Raquel Grabauska

Chantagem – quem nunca?

Raquel Grabauska
30 de novembro de 2018

Eu nunca gostei de condicionar as coisas aqui em casa. Tipo: se não te comportar, não ganha… Pra mim sempre foi crucial combinar, explicar, dialogar. Como é lindo o mundo das mães na teoria. E quando tu tá atrasada pra uma reunião e o filho não consegue decidir qual brinquedo ele vai levar pra passear? E quando tá tudo pronto e ele toma um gole de água e um micro pingo na roupa é motivo de choro, escândalo, olhar sinistro dos vizinhos que pensam em te denunciar pro conselho tutelar? E quando tu conseguiu deixar tudo bem e do nada fica tudo ruim? E? E? E?

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Nada como uma boa psicologia do desespero. Daí a gente faz o que é possível. Conversa, negocia, tenta, tenta, tenta. E apela.
Bah, apelar é necessário. Quem nunca?
Se atirar a primeira pedra, é certo que só o fez por não ter filho

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Nessas horas em que já tentamos até o impossível, pensamos em mil soluções. Uma delas, claro, é a chantagem. Evita-se ao máximo. Mas tem vezes…

Essa semana meu filho mais velho queria fazer algo, nem lembro mais o que era. Eu não permiti. Ele ficou chateado. Mas mais chateado ficou o irmão mais novo, o defensor do mano. Eles insistiram. Eu mantive a negativa. Depois de argumentos, contra-argumentos, réplica, tréplica e o escambau, o mais novo diz:

(antes disso é importante citar que dia desses ele achou um creme meu e com a desculpa de me fazer massagem, desfez-se da metade do conteúdo)

– Mamãe, tu quer um creme novo? Pensa bem, mamãe, tu pode ganhar um creme novo.
– Porque, filho?
– Deixa o mano fazer o que ele quer.
– Não dá, filho.
– Mamãe, tu que sabe… Tu que decide se quer o creme ou não…

Ai do discípulo que não supere o mestre.

Raquel Grabauska

Meu filho (quase) fugiu de casa

Raquel Grabauska
23 de novembro de 2018

Meu filho mais novo tentou ir embora de casa pela primeira vez

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Estavam os dois irmãos mega brincando. Brincando de um jeito comovente. Até tentei entrar na brincadeira e me deram uma excluída. Fiquei na minha, deixa eles, é o espaço deles, blá,blá, blá. Mãe tentando ser madura. O mais velho cansou da brincadeira. O mais novo continuou. O mais velho pediu para parar. O mais novo continuou. Um pedia para parar, o outro continuava. E assim foi por um bom tempo.

O mais velho se irritou. Muito. Foi dar um chute no irmão. Não um chute qualquer. Eu vi que a mira era no rosto. Peguei o pé no ar.  Proferi um sermão da montanha. Os dois silenciaram. Depois do discurso voltei a respirar. Me dei conta do risco que havíamos corrido. Passou, pronto, passou…

Quando o mundo parou de girar, olhei para as duas crianças. O mais novo com cara de susto e o mais velho com cara de mais susto. Imaginei a minha cara de susto também. Percebemos os três que estava tudo bem. O mais novo começou uma manha. Expliquei que o que o mano tinha feito não era aceitável, mas que ele deveria ter parado quando foi pedido. Que ele deveria ter ouvido o não. Respeito.

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Nisso, vi que ele foi para perto da porta. Calçou os crocs, me olhou profundamente e girou a maçaneta

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Perguntei para onde ele ia e ele disse que precisava ir embora até eu querer ser uma boa mãe. O mais velho pediu pra ele não ir. Eu aproveitei a deixa e fiz aquela chantagem básica: "Ué, tu queria chutar o mano.” Horrível, eu sei. O mais novo assistindo a nossa conversa, com aquela cara. Daí disse: "O mano que escolhe se eu fico ou vou!"

Resumindo, os dois se abraçaram, foram juntos brincar  de novo. E eu fiquei assistindo.

Meu filho mais novo tentou ir embora de casa pela primeira vez

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Estavam os dois irmãos mega brincando. Brincando de um jeito comovente. Até tentei entrar na brincadeira e me deram uma excluída. Fiquei na minha, deixa eles, é o espaço deles, blá,blá, blá. Mãe tentando ser madura. O mais velho cansou da brincadeira. O mais novo continuou. O mais velho pediu para parar. O mais novo continuou. Um pedia para parar, o outro continuava. E assim foi por um bom tempo.

O mais velho se irritou. Muito. Foi dar um chute no irmão. Não um chute qualquer. Eu vi que a mira era no rosto. Peguei o pé no ar.  Proferi um sermão da montanha. Os dois silenciaram. Depois do discurso voltei a respirar. Me dei conta do risco que havíamos corrido. Passou, pronto, passou…

Quando o mundo parou de girar, olhei para as duas crianças. O mais novo com cara de susto e o mais velho com cara de mais susto. Imaginei a minha cara de susto também. Percebemos os três que estava tudo bem. O mais novo começou uma manha. Expliquei que o que o mano tinha feito não era aceitável, mas que ele deveria ter parado quando foi pedido. Que ele deveria ter ouvido o não. Respeito.

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Nisso, vi que ele foi para perto da porta. Calçou os crocs, me olhou profundamente e girou a maçaneta

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Perguntei para onde ele ia e ele disse que precisava ir embora até eu querer ser uma boa mãe. O mais velho pediu pra ele não ir. Eu aproveitei a deixa e fiz aquela chantagem básica: “Ué, tu queria chutar o mano.” Horrível, eu sei. O mais novo assistindo a nossa conversa, com aquela cara. Daí disse: “O mano que escolhe se eu fico ou vou!”

Resumindo, os dois se abraçaram, foram juntos brincar  de novo. E eu fiquei assistindo.

Raquel Grabauska

O Dia dos Pais e o dia em que me senti a pior mãe do mundo (e arredores)

Raquel Grabauska
10 de agosto de 2018

Estávamos fazendo uma viagem em família. Passeio gostoso, com tempo, caminhadas sem pressa ou destino. Parávamos para contemplar o que queríamos, crianças correndo atrás dos pombos. Éramos o próprio comercial de margarina (se é que existe comercial de margarina ao ar livre).

Só uma coisa, antes de continuar a história: sou o tipo de pessoa que perde o amigo, mas não perde a piada. Sempre. Já me meti em cada fria, cada constrangimento. Mas não aprendo. Quando vi, a bobagem já saiu.

Voltando ao passeio. Eu estava andando de noite com minha querida cunhada. Vimos uma faixa com um pitoresco desenho que era IGUAL ao meu marido. Na manhã seguinte, repetimos o caminho com a família toda e eu estava ansiosa pela piada. Quando chegamos, apontei para a faixa, bem feliz mostrando aos meus filhos.

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Olhem só, uma foto do papai!!!!!

Os dois me olharam incrédulos. O menor logo mudou o foco. O maior ficou paralisado: “esse não é o meu pai!!!!!” Eu achei estranha tamanha veemência. Ele tem bastante senso de humor. Fazemos muitas piadas juntos.  Olhei pra ele, olhei pra faixa, olhei pra ele e olhei pra faixa de novo. Olhei de novo e gritei!

A pintura da faixa tinha uma grande faca cravada nas costas
Eu só não tinha percebido esse pequeno detalhe

Depois disso, haja pombos, passeios e brincadeiras pra extrair a culpa das minhas costas! Um feliz Dia dos Pais para todos os pais. Especialmente para o pai dos meus filhos, que além de ter me dado os nossos dois gurizinhos, ainda segue comigo há 15 anos. Com todas as minhas piadinhas.

Raquel Grabauska

Viajar sem filhos

Raquel Grabauska
22 de junho de 2018

Sempre ouvi as pessoas falarem sobre como faz bem ficar longe pra sentir saudades. Tempo de qualidade, quantidade não importa. Respeito as opiniões. Não tem mais mãe ou menos mãe pra mim. Mesmo. Claro que me dá vontade de dar colo pra todos os bebês que ficam em creches ou em qualquer outro lugar que não seja um bom colo quando precisam.  Assim como sinto vontade de dar colo para muitas pessoas adultas que conheço.

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Quando meu primeiro filho nasceu, minha mãe e minha sogra me recomendaram muito sobre o perigo do colo dado aos bebês: estraga a criança

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Confesso que eu estava impressionada. Estava tendendo a não dar colo, não queria “estragar o guri”. Num dos primeiros choros, meu marido me olhou e sem titubear um segundo, deu colo pro filho. Eu falei sobre os comentários das nossas mães e ele: “não vou deixar meu filho chorando”. Chorei eu. Achei tão lindo e sábio. Ele não estava preocupado com a opinião de ninguém. Nem da mãe, nem da sogra, muito menos a minha. Ele só estava sendo pai. Criando vínculo. Foi bonito de ver. Foi bonito sentir o ruir daquela “sapiência da mulher” que tudo sabe sobre ter um filho. Ver ele agindo como um pai que ama e cuida, me ensinou muito sobre ser mãe.

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Fim de semana passado fiquei longe pela primeira vez do meu filho menor

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Quatro aninhos grudados. Não senti alívio. Tinha medo de sentir. Trabalhei, me diverti, dormi, mas foi bem bom voltar e ter a nossa rotina. Estamos todos crescendo. Logo vai ser normal ficarmos tempo longe. Por ora, quero aproveitar.

Raquel Grabauska

Super paiê! – 11 habilidades que os homens adquirem com a paternidade

Raquel Grabauska
11 de maio de 2018

Há duas semanas escrevi sobre os poderes que adquirimos quando nos tornamos mãe. Quando postei, fiquei pensando nos pais. A maternidade nos torna instantaneamente sábias. Temos todas as respostas, sabemos que roupa vestir nas crianças, como dar banho,  o que é preciso comer em cada fase da vida.

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Mas e os pais? Como é pra eles?  Só consegui ser a mãe que sou porque os meus filhos têm o pai que tem

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Aqui, o banho é com ele. Se eu dou banho neles no inverno, ficam gripados.  A sabedoria da maternidade precisa de um apoio para exisitir. Alguém que acorda de noite para ver se as crianças estão cobertas. Alguém que veste o filho sem perguntar se tá bom assim. Alguém que é responsável pelos filhos. Que não é um ajudante em casa. Que é pai da criança, e não o ajudante da mãe. Convidei alguns pais que conheço e admiro pra nos contarem o que têm aprendido depois do nascimento dos filhos.

Super-Habilidades que os homens adquirem com a chegada dos  filhos

Colherada atômica –  a maior quantidade de comida no menor espaço da colher, tudo isso na velocidade da luz pra aproveitar um segundo de boca aberta. Paulo, pai da Anita;

Inventor – sempre tento recriar e inventar brinquedos para meu filho, com o intuito de inovar e reutilizar objetos para aflorar a criatividade dele,  evitando consumismo excessivo. Já fiz garagem para os hotwheels dele com uma gaveta e tubos de pvc, fiz uma pia de cozinha na caixa da impressora, fogão com um gaveteiro e um painel montessoriano só com produtos de ferragens doados. Tailor, pai do Arthur;

Energético – lembrei de uma situação social semana passada em que eu estava absurdamente exaurido, mas tinha q ir porque era uma data bem especial pra uma amiga próxima. Virar pai me ensinou a viver o aconchego e o trabalho de uma imensidão que  deixa em carne viva, a flor da pele, totalmente vulnerável à alegria e ao amor. Pedro, pai do Tomás;

Super Draga – Enquanto ele come no cadeirão eu vou comendo o que tá no chão. Quando termina a refeição, já tá limpo o salão. Só tive que parar com isso recentemente porque ele começou a imitar o papai. Almeidão Mapa, pai do Kaluanan;

Incondicionalidade do amor – porque um homem ama com todas as partes de seu corpo e de maneiras diferentes o que a vida  oferece, mas só quando se é pai tem a possibilidade real de não entender como chegou até aquele momento de sua vida sem que seu filho ali estivesse. Angelo, pai do Lucca e do Franco;

Auto controle – a capacidade de reprimir o pânico ou histeria em uma situação de acidente (com ou sem ferimento) ou perigo.  Claudio, pai do Samuel;

Braço de Popeye –  pra segurar ele no colo sempre que ele quer ou que a gente precisa. Binho, pai do Miguel;

Dormir com um olho aberto e o outro fechado – qualquer ruído estranho, o outro olho abre.
Contorcionismo ninja – limpar e trocar fralda em lugares nada convencionais, tipo no banheiro de um Embraer 190.
Contador de histórias (inventadas) – inventar histórias antes de dormir, o dificil é repetir a mesma coisa todas as noites
Achar tudo lindo – tudo que os filhotes fazem é lindo…nojo de cocô, nunca! Gonza, pai do Benja e do Tom. Exibido e orgulhoso porque essa ilustração de hoje é ele aos olhos do filho mais velho.

 

Raquel Grabauska

Meu marido não me ajuda

Raquel Grabauska
10 de março de 2017

Tenho dois filhos e, sem querer me exibir, creio que tenho o melhor marido do mundo. Do meu mundo. Meu marido não me ajuda, ele faz a parte dele. Meus filhos são metade dele. E ele cuida da metade, do todo, do dobro.

“Ele tem que poder fazer do jeito dele, afinal, não precisamos concordar em tudo, precisamos concordar no principal”

Não foi fácil criar isso. Dá vontade de que ele faça as coisas do jeito que quero. Dá sim. Daí respiro e me seguro. Ele tem que poder fazer do jeito dele, afinal, não precisamos concordar em tudo, precisamos concordar no principal. Às vezes, os guris saem com uma calça listrada e camiseta de bolinhas. Tudo bem. Eles são tão bonitos que isso até pode virar tendência.

Às vezes chego em casa e meu marido está mais interessado no desenho que passa na TV que os dois, que já estão correndo pela casa e brincando de outra coisa. E eu fico com vontade de reclamar, mas fico quieta, pois eu estava na rua porque tinha ele ali pra cuidar dos nossos filhos.

Tenho tentado não ter razão. Não preciso ter razão. Preciso ter paz. E acho que estamos num bom caminho.