 de outubro de 2018

Acordar triste e ter que explicar para o meu filho de sete anos os resultados das eleições. Eu estava até indo bem. Ele me fez umas 3500 perguntas. Quando expliquei que um dos motivos para não aceitar Bolsonaro era o fato de ele acreditar que mulher deve receber um salário menor por causa da gravidez, ele me disse:

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Mamãe, isso é um absurdo! A mulher engravida para dar vida para os homens!

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Eu deixei ele no colégio, dei tchau, andei 100 metros, desliguei o carro e chorei. Quero um mundo em que meu filho de sete anos não tenha que pensar nisso. Nem o teu filho. Nem o de ninguém. Que nenhuma criança ou adulto sofra por ser o que for. Cor, sexo, corpo, tamanho. Somos todos. Nossa diferença nos torna únicos. Por um mundo em que todos os iguais possam ser diferentes. É o que desejo para os meus filhos. Para os teus. Para os nossos.

Raquel Grabauska

Praga de filho!

Raquel Grabauska
21 de setembro de 2018

Dias desses comentei com o namorado de um amigo que já tem filhos grandes sobre o sono que estava sentindo. Meus filhos acordaram váaaaaaarias vezes na noite, me tornando um zumbi matinal.

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Ele disse: “filhos pequenos dão trabalho. Filhos grandes dão dor de cabeça”.

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Nunca mais parei de pensar nisso. Resolvi aproveitar pra me divertir um pouco com o trabalho que os filhos pequenos nos dão. Às 10h da manhã, o filho menor pede colo pra o pai pra ver o que tem no armário das comidas. Descobriu um pirulito que jazia escondido. Começa a negociação. O pai não cede. Filho frustrado. Manha, fúria, desgosto.

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Por fim, desabafo: “se eu fosse adulto, eu faria o que queria”.

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Certamente o primeiro ato da sua vida adulta será comer um pirulito às 10h da manhã de um feriado. Por aqui, quando não deixamos fazer alguma coisa que querem muito, ouvimos coisas terríveis:

Não vou te convidar pro meu aniversário!
Não vou te emprestar os meus brinquedos!
Não gosto mais de ti, só do papai (ou só da mamãe!, quando o algoz foi o pai).
Ninguém me entende!

Essas duras palavras duram em torno de doze segundos. Daí vem o melhor abraço do mundo. Sempre. E somos novamente convidados para o aniversário. E podemos brincar com seus brinquedos. E eles ficam sabendo que os amamos.

Raquel Grabauska

Monstro da culpa

Raquel Grabauska
5 de maio de 2017

Sabe aquela clássica frase: “Nasce um filho, nasce uma mãe?” Acrescento: “Nasce uma culpa.”

Acho que passei mais tempo tentando não ter culpa do que ninando meus filhos. E olha que não os ninei pouco! Uma das primeiras culpas que lembro foi quando viajamos pela primeira vez e tive que cozinhar uma beterraba que não era orgânica pra papinha do Benjamin. Me senti a pior pessoa do mundo.

Me dei conta disso esses dias, quando vi os dois comendo o segundo picolé do dia. Culpa por ser o segundo picolé, culpa pelo choro se não deixasse comer o segundo picolé. Como isso é raro de acontecer, escolhi a culpa sem o choro.

Haja exercício de paciência comigo mesma. Eu acerto muito com eles. Então tenho me permitido errar. E tenho demonstrado isso pra eles. Tento deixar de ser a super mãe para ser uma mãe real, embora eles me chamem muitas vezes de Mulher Maravilha.

Foto: Monstro da Culpa, ilustração do Tom