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Bendita Sois Vós #63 O Brasil que mata

Geórgia Santos
15 de junho de 2022

Mais de uma semana após o desaparecimento na Amazônia, começam a surgir pistas mais concretas sobre o paradeiro do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips.

Equipes de buscas encontraram vários pertences da dupla. Um notebook, cartão de saúde em nome de Bruno, calça preta de Bruno, par de botas de Dom, chinelo preto de Bruno, mochila de Dom.

Na segunda-feira, a esposa de Dom Phillips, Alessandra Sampaio, informou ao jornalista André Trigueiro, da Globonews, que os corpos de Bruno e Dom teriam sido encontrados, mas a Polícia Federal negou. Não houve essa confirmação, ainda. Uma pessoa está presa. Amarildo da Costa de Oliveira, conhecido como PeLado, foi avistado por ribeirinhos passando no rio logo atrás da embarcação de Bruno e Dom, no trajeto que os dois faziam entre a comunidade de São rafael até a cidade de Atalaia do Norte. A polícia encontrou vestígios de sangue na lancha usada por ele. Os familiares dizem que ele foi torturado pela polícia e que está sendo forçado a confessar o crime.

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O governo federal demorou a reagir. O presidente Jair Bolsonaro disse que “isso acontece em qualquer lugar do mundo”, que “os dois sabiam do risco daquela região”

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No episódio de hoje a gente explica que ISSO, que provavelmente aconteceu com Dom e Bruno, não acontece em qualquer do mundo. E tem acontecido cada vez mais no nosso lugar do mundo.

A apresentação é de Geórgia Santos. Particiapam Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no SpotifyItunes e Castbox

 

Vós Pessoas no Plural · Bendita Sois Vós #63 O Brasil que mata
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OUÇA Bendita Sois Vós #28 A narrativa do desmatamento

Geórgia Santos
10 de agosto de 2019

No episódio seis da segunda temporada do Bendita Sois Vós, os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol discutem a narrativa do desmatamento. A forma como o governo de Jair Bolsonaro lida com a questão do meio ambiente tem repercussões não apenas na questão da sustentabilidade, mas também na economia e política internacional. 

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais mostram que o desmatamento da Amazônia cresceu 88% e junho deste ano em comparação com o mesmo mês do ano passado. Em julho, o desmatamento cresceu 278% em relação ao mesmo mês em 2018. E a resposta de Bolsonaro? Além de demitir o diretor do INPE, Ricardo Galvão, fez piadinhas e disse que é o “capitão motosserra”. 

Na década de 70, os músicos Sá e Guarabyra já perguntavam na canção Sobradinho, que é trilha desse episódio, se o sertão vai virar mar. “Dá no coração, o medo que algum dia o mar também vire sertão.”

Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.

Voos Literários

O homem que calculava (o desmatamento)

Flávia Cunha
6 de agosto de 2019

Depois de uma verdadeira cruzada contra os cursos de Humanas, o presidente Jair Bolsonaro parece agora estar voltando sua verborragia para as Exatas. Refiro-me ao caso da demissão do diretor do Inpe, por “discordar” dos números do desmatamento na Amazônia.

Divergir  de dados mapeados por satélite me parece algo bastante difícil de sustentar-se enquanto recurso lógico. Mas na narrativa do governo, alertar que o desmatamento da floresta amazônica aumentou nos últimos meses é algo condenável. 

Houve inclusive uma tentativa de desmerecer a trajetória de Ricardo Magnus Galvão e insinuar interesses escusos no alerta do INPE: que seria para favorecer alguma ONG. O Currículo Lattes do físico fala por si. Entre outras titulações, é integrante da Academia Brasileira de Ciências. 

A Ciência, que se ampara em métodos e não aceita suposições como verdade, não é do agrado do atual governo.

No Brasil de Bolsonaro, o personagem principal do aclamado livro O Homem que Calculava, Beremiz Samir, podia não ser tão bem visto como no enredo da obra de Malba Tahan, pseudônimo do escritor brasileiro Julio Cesar de Mello e Sousa.

No livro, publicado em 1938, a Matemática, enquanto ciência, é vista como inquestionável, mesmo em um ambiente medieval na região do Oriente Médio:

Por ter alto valor no desenvolvimento da inteligência e do raciocínio, é a Matemática um dos caminhos mais seguros por onde podemos levar o homem a sentir o poder do pensamento”.

O livro, de caráter paradidático, é reconhecido mundialmente como uma forma de incentivar o gosto pela Matemática e pelas ciências exatas de uma forma geral. E o Conhecimento é a chave para nos libertamos da nova Idade Média brasileira. 

Imagem: Agência Brasil / Arquivo

ECOO

Imperatriz Leopoldinense – Carnaval da sustentabilidade na Sapucaí

Geórgia Santos
27 de fevereiro de 2017

Volta e meia uma escola de samba do Rio de Janeiro escolhe um elemento da natureza para homenagear na avenida. Isso quando o assunto não é a preservação do meio ambiente em si. Assim, de cabeça, lembro da Mocidade Independente de Padre Miguel, em 1991, com seu “Chuê, Chuá… As Águas Vão Rolar”; da Beija-Flor, em 2004, exaltou a Amazônia no enredo “Manôa – Manaus – Amazônia – Terra Santa Que Alimenta O Corpo, Equilibra A Alma E Transmite A Paz”; da Portela, em 2008, “Reconstruindo a Natureza, Recriando a Vida: o Sonho Vira Realidade”. Felizmente, essa lista é realmente grande e de tempos em tempos o Carnaval do Rio nos põe a pensar sobre nossos hábitos.

Xingu, o clamor que vem da floresta

Neste ano não foi diferente. A Imperatriz Leopoldinense foi para a Marquês de Sapucaí com o enredo “Xingu, o clamor que vem da floresta”. Mas o que parecia somente mais um desfile cuja temática era um povo da Amazônia com uma vibe “salvem o verde” transformou-se em um polêmica no momento em que tocou no bolso de um setor poderoso da nossa economia. A chamada Rainha de Ramos escancara o estrago que o crescimento desenfreado do agronegócio causa à natureza. Abordando o problema das derrubadas e queimadas na Amazônia para criação de gado até o problema com o uso excessivo de agrotóxicos. As entidades ligadas ao setor, obviamente, não gostaram nada disso.

Em nota, a escola respondeu de maneira clara e objetiva e esclareceua o fato de que não tem interesse em demonizar o agronegócio, mas de trazer à tona uma discussão importante e necessária.

“Vamos falar da rica contribuição dos povos indígenas do Xingu à cultura brasileira e ao mesmo tempo construir uma mensagem de preservação e respeito à natureza e à biodiversidade.

Segundo relato da própria população que vive ali, a região do Xingu ainda é alvo de disputas e constantes conflitos. A produção muitas vezes sem controle, as derrubadas, as queimadas e outros feitos desenfreados em nome do progresso e do desenvolvimento afetam de forma drástica o meio ambiente e comprometem o futuro de gerações vindouras. Os resultados, como sabemos, são devastadores e na maioria das vezes irreversíveis.

Acreditamos que, para além do entretenimento, o carnaval e a escola de samba – levando em consideração que os olhos do mundo se voltam para nossa festa – têm um compromisso com o social e o desenvolvimento sustentável.

Passada a polêmica, a escola desfilou linda e emocionante. Além de explorar a fauna e a flora da região, a Imperatriz abordou uma série de questões polêmicas como a construção da hidrelétrica de Belo Monte. Representantes das etnias do Xingu, incluindo o Cacique Raoni, participaram do desfile.

Aqui é possível ver um trecho do desfile.