BSV Especial Coronavírus #58 O depoimento mentiroso de Pazuello
Geórgia Santos
20 de maio de 2021
No episódio desta semana, o depoimento mentiroso de Pazuello na CPI da Covid. E a gente não esqueceu de Ricardo Salles.
O ex-ministro da Saúde general Eduardo Pazuello prestou depoimento ao longo de quarta e quinta-feira na CPI da Covid, no Senado. Ele foi questionado sobre recomendações para o uso da cloroquina, sobre a demora do Brasil em adquirir doses de vacinas contra a Covid-19, sobre a falta de oxigênio no Amazonas, sobre não ter usado máscara em passeio no shopping, sobre não defender distanciamento, sobre as posturas dele mesmo e do presidente Jair Bolsonaro. E mentiu.
.
Pazuello mentiu, mentiu e mentiu
.
Alguns questionaram as contradições e mentiras, como o senador Eduardo Braga, do MDB do Amazonas. Outros questionaram a competência, como o senador Otto Alencar, do PSD da Bahia. Outros, questionaram a palavra de Bolsonaro, como o senador Randolfe Rodrigues, da Rede do Amapá. E agora estamos aqui, para destrinchar as mentiras e as repercussões do depoimento de Eduardo Pazuello.
No episódio desta semana, a confusão no governo de Jair Bolsonaro. Por que, confusão? Vamos lá. O presidente da República foi pressionado pelo Congresso e teve que engolir a queda do chanceler Ernesto Araújo do Ministério das Relações Exteriores. Em reação surpreendente, ele forçou a saída do general Fernando Azevedo e Silva do Ministério da Defesa. Mas não parou por aí. Ao todo foram seis trocas no primeiro escalão do governo que, em princípio, indicam uma tentativa de agradar o Centrão e ter mais controle sobre as Forças Armadas.
.
Porém, porém, porém, parece que o pessoal não concorda com essa ideia de controle. Tanto que, em um movimento inédito, os três comandantes das Forças Armadas colocaram seus cargos à disposição
.
Mas isso não significa que os militares tenham abandonado o governo, eles só não querem pagar o pato do desastre. Aliás, espalhou-se o boato de que essa debandada foi um protesto às ações antidemocráticas de Jair Bolsonaro, num movimento de preservação das instituições. Ora, gente, não sejamos ingênuos.Aqui, a gente não acredita que os militares sejam os guardiães da democracia brasileira. Por aqui, esse papo não cola.
.
Estamos, inclusive, na semana de aniversário do Golpe de 64
.
Será que essa movimentação toda significa uma escalada autoritária ou, pelo contrário, um enfraquecimento de Bolsonaro? Ou os dois? Afinal, nessa dança das cadeiras, ninguém sabe que música está tocando. Mas a gente sabe que os militares estão dançando.
Não esquecendo que milhares de brasileiros morrem todos os dias em função da Covid-19, em função da inoperância e irresponsabilidade do governo. O desempenho desastroso na pandemia é, inclusive, um ponto de pressão fundamental sobre Jair Bolsonaro. Talvez a gota água.
Participam os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
BSV Especial Coronavírus #43 As autoridades também sofrem
Geórgia Santos
3 de fevereiro de 2021
No episódio desta semana, as repercussões da eleição que escolheu o deputado Arthur Lira como o novo presidente da Câmara dos Deputados. O saldo é um Rodrigo Maia derrotado, Jair Bolsonaro (talvez) renascido e Lira abusando do poder – e depois voltando atrás – no primeiro momento em que teve a oportunidade.
No filme O Auto da Compadecida, de Guel Arraes, Cabo 70 fala para um João Grilo falsamente surpreso que as autoridades também sofrem. Pois é verdade na ficção e é verdade na realidade. E quem prova é o emotivo Rodrigo Maia, que se despediu da presidência da Câmara dos Deputados com lágrimas nos olhos e a certeza de que falhou.
Mas não nos enganemos. Bolsonaro se fortaleceu, sim, com a vitória de Arthur Lira (PP-AL). Mas foi uma vitória cara. Ele está nas mãos do novo presidente da Câmara, que assumiu tirando os opositores da mesa diretora, mas voltou atrás e fez acordo. E o deputado do Progressistas do Alagoas fez festinha, com aglomeração, filha de Roberto Jeferson e Joyce Hasselman.
Na peça – ou livro – do Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, o autor diz que se trata de uma história altamente moral, um apelo a misericórdia. Ao que João Grilo responde: ele diz à misericórdia porque sabe que, se fossemos julgados pela justiça, toda a nação seria condenada. Estamos presos em uma peça de literatura. Em uma novela que parece não ter fim.
Participam os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
BSV Especial Coronavírus #6 E Sérgio Moro caiu – ou saiu
Geórgia Santos
24 de abril de 2020
Como tem sido nos últimos episódios, pouco vamos falar de coronavírus porque, senhoras a senhores, Sérgio Moro está fora do governo Bolsonaro.
O ex-juiz federal e agora ex-ministro da Justiça pediu demissão na manhã desta sexta-feira, 24 de abril, após troca no comando da Polícia Federal (PF). Sérgio Moro foi enfático ao dizer que há interferência política de Jair Bolsonaro na instituição e citou inquéritos no STF. Ele ainda surpreendeu ao reconhecer que nem no auge da LaVa-Jato, durante o governo do PT, havia esse tipo de interferência na PF.
Jair Bolsonaro, obviamente, não gostou e fez um pronunciamento absolutamente confuso, mentiroso e grosseiro no final da tarde. Disse que Moro estava mentindo e sugeriu chantagem. Segundo Bolsonaro, Moro queria ser indicado a uma cadeira no Supremo Tribunal Federal.
Agora, a Procuradoria-Geral da República (PGR) vai investigar quem está falando a verdade. E nós vamos discutir o que esse dia de maluco representa. Participam os jornalistas Geórgia Santos, Flavia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol.Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
“A maior novidade do governo Bolsonaro é o fim do presidencialismo de coalizão”
Geórgia Santos
3 de julho de 2019
Cientista político Augusto de Oliveira entende que o sistema, de agora em diante, será o da paralisia e do conflito entre os poderes Executivo e Legislativo
Nesta semana, Jair Bolsonaro (PSL) chegou aos seis meses na presidência da República. Mas não foi um caminho tranquilo, pelo contrário. Foi bastante acidentado. Os primeiros 180 dias do primeiro militar a ocupar o cargo desde o final da ditadura foram marcados, principalmente, pela instabilidade política. Houve inúmeras trocas no primeiro e segundo escalão de governo – algumas dessas trocas motivadas por discussões entre os ministros e os filhos do presidente -; a publicação de dezenas de decretos, especialmente com relação à posse de armas, que deixaram clara a relação turbulenta com o Congresso; decisões desautorizadas; proximidade com milicianos; filho investigado; além de múltiplas gafes que variam entre afirmar que “racismo no Brasil é coisa rara”; que o nazismo foi um movimento de esquerda; e, mais recentemente, fazer propaganda de bijuterias de nióbio na internet. Apenas para citar algumas.
Para o cientista político Augusto de Oliveira, professor da Escola de Humanidades da PUCRS, essa instabilidade política é reflexo de uma mudança na conjuntura.
.
“A maior novidade do governo Bolsonaro em relação aos presidentes anteriores é o fim do presidencialismo brasileiro de coalizão“
.
A expressão “presidencialismo de coalizão” foi usada na década de 80 pelo cientista político Sérgio Abranches para descrever um país presidencialista, como o Brasil, em que a fragmentação do Congresso entre vários partidos obriga o Executivo a uma prática similar à do parlamentarismo. Ou seja, para governar, o presidente precisa ter ampla maioria, algo que se torna problemático a partir do momento em que essa maioria é naturalmente contraditória e difusa ideologicamente. De toda forma, funcionava até o governo passado, mesmo que de maneira torta.
Oficialmente, durante todo o período democrático, a maioria parlamentar sempre foi organizada por meio da oferta de cargos nos ministérios, segundo escalão e autarquias, e também por meio de emendas parlamentares e de uma espécie de empréstimo da popularidade do presidente aos deputados e senadores. O governo Bolsonaro, por outro lado, não governo por meio do presidencialismo brasileiro de coalizão. Segundo o professor Augusto de Oliveira, nem seria possível com a atual conjuntura política.
“Hoje o presidente Bolsonaro precisaria de 12 partidos na sua base de apoio para poder aprovar uma emenda à Constituição. Mas enquanto a presidenta Dilma Rousseff foi eleita, em 2014, com uma bancada de 304 deputados, Bolsonar foi eleito com uma bancada que não chegava a 60 deputados. A estrutura politica do país em 2018 já estava muito diferente do que seria possível para o funcionamento nos moldes do presidencialismo brasileiro de coalizão. E também tem outros fatores, como o fimdo financiamento privado de campanha e emendas impositivas para o Orçamento da União, que também dilapidaram os recursos do presidencialismo de coalizão.”
A solução que Bolsonaro esboçou no início do governo era a de governar não com os partidos, mas com as bancadas – ou as frentes parlamentares – como as chamadas Bancada do Boi, Bancada da Bala e Bancada da Bíblia. Mas ficou evidente que essas bancadas não tem a organização interna que faça com que os parlamentares atuem em pautas que não sejam suas demandas particulares. Ou seja, elas não formam uma base permanente de apoio ao presidente.
.
Mas então o que substitui o presidencialismo de coalizão a curto e médio prazo?
“É uma hipótese, mas na minha opinião, o que substitui é nada. Nosso sistema de governo agora será o sistema da crise, o sistema da incerteza, o sistema da paralisia e do conflito entre o poder Executivo e o poder Legislativo. Com menor capacidade de resolução dos problemas e organização de uma pauta concreta, específica”, explicou o Augusto de Oliveira.
Do ponto de vista político, isso significa que, pelo menos por enquanto, subiu o custo para Bolsonaro exercer o mandato e executar suas propostas em relação ao parlamento, segundo o professor. “Essa é uma situação queo presidente Bolsonaro não tem como superar de maneira autônoma e nem é uma situação que a gente vá ver ser resolvida nos próximos anos.”
Clique aqui para ouvir o podcast sobre os seis meses do governo Bolsonaro e a entrevista com o cientista político Augusto de Oliveira.
No Bendita Sois Vós desta semana, os jornalistas Geórgia Santos, Igor Natusch e Tércio Saccol falam sobre os seis meses do governo de Jair Bolsonaro. Um período bastante turbulento e de muita disputa política. Após três meses, apenas, Bolsonaro já tinha a pior avaliação entre presidentes de primeiro mandato da história do período democrático.
.
Foram seis meses de muitas mudanças no primeiro escalão, decretos e mais decretos, declarações polêmicas e gafes múltiplas
.
Um governo marcado pela proximidade inegável com milicianos e que tem à frente um presidente com filho senador investigado. Sem falar no desmonte da educação; o ministro Sérgio Moro sob pressão da Vazajato e com o pacote anticrime congelado; e um Congresso rebelde.
Para discutir a performance do governo nas mais diversas áreas, o podcast traz os depoimentos do cientista político Augusto de Oliveira; do especialista em segurança pública Marcos Rolim; da professora Jananína Maudonett, especialista em educação e movimentos sociais; e ainda dos jornalistas Airan Albino, ativista do movimento negro; e Samir Oliveira, ativista da causa LGBT.
No Sobre Nós, inspirados na discussão sobre a Reforma da Previdência, um dos temas mais importante do planalto, Raquel Grabauska e Angelo Primon trazem A Velhice de Simone de Beauvoir e O Velho e o Mar de Ernest Hemingway.
OUÇA Bendita Sois Vós #21 O presidente agradece ao senhor Gustavo Bebianno?
Geórgia Santos
24 de fevereiro de 2019
É impossível deixar passar em branco a primeira crise política com consequências concretas do governo de Jair Bolsonaro. Gustavo Bebianno, o ministro da Secretaria-Geral de Governo, foi exonerado em 18 de fevereiro. Bebianno também era presidente do PSL durante a eleição. Essa é uma crise com muitas ramificações. Que vão desde o uso de laranjas na campanha de 2018, passando pela intromissão dos filhos do presidente no governo e chegando à primeira crise concreta de gestão, que provocou consequências importantes em um governo que parece não saber lidar com a rotina da POLÍTICA. Por isso, o Bendita Sois Vós desta semana pergunta: O presidente realmente agradece ao senhor Gustavo?
Participam os jornalistas Geórgia Santos, Igor Natusch e Tércio Saccol, que entrevista o professor Marcos Marinho, pesquisador e consultor em comunicação e marketing político.
No Sobre Nós, Raquel Grabauska e Angelo Primon trazem algumas palavras de Galeano.
As pessoas mudam de opinião. É do jogo. Aliás, é saudável. Não há nada mais triste que um ser humano não disposto a aprender e evoluir. Convicção, por outro lado, é outra história. É uma opinião obstinada, uma crença embasada, ainda que não científicamente, em evidências ou motivos particulares. E o juiz Sérgio Moro tinha uma série dessas convicções a respeito da política brasileira e as expressava com a legitimidade de quem combatia a corrupção de forma vigorosa. Como nunca antes na história desse país, diziam alguns.
Como uma das figuras mais importante da Operação Lava Jato, Moro sempre foi firme em suas convicções. O então juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba foi quem condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a nove anos e meio de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá.
Moro sempre foi firme em suas convicções. Inclusive quando alguém tentava minimizar ocorrências como o Caixa 2, o então juiz era taxativo quanto à gravidade dos danos provocados por políticos em campanhas eleitorais. Durante palestra na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, Moro disse que Caixa 2 é pior que a corrupção tradicional. Ou seja, que que a corrupção para financiamento de campanha era mais grave que o desvio de recursos para o enriquecimento ilícito.
– Temos que falar a verdade, a Caixa 2 nas eleições é trapaça, é um crime contra a democracia. Me causa espécie quando alguns sugerem fazer uma distinção entre a corrupção para fins de enriquecimento ilícito e a corrupção para fins de financiamento ilícito de campanha eleitoral. Para mim a corrupção para financiamento de campanha é pior que para o enriquecimento ilícito. Se eu peguei essa propina e coloquei em uma conta na suíça, isso é um crime, mas esse dinheiro está lá, não está mais fazendo mal a ninguém naquele momento. Agora, se eu utilizo para ganhar uma eleição, para trapacear uma eleição, isso para mim é terrível. Eu não estou me referindo a nenhuma campanha eleitoral específica, estou falando em geral.
A fala de Moro foi aplaudida em Harvard e a cruzada contra a corrupção transformou o juiz em uma espécie de herói nacional e o Super Moro estampava camisetas em manifestações populares coloridas de verde e amarelo. Como consequência, mesmo tendo afirmado em mais de uma ocasião que jamais entraria para a política, aceitou largar a toga para se tornar ministro no governo de Jair Bolsonaro. A contradição não incomodou aos fãs do paladino da Justiça. E assim que aceitou o convite, Moro deixou claro que o “Pacote anticorrupção” seria a base de sua gestão.
Obviamente o pacote não seria aprovado pelos deputados, entre os quais a prática do Caixa 2 é, sabidamente, muito comum. Mas ao desmantelar o pacote anticorrupção, Moro flexibilizou ainda mais suas convicções e atenuou a gravidade da prática ao dizer que “Caixa 2 não é corrupção”.
“Não, caixa dois não é corrupção. Existe o crime de corrupção e existe o crime de caixa dois. Os dois crimes são graves. Aí é uma questão técnica”, disse Moro.
Em 2016, Caixa 2 era trapaça.
Em 2017, Caixa 2 era pior que o desvio de recursos para enriquecimento ilícito e crime contra a democracia.
Em 2018, diminuiu a gravidade do Caixa 2 praticado – e assumido – pelo então deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), hoje ministro. “Quanto a esse episódio do passado, ele mesmo admitiu seus erros e pediu desculpas e tomou as providências para repará-lo”, explicou Moro.
Em 2019, após reiterar que era trapaça, Moro disse que Caixa 2 não era tão grave quanto o enriquecimento ilícito.
Aparentemente, a involução da ética de Moro acontece de acordo com as funções e cargos que ocupa. As convicções do juiz com relação à corrupção não se sustentam diante das opiniões do ministro.
Mesmo com maior representatividade, percentual de mulheres no Congresso está abaixo da média da população
Évelin Argenta
4 de dezembro de 2018
Brasilia DF 11 07 2018-Sessão do Congresso Plenário da Câmara dos Deputados durante sessão conjunta do Congresso Nacional destinada a deliberação da Lei de Diretrizees Orçamentárias (LDO) e créditos suplementares (projetos de Lei do Congresso Nacional nºs 13, 9, 10 e 2 de 2018).Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
As eleições de 2018 mostraram um avanço das mulheres na Câmara dos Deputados. Em 2019 teremos 50% mais mulheres na Casa Legislativa do que havia em 2015, quando as eleitas em 2014 tomaram posse. No pleito de 07 de outubro foram eleitas 77 deputadas federais, 26 a mais do que em 2014. Isso quer dizer que a nova Câmara vai ter 15% de mulheres na sua composição.
Mesmo com a melhoria na representatividade feminina de forma geral no legislativo, a proporção de mulheres segue abaixo do encontrado na população brasileira. No país, de acordo com dados do IBGE, a cada 10 pessoas, pelo menos 5 são do gênero feminino.
.
Mulheres da Câmara Federal
Segundo dados colhidos pelo Vós junto ao Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), apesar do aumento no número de deputadas federais, três estados não elegeram nenhuma mulher para o cargo: Amazonas, Maranhão e Sergipe.
No caso das Assembleias estaduais, em 2018 foram eleitas 161 deputadas, aumento de 35% em relação a 2014. São Paulo e Rio de Janeiro são os Estados que mais elegeram mulheres para a Câmara. O estado paulista terá 18 representantes mulheres, sete a mais do que no último pleito. Já o estado fluminense elegeu 12 mulheres. Em São Paulo está a deputada federal mais votada no país. A jornalista Joyce Hasselmann, do PSL – partido do presidente eleito Jair Bolsonaro – recebeu mais de um milhão de votos.
Ainda na Câmara dos Deputados, aumentou o número de negras: de 10 para 13 e de brancas: 41 para 63. Em 2019 também teremos a primeira mulher indígena no Congresso Nacional: Joenia Wapichana, da Rede, foi eleita por Roraima.
Dentro dos partidos
O PT (Partido dos Trabalhadores), que ficou com a maior bancada na Câmara, também foi o que mais elegeu mulheres: são 10 deputadas entre as 56 cadeiras que o partido conquistou. Em seguida vem o PSL (Partido Social Liberal), do candidato presidencial Jair Bolsonaro. Com nove mulheres, o PSL tem a segunda maior bancada na casa, com 52 parlamentares. Depois deles, o PSDB aparece em terceiro com maior número de mulheres na Câmara: serão oito deputadas entre os 29 eleitos.
O único partido que conquistou a paridade entre homens e mulheres foi o PSOL. O partido elegeu 10 parlamentares, cinco homens e cinco mulheres. O PTC também tem uma divisão de 50% entre os gêneros na bancada, mas elegeu apenas dois parlamentares e não atingiu a cláusula de barreira. O PCdoB, que também não atingiu a cláusula, chegou perto da paridade: cinco homens e quatro mulheres.
Família ê, família á…
Ainda segundo o Diap, pelo menos oito parlamentares eleitas em 2018 chegaram ao posto possuindo parentesco com políticos tradicionais. No Distrito Federal, por exemplo, a campeã de votos Flávia Arruda (PR) é mulher do ex-governador José Roberto Arruda. Do Espírito Santo, retornará à Câmara Federal, a empresária e música, Lauriete Rodrigues (PR), esposa do senador não reeleito Magno Malta. No Paraná, foi eleita a deputada mais jovem: Luisa Canziani (PR), que tem 22 anos. A estudante é filha do deputado Alex Canziani,que não foi eleito para o Senado Federal neste ano. No Rio de Janeiro, foi eleita Daniela do Waguinho (MDB-RJ), mulher do prefeito de Berlfor Roxo.
Outra deputada que chegará à Câmara com sobrenome tradicional na política é a advogada e empresária Jaqueline Cassol (PP), irmã do senador por Rondônia, Ivo Cassol. Entre as atuais deputadas, renovaram os mandatos: Clarissa Garotinho (Pros-RJ), filha do ex-governador Anthony Garotinho; Soraya Santos (PR), que é casada com o ex-deputado federal Alexandre Santos; e Rejane Dias (PT), a campeã de votos no Piauí (138.800), que é mulher do governador reeleito Wellington Dias.
Mulheres no Senado
Já no Senado, os dados do Diap mostram que a bancada de mulheres para os próximos quatro anos será menor do que a atual, apesar do número recorde de candidaturas no pleito. Conforme dados do Supremo Tribunal Federal, ao todo, 62 candidatas se cadastraram para tentar ocupar as 54 cadeiras. Com sete senadoras eleitas e uma vaga de suplente assumida, a Casa terá doze senadoras, uma a menos do que o grupo atual.
As sete novas senadoras que tomarão posse em 2019 são: Leila do Vôlei (PSB-DF), Eliziane Gama (PPS-MA), Soraya Thronicke (PSL-MS), Juíza Selma Arruda (PSL-MT), Daniella Ribeiro (PP-PB), Drª Zenaide Maia (PHS-RN) e Mara Gabrilli (PSDB-SP).
BANCADA FEMININA *
PARLAMENTAR
PARTIDO
UF
MANDATOS
VOTAÇÃO 2018
IDADE
SITUAÇÃO
PROFISSÃO
Jéssica Sales
MDB
AC
2º
28.717
38
Reeleita
Médica
Perpetua Almeida
PCdoB
AC
4º
18.374
54
Nova
Professora e Bancária
Mara Rocha
PSDB
AC
1º
40.047
45
Nova
Empresária
Drª Vanda Milani
SDD
AC
1º
22.219
65
Nova
Magistrada
Teresa Nelma
MDB
AL
1º
44.207
61
Nova
Professora
Leda Sadala
Avante
AP
1º
11.301
52
Nova
Contadora
Professora Marcivânia
PCdoB
AP
3º
14.196
45
Reeleita
Professora de Ensino Médio
Aline Gurgel
PRB
AP
1º
16.519
38
Nova
Advogada
Alice Portugal
PCdoB
BA
5º
126.595
59
Reeleita
Química Industrial e Farmacêutica Bioquímica
Lídice da Mata
PSB
BA
3º
104.348
62
Nova
Economista
Profª Dayane Pimentel
PSL
BA
1º
136.742
32
Nova
Professora de ensino superior
Luizianne
PT
CE
2º
173.777
50
Reeleita
Jornalista e Professora de Ensino Superior
Celina Leão
PP
DF
1º
31.610
41
Nova
Administradora
Paula Belmonte
PPS
DF
1º
46.069
45
Nova
Empresária
Flavia Arruda
PR
DF
1º
121.340
38
Nova
Empresária e professora
Bia Kicis
PRP
DF
1º
86.415
57
Nova
Advogada
Érika Kokay
PT
DF
3º
89.986
61
Reeleita
Bancária
Norma Ayub
DEM
ES
2º
57.156
59
Reeleita
Servidora Pública Estadual
Lauriete
PR
ES
2º
51.983
48
Nova
Empresária e Música
Dra. Soraya Manato
PSL
ES
1º
57.741
57
Nova
Médica
Flávia Morais
PDT
GO
3º
169.774
49
Reeleita
Professora de Educação Física
Magda Mofatto
PR
GO
3º
88.894
70
Reeleita
Empresária
Greyce Elias
Avante
MG
1º
37.620
37
Nova
Advogada
Alê Silva
PSL
MG
1º
48.043
44
Nova
Advogada
Aurea Carolina
PSol
MG
1º
162.740
35
Nova
Socióloga e Cientista Política
Margarida Salomão
PT
MG
3º
89.378
68
Reeleita
Professora Universitária e Escritora
Tereza Cristina
DEM
MS
2º
75.068
64
Reeleita
Engenheira Agrônoma e Empresária
Rose Modesto
PSDB
MS
1º
120.901
40
Nova
Servidor Público Estadual
Professora Rosa Neide
PT
MT
1º
51.015
55
Nova
Professora
Elcione Barbalho
MDB
PA
6º
165.202
74
Reeleita
Empresária
Edna Henrique
PSDB
PB
1º
69.935
60
Nova
Delegada
Marília Arraes
PT
PE
1º
193.108
34
Nova
Advogada
Iracema Portella
PP
PI
3º
96.277
52
Reeleita
Empresária
Margarete Coelho
PP
PI
1º
76.338
57
Nova
Servidora Pública do Estado
Rejane Dias
PT
PI
2º
138.800
46
Reeleita
Administradora
Dra. Marina
PTC
PI
1º
70.828
38
Nova
Médica
Christiane de Souza Yared
PR
PR
2º
107.636
58
Reeleita
Empresária e Pastora
Aline Sleutjes
PSL
PR
1º
33.628
39
Nova
Agente Administrativo
Gleisi Lula
PT
PR
1º
212.513
53
Nova
Advogada
Luisa Canziani
PTB
PR
1º
90.249
22
Nova
Estudante
Leandre
PV
PR
2º
123.958
43
Reeleita
Engenheira
Daniela do Waguinho
MDB
RJ
1º
136.286
42
Nova
Professora
Jandira Feghali
PCdoB
RJ
7º
71.646
61
Reeleita
Médica e Música
Soraya Santos
PR
RJ
2º
48.328
60
Reeleita
Advogada
Rosângela Gomes
PRB
RJ
2º
63.952
52
Reeleita
Bacharel em Direito
Clarissa Garotinho
PROS
RJ
2º
35.131
36
Reeleita
Jornalista
Flordelis
PSD
RJ
1º
196.959
57
Nova
Administradora
Chris Tonietto
PSL
RJ
1º
38.525
27
Nova
Advogada
Major Fabiana
PSL
RJ
1º
57.611
38
Nova
Policial Militar
Talíria Petrone
PSol
RJ
1º
107.317
33
Nova
Professora
Benedita da Silva
PT
RJ
5º
44.804
76
Reeleita
Assistente Social
Natalia Bonavides
PT
RN
1º
112.998
30
Nova
Advogada
Silvia Cristina
PDT
RO
1º
33.038
44
Nova
Jornalista
Jaqueline Cassol
PP
RO
1º
34.193
44
Nova
Advogada
Mariana Carvalho
PSDB
RO
2º
38.776
32
Reeleita
Médica e Música
Shéridan
PSDB
RR
2º
12.129
34
Reeleita
Psicóloga
Joenia Wapichana
Rede
RR
1º
8.491
45
Nova
Advogada
Liziane Bayer
PSB
RS
1º
52.977
37
Nova
Pastora
Fernanda Melchionna
PSOL
RS
1º
114.302
34
Nova
Bancária e Bibliotecária
Maria do Rosário
PT
RS
5º
97.303
52
Reeleita
Professora
Angela Amin
PP
SC
2º
86.189
65
Nova
Professora
Carmem Zanotto
PPS
SC
3º
84.703
56
Reeleita
Enfermeira
Geovania de Sá
PSDB
SC
2º
101.937
46
Reeleita
Administradora
Caroline de Toni
PSL
SC
1º
109.363
32
Nova
Advogada
Adriana Ventura
NOVO
SP
1º
64.341
49
Nova
Administradora
Tabata Amaral
PDT
SP
1º
264.450
25
Nova
Cientista Política e Astrofísica
Renata Abreu
PODE
SP
2º
161.239
36
Reeleita
Empresária e Advogada
Policial Katia Sastre
PR
SP
1º
264.013
42
Nova
Policial Militar
Maria Rosas
PRB
SP
1º
71.745
53
Nova
Administradora
Rosana Valle
PSB
SP
1º
106.100
49
Nova
Jornalista
Bruna Furlan
PSDB
SP
3º
126.847
35
Reeleita
Bacharel em Direito e Empresária
Carla Zambelli
PSL
SP
1º
76.306
38
Nova
Gerente
Joice Hasselmann
PSL
SP
1º
1.078.666
40
Nova
Jornalista
Luiza Erundina
PSOL
SP
6º
176.883
84
Reeleita
Assistente Social
Sâmia Bomfim
PSOL
sp
1º
249.887
29
Nova
Servidora Pública Municipal
Professora Dorinha Seabra Rezende
DEM
TO
3º
48.008
54
Reeleita
Empresária e Professora Universitária
Dulce Miranda
MDB
TO
2º
40.719
55
Reeleita
Graduada em Direito
*A tabela acima foi organizada pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar e pode ser acessado através do site http://www.diap.org.br/
O primeiro debate na televisão entre os candidatos à presidência da República, organizado e transmitido pela Rede Bandeirantes, deu o que falar. Houve a ladainha de sempre, é verdade, mas o costumeiro festival de desinformação ganhou uma nova roupagem. Neste ano, ficou por conta dos delírios de Cabo Daciolo, que concorre pelo Patriotas. O deputado federal surpreendeu a todos quando questionou Ciro Gomes, do PDT, sobre o plano da Ursal – União das Repúblicas Socialistas da América Latina, do qual, segundo ele, o pedetista faz parte.
A loucura de Cabo Daciolo deu vazão à ótima resposta de Ciro Gomes, que disse que a democracia, apesar de ser uma delícia, tem seus custos e a uma legião de memes maravilhosos. Além da Ursal, destacam-se obsessão com o “Glória a Deus”, a paranóia do comunismo, Iluminatti e uma suposta Nova Ordem Mundial que destruiria o Brasil e acabaria com as fronteiras. Bom, não seria nada mal uma seleção com Messi, Cavani, Suárez e Neymar, hein – para citar uma das maravilhosas pérolas que li por aí.
Nesta semana, Cabo Daciolo voltou aos holofotes. Divulgou um vídeo em sua página do Facebook em que, do alto de uma montanha, grita “Glória! Glória a Deus!” – super novidade. Em 15 minutos, ele associa a crise brasileira a problemas espirituais, diz que está ameaçado de morte pela “nova ordem mundial” e diz sua estratégia de campanha será a oração. Ah, ele vai ficar no monte jejuando. Galera gosta de jejuar no Brasil.
Mas enquanto a gente ri e ridiculariza este homem, ele serve como uma ótima distração pra os verdadeiros problemas desta campanha eleitoral. Depois de assistir ao debate, a primeira coisa que eu disse, foi:
Perto dele, Bolsonaro é bolinho!
.
Imediatamente me dei conta do problema dessa frase. Quando aparece uma pessoa mentalmente desequilibrada – como parece ser o caso do Cabo Daciolo – e disposta a ridicularizar o processo eleitoral porque não tem nada a perder, a figura de Jair Bolsonaro (PSL) começa a parecer aceitável até mesmo para quem, inicialmente, não tinha intenção de votar nele. Não que isso vá fazer com que alguém que abomine as ideias de Bolsonaro, passe a gostar. Mas pode fazer diferença na balança dos indecisos, e isso é tudo o que ele quer.
Bolsonaro é um notório canastrão, isso não é novidade. Assim como também sabemos que é preconceituoso em diversos níveis. Mas a distração de Daciolo pode ser prejudicial para toda a campanha, porque a tendência é que a gente “passe pano” também para outros candidatos.
.
Afinal, quando alguém estabelece uma linha de corte tão baixa, todos os concorrentes – mesmo com inúmeros problemas – passam a ser aceitáveis, uma ameaça menor
.
Bem, eu usei alguns minutos para escrever este texto e é todo o tempo que vou gastar com Cabo Daciolo. Nem um minuto a mais. Meu tempo – e o do Brasil – é precioso demais. Espero que vocês façam o mesmo e não desperdicem tempo e energia com um balão de ensaio.