Do seu gênero

Oscar 2019 . “todos homens”

Évelin Argenta
23 de janeiro de 2019

Que a desigualdade de gênero está presente na política, na economia e no mercado de trabalho, você já está cansada de saber. Mas já parou para pensar como ela se manifesta nas artes? Na mais popular delas, o cinema, as mulheres ainda estão longe de conquistar um espaço igualitário em cargos de direção, por exemplo. No Oscar 2019, que teve os seus indicados revelados para todo o mundo nesta terça-feira (22), NENHUMA mulher foi indicada à estatueta de melhor direção.

E o roteiro não é novo. Nos 91 anos de existência da premiação, apenas CINCO mulheres foram indicadas ao prêmio. Apenas UMA ganhou. Quer mais? Das cinco diretoras indicadas, nenhuma é negra ou latino-americana. Só queria deixar registrado aqui que o nosso amigo word sublinhou a palavra DIRETORAS por considerar pouco usual.

Em 2018, na entrega do Globo de Ouro, ainda na esteira das manifestações do movimento #MeToo, a fala da atriz Natalie Portman ao anunciar os indicados a melhor diretor deixou bastante claro o que acontece na indústria do cinema. Natalie frisou que os indicados eram “todos homens”. A frase causou desconforto na plateia e acendeu a esperança de que ta   vez o reconhecimento ao trabalho das mulheres pudesse ter vez no Oscar daquele ano ou, quem sabe, no ano seguinte (mais conhecido como agora).

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Pois não foi o que aconteceu
Em 2019, assim como em 2009 (#10yearchallenge) temos novamente um total de ZERO diretoras indicadas

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O cenário é bastante cinzento para as mulheres na indústria cinematográfica. É o que mostra um estudo da Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos. A pesquisa analisou uma base de dados de 1.100 filmes populares produzidos de 2007 a 2017. Dos 1.223 diretores envolvidos nesses projetos, apenas 4% são mulheres. São 43 diretoras em mais de MIL produções.

Nesse período, a maior porcentagem de diretoras mulheres foi registrada em 2008 (8%) e a menor em 2013 e 2014 (1,9%). A pesquisa descobriu que a situação é ainda mais grave em relação à continuidade de oportunidades para as diretoras. A maioria delas trabalha em apenas um filme: 84%. Entre os homens, esse número é muito menor: 55%.

Um das autoras da pesquisa, Katherine Pieper, escreveu: “Se você está tentando ter uma família ou trilhar um caminho em Hollywood, ter uma oportunidade a cada década não vai adiantar”. Katherine foi uma das cinco autoras da pesquisa Desigualdade em 1100 filmes populares: Examinando Retratos de Gênero, Raça / Etnia, LGBT e Deficiência de 2007 a 2017, publicada em julho do ano passado. O trabalho completo você pode acessar aí em cima, mas destacamos alguns pontos:

  • Nos 100 maiores filmes de 2017, há 4.554 personagens com fala. Só 31% eram mulheres. A proporção na tela é: 2,15 homens para cada mulher;
  • Apenas 4, dos 100 filmes mais populares de 2017, foram dirigidos por uma mulher não-branca;
  • Apenas cinco dos 100 filmes mais populares de 2017 tinham mulheres com 45 anos ou mais entre os protagonistas. Quando falamos de homens, esse número salta para 30;
  • Somente UM dos 100 filmes mais populares de 2017 tinha uma mulher negra com mais de 45 anos ocupando um papel de protagonista;
  • Nos filmes de ação/aventura menos de um quarto (24,5%) de todos os papéis com fala foram preenchidos por mulheres;
    Apenas 30,7% de todos os personagens de filmes de animação foram compostos por mulheres/meninas em 2017;
  • Comédia foi o gênero mais amigável para as mulheres em 2017. Naquele ano, 42,9% de todos os papéis foram preenchidos por alguém do gênero feminino;

Esses números se refletem em toda a indústria do cinema, de acordo com pesquisa feita pelo Centro de Estudos sobre a “Mulher na Televisão e no Cinema”, da Universidade de San Diego, também nos Estados Unidos. Em 2016, as mulheres representaram apenas 17% de todos os diretores, roteiristas, produtores, editores e cineastas nos 250 filmes americanos de maior sucesso.

O artigo, chamado “Novo estudo revela menos mulheres trabalhando nos bastidores de Hollywood” foi publicado em janeiro de 2017 e pode ser acessado na íntegra aí em cima. Aliás, o Centro de Estudos sobre Mulher na Televisão e no Cinema de San Diego tem estatísticas bem legais e recentes sobre a presença feminina na mídia. Fica a dica!

Para não falarmos somente de números e de estatísticas negativas, trago pra vocês um pouco mais da história das únicas mulheres que foram indicadas ao Oscar de melhor direção em NOVENTA E UM ANOS de premiação. E você querida leitora/leitor poderia justificar toda essa minha trabalheira e ver hoje um filme dirigido por uma mulher. Que tal?

Lina Wertmüller, por Pasqualino Sete Belezas (1975)
Quarenta e oito edições do Oscar se passaram até que a primeira mulher fosse indicada ao prêmio de direção, em 1977. Coube à diretora italiana Lina Wertmüller entrar para a história da premiação com seu Pasqualino Sete Belezas, que mistura drama e humor para contar a história de um desertor italiano que é capturado por soldados alemães durante a Segunda Guerra (1939-1945). O vencedor daquele ano foi John G. Avildsen, por Rocky: Um Lutador. Lina nunca mais foi indicada. E olha que ela dirigiu outros cinco filmes depois desse.

Jane Campion, por O Piano (1993)
Mais 17 anos se passaram até que outra mulher Mesmo depois de Wertmüller quebrar o tabu, ainda se passaram 17 anos até que uma segunda mulher fosse indicada ao Oscar de direção. No caso, a neozelandesa Jane Campion, que disputou em 1994 com O Piano, a história de uma mulher muda que nos anos 1850 é enviada à Nova Zelândia para um casamento arranjado. Campion não ganhou o troféu de direção, que ficou para Steven Spielberg, por A Lista de Schindler. Jane Campion dirigiu outros cinco filmes depois, mas nunca mais foi indicada à premiação.

Sofia Coppola, por Encontros e Desencontros (2003)
Dez anos depois de Campion, em 2004, a americana Sofia Coppola tornou-se a terceira mulher a concorrer ao Oscar de direção. Ela foi indicada por seu segundo longa-metragem, Encontros e Desencontros, estrelado por Bill Murray e Scarlett Johansson. No filme, dois americanos solitários e entediados – um homem de meia-idade e uma jovem mulher – veem seus caminhos se cruzarem durante uma viagem a Tóquio. Coppola não ganhou o Oscar de direção, que ficou para Peter Jackson, por O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei.

Kathryn Bigelow, por Guerra ao Terror (2008)
Foi apenas em 2010, na 82ª edição do Oscar, que o prêmio de direção finalmente foi entregue a uma mulher.Kathryn Bigelow fez história com Guerra ao Terror, que tornou-se O PRIMEIRO E ÚNICO longa-metragem dirigido por mulher a ganhar a estatueta de melhor filme. Guerra ao Terror acompanha três soldados americanos que têm a missão de desarmar bombas durante a Guerra do Iraque. Na categoria de direção, Bigelow, que é americana e tem 66 anos, concorreu com James Cameron, por Avatar; Lee Daniels, por Preciosa; Jason Reitman, por Amor Sem Escalas; e Quentin Tarantino, por Bastardos Inglórios.

Greta Gerwig, por Lady Bird: A Hora de Voar (2017)
Não demorou muito para ficar claro que a igualdade de gênero no cinema ainda está longe de ser alcançada. Depois da festa de Kathryn Bigelow, uma nova mulher só foi indicada ao Oscar oito anos depois. A americana Greta Gerwig concorreu com Lady Bird: A Hora de Voar. O filme narra um ano na vida de uma adolescente que, como a própria diretora, cresceu em Sacramento, na Califórnia. O troféu ficou com Guillermo del Toro (A Forma da Água), que ganhou o troféu.

Do seu gênero

Mulheres também sabem, sabia?

Évelin Argenta
11 de janeiro de 2019

Como as mulheres estão presentes na mídia? Foi para ter uma resposta para essa pergunta que comecei uma pesquisa em busca de trabalhos que retratem como a mulher aparece na imprensa. Trabalho com produção diária de notícias há quase 10 anos (eita!) e foi somente nos últimos dois que comecei a questionar a presença de mulheres como FONTE de informação.

A prevalência masculina nas agendas jornalísticas nem precisa de pesquisa para ser comprovada. Você, amigo jornalista, faça um teste. Pense em uma fonte para falar sobre o discurso do presidente Jair Bolsonaro nas relações internacionais do governo, por exemplo. Se o primeiro nome que veio a sua mente foi um nome feminino, parabéns! É de gente como você que a difusão de conhecimento precisa.

As mulheres são maioria em todos os níveis de ensino e nas bolsas de iniciação científica e mestrado do CNPq. Olhando os dados do próprio CNPq e do Inep percebi que as mulheres representam 57% do público nos cursos de graduação, 55% dos cursos de iniciação científica, 52% dos programas de mestrado e 50% no doutorado. A curva começa a inverter quando o caminho traçado é a docência.

Apesar de serem minoria durante todo o caminho acadêmico, os homens chegam à docência universitária e têm o reconhecimento à pesquisa em menos tempo. Eles lideram 53% dos grupos de pesquisa. Cinquenta e quatro por cento dos professores universitários são homens e 64% das bolsas de produtividade em pesquisa são destinadas aos homens.

Em 2018 eles chegaram ao topo da vida acadêmica aos 50 anos. Elas, aos 55. E a maternidade é apontada como uma das causas do “atraso”. Há uns dois anos, produzindo uma reportagem para retratar o número cada vez maior de mulheres que não queriam ter filhos no Brasil, conversei com a presidente da ONG Artemis, Raquel Marques. Se quiser ouvir a reportagem, ela está aqui 

Depois de uma longa conversa sobre os fatores que levam as mulheres e quererem menos filhos, ela me fez refletir sobre algo que, apesar de óbvio, ainda não tinha aparecido no meu raciocínio. Raquel disse que, normalmente, o ápice profissional das mulheres coincide com o limite biológico para gerar filhos. É que muitas de nós, aos 40 anos, estamos com a seguinte pergunta em mente: “ser a teta das galáxias na minha área ou desacelerar e ter um filho?”

Se a resposta for a primeira, você vai ser julgada como insensível e irresponsável. A Previdência precisa de seus úteros, meninas! Se você escolher a segunda opção, prepare-se. Quando você voltar ao trabalho, precisará concorrer com o seu colega que, na mesma idade que você, não terá que “deixar o trabalho” eventualmente para cuidar da cria. Ah, sim…mesmo que ele seja pai.

É por esse motivo que muitas mulheres são “esquecidas” em suas áreas de trabalho. A ideia de conhecimento foi social e culturalmente ligada ao gênero masculino.  É por isso que as agendas jornalísticas (onde estão as fontes para qualquer assunto) são predominantemente masculinas. Tem dúvida? Então olha só esse estudo feito pelo Global Media Monitoring Project (GMMP), em 2015. O Grupo de Monitoramento Global da Mídia (ufa!) analisou 22.136 relatos transmitidos jornalistas de 2.030 veículos de comunicação em 114 países. É o estudo mundial desse tipo mais recente. O resultado:

  • somente 24% das matérias de rádio, TV ou jornal de 2015 contaram com mulheres como fontes;
  • quando o assunto foi política ou economia, as mulheres representaram apenas 16% das fontes;
  • apenas 35% das notas informativas ou programas diários de televisão retrataram mulheres em 2015;
  • a seleção das fontes para o jornalismo em 2015 se concentrou nos homens. O estudo mostra que a escolha é inclinada à masculinidade ao selecionar personagens e fontes para opinião “especializada” e “testemunhos comuns”;
  • as mulheres mostram suas opiniões em três casos: como mães/donas de casa (13%), quando são apenas moradoras de uma localidade (22%) ou quando são descritas como estudantes (17%);
  • somente 4% das matérias produzidas em 2015 questionaram os estereótipos de gênero;
  • a proporção de mulheres noticiando fatos ficou muito abaixo da paridade nas editorias de política e economia. Somente 31% das notícias que abordam política e 39% das que falam de economia foram produzidas por mulheres;
  • nos noticiários de televisão, as mulheres predominam quando jovens e, conforme a idade aumenta, elas são substituídas por homens. Na faixa dos 65 anos, as mulheres desaparecem totalmente da ancoragem e da reportagem. Os homens continuam.

O estudo, como podem imaginar, é bem mais complexo e proporciona uma série de outros cruzamentos. Se você ficou curioso pode clicar nesse link e ver o levantamento na íntegra. O original é em inglês, mas existe uma versão em espanhol também.

Para contribuir com a discussão, deixo aqui um site que tenho usado muito como referência quando estou buscando uma fonte para falar de determinado assunto. É uma lista organizada por cientistas sociais, comunicadoras, historiadoras e filósofas para mostrar que #MulheresTambémSabem. O banco de dados é super acessível e colaborativo. Ele contém o nome  de professoras, pesquisadoras e profissionais especialistas em uma variedade de áreas das Ciências Sociais, Sociais Aplicadas e Humanidades.

Mulheres Também Sabem: https://www.mulherestambemsabem.com

 

Do seu gênero

Prefeitas são poucas e governam municípios menores e mais pobres

Évelin Argenta
12 de dezembro de 2018

O Brasil foi o primeiro país latino-americano a eleger uma mulher para comandar uma prefeitura: Alzira Soriano, na cidade de Lages, no interior do Rio Grande do Norte em 1928. Hoje, 90 anos depois, as mulheres ainda têm pouca representação política no país.

Com mais anos de estudo do que os prefeitos homens, experiência acumulada na trajetória política e com o desafio de superar grandes dificuldades em municípios pequenos e sem recursos. Esse é o perfil da maioria das prefeitas eleitas no Brasil em 2016. É o que mostra uma pesquisa recente do Instituto Alziras, uma ONG que discute a representação feminina na política, ao qual o Vós teve acesso.

Antes de falar dos resultados do estudo, que tal conhecermos um pouco sobre as eleitas no Brasil em 2016?

Naquele ano foram eleitas 649 prefeitas nos municípios brasileiros. O número acendeu um alerta, pois representou uma queda de 3% na comparação com as eleições de 2012. Mais ainda… dos 5.568 municípios brasileiros, 68% sequer tiveram candidatas mulheres ao poder executivo local.

Atualmente, menos de 12 em cada 100 municípios são governados por uma mulher. Esse número coloca o país abaixo da média de prefeitas eleitas em países da América Latina, Caribe e Península Ibérica. Nesses países, a média é de 13,4%, segundo índice medido pelo Observatório de Igualdade de Gênero da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, a CEPAL.

No Brasil a região com o maior número de prefeitas é o Nordeste do país, onde 16% dos municípios são comandados por mulheres: são 288 prefeitas. As regiões Sul e Sudeste são aquelas com a menor proporção de Prefeitas em exercício, somente 7% e 9%, respectivamente. Se o recorte for feito a partir da raça, descobrimos que apenas 3% dos municípios brasileiros são geridos por negras.

O estudo do Instituto Alziras mostra um dado interessante. Apesar de terem sob sua jurisdição apenas 7% da população, a maioria das prefeitas foi eleita em municípios com até 50 mil habitantes. Apenas uma capital brasileira é governada por uma mulher eleita diretamente ao cargo de Prefeita, Boa Vista (RR).

Mesmo administrando municípios menores e com menos recursos públicos, as prefeitas tem maior nível de formação do que os prefeitos. Enquanto 50% dos prefeitos homens eleitos em 2012 têm ensino superior, 71% das prefeitas têm essa formação. Além disso, quatro em cada 10 prefeitas têm pós-graduação.

Além de maior ensino formal do que os homens, as prefeitas, em sua imensa maioria (88%) já atuavam em causas políticas antes de serem eleitas. Trinta e dois por cento delas já tinham sido prefeitas e outros 30% vice-prefeitas. Os índices mostram o que já falamos no começo desse texto: as prefeitas mulheres têm mais anos de estudo do que os prefeitos homens e experiência acumulada na trajetória política. Isso, no entanto, não garante a elas grandes orçamentos e cidades estruturadas. O estudo coordenado pelo Instituto Alziras mostra que essas mulheres, gestoras públicas, ainda sofrem com os problemas que a maioria das mulheres sofre.

Esta parte do texto até merece um formato diferente. Elaboramos uma lista para você conseguir ver com mais clareza o que estamos falando.

53% das prefeitas já sofreu assédio ou violência política pelo simples fato de ser mulher;
30% das prefeitas já sofreram assédio e violências simbólicas no espaço político;
24% das prefeitas sofre com falta de espaço na mídia, em comparação com os políticos homens
23% das gestoras municipais diz que teve seu trabalho ou suas falas desmerecidos pelo fato de serem mulheres;
22% das prefeitas diz sofrer com sobrecarga de trabalho doméstico, dificultando a participação na política;

Sobre esse último tópico, a divisão desigual do trabalho doméstico afeta diretamente as possibilidades de participação das mulheres na política. Para se ter uma ideia, metade das prefeitas entrevistadas pelas pesquisadoras afirmam ser as principais responsáveis pelas compras de mercado em suas casas. Além disso, uma em cada cinco prefeitas destaca o trabalho doméstico dentre as principais dificuldades enfrentadas em sua carreira política.

 

A importância de leis e incentivo

O Instituto Alziras afirma que a presença de mulheres no meio político é importante para incorporar diferentes perspectivas à administração pública, daí a importância de se incentivar a maior participação de diferentes perfis. O estudo citou como exemplo desse reflexo as prefeitas que mencionaram ter entre suas prioridades ações voltadas à saúde da mulher e de gestantes e ao atendimento de mulheres vítimas de violência.

A pesquisa, no entanto, pondera que ainda é preciso mais transparência e mais empenho dos partidos para assegurar condições efetivas de competição às candidatas. Além de mais recursos, o instituto apontou uma possível relação entre o êxito eleitoral e a participação anterior das eleitas em cargos de confiança no serviço público.

Quer conhecer o estudo todo? Clica nesse link aqui 

Do seu gênero

Mesmo com maior representatividade, percentual de mulheres no Congresso está abaixo da média da população

Évelin Argenta
4 de dezembro de 2018
Brasilia DF 11 07 2018-Sessão do Congresso Plenário da Câmara dos Deputados durante sessão conjunta do Congresso Nacional destinada a deliberação da Lei de Diretrizees Orçamentárias (LDO) e créditos suplementares (projetos de Lei do Congresso Nacional nºs 13, 9, 10 e 2 de 2018).Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

As eleições de 2018 mostraram um avanço das mulheres na Câmara dos Deputados.  Em 2019 teremos 50% mais mulheres na Casa Legislativa do que havia em 2015, quando as eleitas em 2014 tomaram posse. No pleito de 07 de outubro foram eleitas 77 deputadas federais, 26 a mais do que em 2014. Isso quer dizer que a nova Câmara vai ter 15% de mulheres na sua composição.

Mesmo com a melhoria na representatividade feminina de forma geral no legislativo, a proporção de mulheres segue abaixo do encontrado na população brasileira. No país, de acordo com dados do IBGE, a cada 10 pessoas, pelo menos 5 são do gênero feminino.

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Mulheres da Câmara Federal

Segundo dados colhidos pelo Vós junto ao Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), apesar do aumento no número de deputadas federais, três estados não elegeram nenhuma mulher para o cargo: Amazonas, Maranhão e Sergipe.

No caso das Assembleias estaduais, em 2018 foram eleitas 161 deputadas, aumento de 35% em relação a 2014. São Paulo e Rio de Janeiro são os Estados que mais elegeram mulheres para a Câmara. O estado paulista terá 18 representantes mulheres, sete a mais do que no último pleito. Já o estado fluminense elegeu 12 mulheres. Em São Paulo está a deputada federal mais votada no país. A jornalista Joyce Hasselmann, do PSL – partido do presidente eleito Jair Bolsonaro – recebeu mais de um milhão de votos.

Ainda na Câmara dos Deputados, aumentou o número de negras: de 10 para 13 e de brancas: 41 para 63. Em 2019 também teremos a primeira mulher indígena no Congresso Nacional: Joenia Wapichana, da Rede, foi eleita por Roraima.

Dentro dos partidos

O PT (Partido dos Trabalhadores), que ficou com a maior bancada na Câmara, também foi o que mais elegeu mulheres: são 10 deputadas entre as 56 cadeiras que o partido conquistou. Em seguida vem o PSL (Partido Social Liberal), do candidato presidencial Jair Bolsonaro. Com nove mulheres, o PSL tem a segunda maior bancada na casa, com 52 parlamentares. Depois deles, o PSDB aparece em terceiro com maior número de mulheres na Câmara: serão oito deputadas entre os 29 eleitos.

O único partido que conquistou a paridade entre homens e mulheres foi o PSOL. O partido elegeu 10 parlamentares, cinco homens e cinco mulheres. O PTC também tem uma divisão de 50% entre os gêneros na bancada, mas elegeu apenas dois parlamentares e não atingiu a cláusula de barreira. O PCdoB, que também não atingiu a cláusula, chegou perto da paridade: cinco homens e quatro mulheres.

Família ê, família á…

Ainda segundo o Diap, pelo menos oito parlamentares eleitas em 2018 chegaram ao posto possuindo parentesco com políticos tradicionais. No Distrito Federal, por exemplo, a campeã de votos Flávia Arruda (PR) é mulher do ex-governador José Roberto Arruda. Do Espírito Santo, retornará à Câmara Federal, a empresária e música, Lauriete Rodrigues (PR), esposa do senador não reeleito Magno Malta. No Paraná, foi eleita a deputada mais jovem: Luisa Canziani (PR), que tem 22 anos. A estudante é filha do deputado Alex Canziani,que não foi eleito para o Senado Federal neste ano. No Rio de Janeiro, foi eleita Daniela do Waguinho (MDB-RJ), mulher do prefeito de Berlfor Roxo.

Outra deputada que chegará à Câmara com sobrenome tradicional na política é a advogada e empresária Jaqueline Cassol (PP), irmã do senador por Rondônia, Ivo Cassol. Entre as atuais deputadas, renovaram os mandatos: Clarissa Garotinho (Pros-RJ), filha do ex-governador Anthony Garotinho; Soraya Santos (PR), que é casada com o ex-deputado federal Alexandre Santos; e Rejane Dias (PT), a campeã de votos no Piauí (138.800), que é mulher do governador reeleito Wellington Dias.

Mulheres no Senado

Já no Senado, os dados do Diap mostram que a bancada de mulheres para os próximos quatro anos será menor do que a atual, apesar do número recorde de candidaturas no pleito. Conforme dados do Supremo Tribunal Federal, ao todo, 62 candidatas se cadastraram para tentar ocupar as 54 cadeiras. Com sete senadoras eleitas e uma vaga de suplente assumida, a Casa terá doze senadoras, uma a menos do que o grupo atual.

As sete novas senadoras que tomarão posse em 2019 são: Leila do Vôlei (PSB-DF), Eliziane Gama (PPS-MA),  Soraya Thronicke (PSL-MS),  Juíza Selma Arruda (PSL-MT),  Daniella Ribeiro (PP-PB), Drª Zenaide Maia (PHS-RN) e Mara Gabrilli (PSDB-SP).

BANCADA FEMININA *

PARLAMENTAR PARTIDO UF MANDATOS VOTAÇÃO 2018 IDADE SITUAÇÃO PROFISSÃO
Jéssica Sales MDB AC 28.717 38 Reeleita Médica
Perpetua Almeida PCdoB AC 18.374 54 Nova Professora e Bancária
Mara Rocha PSDB AC 40.047 45 Nova Empresária
Drª Vanda Milani SDD AC 22.219 65 Nova Magistrada
Teresa Nelma MDB AL 44.207 61 Nova Professora
Leda Sadala Avante AP 11.301 52 Nova Contadora
Professora Marcivânia PCdoB AP 14.196 45 Reeleita Professora de Ensino Médio
Aline Gurgel PRB AP 16.519 38 Nova Advogada
Alice Portugal PCdoB BA 126.595 59 Reeleita Química Industrial e Farmacêutica Bioquímica
Lídice da Mata PSB BA 104.348 62 Nova Economista
Profª Dayane Pimentel PSL BA 136.742 32 Nova Professora de ensino superior
Luizianne PT CE 173.777 50 Reeleita Jornalista e Professora de Ensino Superior
Celina Leão PP DF 31.610 41 Nova Administradora
Paula Belmonte PPS DF 46.069 45 Nova Empresária
Flavia Arruda PR DF 121.340 38 Nova Empresária e professora
Bia Kicis PRP DF 86.415 57 Nova Advogada
Érika Kokay PT DF 89.986 61 Reeleita Bancária
Norma Ayub DEM ES 57.156 59 Reeleita Servidora Pública Estadual
Lauriete PR ES 51.983 48 Nova Empresária e Música
Dra. Soraya Manato PSL ES 57.741 57 Nova Médica
Flávia Morais PDT GO 169.774 49 Reeleita Professora de Educação Física
Magda Mofatto PR GO 88.894 70 Reeleita Empresária
Greyce Elias Avante MG 37.620 37 Nova Advogada
Alê Silva PSL MG 48.043 44 Nova Advogada
Aurea Carolina PSol MG 162.740 35 Nova Socióloga e Cientista Política
Margarida Salomão PT MG 89.378 68 Reeleita Professora Universitária e Escritora
Tereza Cristina DEM MS 75.068 64 Reeleita Engenheira Agrônoma e Empresária
Rose Modesto PSDB MS 120.901 40 Nova Servidor Público Estadual
Professora Rosa Neide PT MT 51.015 55 Nova Professora
Elcione Barbalho MDB PA 165.202 74 Reeleita Empresária
Edna Henrique PSDB PB 69.935 60 Nova Delegada
Marília Arraes PT PE 193.108 34 Nova Advogada
Iracema Portella PP PI 96.277 52 Reeleita Empresária
Margarete Coelho PP PI 76.338 57 Nova Servidora Pública do Estado
Rejane Dias PT PI 138.800 46 Reeleita Administradora
Dra. Marina PTC PI 70.828 38 Nova Médica
Christiane de Souza Yared PR PR 107.636 58 Reeleita Empresária e Pastora
Aline Sleutjes PSL PR 33.628 39 Nova Agente Administrativo
Gleisi Lula PT PR 212.513 53 Nova Advogada
Luisa Canziani PTB PR 90.249 22 Nova Estudante
Leandre PV PR 123.958 43 Reeleita Engenheira
Daniela do Waguinho MDB RJ 136.286 42 Nova Professora
Jandira Feghali PCdoB RJ 71.646 61 Reeleita Médica e Música
Soraya Santos PR RJ 48.328 60 Reeleita Advogada
Rosângela Gomes PRB RJ 63.952 52 Reeleita Bacharel em Direito
Clarissa Garotinho PROS RJ 35.131 36 Reeleita Jornalista
Flordelis PSD RJ 196.959 57 Nova Administradora
Chris Tonietto PSL RJ 38.525 27 Nova Advogada
Major Fabiana PSL RJ 57.611 38 Nova Policial Militar
Talíria Petrone PSol RJ 107.317 33 Nova Professora
Benedita da Silva PT RJ 44.804 76 Reeleita Assistente Social
Natalia Bonavides PT RN 112.998 30 Nova Advogada
Silvia Cristina PDT RO 33.038 44 Nova Jornalista
Jaqueline Cassol PP RO 34.193 44 Nova Advogada
Mariana Carvalho PSDB RO 38.776 32 Reeleita Médica e Música
Shéridan PSDB RR 12.129 34 Reeleita Psicóloga
Joenia Wapichana Rede RR 8.491 45 Nova Advogada
Liziane Bayer PSB RS 52.977 37 Nova Pastora
Fernanda Melchionna PSOL RS 114.302 34 Nova Bancária e Bibliotecária
Maria do Rosário PT RS 97.303 52 Reeleita Professora
Angela Amin PP SC 86.189 65 Nova Professora
Carmem Zanotto PPS SC 84.703 56 Reeleita Enfermeira
Geovania de Sá PSDB SC 101.937 46 Reeleita Administradora
Caroline de Toni PSL SC 109.363 32 Nova Advogada
Adriana Ventura NOVO SP 64.341 49 Nova Administradora
Tabata Amaral PDT SP 264.450 25 Nova Cientista Política e Astrofísica
Renata Abreu PODE SP 161.239 36 Reeleita Empresária e Advogada
Policial Katia Sastre PR SP 264.013 42 Nova Policial Militar
Maria Rosas PRB SP 71.745 53 Nova Administradora
Rosana Valle PSB SP 106.100 49 Nova Jornalista
Bruna Furlan PSDB SP 126.847 35 Reeleita Bacharel em Direito e Empresária
Carla Zambelli PSL SP 76.306 38 Nova Gerente
Joice Hasselmann PSL SP 1.078.666 40 Nova Jornalista
Luiza Erundina PSOL SP 176.883 84 Reeleita Assistente Social
Sâmia Bomfim PSOL sp 249.887 29 Nova Servidora Pública Municipal
Professora Dorinha Seabra Rezende DEM TO 48.008 54 Reeleita Empresária e Professora Universitária
Dulce Miranda MDB TO 40.719 55 Reeleita Graduada em Direito

*A tabela acima foi organizada pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar e pode ser acessado através do site http://www.diap.org.br/