Cantinho da Leitura #33 Como falar de trabalho com as crianças
Geórgia Santos
2 de fevereiro de 2024
Capa do livro "Mamãe foi trabalhar", de Kes Gray.
Créditos: Reprodução
Neste episódio do podcast Cantinho da Leitura, como falar de trabalho com as crianças. A jornalista Geórgia Santos conversa com Flávia Cunha, jornalista, mestre em Literatura pela UFRGS, produtora editorial de livros infantojuvenis e colunista do Vós.
Mães e pais muito ocupados podem gerar uma sensação de abandono nas crianças. Mas como explicar as obrigações do trabalho para os pequenos sem romantizar o excesso de obrigações profissionais?
A nossa convidada é Denise Ceroni, professora de Pedagogia da UniRitter, doutora e mestre em Educação, especialista em Psicopedagogia Clinica e em Educação Especial e Inclusiva, graduada em Pedagogia, com formação em Mediação de Conflitos.
Uma das sugestões de leitura é “Mamãe foi trabalhar”, de Kes Gray, lançado aqui no Brasil pela editora Globinho. A capa do livro tá na capa do episódio. Para mais dicas de leitura, aperta o play.
7/1 – Benja chateou o Tom, que me disse: O benja quebrou meu sentimento;
18/1 – O Tom quer ver algo na TV e não quer que eu saiba. Daí disse: Mamãe, tu pode ir pra outro lugar? Agora a sala de TV tá ocupada pelo Tom;
20/1 – Papai, você pode ficar a noite toda acordado pra ver se eu caminho durante a noite dormindo? Eu te deixo descansar outro dia. Na verdade, quando a pessoa fica a noite sem dormir, fica cansada;
29/1 – O Tom perguntou: por que as mamães são meninas? Eu: Porque sim, só mulher pode ser mãe. Ele: Ai… Eu: Então, a partir de hoje, eu sou o papai! O Benja: Então se tu é o papai, pode ceder mais fácil, né? Eu: Como assim? Benja: Eu pedi pra ver YouTube e tu não deixou. Pedi pro papai e ele deixou;
6/2 – Eu disse pro Tom: Sou apaixonada por ti. E ele: Ai, não quero namorar. Que nojo!
10/2 -Benja pediu um celular pra o Gonza. Pedido negado, explicações dadas, filho conformado: Criança com celular é a mesma coisa que gato comendo bacon;
22/2 – Almoço no Bar do Beto, comemoração do aniversário da Geórgia. Tom patifando. Benja: Mamãe, tu não vai dar educação pra o teu filho mais novo?
24/2 – Quarto dente do Benja que vai! Foi linda a queda do dente! Estávamos no aniversário da Alice, filha da Diva, que é a amiga mais antiga dele. Estávamos brincando os dois e o dente voou!
11/3- Li uma história sobre porco espinho pro Tom. Quase dormindo, ele disse: Mamãe, porco espinho ataca as pessoas? Eu disse: Acho que não, filho. Só se alguém atacá-lo. Tom: Acho que ninguém ataca ele, porque ele tem espetos muito afiados. Que nem minhas unhas agora. Ninguém cortou minhas unhas…
26/3 – Benja olhando o Tom passar manteiga na bolacha: Ai, crescidinho do Benja, já tá usando faca…
28/3 – Benja fez slime no colégio e ficou um pouco duro. Uma colega disse que pasta de dente deixava mole. Ele testou, não funcionou. Conclusão: Mamãe, isso que ela leu da pasta de dentes só pode ser fake news!
31/3 – Benja dizendo nomes de filmes: Caminhada no lugar. Traduzindo: a volta dos que não foram;
12/4 – Hoje aconteceu uma das cenas mais singelas da minha vida. Madrugada, Tom com febre e eu dando homeopatia de 15 em 15 minutos. Quando fui tentar colocar as bolinhas na boca dele, ele, dormindo, deu beijinho na minha mão;
25/4 – Mamãe, não tem a cor azul no arco-íris, sabia? Não, filho. Tem uma linha faltando. E o céu reflete nela. Eu não aprendi isso na aula, é uma teoria, disse o Benja;
27/4- Benja: “Mamãe, acho que tô com febre. Meu saco tá quente. Quando tenho febre, meu saco fica quente”;
8/5 – Tom fez cocô e me chamou para limpar. Abriu o vaso e me mostrou que não tinha nada. “Eu fiz um cocô silencioso”;
7/8 – Benja foi de novo essa semana abordado para ser modelo. Fez aquela cara de “que novidade…”. Ontem ele me disse que queria pensar num jeito de ganhar dinheiro, mas sem ser modelo. Hoje ele viu minhas fotos do ensaio de ontem e me disse: tu tá desfilando como modelo, mamãe?
20/8 – Benja: Mamãe, por que gente idosa é sempre mais simpática? Idosos seriam bons vendedores de lojinha
17/12 – Montando a árvore de Natal, Benja viu os enfeites que minha mãe fez quando ele era pequeno. “Como que a Dadá sabia que eu ia gostar disso depois de grande? Ela devia me amar muito…”
24/12 – Tom quer ver Star Wars no cinema. Classificação, 12 anos. Dissemos que não rola. Ele: tenho um plano secreto… (depois confessou que vai entrar conosco no cinema para ver outro filme e vai pé por pé para a sala onde tá o filme que ele quer)
Das lembranças mais fortes que tenho da infância, os banhos de chuva sempre ganham
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Minha mãe era refugiada de guerra. O barulho de trovão remetia às bombas. Mal o tempo começava a nublar, se meu pai não estava em casa, ela nos fazia pular o muro da vizinha para nos refugiarmos. Banho de chuva era só quando o pai tava em casa. A mãe se escondia e o pai parava na porta, nos cuidando, permitindo, zelando. Ele nunca tomava banho de chuva conosco. Mas era visível o tanto que ele gostava de nos ver ali.
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Família humilde, o banho de chuva era uma diversão garantida, democrática
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Morávamos numa casa. O pátio era nosso navio, nosso castelo, o que coubesse na imaginação daquele dia. Com filhos numa cidade grande, os banhos de chuva me são mais raros do que gostaria. Hoje isso se desfez. Almoçamos com amigos queridos num lugar ao ar livre. Uma chuva repentina e intensa nos deixou atrapalhados. A ideia de brincar na praça foi pro brejo. Meu filho mais velho começou a brincar nas goteiras das calhas, de leve. Tentamos conversar de que não era o melhor momento. Pais ponderando. Todas as crianças se recolheram. Ele foi. Tão feliz. Com cara de que sabia que tava aprontando. E tão feliz! Saímos na chuva, os dois. Pisamos em poças, rimos, brincamos, lavamos as almas.
Lembrei da criança que eu fui. Me emocionei com a criança que ele é. Por mais banhos de chuva. Muito mais!
Eu nunca gostei de condicionar as coisas aqui em casa. Tipo: se não te comportar, não ganha… Pra mim sempre foi crucial combinar, explicar, dialogar. Como é lindo o mundo das mães na teoria. E quando tu tá atrasada pra uma reunião e o filho não consegue decidir qual brinquedo ele vai levar pra passear? E quando tá tudo pronto e ele toma um gole de água e um micro pingo na roupa é motivo de choro, escândalo, olhar sinistro dos vizinhos que pensam em te denunciar pro conselho tutelar? E quando tu conseguiu deixar tudo bem e do nada fica tudo ruim? E? E? E?
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Nada como uma boa psicologia do desespero. Daí a gente faz o que é possível. Conversa, negocia, tenta, tenta, tenta. E apela.
Bah, apelar é necessário. Quem nunca?
Se atirar a primeira pedra, é certo que só o fez por não ter filho
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Nessas horas em que já tentamos até o impossível, pensamos em mil soluções. Uma delas, claro, é a chantagem. Evita-se ao máximo. Mas tem vezes…
Essa semana meu filho mais velho queria fazer algo, nem lembro mais o que era. Eu não permiti. Ele ficou chateado. Mas mais chateado ficou o irmão mais novo, o defensor do mano. Eles insistiram. Eu mantive a negativa. Depois de argumentos, contra-argumentos, réplica, tréplica e o escambau, o mais novo diz:
(antes disso é importante citar que dia desses ele achou um creme meu e com a desculpa de me fazer massagem, desfez-se da metade do conteúdo)
– Mamãe, tu quer um creme novo? Pensa bem, mamãe, tu pode ganhar um creme novo. – Porque, filho? – Deixa o mano fazer o que ele quer. – Não dá, filho. – Mamãe, tu que sabe… Tu que decide se quer o creme ou não…
Meu filho mais novo tentou ir embora de casa pela primeira vez
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Estavam os dois irmãos mega brincando. Brincando de um jeito comovente. Até tentei entrar na brincadeira e me deram uma excluída. Fiquei na minha, deixa eles, é o espaço deles, blá,blá, blá. Mãe tentando ser madura. O mais velho cansou da brincadeira. O mais novo continuou. O mais velho pediu para parar. O mais novo continuou. Um pedia para parar, o outro continuava. E assim foi por um bom tempo.
O mais velho se irritou. Muito. Foi dar um chute no irmão. Não um chute qualquer. Eu vi que a mira era no rosto. Peguei o pé no ar. Proferi um sermão da montanha. Os dois silenciaram. Depois do discurso voltei a respirar. Me dei conta do risco que havíamos corrido. Passou, pronto, passou…
Quando o mundo parou de girar, olhei para as duas crianças. O mais novo com cara de susto e o mais velho com cara de mais susto. Imaginei a minha cara de susto também. Percebemos os três que estava tudo bem. O mais novo começou uma manha. Expliquei que o que o mano tinha feito não era aceitável, mas que ele deveria ter parado quando foi pedido. Que ele deveria ter ouvido o não. Respeito.
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Nisso, vi que ele foi para perto da porta. Calçou os crocs, me olhou profundamente e girou a maçaneta
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Perguntei para onde ele ia e ele disse que precisava ir embora até eu querer ser uma boa mãe. O mais velho pediu pra ele não ir. Eu aproveitei a deixa e fiz aquela chantagem básica: "Ué, tu queria chutar o mano.” Horrível, eu sei. O mais novo assistindo a nossa conversa, com aquela cara. Daí disse: "O mano que escolhe se eu fico ou vou!"
Resumindo, os dois se abraçaram, foram juntos brincar de novo. E eu fiquei assistindo.
Meu filho mais novo tentou ir embora de casa pela primeira vez
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Estavam os dois irmãos mega brincando. Brincando de um jeito comovente. Até tentei entrar na brincadeira e me deram uma excluída. Fiquei na minha, deixa eles, é o espaço deles, blá,blá, blá. Mãe tentando ser madura. O mais velho cansou da brincadeira. O mais novo continuou. O mais velho pediu para parar. O mais novo continuou. Um pedia para parar, o outro continuava. E assim foi por um bom tempo.
O mais velho se irritou. Muito. Foi dar um chute no irmão. Não um chute qualquer. Eu vi que a mira era no rosto. Peguei o pé no ar. Proferi um sermão da montanha. Os dois silenciaram. Depois do discurso voltei a respirar. Me dei conta do risco que havíamos corrido. Passou, pronto, passou…
Quando o mundo parou de girar, olhei para as duas crianças. O mais novo com cara de susto e o mais velho com cara de mais susto. Imaginei a minha cara de susto também. Percebemos os três que estava tudo bem. O mais novo começou uma manha. Expliquei que o que o mano tinha feito não era aceitável, mas que ele deveria ter parado quando foi pedido. Que ele deveria ter ouvido o não. Respeito.
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Nisso, vi que ele foi para perto da porta. Calçou os crocs, me olhou profundamente e girou a maçaneta
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Perguntei para onde ele ia e ele disse que precisava ir embora até eu querer ser uma boa mãe. O mais velho pediu pra ele não ir. Eu aproveitei a deixa e fiz aquela chantagem básica: “Ué, tu queria chutar o mano.” Horrível, eu sei. O mais novo assistindo a nossa conversa, com aquela cara. Daí disse: “O mano que escolhe se eu fico ou vou!”
Resumindo, os dois se abraçaram, foram juntos brincar de novo. E eu fiquei assistindo.
Eu escrevi semana passada sobre o terror que foi levar meus filhos ao teatro. Escrevi esses tempos sobre a fada do dente. Nesta semana, tudo se misturou. Benjamim, meu filho mais velho, tem 7 anos. Para seu desespero, nunca teve um dente mole. Precisou arrancar dois, pois os permanentes nasceram antes de caírem os de leite.
Todos os colegas com os dentes moles, banguelinhas. Menos ele. Mil perguntas dele sobre o porquê disso. Mil explicações nossas sobre a diferença das pessoas (e aí a mãe já aproveita para dar todos os discursos sobre respeito, diversidade… pobre criança!). Pois bem, amoleceu o primeiro dente, finalmente. E o segundo. E amoleci eu. E ele. Amolecemos todos. Isso nos aproximou de um jeito que nem pensei que podia, pois já tinha sentido todo o amor do mundo, não sei como pode caber mais ainda.
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Sete anos. Dente mole. Outra fase. Ele está crescendo
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Depois do chilique no teatro na semana passada, fiquei pensando no que significava minha profissão. Se meu modo de apresentar as coisas para meus filhos era acertado. Aquelas dúvidas que a gente tem por não existir manual para criar filhos. Pois bem…
No dia do primeiro dente mole, fui ficar com ele na hora de dormir. Já estava bem emocionada, vendo ele deitado, meu bebê que cresceu, que está crescendo, que vai crescer mais e sair de casa, e… (disfarça as lágrimas pra não ter que explicar todo esse pensamento pra ele). Ele me diz: tu pode fazer uma música da fada do dente? E um pouco depois: e uma peça também?
Pronto. Amoleci, derreti, desintegrei de amor. Claro que posso, filho. Todas as minhas dúvidas sumiram naquele instante. Me dei conta de que tá tudo bem. Que teremos fases, as dele e as minhas. E as nossas. E tá tudo bem se ele não quiser ir no teatro.
Desde que foram concebidos os guris estiveram no palco. Criei espetáculos com eles na barriga, apresentei até 15 dias antes do parto, voltei a apresentar quando tinham três meses. Crianças de cochia. Familiarizados com a arte, com o palco, com a movimentação do ofício da mãe.
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Agora, tenta ir numa peça com eles!!!!!
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Fui na Feira do Livro. Para convencer a entrar no auditório, quase rolou chantagem. Da minha parte, é claro. Quando o espetáculo começou, os ouvidos doíam que iam explodir. Sendo que o era no mínimo mil vezes mais baixo do que qualquer grito deles.
O mais velho tinha um livro nas mãos. Isso foi ajudando. Um pouco olhava o livro, um pouco a peça. Lá pelas tantas, via algo bem legal no livro e eu tinha que fazer um delicado “psssssst!” para os mil comentários sobre o que ele tinha visto. O mais novo teve a ideia genial de levar um boneco de Lego.
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Claro, quando o mais velho estava concentrado na peça, o boneco maldito caiu arquibancada abaixo. Mas não todo o boneco. Só o capacete. Preto. No paralelepípedo. Embaixo da arquibancada.
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Adivinhem quantos dois segundos demorou para o choro? O pai das crianças já estava embaixo da arquibancada procurando. Eu tentando manter alguma dignidade. A peça lá no palco. Aí mais velho fala: “mamãe, o papai não pode ir ali! Eles avisaram que não podia ir! Se caísse algo era pra chamar alguém de azul!” E explica pra ele. O pai embaixo. O irmão chorando. A peça acabou.
Alguns bons samaritanos do público, entendendo o drama, ajudaram a procurar. A equipe de produção TODA ajudou a procurar. Quando as lágrimas já estavam secas e ele quase conformado, nós já indo embora, o pai achou. Super pai, super herói. Me deu vontade de acender fogos de artifício.
Enquanto isso, filha da minha amiga que não é do teatro, depois de assistir a peça toda, estava olhando os livros.
Eu sempre tentei ser uma pessoa legal. Claro, tem vezes que a gente não consegue. Daí é a hora de ser legal com a gente, se perdoar, seguir em frente e tentar não cair no mesmo buraco outra vez. Quando temos filho, acerto e erro são, por vezes, desesperadores. A pressão que se cria é algo quase possível de entender ou sentir.
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Ver os filhos cometendo os teus mesmos erros, explicitando os teus próprios defeitos é um exercício difícil de amadurecimento, para todos
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Meu filho mais velho fica mega furioso quando está com fome. Normalmente ele é bastante calmo, mas vira uma fera, respondão, intratável, irracional. Igual a mim antes de ter ele. I-G-U-A-L! Hoje ele teve um mega ataque de fome: “vocês vão me matar de foooomeee!” E dizendo isso de verdade, sentindo de verdade. Eu sei. Eu era igual, igual, igual. Quando deu a primeira garfada, o monstro desapareceu e ele voltou a sorrir e conversar normalmente.
Expliquei pra ele que era assim comigo também antes dele. Ele ficou surpreso: “como tu fez pra melhorar”. Eu ri e expliquei que quando nasce um filho, a gente esquece, muitas vezes, da gente, porque nosso instinto se volta todo para a cria. Expliquei que não entendia muito como, mas que tinha mudado. E ele: então sou teu milagre!
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Sim, meu milagre. Indescritível enxergar o meu humor nele. O sorriso. As caretas. Indescritível me enxergar nele. Isso sim é o verdadeiro milagre
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E depois de escrever, fui fazê-lo dormir. Do nada: mamãe, sabia que eu tenho uma marca de nascença que tu me deu? Eu já tava emocionada e perguntei: qual? Ele: a imaginação. A criatividade. Meu milagre. Meu milagre.
Adoção – Quatro relatos de pais e mães que adotaram uma criança
Raquel Grabauska
28 de setembro de 2018
Ter um filho é algo que não tem como descrever. Posso falar anos e anos sobre o que é. E nunca vou chegar nem perto da complexidade, a felicidade e a inteireza que envolve tudo isso. Sabe como se tem filho? Com amor. Essa é a melhor forma. Meu carinho e admiração a quem tem tanto amor.
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Conversei com quatro pessoas que tiveram umas das atitudes mais lindas que alguém pode ter: adotar uma criança
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Airton, pai do Henrique e do José Guilherme
Quando tiveram a ideia de adotar?
O Marcos sempre teve vontade, porém decidimos no inicio de 2009 e neste mês mesmo agimos…hehehe
Quanto tempo entre a ideia e a adoção?
Dia 26 de janeiro de 2009 fomos até o JIJ (Juizado da Infância e Juventude) nos inscrevemos, já com documentação exigida e, a partir daí, passamos por todo o processo de habilitação (entrevista com psicólogos e assistentes sociais com visita dos mesmos em nossa casa) para adoção como qualquer outro casal ou pessoa que pretende adotar. Em abril já estávamos habilitados e na lista de adotantes do CNA (Cadastro Nacional de Adoção). Em novembro recebemos a ligação do JIJ da cidade de origem deles e fomos conhecê-los no dia 26 de novembro e depois veio duas visitas deles em nossa casa durante fins de semana. Depois da segunda visita decidimos que os queríamos e eles aceitaram ser nossos filhos. No dia 14 de dezembro aconteceu a audiência e saímos dali com a guarda provisória. Após a segunda visita da equipe de acompanhamento fomos dados como totalmente adaptados, teve o parecer favorável do juiz e depois do trânsito julgado do processo (45 dias) fomos registrá-los em maio de 2010.
Que idade tinha a criança?
Adotamos dois irmãos. O Henrique tinha 9 anos e o José Guilherme tinha 4 anos.
Qual a parte mais difícil?
Felizmente não tivemos nada de empecílio. Achamos que foi um processo que bem feliz. Todas as pessoas que de uma forma ou de outra se envolviam neste processo eram muito tranquilas e foi facílimo TUDO.
Como foi quando viu a criança pela primeira vez?
Vimos eles pela primeira vez no dia 26 de novembro, quando fomos no abrigo. Nada sabíamos sobre eles. Primeiro conversamos com a equipe maravilhosa do abrigo, nos contaram sobre a vida deles e depois fomos no pátio conhece-los. Estavam junto com outras crianças. Fomos sem eles saber quem éramos e assim conhecemos sem saberem a nossa intenção. Depois eles vieram até a sala da secretaria e conversamos com eles. Foi amor a primeira vista. Falamos o que estávamos fazendo ali e se eles gostariam de nos conhecer melhor, nossa casa. Combinamos a visita. Depois desta tivemos a certeza que eram eles e eles também que éramos nos os pais que eles escolheriam.
O que te fez saber que era aquela a tua criança?
Eu costumo dizer que o universo conspirou e que nossos caminhos estavam traçados para se cruzarem. Sou espirita e acredito que nesta passagem na terra estamos resgatando algo de outras vidas. Estava escrito que assim seria. E está sendo maravilhoso.
O que tu recomenda pra quem tá pensando nisso?
Eu recomendaria que adotasse imediatamente e deixe de pensar. É uma relação de completa troca de amor, carinho, atenção, puxões de orelhas e companheirismo. Portanto, recomendo que a pessoa se jogue de cabeça e totalmente disposto para dar e receber muito amor e carinho. Com certeza será muito feliz.
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Dorana, mãe do Davi e, agora, mãe da Júlia, de um ano e três meses
Quando tiveram a ideia de adotar?
Sempre tivemos a vontade de adotar, mas a atitude veio quando não conseguimos engravidar do segundo filho.
Quanto tempo entre a ideia e a adoção?
A ideia desde o namoro…kkkk Mas entre ir no Foro Central, ficar habilitado e adotar, 6anos e 5 meses..
Que idade tinha a criança?
Um ano e dois meses. Pedimos no perfil uma menina de até quatro anos.
Como foi quando viu a criança pela primeira vez?
A primeira vez a gente se esforça pra se equilibrar, é um momento tenso e intenso!
O que tu recomenda pra quem tá pensando nisso?
O que recomendo, bom, em uma semana com ela em casa, estamos nos adaptando. Que esta busca seja feita com o apoio da tua família, que seja iniciada de uma vez e que lembre sempre que ” ganhar” um filho é um presente. Independente de ser biológico ou não, ele será TEU pra sempre. Responsabilidade como pais…para criarmos uma pessoa que some neste mundo.
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Ana, mãe do Henrique,7 anos
Quando tiveram a ideia de adotar?
Após tentarmos três gestações sem sucesso
Quanto tempo entre a ideia e a adoção?
1 ano
Que idade tinha a criança?
1 ano e 8 meses
Qual a parte mais difícil?
À espera longa sem ter prazo certo e depois não saber muito sobre a criança
Como foi quando viu a criança pela primeira vez?
01 mês antes de ir para minha casa
O que te fez saber que era aquela a tua criança?
Não sabia, ela me foi designada e nós a acolhemos, não sentimos aquela coisa mágica que muitos falam. Houve uma empatia e afeto mútuo pois ele queria uma família e nós queríamos um filho, mas nada mágico, tudo muito construído até hoje, tijolinho por tijolinho. No início há um estranhamento, pois de repente nasce uma criança, sem gestação, sem data de parto.
O que tu recomenda pra quem tá pensando nisso?
Esteja de coração aberto, não coloque ideias em caixinhas, nem planos rígidos, abra-se para aprender, para receber e, claro, para exercitar um amor que com certeza vai te desafiar e exigir muito.
Vanessa, mãe da Dora, três anos
Quando tiveram a ideia de adotar?
No nosso caso não foi uma “ideia”. Eu sempre acreditei ser essa uma das certezas que tinha sobre maternidade. Minha companheira abraçou o meu mundo e as minhas certezas e com a vida em comum começamos a reconhecer os ecos uma da outra como nossos também. Assim se deu a decisão íntima de sermos mães pela via da adoção.
Entendemos que para nós o caminho da maternidade pela inseminação de um doador de sêmen já é uma adoção. Adoção essa unilateral, no nosso entender . E ainda com variáveis muito elásticas quanto ao que mobiliza esses doadores.
Outra questão quanto à seleção dos possíveis doadores em um banco de sêmen brasileiro que nos deixou tão distantes dessa ideia foi o fato de que, como mulheres brancas que somos, só poderíamos ter doadores igualmente brancos. Para nós isso é assustador. Já na época. Ainda mais hoje, nós mulheres brancas, mães de uma menina negra.
Quanto tempo entre a ideia e a adoção?
Alguns anos (quase 4 anos) desde a primeira vez que falamos sobre o assunto. Em um primeiro momento nos dedicamos a construir nossa relação. Nosso entendimento como casal. Do amor sedimentado cresceu a vontade de expandir esse amor para alguém que nascesse desse amor. E a adoção é só AMOR – pelo outro. Um outro que não é gerado em você mas nasce e cresce em você. E a razão de ter aqui a “palavra Amor” repetidas vezes é porque só é possível a entrega quando o AMOR é maior e transborda.
Porém de tudo – demoramos 17 meses para sermos habilitadas e da habilitação até a chegada da Dora foram quase 4 anos.
Que idade tinha a criança?
A conhecemos com menos de um ano e ela chegou com 1 ano e meio.
Qual a parte mais difícil?
Como mãe a parte dilacerante é quando já se sabe que sua filha existe; tem um rosto, um olhar, um cheiro… e você precisa dia após dia se despedir e a deixar no abrigo até que alguém compreenda que essa criança já tem uma família para chamar de sua.
Para nós como mulheres que se amam o mais difícil foi lidar com o preconceito. Em muitas etapas iniciais do processo de habilitação e ainda pela parte técnica do abrigo.
Como foi quando viu a criança pela primeira vez?
Foi um turbilhão. Dentro do abrigo, noite, frio. Eu ali em dia de festa para as crianças maiores. Ela doente sem nada de festa. Muito séria, olha triste, desconfiada, vem pro meu colo. Foi a emoção mais doida e doída que já vivi. Fui tomada por uma coragem de mundo e ao mesmo tempo um medo imenso do que estava por vir me pegou pela mão. Não é fácil quando nos damos conta de que o coração bate fora do peito.
O que te fez saber que era aquela a tua criança?
Como não saber?
O que tu recomenda pra quem tá pensando nisso?
Recomendo leitura, escuta, compartilhamento, entrega. Recomendo urgentemente que participe de grupos de apoio à adoção. Apenas os sérios. Tem muita bobagem nas redes e muito preconceito.
E antes de mais nada que somente pense a adoção se ou quando o coração estiver pronto. Adoção não pode ser vista e não é a última opção para se formar uma família. Os adotantes é que devem ser na verdade os adotados. As famílias é que devem adotadas por essas crianças. Já passaram por muito. Não são consolo nem nos devem gratidão. O luto é delas e não nosso. Precisamos ser e estar inteiros para elas que muitas vezes são fragmentadas, apenas parte de histórias que “preferimos” não contar, que “preferimos” esquecer.
E por fim termos a certeza segura de que uma família formas pela adoção tem raiz no amor. E isso – o amor – também passa de pais para filhos.
Muitas vezes me pego pensando no quão boa é a vida que meus filhos têm. Eles são realmente privilegiados. Muito. Tem um tanto disso que é sorte, tem um tanto que é decisão nossa como pais, tem um tanto que é da vida. De vez em quando eu dou choques de realidade.
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Esses dias um deles começou a dar meu discurso sobre as pessoas que não tem comida ou oportunidade. Eu comecei e ele foi falando junto e disse: tu sempre diz isso, mamãe.
Eu falei: sempre digo e sempre vou dizer.
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Eu recebi muito amor quando era pequena. Tive uma mãe muito amorosa. Meu pai era uma pessoa dura. Do seu jeito, mostrava que se importava conosco, mas a dureza era constante. Já o amor da mãe transbordava, e isso era quase tudo que eu precisava. Passamos por bastante privação, tive poucas oportunidades de fazer programas legais em família, passeios e outras coisas que todos deveriam poder. Quando vejo meus filhos Tendo a vida que têm, fico com o coração cheio. Eles têm uma vida linda. Imagino que as lembranças da infância serão incríveis.
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Eles têm pais amorosos e presentes. Somos pais privilegiados também. Um tanto de sorte, um tanto de opção nossa. Uma série de fatores que nos fazem felizes por estarmos juntos
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Mas me preocupo e até me assusto quando eles estão descontentes. A vontade que tenho é de contar o que vivi, que não foi fácil, porque foi comigo, fui em quem sentiu. Mas que não é nada comparado ao que se vê por aí. Parâmentro é tudo. Não quero assustar, mas quero que saibam a vida linda que têm.
Sei que posso tentar fazer o melhor, que nunca vai ser o suficiente. Eles vão sempre ter do que reclamar. Assim como eu fiz com minha mãe. A semana toda passei cantando essa música.
Gosto mais da versão na voz da mãe dela, mas achei pertinente ser a filha cantando..