Cantinho da Leitura #33 Como falar de trabalho com as crianças
Geórgia Santos
2 de fevereiro de 2024
Capa do livro "Mamãe foi trabalhar", de Kes Gray.
Créditos: Reprodução
Neste episódio do podcast Cantinho da Leitura, como falar de trabalho com as crianças. A jornalista Geórgia Santos conversa com Flávia Cunha, jornalista, mestre em Literatura pela UFRGS, produtora editorial de livros infantojuvenis e colunista do Vós.
Mães e pais muito ocupados podem gerar uma sensação de abandono nas crianças. Mas como explicar as obrigações do trabalho para os pequenos sem romantizar o excesso de obrigações profissionais?
A nossa convidada é Denise Ceroni, professora de Pedagogia da UniRitter, doutora e mestre em Educação, especialista em Psicopedagogia Clinica e em Educação Especial e Inclusiva, graduada em Pedagogia, com formação em Mediação de Conflitos.
Uma das sugestões de leitura é “Mamãe foi trabalhar”, de Kes Gray, lançado aqui no Brasil pela editora Globinho. A capa do livro tá na capa do episódio. Para mais dicas de leitura, aperta o play.
Cantinho da Leitura #25 Como falar de divórcio com crianças
Geórgia Santos
7 de abril de 2023
Neste episódio do podcast Cantinho da Leitura, como falar sobre divórcio com as crianças. A jornalista Geórgia Santos conversa com Flávia Cunha, jornalista, mestre em Literatura pela UFRGS, produtora editorial de livros infanto-juvenis e colunista do Vós.
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A gente sabe que família de comercial de margarina não existe mesmo. Mas às vezes os adultos percebem que o melhor para eles é acabar com o casamento
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Dados do IBGE divulgados em fevereiro de 2023 apontam um recorde de quase 387 mil divórcios em 2021, um aumento de 17 por cento na comparação com 2020. Só que quando se trata de um casal com filhos, é inevitável que as crianças estejam envolvidas nessa mudança na vida familiar. Mas como contar para uma criança que os pais não são mais um casal? Existe uma fórmula ideal? E como a literatura pode ajudar nesse processo?
Cantinho da Leitura #3 A importância da literatura infantil antirracista
Geórgia Santos
29 de janeiro de 2021
O terceiro episódio do podcast Cantinho da Leitura trata da literatura infantil antirracista. A jornalista Geórgia Santos conversa com Flávia Cunha, jornalista, mestre em Literatura pela UFRGS, produtora editorial de livros infantojuvenis e colunista do Vós.
Nas sugestões de leitura, “Pequeno Manual Antirracista”, Djamila Ribeiro, editora Companhia das Letras; “Amoras”, do Emicida, editora Companhia das Letrinhas; “Minha mãe é negra, sim!” de Patrícia Santana, Mazza Edições; “Meu crespo é de rainha”, Bell Hooks, editora Boitempo, selo boitatá; e “Racismo Estrutural”, de Silvio Almeida, editora Jandaíra.
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O episódio ainda traz um trecho da entrevista do professor Silvio Almeida ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em que ele explica de que forma o racismo está vinculado a todos os aspectos da vida em sociedade.
A história na hora de dormir aqui em casa é lei. Mesmo com cansaço, mesmo esgotados, sempre tem história. Ano passado moramos seis meses no exterior e escolhemos a dedo o que levaríamos. Dentre as escolhas, cinco livros – e acho que saberei esses cinco pelo resto da vida.
Sempre tem a fase de repetir a história que mais se gosta. Mas seis meses é tempo demais pras mesmas histórias…
Eu gosto do livro de papel, folhear um livro, não tem igual. Mas fui obrigada a me render, claro, não quero ser uma mãe das cavernas. Leio no Kindle e outros meio. Então, seguem sugestões que nos salvam em viagens:
Muita gente por aí reclama do conteúdo do que vê postado pelas redes sociais. Pois eu tenho o privilégio de cultivar uma “bolha” de alto nível, com assuntos culturais sempre em destaque. Por isso, é comum haver indicações de leituras com texto muito bem escritos passando constantemente pelas minhas atualizações.
Foi assim que tive acesso a essa resenha da jornalista e coordenadora editorial Lu Thomé, uma figura querida, competente e reconhecida no meio literário do Rio Grande do Sul. O livro indicado por ela é forte e trágico:Canção de ninar, de Leila Slimani. Ainda não tive oportunidade de ler, mas fiquei bastante curiosa após o relato de uma profissional da área:
As opiniões se dividem a respeito deste livro. Vi leitores apaixonados. Vi críticos implacáveis. O estilo de Slimani é seco, pontual, enfiando o dedo direto em uma ferida aberta e purulenta. Uma vez me disseram que meus textos são como um trem andando no trilho. Veloz, curto, com socos em intervalos constantes. Se uma escritora pode representar isso com perfeição é Slimani. As frases curtas, o estilo direto, a crueza que conta a cada linha sem grandes descrições ou voltas. Ela não emprega tempo ou esforços para preparar o terreno. Não precisa disso. E constrói um narrador em terceira pessoa que é implacável com todos – até mesmo com as crianças. Não é um texto para qualquer leitor, e não porque seja rebuscado ou sofisticado. Pelo contrário: é mundano, é simples, é direto no ponto máximo que a literatura permite. Mas algo mais sintomático ocorre: é uma narrativa forte que encontrará – inevitavelmente – mais eco nas mães (e eu não escrevo mulheres aqui de forma proposital). É mais do que um exercício de empatia: é um espelho na nossa cara, refletindo nossas escolhas, nossos problemas, nossos embates, nossa solidão, nossas possibilidades, nossas loucuras e – especialmente – nossas culpas. Porque só quem já ouviu um “Como é que tu consegue?” sabe todo o universo que está envolvido nesta simples, direta e bruta pergunta. Um livro sobre os conflitos sociais, os problemas domésticos, o peso da rotina, o mercado de trabalho opressivo. Mas, essencialmente, um grande livro sobre a maternidade.
Sinopse: Apesar da relutância do marido, Myriam, mãe de duas crianças pequenas, decide voltar a trabalhar em um escritório de advocacia. O casal inicia uma seleção rigorosa em busca da babá perfeita e fica encantado ao encontrar Louise: discreta, educada e dedicada, ela se dá bem com as crianças, mantém a casa sempre limpa e não reclama quando precisa ficar até tarde. Aos poucos, no entanto, a relação de dependência mútua entre a família e Louise dá origem a pequenas frustrações – até o dia em que ocorre uma tragédia. Com uma tensão crescente construída desde as primeiras linhas, Canção de ninar trata de questões que revelam a essência de nossos tempos, abordando as relações de poder, os preconceitos de classe e entre culturas, o papel da mulher na sociedade e as cobranças envolvendo a maternidade. Publicado em mais de 30 países e com mais de 600 mil exemplares vendidos na França, Canção de ninar fez de Leïla Slimani a primeira autora de origem marroquina a vencer o Goncourt, o mais prestigioso prêmio literário francês.
Quer ver sua dica de leitura publicado no Voos Literários? Escreva para flavia@vos.homolog.arsnova.work
Sempre fico meio receosa quando chega nessa época de fim/início de ano e todo mundo começa a traçar metas e promessas. É dieta, academia, viajar mais, ter mais dinheiro, um emprego melhor e por aí vai. Nesse misto de ansiedade e expectativa, nos enchemos de obrigações e deveres e nos frustramos ao não conseguir atingir um patamar tão elevado de um “novo eu” para um “novo ano”.
Sobre a leitura, claro que é legal a gente incluir na nossa rotina um bom livro ao invés de ter somente as horas livres dedicadas a maratonas intermináveis de seriados, por exemplo.
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Mas me arrisco a dizer que colocar a Literatura como uma obrigação tira o encantamento que uma obra de qualidade pode trazer às nossas vidas
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E isso vai depender do gosto de cada um. Por isso, não acredito em imposições. Digamos que vocês aí que estão me lendo não tenham atingido um número de leituras em 2017 da qual possam se orgulhar. Digamos que 12 livros por ano poderia ser um bom número, não? Um livro por mês, bem na manha. Daí eu respondo. Depende. Se vocês se propuseram no ano passado a ler Guerra e Paz, essa tarefa de terminar em apenas um mês não se torna tão simples. (Depende da edição, mas a obra-prima de Tolstói tem uma média de 600 páginas).
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Por isso, não se deixe contaminar por número e metas. Leia o que lhe dá prazer. Leia o que tem vontade. E deixe seu 2018 mais leve
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No meu caso, aproveitei o recesso de final de ano para ler, de forma bem despretensiosa e por total acaso, três livros com a palavra “menina” no título.
A Menina Má, um clássico de William March, foi um precursor das histórias com crianças psicopatas. Rhoda é uma linda garotinha de 8 anos que parece ter tendências homicidas. A mãe dela se angustia com a possibilidade da menina ter cometido mais de um assassinato. Daqueles livros para ler de um fôlego só.
A adaptação de A Menina do Fim da Rua, de Laird Koenig, fez sucesso no cinema com Jodie Foster, ainda adolescente, como protagonista. O enredo do livro é sobre uma jovem de 13 anos que mora em uma casa com o pai, que nunca é visto pelos vizinhos. A menina é uma intelectual, apaixonada por música clássica e por poemas de Emily Dickinson. Mas Ela também tem segredos muito bem guardados que geram reviravoltas interessantes na trama.
Já A Menina da Neve tem um tom mais mágico, de contos de fada. Um casal sem filhos aproximando-se da velhice vai morar no Alasca para tentar vida nova. Ao criarem um boneco de neve, começam a enxergar uma criança na floresta perto da casa deles. Alucinação ou verdade? A história se desenvolve com delicadeza e ternura, em um final que pode provocar lágrimas nos leitores mais sensíveis. O livro de Eowyn Ivey foi um dos finalistas do conceito Prêmio Pulitzer, há cinco anos.
Os livros da vergonha (Ou parem de julgar a leitura alheia)
Flávia Cunha
11 de abril de 2017
Cinquenta Tons de Cinza. Sabrina. Júlia. Bianca. Percy Jackson. Chick Lit em geral, termo criado para denominar livros “mulherzinha”: O Diabo Veste Prada, O Diário de Bridget Jones e afins. Best-sellers à la Dan Brown e seus Códigos da Vinci da vida. Atire a primeira pedra quem nunca leu um livro de enredo raso, com conteúdo zero, por puro entretenimento.
Tem quem esconda. Tem que nem se dê conta da possibilidade de críticas por essas escolhas. E tem a pior espécie, na minha opinião: quem se incomoda com a leitura alheia. Seres que se julgam no direito de palpitar nos livros que os outros escolhem para suas horas de lazer. Me parecem estar na mesma categoria dos críticos do pensamento político alheio sem pedido de opinião, nos que querem interferir na orientação sexual de quem mal conhecem ou que desejam incutir sua fé religiosa nas pessoas goela abaixo.
Para ilustrar esse comportamento inadequado, vou contar uma história real que aconteceu comigo durante um encontro de amigos. Ao receber elogios por gostar de ler, sou interceptada pelo comentário de uma outra amiga: “Garanto que eu leio mais do que a Flávia.” Minha resposta inicial foi só dar risada, achando que era uma piada. Mas não era. Passei por um questionário sobre meus hábitos de leitura. Número de livros lido por ano e quais obras eram. Quando eu respondi que estava numa onda de ler romances policiais (como eu já expliquei aqui nesse post), a reação da minha interlocutora foi um ar de desprezo e a tentativa de dizer o quanto seu gosto literário era mais elevado. Eu, ainda surpreendida pela cena, apenas elogiei sua inteligência, disse que jamais encararia a literatura como uma competição e encerrei o assunto.
Claro que eu podia ter sido arrogante também, lembrando a essa amiga que a mestre em Literatura era eu, enquanto ela ainda não havia nem sido selecionada em uma pós-graduação. Que já havia lido quase todos os livros escritos por José Saramago e Gabriel García Márquez, por exemplo. Que havia estudado academicamente Decameron, Dom Quixote e outros clássicos literários. Que tive o privilégio de pesquisar detalhes sobre a obra de Caio Fernando Abreu para a minha dissertação, indo muito além do que é exposto sobre o escritor nas redes sociais.
Porém, preferi calar e evitar conflitos. Afinal, a vida online já é recheada de agressões e julgamentos. No modo offline, o melhor é não bater boca. E, como eu escrevi nesse texto, não acho que os clássicos sejam o único caminho para aumentar o número de leitores no Brasil. E como um ser humano que realmente não se leva muito a sério, não me sinto intimidada pelo julgamento alheio. Seja na literatura ou na vida…
Eu não sou mãe, mas tenho muitos amigos e amigas com filhos. A missão inclui inúmeras facetas, mas criar nos pequenos o hábito da leitura é uma preocupação constante em vários pais e mães que conheço. Ironicamente, a apreensão é maior entre aqueles que não tem a literatura como paixão.
Mas, se não for pelo exemplo, como fazer uma criança gostar de ler? Ou, antes disso, qual seria o objetivo de ter a leitura como hábito, em uma sociedade cada vez mais preocupada com a aplicação prática de qualquer atividade?
Incluir a leitura na rotina desde cedo ajuda as crianças a terem mais criatividade e capacidade de reflexão, mesmo antes de serem alfabetizadas. Livros ilustrados ajudam nessa “viagem” que os pequenos fazem, inventando novas histórias a partir dos desenhos. Depois, vem a fase de contar (e recontar) as histórias, muito importante para fortalecer laços entre adultos e crianças. Que pode, aliás, ser uma atividade prazerosa em qualquer horário do dia e não apenas na hora de dormir, como manda a tradição.
Vale prevenir que obviamente ninguém vai começar a gostar de ler na marra. Aliás, acho que a leitura fora da escola não deveria nunca ser algo imposto, mas visto como mais uma atividade bacana para fazer nas horas vagas, como ir ao cinema, ao teatro infantil, ao parque de diversões… Tudo é uma questão de como apresentar os livros às crianças.
Mas se a criança não gosta mesmo de ler, seguem algumas sugestões.
Para os pequenos que curtem cinema:
Apresente as diversas versões em livro de sucessos do cinema: Harry Potter, Jogos Vorazes, Alice no País das Maravilhas… As opções são muitas, basta dar uma pesquisa básica.
Se a criança é viciada em games:
Dê de presente livros baseados em games, como os da série Minecraft. Aqui tem uma matéria completa sobre o assunto.
Para meninas e meninos que gostam de música:
Apresente livros infantis como os de Bob Dylan, por exemplo. E já comece a incentivar o bom gosto musical desde cedo.
Para crianças ligadas no tema desconstrução de gêneros e incentivo ao girl power:
Meus preferidos são os livros da coleção Antiprincesas, com biografias voltadas para o público infantil de nomes como Frida Kahlo e Clarice Lispector. Aqui tem mais sugestões de obras nessa mesma linha.
Na semana que vem, darei uns palpites a respeito de livros infantojuvenis brasileiros. Tem muita coisa boa!!