Cantinho da Leitura # 17 Livros infantis para sonhar e aprender com as profissões
Geórgia Santos
29 de abril de 2022
Neste episódio do podcast Cantinho da Leitura, livros infantis para sonhar e aprender com as profissões. A jornalista Geórgia Santos conversa com Flávia Cunha, jornalista, mestre em Literatura pela UFRGS, produtora editorial de livros infanto-juvenis e colunista do Vós. O Cantinho da Leitura é um podcast parceiro da Companhia das Letrinhas.
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O tema profissões é instigante para a criançada
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Afinal, quem de nós já não teve mil planos e sonhos na infância quando ouvia a clássica pergunta: “o que você quer ser quando crescer?” Pois é sobre profissões e também como os adultos devem abordar esse assunto com os pequenos, o tema do nosso episódio de hoje.
A convidada é Janaina Tokitaka, paulistana, que é escritora e roteirista na área audiovisual. Têm mais de 40 livros publicados, entre eles o ABCDelas, pela Companhia das Letrinhas. Um abecedário que conta a história de mulheres pioneiras em diferentes profissões, de A a Z.
Quantos livros escritos por mulheres você já leu ao longo da vida? Na escola. Para o vestibular. Na faculdade. Na vida. O tema de um curso me despertou essa inquietante questão. Logo eu, feminista. Logo eu, que me preocupo com as questões de gênero. Mas a verdade é que o próprio sistema de ensino favorece o acesso a obras criadas por homens. Tomando como exemplo a lista de leituras obrigatórias do processo seletivo da UFRGS para 2018 traz apenas duas escritoras: Carolina Maria de Jesus, com Quarto de Despejo (uma novidade nessa seleção) e Clarice Lispector, com A Hora da Estrela, que já integrava a lista.
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Por isso me interessei muito pelo tema proposto no curso Mulheres que escrevem sobre mulheres, que aborda escritoras e pesquisadoras que estudam ou escrevem sobre outras autoras
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A ministrante é a jornalista e escritora Priscila Pasko. Ela também é idealizadora, editora e repórter do blog Veredas , espaço que discute e divulga a literatura produzida por mulheres, que pertence ao site Nonada. Priscila também integra o Grupo de Pesquisa Permanente em Literatura de Autoria feminina de Porto Alegre. Também escreve no Tumblr Parece a vida mas é real.
Priscila afirma não cansar de citar a premiada escritora espanhola Antonina Rodrigo: “si no hablamos nosotras de nosotras, quién lo va a hacer?”. Antonina é considerada um ícone da literatura feminista. Escreveu diversos ensaios sobre mulheres, além de estudos históricos e biográficos.
O curso vai abordar genealogia, linhagem e ancestralidade presentes na literatura de autoria feminina, a partir de conceitos criados pela professora e pesquisadora Lélia Almeida, uma das estudiosas abordadas durante a atividade. Também serão analisadas as obras de Virginia Woolf, Zahidè Muzart, Anna Faedrich, Camila Doval, Nubia Hanciau e Lúcia Maia, entre outras.
Eu fiquei super curiosa para saber quais outras autoras serão debatidas ao longo das três horas de atividade, que vai ser promovida no dia 13 de maio, em Porto Alegre. O curso sera realizado no Clube de Leitores, um novo espaço cultural de Porto Alegre. Para quem se interessou, a inscrição pode ser feita aqui.
Respeita As Minas (Na Literatura e Em Qualquer Lugar)
Flávia Cunha
7 de março de 2017
Se tem um termo que incomoda grande parte das escritoras é ter sua obra denominada como literatura feminina. O rótulo particularmente me remete a uma moça muito comportada, vestida com babados e frufrus, escrevendo sobre corações partidos, fragilidades e futilidades. No outro extremo, caso fosse usual a classificação literatura masculina, acabaria parecendo inaceitável que houvesse sensibilidade nos textos literários escritos por homens.
Em pleno século 21, o feminismo ainda é uma das bandeiras que precisam estar em evidência, para evitar a desigualdade entre homens e mulheres, em um mundo que já abriu espaço para orientações sexuais diversas e debates de temas considerados polêmicos por muitos, como aborto, por exemplo. Nesse contexto, a literatura dita feminista é um instrumento fundamental para o empoderamento feminino, um conceito que muitas vezes desperta antipatia por parte das pessoas mais conservadoras.
Uma das escritoras mais representativas dessa vertente é a gaúcha radicada em São Paulo Clara Averbuck. Na época do surgimento dos blogs, Clara apresentou aos internautas seus textos densos e diretos, abordando temas como sexo, bebidas e drogas na perspectiva de uma mulher forte e sem frescuras. Em 2002, a escritora lançou sua primeira obra Máquina de Pinball, em que aparece sua personagem mais famosa, Camila. A protagonista desse livro acabou indo parar no cinema, em uma adaptação que não agradou a escritora.
Com o passar dos anos, Clara consolidou sua luta feminista, presente no site Lugar de Mulher, no qual é uma das editoras. Também tem uma presença constante nas redes sociais, com posicionamentos políticos e relatos sinceros sobre o cotidiano de uma escritora sem grana no Brasil: viver de frilas para pagar o aluguel, como criar uma filha adolescente sozinha e sua angústia ao receber diariamente relatos de abusos sofridos por outras mulheres, sentindo-se muitas vezes impotente para dar uma real ajuda a essas manas.
Seu livro mais recente, Toureando o Diabo, traz o retorno da personagem Camila, mais amadurecida e com ideais declaradamente feministas. Não é à toa que a obra é dedicada “às minas – todas elas”. Publicado de forma independente, por meio de financiamento coletivo, o livro tem coautoria da ilustradora Eva Uviedo e pode ser comprado aqui.
Do fim dos anos 40, quando Simone de Beauvoir chocou a sociedade com seu ensaio filosófico O Segundo Sexo (que eu recomendo fortemente a leitura), até os dias atuais, o lugar da mulher é mesmo aonde ela quiser. Inclusive fora de rótulos reducionistas como literatura feminina.
(PS: Certamente falaremos sobre mulheres na literatura em muitos outros posts do blog Voos Literários. Mas o dia 8 de março é marcado por lutas extremamente significativas das mulheres e não como um dia de comemorações. Esse texto é uma singela homenagem a todas as mulheres que enfrentam qualquer tipo de discriminação ou opressão em suas vidas.)