Raquel Grabauska

O monstro pode estar logo ali

Raquel Grabauska
8 de dezembro de 2017

Nessa semana um funcionário CC da secretaria de cultura de Porto Alegre foi preso em flagrante num vôo entre Guarulhos e Porto Alegre. Ele foi acusado de ter estuprado uma menina de seis anos. Li várias notícias, discussões, pontos de vista a respeito. 

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Gente que admiro falou sobre esperar as provas

Gente que admiro falou em linchar

Eu fiquei zonza

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Já tive caso de abuso na família. Uma pessoa muito amada e próxima foi abusada quando criança. Nunca conseguiu contar para alguém.  Um dia me contou. Já tinham se passado 40 anos. E contou como se tivesse vivendo o dia. Cada detalhe. A dor, a culpa, a vergonha, o desespero. A marca que fica, não sai. Nunca.

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Isso não pode acontecer. Não pode. Lendo sobre essa notícia, mexi no baú da dor. Não pode acontecer. Não pode

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Li gente dizendo que o abusador tem bom caráter, que é pai de uma menina.  Isso é o mais assustador. Os abusadores normalmente são pessoas próximas das crianças. Que tem a confiança delas. Um parente, um amigo da família. Alguém que devia estar cuidando, protegendo. E isso é ainda mais assustador.

Não sei como foi o caso nesse vôo. Confesso que não quero nem ler mais a respeito. Não quero ler porque me dói nas entranhas. Por essa menina, pela pessoa que amo e foi abusada. Mas principalmente porque sei que isso acontece e vai continuar acontecendo. E isso não pode acontecer. Não pode.

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Duas em cada cinco crianças sofrem algum tipo de abuso sexual. Por isso, é interessante conversar com as crianças para alertá-las sobre adultos com comportamentos suspeitos. Pipo e Fifi é um livro infantil que funciona como uma ferramento de proteção, explicando a crianças que tenham mais de três anos de idade conceitos básicos sobre o corpo, sentimentos, convivência e trocas afetivas. Ele ensina a diferenciar toques de amor de toques abusivos. Clique aqui e conheça o projeto.

 

Reporteando

Jornalista é pessoa

Renata Colombo
28 de setembro de 2017

Não tem coisa que me revolte mais como pessoa do que violência, abuso, maus-tratos, abandono, enfim, tudo que envolva crianças. Ao mesmo tempo que me embrulha o estômago, desperta uma raiva que desconheço em mim.

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Engana-se quem acha que repórter é um ser frio, isento por completo ou que jamais se envolve com os fatos. Tem coisas que são difíceis demais de cobrir. Já até contei alguns casos aqui para vocês

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Pois bem. Esta semana ocorreu algo que não cobri, mas me revoltou e fez lembrar de outras coberturas. A história de uma guriazinha de cinco anos que teve uma baita coragem de, após um abuso em pleno supermercado de Porto Alegre, fugir do pedófilo e ainda contar para a mãe o que ocorreu.

Lembrei de uma semana há uns quatro anos. Era repórter em Porto Alegre e passei cinco dias cobrindo três casos de abuso sexual de crianças pelo interior do Rio Grande do Sul. Um delegado contou detalhes sobre um padre que abusava dos coroinhas da igreja. Foi insuportável de ouvir e nem tinha condições de publicar um relato tão escabroso. Os outros dois eram de pais que abusavam das filhas. Recordo bem de um em que a menina tinha somente dois anos. Eu disse dois anos.

É impossível ficar alheio ou não sentir nada diante de fatos como estes. Cada colega procura um meio de liberar sua indignação. Eu falo, escrevo, faço questão de publicar e publicar e publicar coisas como esta para que não se repitam. E que a atitude desta guriazinha sirva de esperança para que as futuras gerações tenham a coragem dela de lutar contra violências como esta. E com isso, quem sabe, as próximas nem tenham motivos para precisar de tanta coragem.