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Ativismo e Arte #1 Entrevista com Raquel Grabauska

Flávia Cunha
2 de agosto de 2021

“A gente sabe que está ativa, está militando, está resistindo o tempo todo.”

 Marielle Franco, vereadora, militante e ativista

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A luta da vereadora brutalmente assassinada no Rio de Janeiro foi lembrada por Raquel Grabauska durante a entrevista para o projeto Ativismo e Arte. Atriz, diretora e produtora teatral, Raquel vem desempenhando um papel fora dos palcos e bastidores artísticos. Desde 2020, tornou-se propulsora de ações sociais para ajudar quem passa (ainda mais) dificuldades durante a pandemia. Apesar do resultado visível do projeto CQM+, nossa entrevistada preferiu não se classificar como ativista, quando questionada a respeito. Em seu entendimento, considera o termo algo “maior”, que remete a nomes como o de Marielle.

Por isso, preferiu se intitular como “ativa e artista”. O jogo de palavras entre ativa e ativista parece fazer mesmo muito sentido. Pois é preciso estar em ação para tentar mudar o mundo ao nosso redor. Dentro dessa perspectiva, não existe projeto social menor ou menos relevante, em uma sociedade tão injusta e desigual como a brasileira. 

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CMQ+

O projeto CQM+ foi criado pelo Cuidado Que Mancha, grupo artístico do qual Raquel Grabauska faz parte há mais de 20 anos. Atualmente, a iniciativa conta com 14 voluntárias que recebem doações, como alimentos, agasalhos e outros itens, como móveis e eletrodomésticos. Os donativos são destinados para 23 áreas de Porto Alegre (RS), através da conexão direta com líderes comunitários. “A gente valoriza quem está na comunidade. São os líderes comunitários que sabem as necessidades de sua região”, enfatiza Raquel. 

Para manter o projeto CQM+ ativo, foi criada uma campanha de financiamento coletivo recorrente. Além de contribuir para que as doações sigam sendo destinadas a quem precisa, a ajuda também é necessária para que o Cuidado que Mancha consiga recursos para alugar uma nova sede. 

Os interessados em colaborar, podem acessar este link:  https://apoia.se/cuidadoquemanchamais

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Ativismo e Arte?

Apesar de não considerar que o ativismo tenha interferido em seu fazer artístico, Raquel ponderou que durante a pandemia não conseguiu fazer projetos culturais destinados ao público infantil. “Comecei a trabalhar conteúdos mais voltados para adultos, como vídeos sobre maternidade”, recorda.  Além disso, criticou a condução de editais emergenciais criados pelo poder público para auxiliar a classe artística. “Teve um em que o critério era a ordem de inscrição. Ou seja, ver qual artista tinha a Internet mais rápida e era ágil para digitar seu projeto”, lamentou. Apesar do desconforto, inscreveu-se, por acreditar ser importante para os artistas ocuparem esses espaços. Porém, encontrou uma solução para deixar evidente sua postura crítica. Seu projeto, aprovado, chamou-se “Não me peça para ser criativa”. Uma subversão necessária, convenhamos.

 

 

Depois de encerrada a conversa com a minha entrevistada, precisei discordar da opinião dela a respeito da própria trajetória. Saí da gravação com a certeza que Raquel é uma ativista. E das boas, por fazer esse trabalho de forma sensível e verdadeira.  

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Raquel Grabauska

Atriz, diretora e produtora teatral. Atua há mais de 20 anos no Cuidado que Mancha, uma companhia de música, teatro e literatura voltada ao público infantil. Já publicou 6 livros, além de ter escrito textos dramatúrgicos para espetáculos teatrais. Também é diretora artística do podcast Todo Dia 8, uma produção do Vós.

 

Ouça o podcast com a entrevista completa

 

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Ativismo e Arte – Quem Faz

Uma produção Vós e F Cunha Produtora

Apresentação e produção: Flávia Cunha

Edição de imagem e concepção gráfica: Flávio Siqueira

Edição de áudio: Geórgia Santos

 

 

 



PodCasts

OUÇA Bendita Sois Vós #32 Precarização do trabalho

Geórgia Santos
22 de setembro de 2019

Nesta semana, trazemos para o centro do debate a precarização das relações de trabalho. A reforma trabalhista prometia aumentar salário após flexibilizar a legislação e terceirizar a mão de obra, mas o mercado só gera postos de trabalho com rendimentos precários. Segundo o IPEA, praticamente todas as novas vagas com carteira de trabalho assinada geradas no país em 2019 possuem uma remuneração máxima de até dois salários mínimos.

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Para compreender melhor essa realidade, conversamos com Ludmilla Costhek Abílio, doutora em Ciências Sociais, autora do livro “Sem Maquiagem, o trabalho de um milhão de revendedoras de cosméticos”, da Boitempo Editorial
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No Sobre Nós, Raquel Grabauska traz Os Ratos, de Dyonélio Machado. Participam os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. A edição é da jornalista Evelin Argenta.

Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.

Raquel Grabauska

Amor incondicional?

Raquel Grabauska
5 de outubro de 2018
Eu tive um ataque de amor e abracei meu filho menor bem forte, cherei e disse: como posso te amar tanto?
Ele: porque tu é minha mãe, ora!

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Fiquei rindo muito, claro. E depois fiquei pensando no tal amor incondicional. Eles ainda não me desafiaram a ponto de eu questionar esse amor. Por enquanto, sei que é amor incondicional porque tenho a sorte de ter dois fofos como filhos. Mesmo nos dias em que não dormem. Mesmo nos dias em que deixam os brinquedos jogados. Ou que todas as roupas incomodam. Mesmo quando eles precisam de mim a cada meio segundo. Mesmo quando eles não precisam de mim o dia todo. Mesmo que…

Ver os filhos crescendo é um desafio terno e assustador. Não é só pelas roupas que deixam de servir de um dia pro outro. Não é só porque temos que saber os nomes de todos os personagens dos desenhos animados. Não é só porque num dia tu faz a comida que eles mais amam e no outro dia eles não suportam aquela mesma comida.

É um estado de atenção, vigília. Sem trégua. Porque se a gente não está atento, deixa passar o que mais importa. Deixar de ver que eles aprenderam algo novo, que o vocabulário aumentou, que ele já sabem dizer “procrastinar”e mais, já sabem o que isso significa! Um amor incondicional. Por ora é assim. Pra sempre assim.

Raquel Grabauska

Hoje chorei comprando manga

Raquel Grabauska
2 de fevereiro de 2018

Estávamos no carro e na estrada, vimos duas crianças vendendo frutas numa banquinha improvisada. Janeiro, Nordeste, perto de 36 graus. Sol escaldante. E vi um dos sorrisos mais lindos do mundo.

Me pareceram duas irmãs. Felizes com a venda. A mais velha foi me dar o troco, eu disse que não precisava. O olhar feliz entre as duas me desmontou. Era pouco o troco. Quis ter dado mais. Muito mais. Quis tirar as meninas dali. A mais nova das irmãs regulava de idade com meu filho mais velho. Que segundos atrás regateava conosco um presente que queria. E eu vinha explicando que não iria dar, que fazia poucos dias que ele havia ganhado um brinquedo, que a vida… e apareceram as meninas vendendo manga.

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Meus meninos ficaram espantados com as crianças trabalhando. Já nos ouviram falando mil vezes sobre, mas nunca tinham visto de perto

De tão perto

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Fiquei pensando no quanto o lugar onde nascemos define quem somos. As oportunidades, o que seremos. O que o futuro nos reserva, não sabemos. Mas hoje me doeu pensar no futuro daquelas meninas. Não me permiti sentir pena delas. Quero admirá-las. Admiro. Pequenas valentes. Nosso carro retomou o caminho e as lágrimas puderam cair. Aquele sorriso vai me iluminar por muito tempo.

Raquel Grabauska

Cuidado Que Ronca – Um espetáculo gestado por muito tempo

Raquel Grabauska
15 de setembro de 2017

O “Cuidado que Ronca” é inspirado em muitas barrigas, um espetáculo gestado por muito tempo

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Estava indo pra São Paulo para uma apresentação do Cuidado Que Mancha. No avião, estava emocionada pensando no filho do meu sócio que estava para nascer. Pensando em como seria lindo vê-lo crescer assistindo nossas peças. Nesse momento pensei que seria legal fazer um espetáculo para ele. Um espetáculo de canções de ninar para bebês. Inscrevi um projeto no Programa Petrobras Cultural e ganhamos o concurso para a criação do Livro/CD.

Ganhamos esse projeto quando eu estava grávida do meu filho mais velho. Passou o tempo, pesquisamos, criamos, trabalhamos… Ficou pronto o Livro-CD. Foi lançado pela Editora Projeto na Feira do livro de Porto Alegre e fizemos um mini-show nesse dia. Na plateia, a presença ilustre do meu bebê. Meu segundo filho foi criado junto com o livro. Ele na barriga, inspirava. Essa semana tivemos ensaio do espetáculo. No meu colo estava a Olívia, filha da Bárbara Borges, cantora do espetáculo. E assim vamos, cantando para os bebês que estão nas barrigas e fora delas.

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Mini Temporada do Cuidado Que Ronca

Onde: Espaço Cuidado Que Mancha (Rua Vicente Lopes dos Santos, 250)

Quando: dias 16 e 17 de setembro (com duas sessões extra)

Horário: 17h

Ingresso: R$ 20,00

 

Raquel Grabauska

Batmãe

Raquel Grabauska
19 de maio de 2017

Aos olhos dos filhos, me sinto muitas vezes uma heroína.

Tom com 3 anos: Mamãe, desenha o Thor?

Desenhei.

Ele ficou muito feliz e se entusiasmou: Mamãe, desenha um lobo?

 

 

Benjamin, 6 anos:

Mamãe, tu só sabe desenhar o Batman?!

(agora ficou evidente o motivo pelo qual acabei no teatro)

Raquel Grabauska

Meu marido não me ajuda

Raquel Grabauska
10 de março de 2017

Tenho dois filhos e, sem querer me exibir, creio que tenho o melhor marido do mundo. Do meu mundo. Meu marido não me ajuda, ele faz a parte dele. Meus filhos são metade dele. E ele cuida da metade, do todo, do dobro.

“Ele tem que poder fazer do jeito dele, afinal, não precisamos concordar em tudo, precisamos concordar no principal”

Não foi fácil criar isso. Dá vontade de que ele faça as coisas do jeito que quero. Dá sim. Daí respiro e me seguro. Ele tem que poder fazer do jeito dele, afinal, não precisamos concordar em tudo, precisamos concordar no principal. Às vezes, os guris saem com uma calça listrada e camiseta de bolinhas. Tudo bem. Eles são tão bonitos que isso até pode virar tendência.

Às vezes chego em casa e meu marido está mais interessado no desenho que passa na TV que os dois, que já estão correndo pela casa e brincando de outra coisa. E eu fico com vontade de reclamar, mas fico quieta, pois eu estava na rua porque tinha ele ali pra cuidar dos nossos filhos.

Tenho tentado não ter razão. Não preciso ter razão. Preciso ter paz. E acho que estamos num bom caminho.

Raquel Grabauska

Santa Televisão

Raquel Grabauska
24 de fevereiro de 2017

Começo hoje contando pra vocês da minha vontade de me ajoelhar na frente de quem inventou a televisão. Não sei quem foi, mas assim que meus filhos crescerem um pouco mais eu vou pesquisar. Não faço agora porque não tenho tempo e porque dois segundos depois não vou mais lembrar mesmo. Então, assim que os guris crescerem mais um pouco, isso estará nas minhas prioridades: descobrir quem inventou a televisão e não esquecer seu nome. E reverenciar.

Tem dias em que só a TV salva. E olha que somos pais criteriosos. Não deixamos assistir programas violentos, controlamos o tempo de exposição à tela, selecionamos conteúdos. Mas que salva, salva!

Tenta atender um telefone com dois filhos em casa! E é claro que na hora que o telefone toca, um deles tem o assunto mais importante da vida dele pra falar contigo e o outro precisa muito achar aquele brinquedo que faz quatro meses que ele não brinca, mas que naquele momento em que o telefone tocou, virou um órgão essencial do corpo dele. Se ele não tiver o brinquedo naquele momento, não vai sobreviver, simples assim.  Então, obrigada senhor (a) inventor(a) da televisão. Por tua causa, consigo falar ao telefone de vez em quando.

Dicas de programas legais

Louie – um coelho desenhista. Ele ensina de um jeito tão legal que até eu consegui desenhar.

Wild Kratts –  Dois irmãos aventureiros e uma amiga cientista que pesquisam sobre animais selvagens.

Charlie e Lola – O dia a dia de dois irmãos cheios de imaginação.

 

Raquel Grabauska

Criança fazendo manha? Imagina se fosse em alemão

Raquel Grabauska
17 de fevereiro de 2017

Criança fazendo manha é algo que tira os adultos do sério. Por isso, a felicidade ao ouvir um grito de birra num supermercado e esse grito ser de uma criança que não de um dos teus (lindos) dois filhos, é de um alívio descomunal.

Nossa família está passando por uma experiência divertida. Vamos morar por seis meses numa cidade pequena no sul da Alemanha. Essa aventura começou na semana passada. Nesse período deixamos pra trás algumas coisas importantes: família e amigos, é claro, um chinelo que fez falta no piso frio da cozinha, uma bolsa pequena para… Peraí, isso é bem significativo para nós adultos. Mas e a máscara do Darth Vader? E a fantasia do Stormtrooper? E aquele brinquedo?

E eu nem mencionei o principal: o idioma! Se mudanças já nos bagunçam, uma mudança pra um lugar onde alguém sendo carinhoso contigo fala “SGSHAJSGDSTTTTNNN”, é de deixar os olhos arregalados.

“Mas aqui a manha deles me assusta um pouco, pois tem o vizinho que não conhecemos, a caixa do super que nos olha com estranheza, o senhor idoso que parece não ter muita empatia”

Tudo isso pra dizer que meus dois filhos tem feito uma certa manha. Eles costumam fazer isso no dia a dia, em qualquer lugar. Mas aqui a manha deles me assusta um pouco. Tem o vizinho que não conhecemos, a caixa do super que nos olha com estranheza, o senhor idoso que parece não ter muita empatia. São valentes os meus guris.

A manha deles não tem sido maior que a dos outros tempos. Ia dizer que até tá menor. Mas não vou dizer pra não dar azar. Então, estar num supermercado e ouvir um uivo que parecia de um urso vindo de uma menininha de dois anos gritando um lindo “NEEEEEIIIIIINNNNNNNNNNNNNNNNNNN”, me deu um tremendo alívio. Meu abraço solidário à mãe dessa criança.

E se tua cria faz manha, só posso dizer que faz parte, todos eles fazem por milhares de motivos. Pensa no lado bom: poderia ser alemão.

A propósito, se estiver em Porto Alegre e a manha estiver muito forte, tua criança pode se divertir no Espaço Cuidado Que Mancha 😉

A foto é uma ilustração do Benjamin, meu filho mais velho, sobre manha. Há. 

Raquel Grabauska

Livros para esperar o(a) irmãozinho(a)

Raquel Grabauska
12 de setembro de 2016

A chegada de um novo integrante na família é motivo de muita alegria.E sono.  E ansiedade. E confusão.E sono. Os sentimentos se misturam, se repetem, se alternam. Quando fiquei grávida do Tom, o Benjamin ganhou de uma amiga minha muito querida o livro “Eu Amo o Meu Irmãozinho”, de Anna Walker, da Editora Fundamento. 


Foi muito legal pra nós. Ele via a barriga crescendo e via o Nico, o personagem do livro que também ganha um mano tendo que se adaptar a nova formação da família. Isso rendeu muitas conversas com meu umbigo. O Benjamin tinha certeza de que falando no meu umbigo o mano escutava ele. Quem sou pra discordar?  Essa identificação com o Nico fez muito sucesso aqui.

Nos preparou um pouco pra nova configuração da família. Mesmo depois que o Tom nasceu seguimos lendo. E tem dias em que surgem brigas de irmãos, disputas de brinquedos. Nesses dias leio antes de dormirem e os dois acabam se aproximando. tem dias que livro nenhum aproxima ninguém, mas deixa assim, são poucos…
Essa semana achei um outro bem bonito, e já dei para uma amiga querida que está esperando o segundo filho. O livro se chama Um Bebê vem aí, de John Burningham e Helen Oxembury, Editora Paz e Terra. 

É um presente pra toda a família!