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BSV Especial Coronavírus #42 Impeachment de Bolsonaro?

Geórgia Santos
27 de janeiro de 2021

No episódio desta semana, vamos falar de impeachment. Calma, vamos especificar, porque entre Estados Unidos e os cinco anos do golpe institucional contra Dilma Rousseff se aproximando, é importante esclarecer. Vamos falar sobre o impeachment de Bolsonaro – ou, pelo menos, da possibilidade de Jair não terminar os dois anos de mandato que lhe restam. 

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Não, o processo não foi aberto. Por enquanto, ainda é um sonho. Mas, pela primeira vez desde 2018, é um sonho que pode ser concretizado
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No último final de semana, manifestações pelo país pediam a saída de Jair Bolsonaro. Editoriais de jornais tradicionais, que antes apoiaram “Paulo Guedes”, agora também pedem a saída do presidente da República. Enquanto isso, os crimes de responsabilidade são empilhados no Palácio do Planalto.  O ministro da saúde, Eduardo Pazuello já está sendo investigado pela responsabilidade no caos da saúde de Manaus. Rodrigo Maia já acena com a palavra crime. Aliados parecem estar pulando da barca. E há evidências escancaradas de que o governo federal rejeitou milhões de doses de vacinas contra o coronavírus.

O que está faltando, então, para o Impeachment de Bolsonaro? Mais crimes? Pressão popular? Apoio do Centrão à causa? Vontade política de Rodrigo Maia? O alinhamento dos astros? O Faustão sair da Globo? Opa.

Participam os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no SpotifyItunes e Castbox

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BSV Especial Coronavírus #23 Queda do PIB, 4 anos do golpe e eleições

Geórgia Santos
2 de setembro de 2020

A queda do PIB fez com que o episódio desta semana fosse uma espécie de viagem no tempo. Isso porque a economia brasileira sofreu um tombo recorde, com uma queda história de 9,7% no segundo trimestre. Assim, o Brasil voltou ao patamar de 2009. O desempenho é parecido com o de países ricos durante a pandemia de coronavírus, mas, por aqui, também é reflexo da falta de liderança. O resultado ainda impactou diretamente na decisão do presidente Jair Bolsonaro, que resolveu prorrogar o auxilio emergencial com redução de 50%. Agora, o benefício será de R$300 reais, pago em quatro parcelas até o final do ano.

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Parece, afinal, que não bastava “tirar a Dilma”
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Aliás, nesta semana, dia 31 de agosto, fez quatro anos do golpe jurídico e institucional que tirou Dilma Rousseff do poder, em 2016. Algumas das repercussões desse evento ainda podem ser observadas hoje. Porém, talvez o momento exija uma guinada de discurso por parte da esquerda.

E do passado a gente dá pulinho no futuro porque as eleições municipais estão chegando e já mostram uma rearticulação das direitas brasileiras em torno de Bolsonaro. Quem sabe mostrando algo que pode acontecer em 2022. Afinal, já tem crítico arrependido, não é mesmo, governador Ronaldo Caiado?

Participam os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no SpotifyItunes e Castbox e outros agregadores.

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Igor Natusch

Jair Bolsonaro perdeu o pulso das massas

Igor Natusch
18 de março de 2020
O presidente Jair Bolsonaro acompanhou, da área externa do Palácio do Planalto, em Brasília, a manifestação de apoiadores de seu governo, que está sendo realizada neste domingo (15) na capital federal e em outras cidades do país.

Ao que parece, a opinião pública se cansou de Jair Bolsonaro.

Embora seja um marco que entrará para a história, o gesto de cumprimentar lunáticos de verde e amarelo que pediam golpe em pleno temor do coronavírus não é exatamente um ponto de partida. Na verdade, a impressão é de que Bolsonaro, eleito pela capacidade de ser o avatar dos recalques e preconceitos de uma nação inteira, perdeu há algum tempo o pulso das massas. Lembremos da patética insinuação de fraude no primeiro turno das eleições de 2018 – cometida, segundo o presidente, para impedir que ele fosse eleito em primeiro turno. A maluquice, ao que parece, tinha o objetivo de energizar sua massa de fanáticos e pressionar a Justiça Eleitoral; fora algumas falas discretas de TSE e Congresso, não teve efeito algum. Passou em branco.

Estamos acostumados a pensar em quanto as barbaridades de Jair Bolsonaro passam em branco para prejuízo da nação. Talvez precisemos começar a pensar em quanto esse passar em branco é prejudicial para o próprio Bolsonaro.

No exercício vulgar da política que Bolsonaro faz, uma polêmica que não acontece é uma agenda perdida. E a percepção de que os protestos de 15 de março falhariam – os protestos tão acalentados, propagandeados com uso da máquina pública, capazes de dar fôlego ao sonho autocrático de quem sempre detestou a democracia – parece ter pesado sobre a mente do presidente. Até Luiz Henrique Mandetta, o até então discreto ministro da Saúde, recebia aplausos na imprensa, jogando o presidente (em sua visão, ao menos) para segundo plano.

Cego pelos piores sentimentos políticos, Bolsonaro não enxergou a sombra do coronavírus pairando sobre o país.

Diante de uma doença potencialmente trágica e que apavora todo o mundo, era hora de recuar. Mas Bolsonaro, animal político xucro que é, não recua jamais. Avançou aos pinotes, sonhando com os aplausos da claque, com multidões reacionárias enfrentando o medo do Covid-19 em nome de um Brasil livre dos comunistas. Decidiu ignorar os médicos e a decência, rompendo o próprio isolamento para apertar mãos e tirar selfies junto à turba demente que gritava seu nome.

Apostou errado, em mais de um sentido. Para praticamente todo o mundo que assistiu do lado de fora, os atos ficaram marcados como o que de fato são: um desfile de gente louca e inconsequente. Bolsonaro, por sua vez, surge coma figura vil que quer virar ditador e não tem vergonha de fazer política rasteira em meio à promessa de cadáveres – algo que, sejamos justos, descreve de modo exato o que ele efetivamente é. Longe de ficarem emparedados pelos protestos, Congresso e STF saíram com uma disposição renovada para anulá-lo de vez – com direito a humilhação pública, na figura de um gabinete de crise no qual o Presidente da República sequer foi convidado a tomar assento.

Com protestos de adesão modestíssima, analistas internacionais enojados e uma economia em queda livre, o que os nobres deputados e magistrados têm a temer de Bolsonaro?

Atacou fraco. Abriu o flanco. E agora está sofrendo – e sentindo – o contra-ataque.

Desde ontem, panelas e gritos de Fora Bolsonaro se fazem ouvir das janelas em quarentena do Brasil. Janaína Paschoal, que esteve perto de ser vice na chapa que o elegeu, desancou Bolsonaro com fúria quase inédita; Reale Jr., por sua vez, pediu uma junta médica para avaliar a sanidade mental do presidente. Ninguém, absolutamente ninguém ergueu-se em seu auxílio. Mesmo os militares, sempre evocados como força capaz de impor a ordem a um país de devassidão e petismo, seguem guardando um significativo silêncio. E as ruas, que sempre acreditou serem suas (o que era verdade até a facada, e nunca mais voltou a ser depois disso), agora cospem em seu rosto.

A irresponsabilidade de Bolsonaro não despertou apoio, mas fúria. Deu aos que se opõem a ele uma oportunidade e um sentimento coletivo.

O que todos sabiam, mas nem todos expressavam, agora ganhou voz e significado: o presidente é um imbecil. Uma figura asquerosa e vulgar, que não se importa com nada que não nutra relação direta e imediata com seus delírios de autocrata. Um fraco. Alguém que ri e tira selfies enquanto o povo sofre e tem medo. O pretenso homem do povo é uma caricatura tosca do flautista do conto de fábulas, conduzindo ratos golpistas cheios de doença em uma melodia de talkeis.

Que golpe poderá Bolsonaro dar, em semelhante cenário? Aí está: nenhum. E o que poderá fazer Bolsonaro para recuperar o pulso perdido das massas, em um horizonte que pode trazer longos meses consecutivos de quarentena coletiva? Isso mesmo: nada.

Na política, nada é irreversível. Talvez as coisas mudem rapidamente, e nas próximas semanas já tenhamos de novo um Jair Bolsonaro confiante e dono da situação. Hoje, contudo, parece claro que Bolsonaro não tem mais as rédeas em mãos. As decisões que importam sobre o coronavírus estão sendo tomadas à revelia, enquanto o suposto líder fica murmurando ameaças frouxas via imprensa. Um pedido de impeachment, bem ou mal elaborado que seja, já está na mesa de Rodrigo Maia. E os edifícios do país começam a bater panela, exigindo que o presidente pegue o boné e vá embora de uma vez. Se gritarem bem alto, não duvido que consigam, mais cedo ou mais tarde.

A verdade é que os ventos da política brasileira viraram. Desde domingo, o afastamento de Bolsonaro tornou-se uma possibilidade real, ainda que não imediata. O sonho de golpe virou um bumerangue, que tem tudo para acertá-lo na cara.

Foto:  José Cruz / Agência Brasil
Gustavo Chagas

Quid pro quo

Gustavo Chagas
19 de dezembro de 2019

A expressão latina quid pro quo significa a ação de dar uma coisa em troca de outra. No vivíssimo português, o sentido da frase ancestral se transformou graças a um livro farmacêutico levava esse nome. Com orientações para aplicar um princípio medicinal em vez de outro, com os mesmos efeitos, a publicação levou a culpa pelas confusões cometidas por seus leitores. Cada erro de receita sustentava o que virou o tão nosso quiprocó.

Coube ao ordenamento jurídico dos Estados Unidos trazer o original latino de volta à pauta. O presidente Donald Trump, denunciado na Câmara dos Representantes por abuso de poder e obstrução do Congresso, responderá a um processo de impeachment no Senado.

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O motivo? Quid pro quo!

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Trump teria oferecido, ao presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, liberar recursos retidos na área militar. Em troca, o hóspede da Casa Branca pediu uma atenção especial à suspeita de envolvimento de Hunter Biden (filho do ex-vice e atual pré-candidato democrata à presidência, Joe Biden) em um esquema de corrupção empresarial no país do leste europeu.

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Na pura essência das letras, _quid pro quo_!
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No início de dezembro, Donald Trump anunciou sanções a Brasil e Argentina pela desvalorização do real e do peso diante do dólar. Segundo o presidente dos Estados Unidos, os dois latino-americanos se aproveitavam deliberadamente do peso e do poder da verdinha. Como punição, taxas sobre o aço e o alumínio produzidos por aqui. O presidente Jair Bolsonaro disse ter uma linha aberta com o colega do norte, mas não houve correspondência. E antes já tínhamos ficado a ver navios no caso da OCDE, quando Trump preferiu apoiar a adesão de Argentina e Romênia no grupo dos ricos.

Na nossa nova diplomacia, com Brasil acima de tudo, Deus acima de todos e America first, Bolsonaro bem que queria firmar um quid pro quo com Trump. Mas só dando e sem receber nada em troca, apenas nos sobrou o quiprocó.

 

Image by OpenClipart-Vectors from Pixabay

Pedro Henrique Gomes

Crítica – O Processo

Pedro Henrique Gomes
19 de maio de 2018

O plano de abertura de O Processo, documentário de Maria Augusta Ramos, sobrevoa a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, para mostrar que há uma disputa política dada, encravada na polarização dos vermelhos, à esquerda, e dos verde-amarelos, à direita. A disputa pelos espaços midiáticos, narrativos, conceituais, encobre o tal processo do título, tempera os conflitos políticos, incendeia a já muito confusa discussão rodeada de “certezas históricas” e prerrogativas morais que corroem a esfera pública nacional. A batalha campal que é filmada de cima, dividindo dois focos de luta, amor e ódio, ao menos no plano simbólico, remete ao aspecto falsamente dual de nosso contexto político. Apesar de não romper com o dualismo, O Processo retira, na medida da possível, a política da esfera do espetacular, do televisivo, e a coloca em um espaço de observação e de crítica.

Consumado em agosto de 2016, após longo circo político-midiático, o impechment de Dilma Rousseff interrompeu seu segundo mandato presidencial, encerrando prematuramente o ano 14 de sucessivos governos do Partido dos Trabalhadores.

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O Processo é feito de imagens de arquivo e captadas pela diretora em sessões do congresso, comissões, votações e debates da bancada governista no senado planejando os próximos movimentos da defesa de Dilma.

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O entendimento geral, no entanto, era de que o processo já possuía suas jogadas marcadas, seu xeque-mate programado. Resistir por todos os meios e fins era, pois, um ato político derradeiro.

Há uma coleção de imagens muito interessantes e bem articuladas, especialmente as captadas por Maria Augusta Ramos durante o “rito” jurídico, que respeita o tempo do drama e da fala, percebe a encenação que se apresenta para a câmera nas filmagens internas, de gabinete, nos corredores, as ligações telefônicas e entrevistas para imprensa. Ela respeita isso e seu filme ganha força e densidade dramática. Mas ao filmar o absurdo da política partidária institucional, o absurdo olha para você em reação. Momentos involuntariamente cômicos se embaralham com momentos de crise.

O filme quer tornar claro que houve um golpe parlamentar contra o PT e Dilma ao mesmo tempo em que, como documentário sobre o processo do impechment, quer também compreender os acontecimentos que basearam o golpe. No filme, está claro: não houve crime de responsabilidade fiscal, diz a defesa e a bancada governista representadas, entre outros, como personagens num thriller político, por José Eduardo Cardozo, Gleisi Hoffmann, Vanessa Grazziotin e Lindbergh Farias. A acusação teve em Janaína Paschoal, advogada e professora de Direito Penal, sua mais proeminente figura atendida pela câmera paciente e dedicada da cineasta. Mas se há uma coisa que o filme não faz é duvidar de si mesmo, explorar mais vivamente as tensões fora da máquina polarizadora para, aí então, buscar compreender algo. A narrativa é muito justa, retilínea e segura de sua ordem para que se possa compreender muito além da narrativa do golpe, como decerto era intenção do filme. Antes, já tinha as respostas: aqui está o golpe e foi assim. Os vermelhos, lá fora, choram a derrota e anunciam a volta por cima; os verde-amarelos, pujantes e satisfeitos, gozam não se sabe muito bem o que. O filme militante, muito justo, escorrega em suas virtudes.

Não se pode cobrar, claro, imparcialidade do documentário – embora, caso se queira, é plenamente possível ser imparcial. A história narrada por suas imagens tem um fio condutor, causalidade e uma sucessão de eventos em meio ao trâmite político cujo desenlace é o golpe, o impechment. É possível dizer que se tentou dar espaço para o outro lado, mas a construção da câmera é voltada para destruir a retórica da acusação, para isolar seus personagens ou para dimensioná-los, vez ou outra, pela caricatura. Isso é legítimo, embora fragilize a ideia de um filme feito “para que as pessoas possam refletir”. É verdade que, mesmo sem função, há imagens muito raras para não participarem do filme, como quando Janaína Paschoal bebe um achocolatado de canudinho no intervalo de alguma sessão ou o presidente da comissão que interrompe um debate para pedir a troca de uma campainha que não estava à altura do local. Esses momentos de precisão estética (fruto de atenção documental, atenção com o espaço ao redor) casam bem com o fato de alguns personagens aparecerem pouco, como Aécio Neves, Lula, Gilberto Carvalho e a própria Dilma.

Gilberto Carvalho é quem, aliás, marca um momento de reflexão tardia, já com a assunção da queda. Essa cena, crucial para o discurso do filme, é retrato também dos limites dessa reflexão que a militância petista difundiu pensando estar fazendo autocrítica.

O golpe parlamentar encerra um acordo político nacional com o pemedebismo, que foi rompido – e o lado do PT perdeu. Os golpeados não foram os políticos.

O Processo, de Maria Augusta Ramos, Brasil, 2018. Com José Eduardo Cardozo, Gleisi Hoffmann, Vanessa Grazziotin, Lindbergh Farias, Janaína Paschoal, Dilma Rousseff, Aécio Neves, Antonio Anastasia, Eduardo Cunha.

Igor Natusch

O governo Michel Temer é um cadáver que não apodrece

Igor Natusch
31 de maio de 2017
er Campanato/Agência Brasil

O governo Michel Temer tenta brincar de Lázaro. Esteve imensamente morto, logo depois da devastadora gravação de sua conversa com Joesley Batista, e continua bastante morto desde então – afinal, não conseguiu sair da defensiva, passa os seus dias a rebater acusações e demonstra fragilidade absoluta no trato com o Congresso, sendo incapaz de evitar que os agregados discutam a partilha do espólio, mesmo antes do capitão dar o grito de abandonar o navio. O país está paralisado, a economia definha, as instituições funcionam com a harmonia e a fluidez de um moedor de carne enferrujado.

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Ainda assim, está se dando com o cadavérico governo Temer um estranho fenômeno: ao mesmo tempo que decompõe-se de forma visível, suas feições ganham uma cor mais viva, sua aparência dá ligeiros sinais de melhora, a carcaça esquenta ao invés de esfriar. Enquanto morre, dá sinais de que pode reviver. Como explicar tal coisa?

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Na verdade, quem enxerga esses tempos de incerteza em termos de Michel Temer está visualizando apenas uma parcela do todo. Ninguém quer realmente que Temer sobreviva politicamente, possivelmente nem ele próprio: a batalha é para manter vivo um grupo político, que se alastra por alguns partidos, e que chegou a poder menos por estratégia e muito mais por senso de oportunidade. Ter o poder é ter dívidas caras a pagar e pouca margem para perdões ou parcelamentos. Basta olhar para Lula e Dilma para entender o peso dessa afirmação.

Michel Temer e sua entourage chegaram ao Planalto assumindo uma tarefa clara: estabilizar a economia e entregar as reformas encomendadas não apenas pelo sistema financeiro, mas pelo alto empresariado e pelos barões do agronegócio, entre outros. Atingir essa meta é mais do que uma prerrogativa do atual governo: é um dever inalienável para qualquer um desse grupo que deseje ter futuro na política.

Como se vê, a dificuldade para cumprir a missão é cada vez maior. E os recentes acontecimentos não ajudaram muito um presidente que, antes dos áudios, já tinha uma popularidade ridícula e necessitava rastejar diante de deputados para aprovar, mesmo nas primeiras votações, suas polêmicas iniciativas.

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Em meio a essas duas urgências – a de salvar o projeto delineado e também o próprio pescoço – a conta que Michel Temer e seus aliados fiéis fazem é em termos de calendário. Cada dia que passa é um pequeno respiro, um passo de bebê para fora da área de tempestade.

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Por isso já é possível ver estratégias para arrastar o julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE por, pelo menos, 120 dias. Por isso o esforço de garantir que Osmar Serraglio não volte ao Congresso, mantendo o suplente (e potencial delator) Rocha Loures com mandato em vigor. Por isso é reforçada, em todas as oportunidades disponíveis e até mesmo em algumas criadas especialmente para esse fim, que a agenda de reformas continua, que o presidente está firme, que o país não pode parar. Por isso Rodrigo Maia, um dos integrantes dessa construção, já deu sinais claros de que arquivará ou sentará indefinidamente em todas as propostas de impeachment que chegarem em seu caminho.

Na panela de pressão que cozinha o ex-vice, a esperança de seus parceiros é que o gás do fogão acabe antes que a carne esteja no ponto para servir. É uma engenharia difícil, mas não inviável – ainda mais em um cenário onde vários setores tentam diminuir a intensidade do fogo, e os grupos capazes de colocar mais chamas em ação ainda buscam a melhor maneira de acender os fósforos. A briga mais importante está ali, no entorno do fogão. É para lá que me parece mais conveniente olhar.

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil