Volta e meia uma escola de samba do Rio de Janeiro escolhe um elemento da natureza para homenagear na avenida. Isso quando o assunto não é a preservação do meio ambiente em si. Assim, de cabeça, lembro da Mocidade Independente de Padre Miguel, em 1991, com seu “Chuê, Chuá… As Águas Vão Rolar”; da Beija-Flor, em 2004, exaltou a Amazônia no enredo “Manôa – Manaus – Amazônia – Terra Santa Que Alimenta O Corpo, Equilibra A Alma E Transmite A Paz”; da Portela, em 2008, “Reconstruindo a Natureza, Recriando a Vida: o Sonho Vira Realidade”. Felizmente, essa lista é realmente grande e de tempos em tempos o Carnaval do Rio nos põe a pensar sobre nossos hábitos.
Xingu, o clamor que vem da floresta
Neste ano não foi diferente. A Imperatriz Leopoldinense foi para a Marquês de Sapucaí com o enredo “Xingu, o clamor que vem da floresta”. Mas o que parecia somente mais um desfile cuja temática era um povo da Amazônia com uma vibe “salvem o verde” transformou-se em um polêmica no momento em que tocou no bolso de um setor poderoso da nossa economia. A chamada Rainha de Ramos escancara o estrago que o crescimento desenfreado do agronegócio causa à natureza. Abordando o problema das derrubadas e queimadas na Amazônia para criação de gado até o problema com o uso excessivo de agrotóxicos. As entidades ligadas ao setor, obviamente, não gostaram nada disso.
Em nota, a escola respondeu de maneira clara e objetiva e esclareceua o fato de que não tem interesse em demonizar o agronegócio, mas de trazer à tona uma discussão importante e necessária.
“Vamos falar da rica contribuição dos povos indígenas do Xingu à cultura brasileira e ao mesmo tempo construir uma mensagem de preservação e respeito à natureza e à biodiversidade.
Segundo relato da própria população que vive ali, a região do Xingu ainda é alvo de disputas e constantes conflitos. A produção muitas vezes sem controle, as derrubadas, as queimadas e outros feitos desenfreados em nome do progresso e do desenvolvimento afetam de forma drástica o meio ambiente e comprometem o futuro de gerações vindouras. Os resultados, como sabemos, são devastadores e na maioria das vezes irreversíveis.
Acreditamos que, para além do entretenimento, o carnaval e a escola de samba – levando em consideração que os olhos do mundo se voltam para nossa festa – têm um compromisso com o social e o desenvolvimento sustentável.”
Passada a polêmica, a escola desfilou linda e emocionante. Além de explorar a fauna e a flora da região, a Imperatriz abordou uma série de questões polêmicas como a construção da hidrelétrica de Belo Monte. Representantes das etnias do Xingu, incluindo o Cacique Raoni, participaram do desfile.
Aqui é possível ver um trecho do desfile.
