Ao ver pela primeira vez as imagens da invasão de apoiadores de Trump ao Congresso norte-americano, pensei: “Stupid white men”. A expressão em inglês refere-se ao título do livro do cineasta Michael Moore. Na época do lançamento da obra, em 2001, o alvo de críticas do autor era George W. Bush. Para Moore, os seguidores de Bush nos Estados Unidos de 20 anos atrás eram, em sua maioria, os tais “stupid white men”: homens brancos, com pouca inteligência, como um espelho do então presidente.
UMA NAÇÃO DE IDIOTAS
Mas qual seria a causa da “idiotice” de parte dos cidadãos brancos norte-americanos? Na avaliação do cineasta, entre as razões estavam o analfabetismo funcional e a falta do hábito de leitura no país, conforme descreve no capítulo Uma Nação de Idiotas:
“[…] se você vive em um país onde 44 milhões não conseguem ler — e talvez outros 200 milhões consigam ler, mas normalmente não o fazem — bem, amigos, vocês e eu vivemos em um lugar bastante assustador. Uma nação que não apenas produz em grande quantidade, em detrimento da qualidade, estudantes analfabetos, MAS FAZ DE TUDO PARA CONTINUAR IGNORANTE E IDIOTA, é uma nação que não deveria estar dirigindo o mundo — pelo menos não até que a maioria de seus cidadãos consiga localizar o Kosovo (ou qualquer outro país que tenha bombardeado) no mapa. Não surpreende os estrangeiros que os americanos, que adoram se revelar em sua idiotice, “elegeram” um presidente que raramente lê algo — incluindo os documentos e os resumos das notícias — e acha que a África é um país, não um continente. Um líder idiota de uma nação idiota.”
UM ESPELHO DE TRUMP
Possivelmente, a parcela da população norte-americana classificada por Moore como “stupid white men” há exatas duas décadas deu origem aos estúpidos e violentos apoiadores de Donald Trump. Em 2001, Bush não conseguia disfarçar seu comportamento considerado imbecil por seus opositores, Já em 2021, Trump, propositalmente, ostenta truculência e dissemina fake news a todo o momento. Na semana passada, incitou seus seguidores à violência com argumentos pouco verossímeis de ter sido prejudicado nas eleições. Por esse motivo, a invasão do congresso norte-americano é considerada uma ameaça sem precedentes à democracia norte-americana. Infelizmente, a estupidez e a violência dos homens brancos deixou de ser o título jocoso de um livro e tornou-se um perigo real, não apenas nos Estados Unidos.
Fiquemos atentos, pois Jair Bolsonaro adora ser uma versão tupiniquim e (ainda mais) caricata de Trump.
Imagem: NYT/ Reprodução
