PodCasts

BSV Especial Coronavírus #41 Vai Trump, vem vacina

Geórgia Santos
20 de janeiro de 2021

A vacina, finalmente, chegou ao Brasil e a imunização começou nesta semana. Agora, finalmente, a gente vai respeitar a necessidade de distanciamento social enquanto parte da população é vacinada. O momento que todos os que acreditam na ciência esperavam. O momento que todos os que levam informação a sério esperavam. O começo do fim da pandemia.

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Mas não por causa de Jair Bolsonaro
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Logo após a aprovação, pela Anvisa, das vacinas de Oxford em parceria com a FioCruz e da Sinovac em parceria com o Butantan, não se ouviu falar em Jair Bolsonaro. Nem depois de a enfermeira Mônica Calazans ser a primeira vacinada no país. Não. O grande estadista só se manifestou no dia seguinte e pra falar da inauguração de uma obra. Quando falou, se referiu ao momento mais importante deste 2021 com a expressão APESAR DA VACINA.

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Se dependesse de Jair Bolsonaro, não teríamos vacina, apenas a mentira de que o tratamento precoce funciona
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Aliás, quando dependemos de Jair Bolsonaro, ele rejeitou 50 milhões de doses da vacina de Oxford, 40 milhões da Sinovac. Quando dependemos de Jair Bolsonaro, ele rejeitou as vacinas.

Mas este é um episódio de esperança. E pra coroar esse sentimento maravilhoso, hoje, dia 20 de janeiro, é a posse de Joe Biden como o novo presidente dos Estados. É o fim da era Donald Trump e, quem sabe, o começo de um período em que a humanidade tenha algum valor.

Participam do programa os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no SpotifyItunes e Castbox

Vós Pessoas no Plural · BSV Especial Coronavírus #41 Vai Trump, vem vacina
PodCasts

BSV Especial Coronavírus #40 “Nosso Capitólio” invadido em 2022?

Geórgia Santos
13 de janeiro de 2021
No episódio desta semana, como será o nosso capitólio invadido em 2022?

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No último dia seis, apoiadores de Donald Trump adentraram o Capitólio, a casa do legislativo dos Estados Unidos, para impedir que o Congresso aceitasse o resultado do pleito que elegeu o democrata Joe Biden como o novo presidente. Os manifestantes foram incitados pelo próprio Trump, que disse que foi roubado. Ou melhor, que MENTIU que houve fraude na eleição.

Mas não termina por aí, porque o episódio inédito na história da política dos Estados Unidos andou dando ideias a Jair Bolsonaro.

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O presidente do Brasil disse que se a eleição não for no papel em 2022, se ainda houver urna eletrônica, aqui “pode acontecer pior” que nos EUA
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O problema é que enquanto Bolsonaro se preocupa com 2022, o coronavírus avança no Brasil, deixando um rastro de mais de 200mil mortos e poucas perspectivas de vacina no curto prazo. O ministro da saúde, Eduardo Pazzuelo, é a cara da tragédia. Segundo ele, vamos nos vacinar “no dia D, na hora H”.

Para discutir esses e outros assuntos participam as jornalistas Geórgia Santos e Flávia Cunha e os jornalistas Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no SpotifyItunes e Castbox

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Vós Pessoas no Plural · BSV Especial Coronavírus #40 “Nosso Capitólio” invadido em 2022?
Reportagens Especiais

(Mais) protestos conservadores na era pré-pós-Trump: invadindo o Capitólio

Colaborador Vós
9 de janeiro de 2021

Por David S. Meyer*

O esforço caótico de insurreição no edifício do Capitólio mostrou que mais 14 dias é tempo demais para Donald Trump continuar a servir como presidente.

Como prometido, [em seis de janeiro] Trump apareceu cedo para falar em um comício organizado em apoio às suas acusações infundadas de que a eleição presidencial fora roubada. Na maior parte, o discurso reprisou a recitação de realizações imaginadas e inimigos acumulados, conhecidos de suas aparições de campanha. Mas a lista de inimigos ficou maior, agora incluindo o ex-procurador-geral William Barr; o vice-presidente Mike Pence; o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell; e a congressista Liz Cheney. Seus pecados: não apoiar Trump agressivamente o suficiente e, então, apegar-se demais às normas da governança constitucional.

Trump (de novo, falsamente) alegou uma vitória eleitoral esmagadora, reclamou sobre ser enganado e exigiu que seus seguidores lutassem para mantê-lo no cargo. Ele proclamou que jamais reconheceria a derrota e anunciou que marcharia com eles até o prédio do Capitólio para impedir o Congresso de aceitar os resultados do Colégio Eleitoral. Então, Trump voltou para a Casa Branca.

Os apoiadores seguiram em frente e, de alguma maneira, formaram uma coluna que passou pelos bloqueios ao redor do Capitólio e invadiram o prédio. (Pelo menos um vídeo circulando parece mostrar a polícia removendo as barricadas para convidar os insurgentes a entrarem.) Você teria que voltar a 1814, quando os britânicos invadiram (sem guitarras) para encontrar algo remotamente semelhante. Ironias abundaram enquanto os caras que marchavam para apoiar vidas azuis lutavam com a polícia.

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Trumpianos subiram correndo os degraus do Capitólio e avançaram pelos corredores, reivindicando o plenário da Câmara e do Senado, ocupando o Statuary Hall, invadindo escritórios, vasculhando mesas, quebrando vidros e saqueando – tirando selfies por todo o caminho
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Embora seja provável que pelo menos alguns dos vândalos tenham planejado a incursão, parece que muitos dos insurgentes apenas se deixaram levar pelo momento. Houve pouca coordenação aparente depois que o pessoal da segurança evacuou os membros do Congresso, nem qualquer consideração de uma mensagem comum.

Havia manifestantes em trajes estranhos, uma variedade de bandeiras brandidas (veja a bandeira confederada abaixo, quase cobrindo o que tenho certeza que é um retrato de John C. Calhoun, o principal teórico político da secessão do sul para preservar a escravidão), bonés MAGA [Make America Great Again, algo como Faça a América Grande de Novo, em tradução livre], mas não muitas máscaras em deferência a uma pandemia global.

O acesso aparentemente fácil dos vândalos ao prédio e sua capacidade de interromper o funcionamento do governo nacional levantaram questões óbvias sobre o policiamento. Os tuiteiros foram rápidos em perceber que bloqueios, prisões, espancamentos e estrangulamentos, gás lacrimogêneo e tiros vieram muito mais lentamente para este grupo de manifestantes brancos do que para disciplinar os manifestantes do Black Lives Matter no verão passado, quem dirá para o ocasional motorista negro, ou corredor, consumidor ou dorminhoco.

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O esforço tardio de Trump para promover a ordem pública veio com um vídeo de um minuto no qual ele reiterou suas queixas insustentáveis ​​sobre a eleição e declarou seu amor pelos insurgentes antes de encorajá-los a voltar para casa
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A coordenação da segurança pública estava, na melhor das hipóteses, dispersa, em parte devido a uma administração disfuncional e desinteressada, em parte como resultado da estranha governança de Washington DC. Observe que foi o Pence quem chamou a Guarda Nacional, embora o vice-presidente não tenha autoridade para fazê-lo. Demorou horas para uma coleção de agências de segurança pública evacuar o prédio e, lentamente, as áreas do entorno.

Os líderes do Congresso anunciaram que se reuniriam novamente e aceitariam os resultados assim que o prédio fosse limpo e, presumivelmente, quando o gás lacrimogêneo também fosse removido. Eles estavam determinados a não dar aos insurgentes nem mesmo o sopro de uma vitória para reivindicar. Parece que pelo menos alguns dos membros abandonaram seus planos de contestar os votos de alguns dos estados indecisos.

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As reportagens, nesta fase, não importa o quão sérias e bem-intencionadas, provavelmente não são totalmente fidedignas, então estamos esperando para obter uma história mais completa e esclarecer as implicações, mas aqui estão alguns palpites:

A insurgência vai desafiar ainda mais a fé de pelo menos alguns políticos republicanos no presidente, exacerbando uma divisão crescente no partido;

A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, e os líderes do Senado McConnell e (agora!) Schumer tentarão coordenar alguma forma de remover – ou pelo menos calar – Trump para evitar mais danos. (O Twitter congelou temporariamente sua conta);

O Congresso – e as legislaturas estaduais – vão reforçar barricadas e aparelhar as forças policiais e de segurança, tornando mais difícil para as pessoas confrontarem – ou mesmo entrarem em contato com – seus representantes;

Talvez haja um apoio mais urgente para a criação de um estado em Washington DC – um governador poderia fazer coisas para proteger a ordem pública que o prefeito não poderia;

Talvez haja um pouco mais de suporte para uma modesta regulamentação de armas – dependendo do que acontecer a seguir;

Estamos vivendo um capítulo estranho e perturbador da história Americana. Eu ficaria bem em pular as últimas páginas e chegar a algo diferente.


Originalmente publicado no site Politics of Protest, sob o título (More) conservative protest in the pre-post-Trump era: storming the Capitol.

*David S. Meyer
Autor de The Politics of Protest: Social Movements in America
Professor de Sociologia e Ciência Política na Universidade da Califórnia, Irvine

 

PodCasts

BSV Especial Coronavírus #31 Donald Trump perdeu

Geórgia Santos
11 de novembro de 2020

Donald Trump PERDEU. O democrata Joe Biden foi eleito presidente dos Estados Unidos ao lado da vice Kamala Harris, primeira mulher, primeira mulher negra a ocupar essa posição.

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Trump, the whining, ainda não admitiu a derrota e promete judicializar a disputa
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Trump perdeu, mas “não larga o osso”. Por isso, nós vamos conversar com o jornalista Gustavo Chagas sobre as repercussões práticas na política brasileira.

Mas também vamos discutir as repercussões políticas. Porque há quem comemore a derrota de Trump e lamenta a vitória de Biden porque ele é um centrista. Confuso, né? Pois, acredite, essa eleição revelou, pelo menos nas redes sociais, a figura do “fiscal de alívio alheio”.

Participam os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no SpotifyItunes e Castbox

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Gustavo Chagas

Quid pro quo

Gustavo Chagas
19 de dezembro de 2019

A expressão latina quid pro quo significa a ação de dar uma coisa em troca de outra. No vivíssimo português, o sentido da frase ancestral se transformou graças a um livro farmacêutico levava esse nome. Com orientações para aplicar um princípio medicinal em vez de outro, com os mesmos efeitos, a publicação levou a culpa pelas confusões cometidas por seus leitores. Cada erro de receita sustentava o que virou o tão nosso quiprocó.

Coube ao ordenamento jurídico dos Estados Unidos trazer o original latino de volta à pauta. O presidente Donald Trump, denunciado na Câmara dos Representantes por abuso de poder e obstrução do Congresso, responderá a um processo de impeachment no Senado.

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O motivo? Quid pro quo!

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Trump teria oferecido, ao presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, liberar recursos retidos na área militar. Em troca, o hóspede da Casa Branca pediu uma atenção especial à suspeita de envolvimento de Hunter Biden (filho do ex-vice e atual pré-candidato democrata à presidência, Joe Biden) em um esquema de corrupção empresarial no país do leste europeu.

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Na pura essência das letras, _quid pro quo_!
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No início de dezembro, Donald Trump anunciou sanções a Brasil e Argentina pela desvalorização do real e do peso diante do dólar. Segundo o presidente dos Estados Unidos, os dois latino-americanos se aproveitavam deliberadamente do peso e do poder da verdinha. Como punição, taxas sobre o aço e o alumínio produzidos por aqui. O presidente Jair Bolsonaro disse ter uma linha aberta com o colega do norte, mas não houve correspondência. E antes já tínhamos ficado a ver navios no caso da OCDE, quando Trump preferiu apoiar a adesão de Argentina e Romênia no grupo dos ricos.

Na nossa nova diplomacia, com Brasil acima de tudo, Deus acima de todos e America first, Bolsonaro bem que queria firmar um quid pro quo com Trump. Mas só dando e sem receber nada em troca, apenas nos sobrou o quiprocó.

 

Image by OpenClipart-Vectors from Pixabay

Geórgia Santos

In family we trust

Geórgia Santos
18 de julho de 2019
(Washington, DC - EUA 19/03/2019) Encontro com o Senhor Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos da América. Foto: Alan Santos/PR

Na última semana, o presidente Jair Bolsonaro anunciou que pretendia indicar o terceiro filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), para a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos. O comunicado informal foi feito no dia 11, um dia depois de  Eduardo completar 35 anos, idade mínima necessária para assumir o cargo de embaixador. Em tempos de sociedade da informação, a reação negativa foi praticamente instantânea na internet. Da oposição, é claro, mas também os aliados se mostraram contrários à decisão de Bolsonaro. O “guru” Olavo de Carvalho disse que se tratava de um retrocesso.

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Até os apoiadores do Twitter roeram a corda

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É NEPOTISMO?

O primeiro “problema” é, obviamente, o fato de o presidente indicar o próprio filho para a função de embaixador no que se pode chamar de país mais importante do mundo. Não há precedentes em outras democracias. O único estadista a indicar o filho para a Embaixada dos EUA foi um rei saudita. Bolsonaro garante que não há nepotismo, mas o Supremo Tribunal Federal (STF) tem decisões difusas sobre a legalidade do tema. Em agosto de 2008, foi aprovada uma súmula que proíbe a nomeação de cônjuge ou parente até terceiro grau para cargos em comissãos, de confiança ou função gratificada. Isso vale para todos os poderes em níveis municipal, estadual e federal. A questão é que  não está claro se a regra vale para cargos de natureza política,  como ministros de Estado e embaixadores.

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ELE PODE SER INDICADO?

Uma segunda crítica com relação à decisão de Bolsonaro provém do fato de que ele Eduardo não é um diplomata, logo, não poderia ocupar o cargo. Mas não é bem assim. É verdade que a legislação brasileira estabelece que os chefes das chamadas missões diplomáticas permanentes devem ser escolhidos entre os ministros de primeira ou segunda classe do Itamaraty. Mas há uma exceção. Brasileiros natos que não pertençam aos quadros do Ministério das Relações Exteriores e que sejam maiores de 35 anos de idade podem ser indicados para embaixadas. A prerrogativa de escolha é do presidente. Desde que sejam cidadãos “de reconhecido mérito e com relevantes serviços prestados ao país.” E é aí que a porca torce o rabo.

Jair, na mesma ocasião em que anunciou a possibilidade de indicá-lo, garantiu que Eduardo é a melhor pessoa para ocupar o posto de embaixador nos Estados.  “Ele é amigo dos filhos do Trump, fala inglês e espanhol, e tem uma vivência muito grande no mundo. Poderia ser uma pessoa adequada e daria conta do recado perfeitamente”, disse o presidente. 

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Poderia, mas não é

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Eduardo discorda e, na mesma hora, disse estar honrado com a escolha. Não apenas isso, garantiu estar preparado para o desafio.  “É difícil falar de si próprio, né? Mas não sou um filho de deputado que está do nada vindo a ser alçado a essa condição, tem muito trabalho sendo feito, sou presidente da Comissão de Relações Exteriores, tenho uma vivência pelo mundo, já fiz intercâmbio, já fritei hambúrguer lá nos Estados Unidos, no frio do Maine, estado que faz divisa com o Canadá, no frio do Colorado, em uma montanha lá. Aprimorei o meu inglês, vi como é o trato receptivo do norte-americano para com os brasileiros”, disse o parlamentar.

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EDUARDO É QUALIFICADO?

Dificilmente fritar hambúrguer no frio do Maine faça alguma diferença para quem quer ser embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Além do mais, alguns veículos brasileiros informaram que a lanchonete onde ele diz ter trabalhado não serve hambúrguer. Já falar inglês é importante. Mas também, há vídeos do terceiro filho de Bolsonaro que circulam pela internet e mostram o deputado falando um inglês sofrível, o que indica que ele consegue se comunicar em inglês, mas que não é fluente.

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Diante das críticas aos seus atributos, ele resolveu responder divulgando no Twitter o que ele chamou de “breve currículo”
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Foto: Reprodução /Twitter

Ai, não foi uma boa resposta. Especialmente errando a sigla da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, no caso. Mesmo assim, o presidente Jair Bolsonaro não recuou. Uma semana depois de iniciada a polêmica, ele finalmente decidiu por indicar o filho Eduardo Bolsonaro como embaixador do Brasil nos Estados Unidos. E se mostrou surpreso com a “pressão” que a família vem sofrendo.

“Por que essa pressão em cima de um filho meu? Ele é competente ou não é competente? Dentro do quadro de indicações políticas, que vários países fazem isso, e é legal fazer no Brasil também, tá certo”, disse.

Não, ele não é competente, caro presidente. E o currículo que ele tanto exibe é, binariamente, uma prova bastante contundente da falta de preparo de Eduardo – e da irresponsabilidade da indicação.

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Apesar disso, a escolha de Bolsonaro faz sentido

Explico

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Bolsonaro já mostrou ser bastante desconfiado de maneira geral, o que faz com que se cerque, cada vez mais, de sua família. Esse é um traço que o presidente do Brasil tem em comum, justamente, com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Afinal de contas, o conselheiro sênior de Trump é, nada mais, nada menos, que seu genro, Jared Kushner. O currículo dele é, com certeza, mais impressionante que o de Eduardo Bolsonaro, mas sua experiência como investidor e magnata do ramo imobiliário nunca o credenciaram para que ele ocupasse a posição que ocupa. Além de Jared, Ivanka Trump, a filha do presidente americano, é figurinha carimbada na administração e em eventos internacionais. Quem não lembra das caretas com que ela nos brindou durante as reuniões do G20?

Ivanka acompanhou o pai durante todo o tempo. Ela inclusive sentou ao lado dos chefes de Estado como se fosse algo absolutamente normal, como se pode ver em uma das imagens acima. Da mesma forma que Eduardo fez durante a primeira viagem oficial de Jair Bolsonaro aos Estados.

(Washington, DC – EUA 19/03/2019) Encontro com o Senhor Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos da América. Foto: Alan Santos/PRbaix
(Washington, DC – EUA 19/03/2019) Encontro com o Senhor Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos da América. Foto: Alan Santos/PR

Não acho que seja uma boa escolha, não acho que Eduardo Bolsonaro tenha o mínimo de preparo intelectual e experiência necessários para ser embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Mas, dentro da lógica de Trump, que montou um “negócio de família”, faz sentido. “In family we trust”, parafraseando um ministro aí.

 

 

Foto de capa: Alan Santos/PR

Tão série

Will and Grace está de volta – e ainda é relevante

Geórgia Santos
29 de junho de 2018

O retorno de Will and Grace depois de onze anos fora das telas foi uma grata surpresa. Por outro lado, também foi uma surpresa estranha. Porque é absolutamente estranho perceber que 20 anos depois da estreia, eles continuam relevantes. No primeiro episódio, o quarteto fantástico está jogando Celebridade na sala do apartamento de Will com um texto que não nos permite esquecer que estamos em 2018.

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Will: Ele é um homem mas envelheceu como lésbica.

Grace: Steven Tyler; Jon Voight,  Newt Gingrich?

Will: Isso! Ela é… nem sei por onde começar.

Grace: Jada Pinkett Smith!

Will: Sim! Nós queremos amá-la mas ela torna isso impossível.

Grace: Caitlyn Jenner!

Will: Isso! Rica. Refém.

Grace: Melania!

Will: Não. Usa boina!

Grace: Patty Hearst!

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A série continua a mesma. Will (Eric McCormack) e Grace (Debra Messing) aparecem morando juntos temporariamente. Os dois solteiros e batendo cabeça. Grace diz que ficará apenas algumas semanas, até baixar a poeira.

Jack: Dos seus genitais?

Grace: Do meu divórcio!

Felizmente, os criadores Max Mutchnick and David Kohan ignoram o (horrível) final da oitava e até então última temporada, em que os amigos são vistos criando seus filhos separadamente e ficam 20 anos sem se falar até que as crias resolvem se casar. Não, né. Eles atribuem a cena a um pesadelo de Karen (Megan Mullally), induzido por pílulas e álcool, enquanto ela está catatônica no sofá.

Jack (Sean Hayes) mora do outro lado do corredor, ainda ácido, ainda incorrigível e hilário. Quanto a Karen, essa está definitivamente vivendo o sonho. Afinal de contas, o presidente dos Estados Unidos é justamente o tipo de homem que ela admira e espera que ocupe o poder.

A série definitivamente continua a mesma, mas se antes era elogiada por ajudar a educar os americanos com relação às uniões homoafetivas e a luta por direitos da população LGBT, hoje essa educação se estende a uma crítica social e política. Will and Grace confirma as suspeitas de analistas de que o tragicômico governo Trump, mais trágico do que cômico, seria um prato cheio para cientistas políticos e humoristas.

Tanto é assim que o primeiro episódio é recheado de referências ao atual momento político dos EUA. Há quem considere forçado, mas eu acho hilário e necessário. E usar a amizade de Karen com o presidente é a maneira perfeita de tornar tudo mais natural. Em todos os episódios há situações que nos fazem refletir sobre o momento polarizado a que estamos todos submetidos, seja nos Estados Unidos ou no Brasil. Mas há um momento em especifico que eu acho primoroso e emblemático.

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O bolo para o SEU presidente

Karen: Passando;

Homem: Ei, escolhe um número;

Karen: Hm, ok, um!

Confeiteira: Oi, sou a Amy, como posso tornar seu dia mais doce?

Karen: Eu preciso de um bolo;

Amy: Você está com sorte, eu faço bolos, por enquanto, se eles não aumentarem o aluguel, essa vizinhança inteira…

Karen: Querida, querida, pessoas como eu não se preocupam com os problemas da classe trabalhadora branca, aquilo foi só pra ganhar a eleição. Falando nisso, eu preciso de um bolo grande para o aniversário de uma pessoa muito importante;

Amy: Hm, importante?

Karen: Aham. Eu quero de chocolate, com cobertura branca e um monte de estrelas, letras em vermelho e eu preciso que diga M – A – G – A. Make America Great Again ?Faça a America Grande Novamente, em tradução livre, é o slogan de campanha de Donald Trump?! Você fará um bolo para o seu presidente!

Amy: Oh!

Karen: Ele vai a minha casa para uma coisinha, nós vamos servir White Russians ?Russos Brancos, o nome de uma bebida?, mas voce não precisa saber  da lista de convidados.

Amy: Isso parece legal, mas não; Desculpe, odeio decepcionar pessoas e eu sou péssima em me defender, por isso Jocelyn diz que eu não deveria trabalhar no balcão, mas ela está morta agora e eu não vou fazer um bolo para aquela pessoa;

Karen: Deixa eu ver se entendi, Smiley Cyrus. Você não quer fazer um bolo porque não gosta do que ele representa?

O episódio faz uma clara referência ao que aconteceu no Colorado, quando um confeiteiro recusou fazer o bolo de casamento para um casal gay alegando que feria suas crenças religiosas – no caso, cristãs. Além disso, a série, de maneira inteligente, faz com que a gente reflita sobre empatia e a necessidade de se ter um debate transparente sobre o que as coisas significam. Quando Grace fica sabendo do que aconteceu com Karen por meio de seu assistente, Tony (Anthony Ramos), se sente ultrajada. Justamente porque imagina ser um caso de preconceito contra casais homossexuais. Quando fica sabendo que o bolo é para Donald Trump, o ultraje desaparece, alegando que são coisas completamente diferentes.

Tony: Como vai requerer sua liberdade de expressão se não vai defender a dos outros?

Grace: E se alguém quisesse fazer um bolo que diz: “Eu Odeio Porto-Riquenhos”?

Tony: se diz “MAGA”, a parte do  “Eu Odeio Porto-Riquenhos” está implícita;

Grace engole o orgulho e decide ajudar Karen. Ela deixa claro para a confeiteira que considera que as crenças da amiga são horríveis, mas mesmo pessoas com crenças horríveis tem direitos. Consequentemente, Karen consegue o bolo, mas a confeiteira faz questão de dar um recado e incluir umas letrinhas no pedido.

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“I” MAGA “Y”

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“Eu sou um gay” em bom português. Portanto, o episódio The Beefcake & the Cake Beef inteiro é um espetáculo e um ótimo exemplar do motivo pelo qual amamos Will and Grace e do porquê a série continua relevante. E engraçada. E provocadora. E merecedora dos seus 16 Emmy. No final, vemos um bonitão que flerta com Grace enquanto pede para a confeiteira ajustar a suástica do bolo, que está um pouco torta.

Nós US

Trumpism Doesn’t Win Everything

Sacha
15 de novembro de 2017
(pode ler este artigo em português aqui)

Let there be hope for the difficult political times we’re going through. It had seemed that all the rules of the game were turned on their head. The 2017 election, however, showed that politics isn’t (yet) a lost cause.

This month’s elections showed that Trump is not immune to his historically unpopular presidency and the effects it has on his party. In a number of states, Democrats made large gains in local and statewide races. This was especially the case in Virginia, where they have nearly flipped one house of the state legislature—unthinkable leading up to the election.

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The results were in line with polling expectations

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Given last year’s losses, however, Democratic supporters were nervous about the possibility of further surprises. Instead, they made gains in friendly states like Virginia and inroads in more difficult places like Georgia, Montana, and South Carolina. Far from retreating further, the party appeared to solidify its position ahead of the 2018 midterm elections.

In Virginia’s governor race, the Republican candidate attempted to use Trump-style media tactics while maintaining a more reasonable profile in campaign rallies. That strategy backfired. If the new rules of the game were supposed to be Trump-style sensationalism at all costs, it appears at least the voters in Virginia didn’t fall for it. For all his flaws, the Democratic candidate managed to win by roughly 9 percentage points.

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The formula wasn’t a perfect elixir

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Politics, like most social sciences, is about sussing out trends over time as opposed to one-off revolutions of facts. What we know in American politics is that the president’s party is usually at a disadvantage in midterm and special elections. We also know that how low a president’s approval rating sinks tends to correlate with how well the opposition is poised to do in the next round of elections. As a sort of official testing ground, these elections proved that even in the era of Trump, that holds true.

That a bombastic campaign of populist cliches and scaremongering didn’t manage to succeed on Virginia voters should call into question what exactly made the formula work for Trump. The Republican Party is facing stiff challenges in upcoming elections. Whether it should embrace Trumpism and go full steam ahead on that particular brand of toxic populism, or change course to account for more popular public policy, is now more open a question than ever.

Image: Ben Shafer
Nós US

Importa quem se opõe a Trump

Sacha
25 de outubro de 2017
(you can read this post in English here)

O senador Jeff Flake gerou polêmica quando anunciou que não ia se recandidatar em 2018, com uma mensagem plenamente anti-Trump. A abordagem consolou o establishment republicano pouco confortável com Trump, mas relutante a exprimir isso publicamente. A oposição de Flake a Trump também deixa margem para a esquerda afirmar que o apoio partidário a Trump está fraturando. É cedo, porém, chegar a essas conclusões, por alguns motivos.

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Quem critica o presidente importa

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O senador Flake é um dos poucos republicanos no Congresso que se opõem abertamente a Trump, questionando a sua aptidão para o cargo. Por mais que se opusessem a Trump nas primárias, os republicanos têm se unificado em apoio a ele desde a sua nomeação. As diatribes e posições repreensíveis de Trump não têm levantado nenhuma voz republicana contrária em público. O silêncio em torno dos piores comportamentos do presidente tem sido a forma preferida do partido lidar com ele.

Esse silêncio é o fator determinante para a continuidade da administração. Os republicanos convergem na perspectiva de promulgar a sua agenda em virtude de controlar a presidência juntamente com a legislatura. Acreditam, devidamente, que se conseguissem passar legislação, ela seria assinada por Trump. Com a expectativa de que os democratas se oporiam à legislação republicana, nas câmaras de poder, a resistência democrata importa pouco para a sobrevivência da Casa Branca.

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Os republicanos estão altamente unidos

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Apoio republicano a Trump, ou falta de oposição, tem sido inabalável desde o início da sessão legislativa. Qualquer oposição ao extremismo de Trump tem encontrado resposta em votos unificados em todos os temas. Sejam nomeações, seja a legislação em si, dissidência republicana tem sido ausente. Com um partido tão qualitativamente unificado, qualquer crítica se destaca.

Destaquemos momentos cruciais em que republicanos votaram em contra de legislação própria, tais como as tentativas de derrubar o ACA. Em cada instância, o desejo republicano de revogar o Affordable Care Act (Lei de Proteção e Cuidado ao Paciente/PPACA em português) foi derrubado por um trio de senadores críticos da legislação, do impacto previsto, ou até do processo de lei mesmo. Esses senadores são mais dispostos a contrariar Trump e manter-se firmes em contra das suas propostas menos populares. Ainda assim, para qualquer tema há, no máximo, seis senadores que bloqueiam a legislação.

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Vozes críticas da maioria precisam manter o cargo para contar

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O senador Flake não tem sido, de acordo com o seu histórico de votação, um dos republicanos mais opositores à agenda de Trump. Contudo, em anunciando que não ia se recandidatar, começou a ser mais mordaz com o presidente. Embora votos importem mais como medida qualitativa para o partido da maioria decidir que assuntos são os mais importantes, a agenda é determinada pelo presidente. Por isso, sem se preocupar com muitos votos discordantes, críticas e dissidência por dentro do partido da maioria são tão importantes.

No entanto, para vozes republicanas críticas serem ouvidas e influenciarem a agenda legislativa da administração, é necessário que sejam representadas. É evidente que não se candidatar alivia o peso de fazer campanhas em que as palavras ditas podem ser mal-interpretadas. Flake parece que teria sido um candidato fraco contra candidatos nas primárias e na campanha geral. Outros senadores que decidiram não se recandidatar têm motivos semelhantes, ou bem da saúde.

Contudo, a liberdade de exprimir insatisfação num lugar onde isso implica contrariar a agenda legislativa não devia ser relegada apenas aos que não têm mais a perder politicamente. De cara com o extremismo, o freio mais importante são as vozes dissidentes entre as no poder. Precisamos dessas vozes agora e precisaremos delas depois de 2018, quando se constituirá a próxima legislatura.

Sem essas vozes, o Partido Republicano corre o risco de se render aos seus próprios elementos mais extremos. Se não houver figuras críticas dentro do seu partido, Trump terá a legitimação completa da sua agenda política. Essa é uma perspectiva inaceitável.

Imagem: Amanda Nelson
Nós US

It Matters Who Is Opposing Trump

Sacha
25 de outubro de 2017
(pode ler este artigo em português aqui)

Senator Jeff Flake’s recent announcement not to run for reelection is getting a lot of attention for the starkly anti-Trump message he’s paired with it. His approach pleases the Republican establishment that is uneasy with the president but unwilling to speak out about him. His opposition to the president also allows for those on the left to claim the president’s support is fracturing even among his party base. These takes are premature, for a few reasons.

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Who is criticizing the president matters

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Senator Flake is one of only a handful of Republican congressmen to openly oppose Trump and question his suitability for office. However opposed Republican politicians appeared to be to Trump during the primary, since the campaign, they have coalesced around him. Trump’s objectionable positions and tirades have done nothing to dampen the silence that has characterized the Republican method of dealing with him.

That silence is the determining factor for the continuity of the Trump administration. Republicans converge on the prospect of getting their agenda enacted by virtue of the president belonging to the same party. They believe, rightfully, that should they manage to pass legislation, he will sign it. Because the Democrats are expected to oppose Republican legislation, in the annals of power, their resistance matters little for the survival of the White House.

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Republicans are strongly united

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Republican support for, or lack of opposition to, Trump has been remarkably strong since the start of the legislative term. Any vocal opposition to the extremist theatrics Trump puts on has been met with a resounding, unified vote on all issues put forward. From government appointments to legislation itself, Republican dissent has been largely absent from this term. With such a qualitatively unified party, any critical opposition stands out.

We can point to moments where handfuls of Republicans have voted down crucial legislation, such as with the ACA repeal attempts. In each instance, Republicans’ desire to repeal the Affordable Care Act has been derailed by a trio of senators consistently critical of the legislation, its effects, or even the process. These senators are seen as being more generally willing to contradict Trump and hold firm against his less popular proposals. Yet there are for any issue, at most, six senators standing in the way of smooth passage.

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Critical majority voices need to hold office to count

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Senator Flake has not, per his voting record, been one of the strongest Republican deniers of the Trump agenda. Yet in announcing that he will not seek reelection, he has struck a sharper tone toward the president. Although votes matter most as a qualitative measure of how the majority party decides what issues are most important, the political agenda is still largely set by the president. That is why, even without many opposing votes, criticism and dissent from within the majority party is so important.

However, for critical Republican voices to be heard and to shape the Trump administration’s agenda, they must be represented among their ranks. Evidently, not seeking reelection frees the binds of running campaigns that could see words be twisted around. Flake appeared to have been a weak candidate against primary and general campaign challengers. Other retiring senators have similar motives, if not their health.

Yet the freedom to speak up and express discontent in a place where that cuts against the legislative agenda ought not to be relegated only to those who have nothing left to lose politically. In the face of extremity, the primary check on influence are the dissenting voices among the ranks of those in power. Those sorts of voices are needed now, and they will be needed after 2018, when the next legislature will be constituted.

Without their voices, the Republican party runs the risk of turning itself over fully to the most extreme elements within it. If no Republican voices end up left to criticize and critique him, Trump will have gained full legitimation of his political agenda. That is an unacceptable prospect.

Image: Amanda Nelson