O Brasil de 2021 é um país miserável. E não é um jogo de palavras, é uma realidade dura amparada por dados que mostram que mais de 116 milhões de brasileiros não têm acesso pleno e permanente a alimentos. Mas como chegamos até aqui? Por que o Brasil voltou ao mapa da fome? Nós explicamos esse caminho no documentário em áudio O Retrato da Miséria.
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O retrato da miséria é aquela foto em tom rosado em que pessoas famintas catam carcaças com restos de carne
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É aquela foto que resulta da combinação perigosa de desemprego, queda na renda e aumento no preço dos alimentos. E esse retrato mostra que a escalada da miséria e da fome durante a pandemia não é responsabilidade do coronavírus, mas de escolhas, de negação, negligência e ausência de medidas que protejam a população mais vulnerável.
A matéria é parte do Pandora Papers, um projeto do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) que publicou reportagens citando mais de 330 políticos, funcionários públicos de alto escalão, empresários e artistas de 91 países e territórios que têm ou tinham empresas offshore.
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A abertura de uma offshore ou de contas no exterior não é ilegal, desde que o saldo mantido lá fora seja declarado à Receita Federal e ao Banco Central. Mas, no caso de servidores públicos, a situação é diferente
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O Código de Conduta da Alta Administração Federal proíbe que funcionários do alto escalão mantenham aplicações financeiras que possam ser afetadas por políticas governamentais sobre as quais “a autoridade pública tenha informações privilegiadas.”
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Pois veja só, Paulo Guedes é responsável por uma série decisões capazes de afetar seus próprios investimentos no exterior.
Nesse meio tempo, nem um pio do ministro. Nem um pio de Jair Bolsonaro
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E como nós estamos no Brasil e acontecem mais coisas do que a gente dá conta, a Folha revelou que o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos tinha uma informante no gabinete de um ministro do Supremo Tribunal Federal. Ah, e ainda teve o apagão do Facebook.
Participam os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
BSV Especial Coronavírus #52 O povo morrendo e Bolsonaro derretendo
Geórgia Santos
7 de abril de 2021
No Brasil em que morrem mais de quatro mil pessoas por dia em função da Covid-19, o presidente da República, Jair Bolsonaro, faz graça.No Brasil em que morrem mais de quatro mil pessoas por dia em função da Covid-19, o presidente da República, Jair Bolsonaro, diz que não vai ter lockdown.
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Mas o Brasil em que morrem mais de quatro mil pessoas por dia em função da Covid-19, temosos primeiros sinais de que Jair Bolsonaro pode estar derretendo, abrindo espaço para o centrão e implorando para não ser abandonado pelos fascistóides que o apoiaram até aqui
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Alguns indícios apontam para esta tendência.As já discutidas trocas nos ministérios, o fato de que Bolsonaro está atrás de Lula nas pesquisas eleitorais, os novos ministros da Saúde e das Relações Exterioresfalando “coisas normais”, e o imbróglio do orçamento, em que ele precisa agradar o Centrão. O problema é que tem santo demais pra pouca missa. E não esqueçamos que Paulo Guedes pode cair.
Tudo isso no país em que morrem mais de quatro mil pessoas por dia e a preocupação do governo é que os empresários possam furar a fila e conseguirem vacina antes dos grupos prioritários.
Participam os jornalistas Geórgia Santos, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
Por que as pessoas negam os riscos e por que elas estão erradas?
Por que só a vacina pode nos tirar desse buraco?
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As respostas a essas perguntas estão no episódio desta semana. Portanto, se você está com raiva, frustrado, cansado, ouça e passe a palavra da salvação adiante.
Participam os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tercio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
Algumas pessoas imaginavam que em dezembro já estaríamos vivendo normalmente. Outros, só esperavam um Natal em família. Mas 2020 chega ao fim e ainda estamos enfrentando o vírus e diversas outras epidemias. Epidemia de ansiedade, epidemia de violência, epidemia de empobrecimento.
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Chegamos a 2021 em uma tempestade perfeita. A pandemia que não se foi, desemprego alto, inflação alta – especialmente de alimentos – e o fim do auxílio emergencial
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Essa conjuntura provoca uma série de incertezas, especialmente para os brasileiros mais frágeis economicamente e que começam o ano sem saber exatamente quais as possibilidades de trabalho e sem saber se terão os R$600, os R$300 reais ou nada.
Soma-se a isso uma crise política, a incapacidade do governo de Jair Bolsonaro de lidar com a pandemia e a demora do Brasil em institucionalizar a vacinação e temos, de fato, uma tempestade perfeita.
Para tentar entender essa conjuntura econômica, nós vamos conversar com o economista Ely José Mattos, professor da PUCRS, sobre a inflação e a importância do auxílio emergencial. Nós ainda conversamos com a educadora financeira Cintia Senna e com o presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Junior, sobre como a educação financeira pode ajudar, inclusive, a população de baixa renda.
Mas a educação financeira também tem seus limites. E aí entra o trabalho de pessoas como a Raquel Grabauska, que, diante dessa epidemia de empobrecimento, criou o projeto solidário CQM+, que ajuda pessoas em vulnerabilidade social em Porto Alegre.
Participam do programa os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
BSV Especial Coronavírus #23 Queda do PIB, 4 anos do golpe e eleições
Geórgia Santos
2 de setembro de 2020
A queda do PIB fez com que o episódio desta semana fosse uma espécie de viagem no tempo. Isso porque a economia brasileira sofreu um tombo recorde, com uma queda história de 9,7% no segundo trimestre. Assim, o Brasil voltou ao patamar de 2009. O desempenho é parecido com o de países ricos durante a pandemia de coronavírus, mas, por aqui, também é reflexo da falta de liderança. O resultado ainda impactou diretamente na decisão do presidente Jair Bolsonaro, que resolveu prorrogar o auxilio emergencial com redução de 50%. Agora, o benefício será de R$300 reais, pago em quatro parcelas até o final do ano.
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Parece, afinal, que não bastava “tirar a Dilma”
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Aliás, nesta semana, dia 31 de agosto, fez quatro anos do golpe jurídico e institucional que tirou Dilma Rousseff do poder, em 2016. Algumas das repercussões desse evento ainda podem ser observadas hoje. Porém, talvez o momento exija uma guinada de discurso por parte da esquerda.
E do passado a gente dá pulinho no futuro porque as eleições municipais estão chegando e já mostram uma rearticulação das direitas brasileiras em torno de Bolsonaro. Quem sabe mostrando algo que pode acontecer em 2022. Afinal, já tem crítico arrependido, não é mesmo, governador Ronaldo Caiado?
Participam os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox e outros agregadores.
OUÇA Bendita Sois Vós #49 Mulheres no país do Messias, dólar em alta e a tal fraude
Geórgia Santos
10 de março de 2020
No episódio de hoje, mulheres. Mulheres e os obstáculos constantes, especialmente em um país governado por um presidente misógino e machista.
A ideia de um Dia da Mulher surgiu no início do século 20, entre movimentos socialistas e operários, justamente no contexto das lutas feministas por melhores condições de vida e trabalho e pelo direito ao voto. Em 1975, o 8 de março foi adotado como Dia Internacional da Mulher pelas Nações Unidos principalmente para lembrar o quanto ainda precisamos lutar. E aqui estamos nós, em 2020 – e dadas as devidas proporções – lutando por melhores condições de vida e trabalho.
Também hoje, a queda no preço do petróleo, o colapso da Bolsa e a disparada do dólar. E a mais nova tentativa de Bolsonaro de enfraquecer as instituições. Segundo ele, a eleição em que ele foi escolhido presidente foi fraudada.
Participam os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol.Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
OUÇA Bendita Sois Vós #28 A narrativa do desmatamento
Geórgia Santos
10 de agosto de 2019
No episódio seis da segunda temporada do Bendita Sois Vós, os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol discutem a narrativa do desmatamento. A forma como o governo de Jair Bolsonaro lida com a questão do meio ambiente tem repercussões não apenas na questão da sustentabilidade, mas também na economia e política internacional.
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais mostram que o desmatamento da Amazônia cresceu 88% e junho deste ano em comparação com o mesmo mês do ano passado. Em julho, o desmatamento cresceu 278% em relação ao mesmo mês em 2018. E a resposta de Bolsonaro? Além de demitir o diretor do INPE, Ricardo Galvão, fez piadinhas e disse que é o “capitão motosserra”.
Na década de 70, os músicos Sá e Guarabyra já perguntavam na canção Sobradinho, que é trilha desse episódio, se o sertão vai virar mar. “Dá no coração, o medo que algum dia o mar também vire sertão.”
No Bendita Sois Vós desta semana, os jornalistas Geórgia Santos, Igor Natusch e Tércio Saccol falam sobre os seis meses do governo de Jair Bolsonaro. Um período bastante turbulento e de muita disputa política. Após três meses, apenas, Bolsonaro já tinha a pior avaliação entre presidentes de primeiro mandato da história do período democrático.
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Foram seis meses de muitas mudanças no primeiro escalão, decretos e mais decretos, declarações polêmicas e gafes múltiplas
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Um governo marcado pela proximidade inegável com milicianos e que tem à frente um presidente com filho senador investigado. Sem falar no desmonte da educação; o ministro Sérgio Moro sob pressão da Vazajato e com o pacote anticrime congelado; e um Congresso rebelde.
Para discutir a performance do governo nas mais diversas áreas, o podcast traz os depoimentos do cientista político Augusto de Oliveira; do especialista em segurança pública Marcos Rolim; da professora Jananína Maudonett, especialista em educação e movimentos sociais; e ainda dos jornalistas Airan Albino, ativista do movimento negro; e Samir Oliveira, ativista da causa LGBT.
No Sobre Nós, inspirados na discussão sobre a Reforma da Previdência, um dos temas mais importante do planalto, Raquel Grabauska e Angelo Primon trazem A Velhice de Simone de Beauvoir e O Velho e o Mar de Ernest Hemingway.
O presidente Michel Temer participa do evento Governo Digital: Rumo a um Brasil Eficiente, no Palácio do Planalto.
O governo de Michel Temer tem utilizado, desde o início, um discurso bem menos de convencimento e muito mais de construção de realidade. Nas falas e nos materiais de divulgação, os últimos dois anos foram uma sequência gloriosa de sucessos, onde tudo melhora a olhos vistos e os olhos que não enxergam, bem, estão com má vontade e não querem enxergar. Trata-se de uma variação da profecia auto-realizável: o elogio auto-confirmatório, que se legitima até mesmo a partir da rejeição dos demais. Uma auto-estima daquelas, vamos combinar.
O problema, por óbvio, é que os acontecimentos nem sempre se moldam tão bem assim ao discurso.
A crise envolvendo a escalada quase diária do preço dos combustíveis (e que resultou numa greve-locaute que já coloca alguma das principais cidades brasileiras em animação suspensa) é, com todas as suas particularidades, mais um sintoma dessa divergência entre argumento e prática. Qualquer um que, ontem, usasse as ferramentas de pesquisa do Twitter poderia ver a hashtag #avançamos – incentivada pelo governo federal como forma de espalhar sua mensagem de quase euforia – lado a lado com notícias cada vez mais alarmantes de rodovias bloqueadas, transportes entrando em colapso por falta de combustível, postos de gasolina elevando preços a valores próximos dos R$ 10. Uma incongruência que chegava a ser tragicômica, com ênfase no trágico.
Em termos de prática política, Michel Temer faz um governo velho, muito velho. Submeteu o país à própria salvação política, em uma farra de emendas parlamentares totalmente contrária ao discurso pretensamente austero de colocar das contas públicas nos eixos. Promoveu, a toque de caixa, uma reforma trabalhista totalmente submissa aos interesses dos grandes detentores de capital, acelerando e multiplicando uma fragmentação/precarização das forças de trabalho que não tem (e nem parece disposto a ter) nenhum plano para minimizar. Assinou, por impulso e desespero político, uma intervenção na segurança do Rio de Janeiro que só trouxe incerteza e mais insegurança, com direito ao revoltante assassinato de uma vereadora no meio da rua. Apega-se a indicadores econômicos imprecisos para enxergar o copo sempre meio cheio, quase transbordando na verdade, e exaltar a chama da recuperação onde se pode ver, no máximo, uma fumacinha. E fala dessas coisas ao país como se fosse fácil iludir as massas ignorantes, sem dinheiro no bolso, trabalhando em condições cada vez piores, com angústia e medo do futuro. Ou como se a opinião delas simplesmente não tivesse qualquer importância.
Queria reeleger-se, Michel Temer. Tão embevecido estava com as próprias histórias gloriosas, e tão temeroso se encontra das consequências de ficar sem cargo eletivo, que achou que poderia reeleger-se. E externou esse desejo, conseguindo gerar apenas um dos mais inusitados casos de vergonha alheia do recente cenário político brasileira.
No fundo, Michel Temer sabe que quase nada melhorou coisíssima nenhuma, mas foi na repetição de ilusões e discursos vazios que sua gestão construiu seu quebradiço castelo, e a ela pretende apegar-se até o fim. Pela manhã, seu fiel escudeiro Carlos Marun criticava a imprensa por assumir que Temer desistiria de ser candidato; à tarde, o próprio ex-vice anunciava que estava abrindo caminho para Henrique Meirelles, que deve ser o nome do MDB na eleição que, ao que parece, se avizinha. Um auto-engano, diga-se, ao qual a própria legenda não se constrange em recorrer: depois de conseguir, com surpreendente sucesso, fingir que não tinha nada a ver com o governo petista ao qual se aliou durante anos a fio e no qual ocupou inúmeros ministérios, agora corrige a má imagem tirando uma letrinha da sigla, como o cidadão que tinge o cabelo e acha que voltou a ser jovem por passe de mágica.