Raquel Grabauska

21 anos da Mulher Gigante . de pais para filhos

Raquel Grabauska
18 de janeiro de 2019
Porto Alegre, 20/09/2014 Esoetáculo "A Mulher Gigante" do Grupo Cuidado que Mancha Local: Sala Álvaro Moreira, Porto Alegre/RS Foto: Cristine Rochol

Ontem fizemos um espectáculo lá no Espaço Cuidado Que Mancha. Era a festa de comemoração dos três anos da casa e 21 anos da Mulher Gigante. Íamos fazer na praça, mas ficou um chove/para/chove e acabam fazendo duas sessões no nosso mini-auditório. Uma casa cheia de pais e filhos. Muitos pais eram crianças quando esse espetáculo estreou. E foi lindo de ver os pais reavivando suas lembranças, a emoção tomando conta, por estar ali de novo, por estar ali mostrando o novo.

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Dia desses escrevi sobre o medo que dá quando a gente vê o filho cometer os mesmo erros que nós. E hoje acordei pensando nisso, na singeleza que é mostrar as coisas boas, construir memórias juntos. Saber que daqui a 20 anos, é disso que ele lembrarão.

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Fiquei extremamente emocionada ao ver cada fama se abraçando, cada historia que vinha ser contada pra gente, cada olho brilhando. O olho curioso de quem tava vendo a primeira vez e o olho emocionado de quem tinha visto. São tempos difíceis para a cultura. Bem difíceis. Tenho visto colegas talentosos que sofrem por não conseguir viver da sua arte. Sei o esforço que faço pra manter meu trabalho. Sei o sono que perco, os momentos em que sou menos disposta brincar com meus filhos por causa de uma conta ou orçamento. Mas dias como o de onde me fazem sentir um oásis no meio disso tudo. Agora vou esperar a festa dos 30 anos pra ver quem vai ter neto já…

E pra quem quiser fazer nosso novo trabalho nascer, segue o financiamento no Catarse.

* Foto da Cristine Rochol

Raquel Grabauska

Amor incondicional?

Raquel Grabauska
5 de outubro de 2018
Eu tive um ataque de amor e abracei meu filho menor bem forte, cherei e disse: como posso te amar tanto?
Ele: porque tu é minha mãe, ora!

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Fiquei rindo muito, claro. E depois fiquei pensando no tal amor incondicional. Eles ainda não me desafiaram a ponto de eu questionar esse amor. Por enquanto, sei que é amor incondicional porque tenho a sorte de ter dois fofos como filhos. Mesmo nos dias em que não dormem. Mesmo nos dias em que deixam os brinquedos jogados. Ou que todas as roupas incomodam. Mesmo quando eles precisam de mim a cada meio segundo. Mesmo quando eles não precisam de mim o dia todo. Mesmo que…

Ver os filhos crescendo é um desafio terno e assustador. Não é só pelas roupas que deixam de servir de um dia pro outro. Não é só porque temos que saber os nomes de todos os personagens dos desenhos animados. Não é só porque num dia tu faz a comida que eles mais amam e no outro dia eles não suportam aquela mesma comida.

É um estado de atenção, vigília. Sem trégua. Porque se a gente não está atento, deixa passar o que mais importa. Deixar de ver que eles aprenderam algo novo, que o vocabulário aumentou, que ele já sabem dizer “procrastinar”e mais, já sabem o que isso significa! Um amor incondicional. Por ora é assim. Pra sempre assim.

Raquel Grabauska

Música de gente grande pra todo mundo ouvir

Raquel Grabauska
9 de março de 2018

Uma das muitas coisas boas que aprendi com meus irmãos mais velhos foi ouvir música. Mais que tudo, ouvir música boa. Eu lembro da sensação de confiança que eu tinha. O que eles ouviam, eu sabia que deveria parar e ouvir também. Cantava as músicas muitas vezes sem nem fazer ideia do que tava sendo dito.

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Como foi com a Rita Lee: “se a Débora quer que o Gregor lhe pegue”

Essa era a minha versão, cantada com todo o entusiasmo.

A dela era: “se a Deborah Kerr que o Gregory Peck”

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Muitas dessas músicas boas faço questão de mostrar aos meus filhos. Flutuo feliz e emocionada quando vejo eles gostando e cantando também. Acho que a mais óbvia de todas, mas que figura em todas as listas é O Leãozinho. E segue:

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Mestre Jonas, de Sá e Guarabyra
A Lenda do Pégaso, de Moraes Moreira e Jorge Mautner
O Vira – ou, na nossa versão, “O gato preto cruzou a estrada”
Vida de Cachorro – também conhecida por nós como “Vamos embora cachorrinho”
Peixinhos do Mar, do Milton Nascimento – melhor chamada de “Quem me ensinou a nadar”
Borboleta, de Marisa Monte – mais fofamente conhecida por “Borboleta pequenina”
Pombo Correio, do Moraes Moreira
Acabou Chorare, dos Novos Baianos

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Recentemente descobri essa de DaniBlack feat. Milton Nascimento

Raquel Grabauska

Palpiteiros de plantão

Raquel Grabauska
23 de fevereiro de 2018

Ano de 2018. São muitos anos de humanidade. Muitos. Já inventaram a roda, penicilina, café expresso, protetor solar… Talvez seja por ver essa evolução do mundo que me choque tanto o comportamento das pessoas.  Especialmente o dos palpiteiros! Nuuuuuussa! Haja paciência com os palpiteiros. Sou uma pessoa paciente. Mas me sinto o ser mais involuído do mundo perto de um palpiteiro. Tenho vontade de dizer todas as coisas que não se deve dizer e fazer todas as coisas que não se deve fazer quando sou abordada por um palpiteiro.

Dia desses chegamos num lugar público. Bem público. A praia, na verdade. Em dois segundos uma família veio e ficou íntima. Eu gosto de gente. Gosto mesmo. Mas…

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Já começamos assim: “É a primeira vez das meninas na praia?”

“Meninos”, disse eu.

“Meninos?!!!!”

“Sim, meninos. São meninos cabeludos.”

Silêncio de meio segundo seguido de um “hannnnn”

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Sério? Já inventaram até máquina de pão e as pessoas ainda se importam com o cabelo dos outros????

Pensei em ir mais pro fundo do mar, em busca de privacidade. Uma onda safada nos aproximou novamente. Mais perguntas, forçando uma aproximação. Os guris tinham viajado durante a noite, dormido mal, nadaram a manhã inteira, viajaram mais duas horas de carro. E estavam no mar! Felizes, como é pra ser. Não estavam interessados em perguntas e respostas. Estavam deslumbrados, como se fosse a primeira vez. Pra quem não mora na praia, acho que toda vez parece a primeira vez.

Dois segundos mais de conversa, poucas respostas minhas e zero dos guris. E eles são bem queridos. O intruso solta: “ah, esse é bem mais solto que o outro!” Se referindo ao meu filho mais novo.

Mergulhei pra não mergulhar o intruso. Dar um caldinho não seria má ideia… mas meus filhos estavam ali e não gosto de dar mau exemplo. TPM na escrita à parte, porque ó céus???? Qual a necessidade de se meter tanto? Vai fazer um castelo de areia, vai.

Raquel Grabauska

Hoje chorei comprando manga

Raquel Grabauska
2 de fevereiro de 2018

Estávamos no carro e na estrada, vimos duas crianças vendendo frutas numa banquinha improvisada. Janeiro, Nordeste, perto de 36 graus. Sol escaldante. E vi um dos sorrisos mais lindos do mundo.

Me pareceram duas irmãs. Felizes com a venda. A mais velha foi me dar o troco, eu disse que não precisava. O olhar feliz entre as duas me desmontou. Era pouco o troco. Quis ter dado mais. Muito mais. Quis tirar as meninas dali. A mais nova das irmãs regulava de idade com meu filho mais velho. Que segundos atrás regateava conosco um presente que queria. E eu vinha explicando que não iria dar, que fazia poucos dias que ele havia ganhado um brinquedo, que a vida… e apareceram as meninas vendendo manga.

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Meus meninos ficaram espantados com as crianças trabalhando. Já nos ouviram falando mil vezes sobre, mas nunca tinham visto de perto

De tão perto

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Fiquei pensando no quanto o lugar onde nascemos define quem somos. As oportunidades, o que seremos. O que o futuro nos reserva, não sabemos. Mas hoje me doeu pensar no futuro daquelas meninas. Não me permiti sentir pena delas. Quero admirá-las. Admiro. Pequenas valentes. Nosso carro retomou o caminho e as lágrimas puderam cair. Aquele sorriso vai me iluminar por muito tempo.

Raquel Grabauska

Crianças e a dor da separação

Raquel Grabauska
26 de janeiro de 2018

Hoje saímos de férias. Trabalhos encaminhados, providências tomadas, tudo organizado. Malas prontas, filhos banhados e alimentados. Tudo certo. Já na porta, resolvo dar o último carinho pra gata. Tem água, comida. Mais um carinho. Vai ter gente pra cuidar dela. Mas não seremos nós. Tô nessas divagações, uma lagriminha quase caindo. Ouço um murmúrio que evolui rapidamente pra um dos prantos mais sofridos que já ouvi:

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Vou sentir saudades da Titaaaaaaaaaaa… A seguir, outra voz dilacerada se soma: vou sentir saudades da Titaaaaaaaaaaaaa! Os dois meninos se olham, olham pra gata que já havia pressentido o que estava por vir e, ao mesmo tempo: vou sentir saudades da Tiiiiiiitaaaaaaaaa!

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Ficamos, meu marido e eu, explicando que estava tudo bem, que ela seria bem cuidada. O choro continua cada vez mais forte. Muito mais forte e mais sentido. Lembrei dos meus bichinhos de estimação da infância. Era um amor imenso. A morte deles era algo dilacerante.

Hoje meus filhotes se deram conta da dor da separação. Tão com os olhinhos inchados e num funga-funga de dar dó. Me impressionei com o quanto ficaram sentidos. Achei bonito o carinho e respeito que tiveram pela gata. Eles vão sentir saudades da Titaaaaaaaa. Eu também.

Raquel Grabauska

O monstro pode estar logo ali

Raquel Grabauska
8 de dezembro de 2017

Nessa semana um funcionário CC da secretaria de cultura de Porto Alegre foi preso em flagrante num vôo entre Guarulhos e Porto Alegre. Ele foi acusado de ter estuprado uma menina de seis anos. Li várias notícias, discussões, pontos de vista a respeito. 

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Gente que admiro falou sobre esperar as provas

Gente que admiro falou em linchar

Eu fiquei zonza

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Já tive caso de abuso na família. Uma pessoa muito amada e próxima foi abusada quando criança. Nunca conseguiu contar para alguém.  Um dia me contou. Já tinham se passado 40 anos. E contou como se tivesse vivendo o dia. Cada detalhe. A dor, a culpa, a vergonha, o desespero. A marca que fica, não sai. Nunca.

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Isso não pode acontecer. Não pode. Lendo sobre essa notícia, mexi no baú da dor. Não pode acontecer. Não pode

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Li gente dizendo que o abusador tem bom caráter, que é pai de uma menina.  Isso é o mais assustador. Os abusadores normalmente são pessoas próximas das crianças. Que tem a confiança delas. Um parente, um amigo da família. Alguém que devia estar cuidando, protegendo. E isso é ainda mais assustador.

Não sei como foi o caso nesse vôo. Confesso que não quero nem ler mais a respeito. Não quero ler porque me dói nas entranhas. Por essa menina, pela pessoa que amo e foi abusada. Mas principalmente porque sei que isso acontece e vai continuar acontecendo. E isso não pode acontecer. Não pode.

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Duas em cada cinco crianças sofrem algum tipo de abuso sexual. Por isso, é interessante conversar com as crianças para alertá-las sobre adultos com comportamentos suspeitos. Pipo e Fifi é um livro infantil que funciona como uma ferramento de proteção, explicando a crianças que tenham mais de três anos de idade conceitos básicos sobre o corpo, sentimentos, convivência e trocas afetivas. Ele ensina a diferenciar toques de amor de toques abusivos. Clique aqui e conheça o projeto.

 

Raquel Grabauska

Cuidado Que Ronca – Um espetáculo gestado por muito tempo

Raquel Grabauska
15 de setembro de 2017

O “Cuidado que Ronca” é inspirado em muitas barrigas, um espetáculo gestado por muito tempo

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Estava indo pra São Paulo para uma apresentação do Cuidado Que Mancha. No avião, estava emocionada pensando no filho do meu sócio que estava para nascer. Pensando em como seria lindo vê-lo crescer assistindo nossas peças. Nesse momento pensei que seria legal fazer um espetáculo para ele. Um espetáculo de canções de ninar para bebês. Inscrevi um projeto no Programa Petrobras Cultural e ganhamos o concurso para a criação do Livro/CD.

Ganhamos esse projeto quando eu estava grávida do meu filho mais velho. Passou o tempo, pesquisamos, criamos, trabalhamos… Ficou pronto o Livro-CD. Foi lançado pela Editora Projeto na Feira do livro de Porto Alegre e fizemos um mini-show nesse dia. Na plateia, a presença ilustre do meu bebê. Meu segundo filho foi criado junto com o livro. Ele na barriga, inspirava. Essa semana tivemos ensaio do espetáculo. No meu colo estava a Olívia, filha da Bárbara Borges, cantora do espetáculo. E assim vamos, cantando para os bebês que estão nas barrigas e fora delas.

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Mini Temporada do Cuidado Que Ronca

Onde: Espaço Cuidado Que Mancha (Rua Vicente Lopes dos Santos, 250)

Quando: dias 16 e 17 de setembro (com duas sessões extra)

Horário: 17h

Ingresso: R$ 20,00

 

Raquel Grabauska

Batmãe

Raquel Grabauska
19 de maio de 2017

Aos olhos dos filhos, me sinto muitas vezes uma heroína.

Tom com 3 anos: Mamãe, desenha o Thor?

Desenhei.

Ele ficou muito feliz e se entusiasmou: Mamãe, desenha um lobo?

 

 

Benjamin, 6 anos:

Mamãe, tu só sabe desenhar o Batman?!

(agora ficou evidente o motivo pelo qual acabei no teatro)

Raquel Grabauska

Mordendo a língua

Raquel Grabauska
24 de março de 2017

Tem coisas que acho inconcebíveis acontecer com quem tem filhos. Coisas que julguei muito os pais quando vi os filhos fazendo. Coisas que jurei que nunca iam acontecer comigo e acabei mordendo a língua. Tipo isso:

  • Fazer refeição olhando TV;
  • Comer porcaria antes do almoço;
  • A porcaria ser o almoço;
  • Negociar um presente pra parar uma birra no meio da rua;
  • Dar aquela xingada nada básica em público;

Já fiz todas essas e mais algumas que devo ter (consciente ou inconscientemente) deletado. E por aí? Mordendo a língua também?