Raquel Grabauska

O poder da palavra

Raquel Grabauska
1 de junho de 2018

Quando eu era pequena, minha família passou por diversos apertos financeiros. Uma boneca legal, um passeio, alguma roupa ou uma sandália eram sonhos quase sempre inalcançáveis. Sempre perto do meu aniversário acontecia algo e a situação piorava. Parecia uma tradição, já.

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Quando eu tinha quase 7 anos, uma amiga prometeu uma festa linda. Eu podia escolher o que quisesse. Escolhi uma festa à fantasia.

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Todas as crianças ganhariam fantasias de bicho. Planejamos por dois meses. O pai dela era rico e daria de presente. Ela pediu segredo. Eles moravam numa casa tão simples como a minha, mas eram muito ricos e disfarçavam para não serem roubados. E assim fiquei, em segredo. Dois meses planejando cada detalhe, sorrindo sem perceber, flutuando no pensamento daquela felicidade que viria.
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Foi chegando perto do dia e nada acontecia. E eu entendendo. No dia seguinte veríamos a fantasia. No dia seguinte teria o … no dia seguinte.

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Chegou o dia da festa e nada aconteceu. Lembro da sensação de desmoronar. Não ter a festa foi ruim, é claro. Mas me desmanchou perceber que minha amiga não tinha falado a verdade. Lembro do assombro e tristeza da minha mãe quando contei pra ela. Lembro de perguntar: porque ela fez isso, mãe? E minha mãe, sem conseguir responder, deu aquele abraço gostoso que só a mãe da gente dá e faz sumir a dor.

Dia desses meu filho foi enganado por um colega numa troca de brinquedos. Foi muito injusto. Nós tentamos orientar, mas deixamos ele resolver a situação. Ele não quis nos ouvir, pois questionamos (para ele) o que o amigo estava fazendo. Ao perceber que não era como havia sido combinado, ruiu um tanto. E perguntou: porque ele fez isso, mamãe? Dei meu melhor abraço e falei. Dias depois meu filho mais novo estava contando algo que um amigo havia contado. O mais velho percebeu que não era verdade: mano, isso é mentira! Ao que o outro respondeu: nãoooo!! Meu amigo falou!

Palavra de amigo tem poder. Que a gente sempre possa crescer com os amigos que nos dizem palavras importantes.

Raquel Grabauska

O melhor brinquedo para dar para uma criança 

Raquel Grabauska
9 de fevereiro de 2018

 Férias chegando, arrumação de mala, aquela função toda. Uma amiga também estava precisando de férias e não teria como sair da cidade. Ofereci pra ela e o filho ficarem em nossa casa. Me dei conta que o filho dela é mais velho que os meus.

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Comentei que não sabia se ele ia se interessar pelos brinquedos dos guris.

Ao que ela me respondeu: tu sabe qual o brinquedo que uma criança gosta?

Enquanto eu estava no hummmm… ela disse: outra criança

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Isso fez tanto sentido pra mim, me desmontou, me remontou, me fez sorrir e trouxe leveza. Já vi crianças deixando o brinquedo de lado e indo brincar com a caixa. Ahhhh, mas ter um amigo pra brincar, não tem coisa melhor.

Outra amiga está passando um tempo fora do país. Não muito tempo a ponto de colocar o filho na escola, nem tão pouco a ponto de não precisar ter amigos novos. Quando me contou do quanto está gostando da viagem, a única ressalva era a falta de amigos para o filho brincar.

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Quando ficamos morando fora por seis meses, raros os dias em que meus guris não falassem nos amigos. E teve dias em que até brincadeira através da internet as mães dos amigos  eu promovemos, porque a saudade era gigante

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Agora estamos em férias numa pousada. Os guris fizeram amizade de cara. O outro menino foi embora uns dias após a nossa chegada e deu pra ouvir os corações rachando. Ao mesmo tempo, foi lindo de ver os irmãos tão próximos, brincando, estando ali um para o outro. Brigando, dizendo coisas duras. Reconciliando depois. Assim como fazem os bons amigos.

Raquel Grabauska

Festa do pijama

Raquel Grabauska
3 de novembro de 2017

Fizemos nossa primeira festa do pijama. Um encontro de amigos. Amigos de várias idades. Eles estavam exultantes. Mas duvido que alguém tenha aproveitado mais que eu!

Planejamos bastante. Cardápio, atividades, logística. Detalhe do detalhe. As crianças se conheciam. Alguns mais, outros menos. Um dos pais levou uma barraca imensa, daquelas de acampamento de verdade! Pronto, barraca ocupando uma sala inteira, sorriso ocupando meu rosto inteiro. E as crianças… nossa, euforia completa!

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Teve caça ao tesouro. Filme no projetor. Lanche gostoso. Bagunça generalizada. Felicidade irrestrita

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Me peguei vendo um a um dormir. Um gosta de dormir com um pouco de luz. Outro quer história. Outra quer música. Outra não quer dormir (e é mesmo a última a se entregar). Tão pequenos, tão lindos, tão decididos. Tão entregues a nós!

Fiquei pensando na confiança que esses pais tiveram em deixá-los conosco. Que linda experiência. Uma amizade selada, ainda mais confirmada. Não dormi mais que 35 minutos seguidos. E mês que vem quero outra!