Raquel Grabauska

Uma simples ida ao supermercado

Raquel Grabauska
21 de abril de 2017

Estamos morando na Alemanha faz dois meses e, há poucos dias, fiz meu primeiro papelão aqui! Fui ao supermercado. Não, o papelão não foi esse.

Quando cheguei, vi que tinha esquecido as sacolas em casa, então fui colocar moedas pra poder usar o carrinho e não tinha  –  e aqui precisa colocar uma moeda para liberar o carrinho e quando tu devolve ele pro lugar, pega a moeda de volta. Então, peguei um cestinho e tentei equilibrar todas as compras. Filão no caixa.

Abriu o caixa do lado, um express. O caixa passa as coisas numa velocidade quase como a da luz e tem uma prateleira do tamanho de um o.b. médio pra equilibrar tudo. Tu tem que guardar as compras nas sacolas – que a essa altura eu tinha comprado no super. Consegui, suando, mas consegui. Fiz uma economia em relação às compras anteriores, então fiquei feliz.

Passei o cartão e pediu o PIN

Coloquei a senha

O PIN tem quatro dígitos

“Ai,ai,ai,ai,ai”  

A senha tem seis

Coloquei os 4 primeiros. Senha errada. A moça do caixa já me fuzilando. Eu disse que não tinha o PIN. Ela me disse que todo mundo tem pin. A fila cresceu como bolo bom. Ligo pro meu marido. Guris gritando ao fundo. Ele diz que o PIN é a senha. Digo que não. Ele insiste. Digo delicadamente que a senha é teu **, procura o PIN. A fila já tava na França. Perguntei sobre o pin pra moça que falava inglês na fila. Diz que o PIN nasce com o cartão, no dia que ele sai do banco. Falei pro meu marido que o PIN tem quatro números. Ele me dá cinco. Insisti carinhosamente que eram quatro. Ele tinha certeza absoluta que eram cinco.

“Tá, amor. Vou desligar. Desculpa, moça, vou ter que sair pra tirar dinheiro.”

Coloquei TODAS as compras num canto. Pedi desculpas pro pessoal da fila, que já tava lá na África. Saí, peguei o carrinho das crianças que levei pra colocar as compras e caminhei 30 minutos de volta pra casa. As pessoas me olham passeando com um carrinho de crianças e sorriem. Olham pra dentro do carrinho, não enxergam crianças e me olham espantadas – obviamente pensando que eu tenho sérios problemas.

Meu marido liga dizendo que achou o PIN. O PIN tem quatro dígitos. Estou na porta de casa.

Raquel Grabauska

Meu marido não me ajuda

Raquel Grabauska
10 de março de 2017

Tenho dois filhos e, sem querer me exibir, creio que tenho o melhor marido do mundo. Do meu mundo. Meu marido não me ajuda, ele faz a parte dele. Meus filhos são metade dele. E ele cuida da metade, do todo, do dobro.

“Ele tem que poder fazer do jeito dele, afinal, não precisamos concordar em tudo, precisamos concordar no principal”

Não foi fácil criar isso. Dá vontade de que ele faça as coisas do jeito que quero. Dá sim. Daí respiro e me seguro. Ele tem que poder fazer do jeito dele, afinal, não precisamos concordar em tudo, precisamos concordar no principal. Às vezes, os guris saem com uma calça listrada e camiseta de bolinhas. Tudo bem. Eles são tão bonitos que isso até pode virar tendência.

Às vezes chego em casa e meu marido está mais interessado no desenho que passa na TV que os dois, que já estão correndo pela casa e brincando de outra coisa. E eu fico com vontade de reclamar, mas fico quieta, pois eu estava na rua porque tinha ele ali pra cuidar dos nossos filhos.

Tenho tentado não ter razão. Não preciso ter razão. Preciso ter paz. E acho que estamos num bom caminho.