PodCasts

BSV Especial Coronavírus #40 “Nosso Capitólio” invadido em 2022?

Geórgia Santos
13 de janeiro de 2021
No episódio desta semana, como será o nosso capitólio invadido em 2022?

.

No último dia seis, apoiadores de Donald Trump adentraram o Capitólio, a casa do legislativo dos Estados Unidos, para impedir que o Congresso aceitasse o resultado do pleito que elegeu o democrata Joe Biden como o novo presidente. Os manifestantes foram incitados pelo próprio Trump, que disse que foi roubado. Ou melhor, que MENTIU que houve fraude na eleição.

Mas não termina por aí, porque o episódio inédito na história da política dos Estados Unidos andou dando ideias a Jair Bolsonaro.

.
O presidente do Brasil disse que se a eleição não for no papel em 2022, se ainda houver urna eletrônica, aqui “pode acontecer pior” que nos EUA
.

O problema é que enquanto Bolsonaro se preocupa com 2022, o coronavírus avança no Brasil, deixando um rastro de mais de 200mil mortos e poucas perspectivas de vacina no curto prazo. O ministro da saúde, Eduardo Pazzuelo, é a cara da tragédia. Segundo ele, vamos nos vacinar “no dia D, na hora H”.

Para discutir esses e outros assuntos participam as jornalistas Geórgia Santos e Flávia Cunha e os jornalistas Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no SpotifyItunes e Castbox

00

Vós Pessoas no Plural · BSV Especial Coronavírus #40 “Nosso Capitólio” invadido em 2022?
Reportagens Especiais

(Mais) protestos conservadores na era pré-pós-Trump: invadindo o Capitólio

Colaborador Vós
9 de janeiro de 2021

Por David S. Meyer*

O esforço caótico de insurreição no edifício do Capitólio mostrou que mais 14 dias é tempo demais para Donald Trump continuar a servir como presidente.

Como prometido, [em seis de janeiro] Trump apareceu cedo para falar em um comício organizado em apoio às suas acusações infundadas de que a eleição presidencial fora roubada. Na maior parte, o discurso reprisou a recitação de realizações imaginadas e inimigos acumulados, conhecidos de suas aparições de campanha. Mas a lista de inimigos ficou maior, agora incluindo o ex-procurador-geral William Barr; o vice-presidente Mike Pence; o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell; e a congressista Liz Cheney. Seus pecados: não apoiar Trump agressivamente o suficiente e, então, apegar-se demais às normas da governança constitucional.

Trump (de novo, falsamente) alegou uma vitória eleitoral esmagadora, reclamou sobre ser enganado e exigiu que seus seguidores lutassem para mantê-lo no cargo. Ele proclamou que jamais reconheceria a derrota e anunciou que marcharia com eles até o prédio do Capitólio para impedir o Congresso de aceitar os resultados do Colégio Eleitoral. Então, Trump voltou para a Casa Branca.

Os apoiadores seguiram em frente e, de alguma maneira, formaram uma coluna que passou pelos bloqueios ao redor do Capitólio e invadiram o prédio. (Pelo menos um vídeo circulando parece mostrar a polícia removendo as barricadas para convidar os insurgentes a entrarem.) Você teria que voltar a 1814, quando os britânicos invadiram (sem guitarras) para encontrar algo remotamente semelhante. Ironias abundaram enquanto os caras que marchavam para apoiar vidas azuis lutavam com a polícia.

.
Trumpianos subiram correndo os degraus do Capitólio e avançaram pelos corredores, reivindicando o plenário da Câmara e do Senado, ocupando o Statuary Hall, invadindo escritórios, vasculhando mesas, quebrando vidros e saqueando – tirando selfies por todo o caminho
.

Embora seja provável que pelo menos alguns dos vândalos tenham planejado a incursão, parece que muitos dos insurgentes apenas se deixaram levar pelo momento. Houve pouca coordenação aparente depois que o pessoal da segurança evacuou os membros do Congresso, nem qualquer consideração de uma mensagem comum.

Havia manifestantes em trajes estranhos, uma variedade de bandeiras brandidas (veja a bandeira confederada abaixo, quase cobrindo o que tenho certeza que é um retrato de John C. Calhoun, o principal teórico político da secessão do sul para preservar a escravidão), bonés MAGA [Make America Great Again, algo como Faça a América Grande de Novo, em tradução livre], mas não muitas máscaras em deferência a uma pandemia global.

O acesso aparentemente fácil dos vândalos ao prédio e sua capacidade de interromper o funcionamento do governo nacional levantaram questões óbvias sobre o policiamento. Os tuiteiros foram rápidos em perceber que bloqueios, prisões, espancamentos e estrangulamentos, gás lacrimogêneo e tiros vieram muito mais lentamente para este grupo de manifestantes brancos do que para disciplinar os manifestantes do Black Lives Matter no verão passado, quem dirá para o ocasional motorista negro, ou corredor, consumidor ou dorminhoco.

.
O esforço tardio de Trump para promover a ordem pública veio com um vídeo de um minuto no qual ele reiterou suas queixas insustentáveis ​​sobre a eleição e declarou seu amor pelos insurgentes antes de encorajá-los a voltar para casa
.

 

A coordenação da segurança pública estava, na melhor das hipóteses, dispersa, em parte devido a uma administração disfuncional e desinteressada, em parte como resultado da estranha governança de Washington DC. Observe que foi o Pence quem chamou a Guarda Nacional, embora o vice-presidente não tenha autoridade para fazê-lo. Demorou horas para uma coleção de agências de segurança pública evacuar o prédio e, lentamente, as áreas do entorno.

Os líderes do Congresso anunciaram que se reuniriam novamente e aceitariam os resultados assim que o prédio fosse limpo e, presumivelmente, quando o gás lacrimogêneo também fosse removido. Eles estavam determinados a não dar aos insurgentes nem mesmo o sopro de uma vitória para reivindicar. Parece que pelo menos alguns dos membros abandonaram seus planos de contestar os votos de alguns dos estados indecisos.

.

As reportagens, nesta fase, não importa o quão sérias e bem-intencionadas, provavelmente não são totalmente fidedignas, então estamos esperando para obter uma história mais completa e esclarecer as implicações, mas aqui estão alguns palpites:

A insurgência vai desafiar ainda mais a fé de pelo menos alguns políticos republicanos no presidente, exacerbando uma divisão crescente no partido;

A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, e os líderes do Senado McConnell e (agora!) Schumer tentarão coordenar alguma forma de remover – ou pelo menos calar – Trump para evitar mais danos. (O Twitter congelou temporariamente sua conta);

O Congresso – e as legislaturas estaduais – vão reforçar barricadas e aparelhar as forças policiais e de segurança, tornando mais difícil para as pessoas confrontarem – ou mesmo entrarem em contato com – seus representantes;

Talvez haja um apoio mais urgente para a criação de um estado em Washington DC – um governador poderia fazer coisas para proteger a ordem pública que o prefeito não poderia;

Talvez haja um pouco mais de suporte para uma modesta regulamentação de armas – dependendo do que acontecer a seguir;

Estamos vivendo um capítulo estranho e perturbador da história Americana. Eu ficaria bem em pular as últimas páginas e chegar a algo diferente.


Originalmente publicado no site Politics of Protest, sob o título (More) conservative protest in the pre-post-Trump era: storming the Capitol.

*David S. Meyer
Autor de The Politics of Protest: Social Movements in America
Professor de Sociologia e Ciência Política na Universidade da Califórnia, Irvine

 

Voos Literários

Stupid white men

Flávia Cunha
9 de janeiro de 2021

Ao ver pela primeira vez as imagens da invasão de apoiadores de Trump ao Congresso norte-americano, pensei: “Stupid white men”. A expressão em inglês refere-se ao título  do livro do cineasta Michael Moore. Na época do lançamento da obra, em 2001, o alvo de críticas do autor era George W. Bush. Para Moore, os seguidores de Bush nos Estados Unidos de 20 anos atrás eram, em sua maioria, os tais “stupid white men”: homens brancos, com pouca inteligência, como um espelho do então presidente.

UMA NAÇÃO DE IDIOTAS

Mas qual seria a causa da “idiotice” de parte dos cidadãos brancos norte-americanos? Na avaliação do cineasta, entre as razões estavam o analfabetismo funcional e a falta do hábito de leitura no país, conforme descreve no capítulo Uma Nação de Idiotas:

“[…] se   você   vive   em   um   país   onde   44   milhões   não   conseguem   ler   —   e talvez   outros   200   milhões   consigam   ler,   mas   normalmente   não   o   fazem   —   bem, amigos,   vocês   e   eu   vivemos   em   um   lugar   bastante   assustador.   Uma   nação   que   não  apenas   produz   em   grande   quantidade,   em   detrimento   da   qualidade,   estudantes analfabetos,   MAS   FAZ   DE   TUDO   PARA   CONTINUAR   IGNORANTE   E   IDIOTA,   é   uma nação que não  deveria estar dirigindo o mundo — pelo menos não  até que a maioria de seus   cidadãos   consiga   localizar   o   Kosovo   (ou   qualquer   outro   país   que   tenha bombardeado) no mapa. Não   surpreende  os   estrangeiros   que   os   americanos,   que   adoram   se   revelar   em sua   idiotice,   “elegeram”   um   presidente   que   raramente   lê   algo   —   incluindo   os documentos   e   os   resumos   das   notícias   —   e   acha   que   a   África   é   um   país,   não   um  continente.   Um   líder   idiota   de   uma   nação   idiota.”
UM ESPELHO DE TRUMP

Possivelmente, a parcela da população norte-americana classificada por Moore como “stupid white men” há exatas duas décadas deu origem aos estúpidos e violentos apoiadores de Donald Trump. Em 2001, Bush não conseguia disfarçar seu comportamento considerado imbecil por seus opositores, Já em 2021, Trump, propositalmente, ostenta truculência e dissemina fake news a todo o momento. Na semana passada, incitou seus seguidores à violência com argumentos pouco verossímeis de ter sido prejudicado nas eleições. Por esse motivo, a invasão do congresso norte-americano é considerada uma ameaça sem precedentes à democracia norte-americana. Infelizmente, a estupidez e a violência dos homens brancos deixou de ser o título jocoso de um livro e tornou-se um perigo real, não apenas nos Estados Unidos.

Fiquemos atentos, pois Jair Bolsonaro adora ser uma versão tupiniquim e (ainda mais) caricata de Trump. 

Imagem: NYT/ Reprodução 

ECOO

Por que é tão difícil aceitar que o aquecimento global existe?

Geórgia Santos
14 de janeiro de 2018

Eu faço essa pergunta com frequência. O planeta está entrando em colapso em função do nosso estilo de vida e, mesmo assim, há quem prefira acreditar que está tudo bem. Acham que é questão de opinião, de ideologia. Entre eles está o presidente dos Estados Unidos, o que torna a mudança ainda mais difícil. Em meio a onda de frio extremo que atinge o leste dos Estados Unidos, Donald Trump tuíta o seguinte:

.

“No Leste, pode ser o Ano Novo mais FRIO de que se tem registro. Talvez a gente pudesse usar um pouco daquele bom e velho Aquecimento Global pelo qual o nosso país, mas não outros países, ia pagar TRILHÕES DE DÓLARES para se proteger”

.

Mas aquecimento global não é questão de opinião, de ideologia ou conspiração dos chineses. É um fato científico. CIENTIFICAMENTE COMPROVADO. Porque acreditamos que cigarro faz mal para a saúde mas não acreditamos no aquecimento global? Como disse o astrofísico Neil Degrasse Tyson em 10 de agosto do ano passado:

.

“Estranho. Ninguém está negando o eclipse solar do dia 21 de agosto nos EUA. Assim como o aquecimento global, métodos e ferramentas científicos previram o acontecimento”

.

Mas afinal, por que é tão difícil acreditar que aquecimento global existe? O lance é que as mudanças climáticas são causadas, em grande parte, por indústrias milionárias que não pretendem deixar de ganhar dinheiro. E aí vamos desde a indústria do petróleo, combustíveis fósseis, até a agropecuária. Sim, aquele bifinho e aquela soja estão nessa lista. Ou seja, as grandes potências econômicas não tem interesse em mudar a configuração social que se estabelece há décadas. Todo o estilo de vida propiciado pela revolução industrial causou algum tipo de impacto no meio ambiente. Isso significa que o famoso “progresso” ocorreu às custas do planeta. E se o “progresso” é o grande responsável pelo aquecimento global, é melhor que o aquecimento global não exista.

Volto a dizer, não é questão de opinião. Em 2013, uma pesquisa reuniu 4mil artigos acadêmicos publicados ao longo de duas décadas e chegou à conclusão que 97% da literatura científica concorda com a premissa de que os humanos estão causando as mudanças climáticas conhecidas como aquecimento global. Por mais que a gente goste de dirigir e comer hambúrguer, negar que o aquecimento global existe é um retrocesso que não podemos bancar, por mais que a ignorância e a ganância de alguns tentem nos fazer acreditar.

Nós US

White People Are Responsible, Really

Sacha
16 de agosto de 2017
(pode ler este artigo em português aqui)

.

The president of the United States of America can not manage to renounce, with a shred of conviction, white supremacy

.

Is it shocking to read a sentence like that? Yes, it is. But it’s nonetheless true. The president’s response to the extreme-right and neo-nazi’s marches in Charlottesville, Virginia last weekend, went just as such. First he denounced what had happened in uproar over “multiple bad sides”. Then, he backtracked, renouncing more fully the neo-nazi groups presents in the acts and the violence that occurred. But it didn’t last more than a couple of days, since he then backtracked again in an incoherent and bizarre press conference, where he had some Freudian slips of support for the “alt-right”. In sum, the president can not cover up his sympathies for the movements most bound to the ideas of white supremacy. We already knew about this from his electoral campaign.

It’s unacceptable to have a president of a democratic country who supports these ideas, much less in such a flagrant manner.

So that it’s not ambiguous for anyone: the march that was held in Charlottesville was in protest of the removal of a Confederate monument. The Confederate States of America were a vain attempt to maintain the system of slavery, in full rebellion against the Union and growing public opinion of the time, by way of the succession of declared slave states in the American South. Nothing less. Accordingly, white supremacist groups (and yes, neo-nazis themselves) have adopted the symbols of the Confederacy.

These same groups threatened for weeks to invade the city of Charlottesville in response to the removal of the Confederate statue. Last weekend, they invaded it, marching with all sorts of chants against non-white minorities. It wasn’t, alas, a march of two side, nor however many others, against each other. It was the reunion of extremist groups, united for the preservation of the white race. They invaded a city that dared to go against their beliefs.

.

Without the coexistence of minorities with the majority,

there is no democracy

.

The inconvenient truth of having a president that demonstrates any kind of level of sympathy with these ideas is that racial questions will be, during his entire term, a central issue of public debate. That is, even white people accustomed to ignoring racial problems can no longer ignore them. Not taking a stand against racism—truly structural, even from within the annals of power—is choosing to be passively on the side of the oppressor. It is vital and a unique responsibility for white people to renounce white supremacy. Not doing anything in the face of growing clamor of white supremacist groups is being complicit with their desires: to maintain the power of being indifferent to the condition of other races in the country. Minorities don’t have that luxury. That’s exactly what the extremists were marching for.

It’s time to demand that all sympathizers of intolerance leave the government. If the president was already embroiled in governability problems, now it will be all the more so. Without the coexistence of minorities with the majority, there is no democracy.

Image: fabrizio turco
Nós US

Não espere de pé para a Casa Branca cair

Sacha
13 de julho de 2017
(you can read this article in English here)

Esta semana parece ter-se confirmado o caso de colusão da campanha Trump. Ninguém menos que o filho do presidente, Donald Trump Jr., divulgou uma série de emails em que se revela disposto a receber informações ilícitas sobre Hillary Clinton vindas de agentes russos. Sem sequer considerar o que havia por trás da oferta de informação, Trump Jr. responde com um simples “adoro isso.” Adorou tanto que não lhe importava a negligência de ética em aceitar o que foi apresentado. Adorou tanto que nem tentou esconder a troca. Entre o tanto barulho após o tweet revelador, há quem o classifique como alta traição. Agora só falta ver quais serão as repercussões legais.

Voltamos uns passos. Embora a revelação dos emails seja uma evidência clara de conluio, o caso ainda não tem processo judicial pendente. Até a publicação da íntegra dos emails, a informação foi vazando à imprensa pouco a pouco. De tal modo que Trump Jr. se viu obrigado a tentar controlar os danos possíveis, publicando a informação incriminatória de vez. Por uma campanha centrada num escândalo do servidor privado dos emails de Hillary, este escândalo resulta mais surreal ainda.

Num Congresso tão ineficaz como vem sendo, não há margem para contemplar o abandono total do projeto

 

Muitos representantes republicanos negavam a ligação entre Trump e a Rússia antes do caso dos emails. Reservavam comentários sobre o caso para informação nova e concreta. Agora tendo-a em mão, muitos ainda recusam a proclamar sobre as possíveis ligações Trump-Rússia. Eis o problema.

Caso confirmado, este escândalo seria uma violação de ética e comportamento político sem precedentes nos Estados Unidos. Nem Watergate chegou a ser tão flagrante quanto o que vemos agora. Ainda assim, o estabelecimento republicano continua hesitante. O motivo? Não querem desacelerar o já lento ritmo de legislação.

Visto que o ciclo político aponta para uma perda provável do controle absoluto da legislação nas eleições de 2018, os republicanos não estão dispostos a interferir na oportunidade única que têm para passar os seus projetos de lei mais importantes. O procedimento de destituição do presidente não só parava a atividade do executivo, senão toda a agenda legislativa. Num Congresso tão ineficaz como vem sendo, não há margem para contemplar o abandono total do projeto. Nem quando a evidência se empilha.

Imagem: John evans
Nós US

Don’t Hold Your Breath Waiting for the White House to Fall

Sacha
13 de julho de 2017
(pode ler este artigo em português aqui)

This week, the Trump campaign’s collusion seems to have been confirmed. No one less than the president’s son, Donald Trump Jr., divulged a series of emails in which he appeared willing to receive illicit inside information on Hillary Clinton coming from Russian agents. Without so much as considering what might be behind such an offer, Trump Jr. simply responded “I love it.” He loved it so much that the ethical violation it represents didn’t matter. He loved it so much that he didn’t even try to hide the exchange. Amid all of the noise after the revealing tweet, some qualify it as high treason. Now all that remains is to see what legal repercussions await.

Let’s take a step back. Despite the revelation of the emails being clear evidence of collusion, the case still does not have a judicial case pending. Until the complete publication of the emails, the information was being leaked bit by bit. It was thus that Trump Jr. found himself obliged to stymie possible fallout from the case, publishing the damning information all at once. For a campaign centered on Hillary’s private email server scandal, this scandal is all the more surreal.

In a Congress as ineffectual as this one has been, there is no margin for contemplating the total abandon of its project

Many Republican representatives negated the ties between Trump and Russia before the email case. They reserved their comments on it for new and concrete information to come out. Now, having it in hand, many still refuse to acknowledge possible Trump-Russia ties. Therein lies the problem.

If confirmed, this scandal would be a political and ethics violation on an unprecedented scale in the United States. Not even Watergate managed to be so flagrant as what we’re seeing now. Yet the Republican establishment is still hesitant. Their motive? They don’t want to slow down the already crawling pace of legislation.

Given that the political cycle is pointing to a probable loss of absolute control in the 2018 midterm elections, Republicans are not willing to interfere in the unique opportunity they have to pass their most important legislative projects. The impeachment process would not only halt the executive branch, it would halt the entire legislative agenda. In a Congress as ineffectual as this one has been, there is no margin for contemplating the total abandon of the project. Not even when evidence piles up.

Image: John evans
Voos Literários

A máquina do tempo de Temer

Flávia Cunha
4 de julho de 2017

Vocês repararam que, há alguns meses, a Rússia voltou a ser notícia? Primeiro, foram as “ligações perigosas” entre o presidente norte-americano Donald Trump e o governo russo. Depois, o nosso interino por aqui, o Michel Temer, em meio à crise que ameaça sua própria permanência no governo, resolve ir até Moscou. Daí surge a volta ao passado: Temer chamou os empresários russos de soviéticos.

.

Lembrando que a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas acabou lá em 1991, com a renúncia do último líder soviético, Mikhail Gorbachev, em meio a turbulências políticas

.

Para quem pouco conhece o panorama russo atual, sugiro a leitura do romance policial O Fantasma de Stálin, escrito pelo norte-americano Martin Cruz Smith. O ponto de partida do enredo é a suposta aparição do espírito do ex-governante Joseph Stálin pelos túneis do metrô de Moscou. Aliás, a foto que ilustra esse texto é do metrô de Moscou, conhecido como Palácio Subterrâneo. Tem paredes de mármore, teto alto, candelabros, mosaicos, esculturas e decorações em alto-relevo. Foi inaugurado justamente por Stálin, em 1935.

.

Voltando ao livro, o protagonista é o investigador Arkady Renko, que acredita que o fantasma é um teatro para fins políticos, que tem como objetivo reacender uma nostalgia latente no povo russo

.

O jornal britânico Daily Express, na época do lançamento da obra, considerou o enredo “um retrato visceral da Rússia moderna em todo seu esplendor e decadência”.

Confiram um trecho:

“Rumo a Tver, Arkady deixou Moscou e entrou na Rússia.

Nada de Mercedes, nem Bolshoi, nem sushi, nem mundo pavimentado; em vez disso, lama, gansos, maçãs caindo de uma carroça. Nada de belas casas em comunidades fechadas, mas chalés divididos com gatos e galinhas. Nada de bilionários, mas homens vendendo jarras na estrada porque a fábrica de cristal onde trabalhavam não tinha dinheiro para pagá-los, então pagava-os com mercadorias, fazendo de cada homem um comerciante que segurava uma jarra com uma das mãos e espantava moscas com a outra.

Para um dia de inverno, o clima estava anormalmente quente, mas Arkady dirigia o veículo de vidros fechados por causa da poeira que os caminhões levantavam. O Zhiguli não tinha ar condicionado nem rádio, mas o motor podia funcionar à base de vodca se necessário. De tempos e tempos, a terra era tão plana que o horizonte abria-se como um leque, e prado e lodaçais se estendiam em todas as direções. Uma estrada de terra se ramificava por um punhado de chalés e uma igreja que parecia um bolo de Páscoa inclinado, emoldurada por bétulas.

[…] As aldeias no caminho estavam definhando, esvaziadas pela evacuação em massa dos jovens, que iam para Tver, para Moscou ou para São Petersburgo em vez de sofrer o que Marx chamara de “a idiota vida rural”.

O contraponto interessante que pode ser feito é a leitura de outra obra do mesmo escritor norte-americano, também situada em Moscou, mas na década de 1980, em que a KGB está em plena ação. Parque Gorki fez um grande sucesso na época e foi parar nas telonas como O Mistério no Parque Gorky, estrelado por William Hurt.

E a Rússia não deve sair tão cedo das manchetes mundiais. Tirando a aproximação com Trump, ainda teremos a Copa do Mundo do ano que vem por lá. Se Michel Temer sobreviver no cargo até lá, é bom aprender que soviéticos só fazem parte mesmo é do passado.

Geórgia Santos

Quando uma menina de cinco anos traduz meu pensamento

Geórgia Santos
26 de junho de 2017

“Why did he go? Where did he go? Why did he leave it, anyway?”

Crianças são sábias de um jeito todo diferente. Enquanto a gente fica aqui estudando Ciência Política e tentando entender os caminhos tortuosos da democracia, eles verbalizam tudo de uma maneira bem mais simples. A Taylor, 5, faz uma série de perguntas que a mãe não consegue necessariamente responder. E, arrisco dizer, nem um professor conseguiria. Aliás, perguntas que me faço todos os dias.

Em uma série de três vídeos que vitalizaram – por motivos óbvios de fofura explícita – a menina lamenta a saída de Obama e, aparentemente, lê o meu pensamento – e o de muita gente, aposto.

“Porque nós temos outro presidente? Por que ele saiu? Pra onde ele foi?”, ela pergunta sobre Obama, de maneira frustrada e irritada e fofa e engraçada. 

https://www.instagram.com/p/BUhIdhPgJJV/

Ela não consegue entender porquê Hillary perdeu, não lembra o nome do OUTRO CARA (Donald Trump) e não consegue entender muito bem o fato de muitas pessoas escolheram a ele. Além do mais, ela afirma que ela votou por PIZZA. Eu disse, ela lê o meu pensamento.

https://www.instagram.com/p/BUhStsgAmZG/

Quando ela começa a interrogar sobre o lance do colégio eleitoral (tenho mil perguntas sobre isso também), a mãe desiste: “É uma longa história.” E ela não esconde a frustração.

 

https://www.instagram.com/p/BUhTC5ygYzF/

“De qualquer forma, eu não quero que ele seja nosso presidente”

Eu disse que ela verbaliza o que a gente pensa.

Nós US

No, Trump wasn’t Brexit

Sacha
22 de fevereiro de 2017

(pode ler este artigo em português aqui)

There is a whole sea of comparisons between Brexit and Trump. They’re considered sister phenomenons, a wave spreading throughout the West. Except, despite appearances, they’re not quite as similar as they seem.

Similarities

It’s true that Western populism, in the current state of things, has taken on a conservative tendency. It’s also true that xenophobia is running high just as much in the United States as in Europe. It’s a fact that the demographics of Europe and the US are shifting toward ever less white, Christian pastures. It appears to be the case, for now, that the Conservative Party of the UK and the Republican Party of the US don’t have as well-defined of plans for what should come after their electoral victories as they made it seem. The media helped to construct and participate in a spectacle, abusing false premises and falsified facts to induce a more lucrative, dramatic result. Up to here, everything appears basically the same.

Where the paths split

The splitting point between Brexit and Trump resides, in part, in the fundamental difference in their respective political scenarios. The convocation of a referendum to determine the continuation within the European Union by a British government with a wide majority in Parliament does not, in fact, correspond with the regular occurrence of elections for the leader of another country. Cameron called the referendum looking for political consolidation at home and legitimation in Brussels, where he saw his bargaining position reduced because of strategic political errors in dealing with Europe.

Clinton’s big error was underestimating the importance of the electoral map

Cameron’s big error was to underestimate the apathy and friction to the EU that older Englishmen have. These are the same people who tend to vote in greater numbers and who lived through the complete trajectory of the difficult fit of the UK in the EU. Compare that to the loss of nearly 3 million votes that Trump had against Hillary Clinton, which has left doubts about the legitimacy of his presidential mandate, if not about the electoral system that allowed for him to win despite that discrepancy. Clinton’s big error was underestimating the importance of the electoral map.

The friction between the UK and the EU has always been well known, and led the EU to concede many special statuses for the country with regard to its contribution to the EU budget, belonging to the single currency, and more. Trump represents the culmination of years of extreme rhetoric normalized by factions of the Republican Party and the conservative media in the US, especially in their game of obstinance against everything that had anything to do with president Obama.

The main motive for voting to leave the EU was a nostalgia for times of greater individual relevance on the global stage for the ex-Empire, settled by a wide margin. The main motive for voting for Trump was a belief in his aggrandized rhetoric of xenophobia, racism, misogyny, and nationalism as an easy solution to local problems that have little to do with it—an elixir that worked by the slightest of margins in just the right places.

The similarities between the two cases are many, but it’s best that we avoid treating them as if they were exactly the same phenomenon.

Image: Michal Zacharzewski