Nova pesquisa divulgada na quarta-feira (25) indica que a aprovação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) caiu consideravelmente. Segundo os dados da Genial/Quaest, 38% dos entrevistados avaliaram a administração positivamente. No último levantamento esse índice era de 42%. A aprovação do trabalho que o presidente desempenha individualmente também caiu. Era de 60% em agosto e agora está em 54%.
De acordo com a pesquisa, a percepção da economia é um fato importante para a queda na popularidade do governo.
E queremos focar na palavra percepção porque a gente tem uma tese para destrinchar com vocês. Especialmente porque, se olharmos para o outro polo, a média de Jair Bolsonaro (PL) não está lá essas coisas, já que tudo indica que ele tirou votos do candidato ultradireitista na Argentina.
O peronista Sergio Massa, o candidato do Unión por La Pátria e atual ministro da Economia no país vizinho terminou o primeiro turno da eleição na liderança. Ele não era o favorito e, por isso, foi um resultado surpreendente. Mas o instituto Atlas intel já indicava que ele terminaria cinco pontos a frente de Javier Milei, candidato extremista que se define como libertário. A diferença foi de seis pontos.
Milei, que havia vencido as primárias, é o candidato do partido La Libertad Avanza. Ele tem 52 anos, é economista e está no primeiro mandato como deputado. E é um fenômeno político. Resumindo muito, é um tipo despenteado que posa de descolado e é dono de uma inflamada retórica antiesquerda e anticomunista, demoniza o sistema político do que ele chama de “castas” e adora chocar. Alem dos palavrões, incita à luta contra o “zurderio”, um termo pejorativo usado para designar a esquerda. Vem de zurdo, canhoto. Qualquer associação com “esquerdalha” não é mera coincidência.
Eu não sei se Maradona vai para o céu ou para o inferno. Caso seja enviado ao Paraíso, certamente fará reivindicações e reclamará da rotina e dos horários. Assim como fez na Copa de 1986, quando encarou os cartolas da FIFA afirmando que era desumano obrigar os jogadores a atuarem ao meio-dia do escaldante verão mexicano. Não é coincidência que Maradona só batia com a esquerda. Caso vá para o outro lado, porém, talvez aceite sem contestações, afinal, Maradona sempre foi pouco convencional. Mas se não gostar, também vai dar um jeito. Provavelmente com um maravilhoso drible no capeta – uma “gambeta” como dizem os argentinos. Uma gambeta no capeta e sairá de lá dando risada e dançando daquele jeito estranho e engraçado com que costumava bailar.
Eu não sei se Maradona vai para o céu ou para o inferno. Mas sei que ele nunca teve medo. Desafiou muito mais que adversários. Desafiou as regras dentro e fora de campo, desafiou a gravidade, desafiou a divindade e a humanidade. Desafiou a todos. E para desgosto dos conservadores, também desfilou. Desfilou ao lado de Fidel Castro com a tatuagem de Che em um braço, um boné verde oliva na cabeça e um charuto na boca.
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Durante muito tempo, brasileiros e argentinos discutiram quem era maior: Pelé ou Maradona. Mas isso não importa, agora. Aliás, as duas coisas que mais me sensibilizaram sobre Maradona foram ditas por brasileiros.
Uma delas pelo Careca, o “Carecôni”, que tinha seus gols do Nápoli narrados nas animadas manhãs do campeonato italiano pelo Silvio Luiz. O Careca foi um monstro e só não foi maior porque uma lesão o tirou da Copa de 1982 quando seria titular no lugar do Serginho. E esse brasileiro, que fez dupla com elpibe de oro no Napoli de 1986 até 1981, disse que Maradona foi o maior que ele viu jogar. E nessa comparação com Pelé, ele não vestiu a amarelinha: “Pelé era mais completo, praticamente perfeito. Sabia chutar de direita, de esquerda e cabecear. Maradona era fantástico, um cara de circo. O que ele fazia com uma perna só era brincadeira. Ele não tinha perna direita e não sabia cabecear. Então, imagina se ele tivesse tudo isso”.
Já Casagrande enxerga o outro lado da vida do argentino. Casão também conhece o pesadelo da dependência química e se emocionou durante um depoimento ao vivo no dia da morte de Maradona. Por perceber que o argentino passou pelo mesmo que ele e teve uma trajetória brilhante e gigantesca mutilada: “Eu me tratei e sempre fiquei revoltado com quem estava ao redor dele, porque quem está do lado dele, está vendo que está indo para o fundo do poço, se destruindo. E ninguém fez alguma coisa para evitar o que aconteceu hoje. Para mim, é muito duro. Fico chocado pela perda de um grande jogador, por um cara que eu conheci, gostava muito e por ser um dependente químico.”
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Eu não sei se Maradona vai para o céu ou para o inferno. Talvez transite entre os dois como fez em vida. Afinal, ele esteve no paraíso quando venceu a Copa do México marcando o gol com a mão de Deus. E o inferno ele viu quando a performance de alto nível foi encurtada por causa das drogas. De todo modo, o rei Pelé parece ter a resposta:
“Um dia, eu espero que possamos jogar bola juntos no Céu”, disse ele.
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Eu não sei, mas espero que ele esteja em um lugar especial reservado aos gênios do futebol. Talvez um lugar em que possa encontrar Garrincha, o anjo das pernas tortas que sucumbiu ao álcool. Um lugar em que possa encontrar Cruijff, que morreu em função de um câncer no pulmão por causa do cigarro. E Puskas, que não sei se tinha algum vício delirante, mas, certamente, como bom húngaro, gostava de uma vodka ou de um bom charuto. Espero que ele os encontre em um lugar reservado aos semideuses que só não foram perfeitos porque eram humanos. E que bom que eram humanos. De outra forma, não seriam eles.
Como disse Victor Hugo Morales após narrar o segundo gol de Maradona contra a Inglaterra na Copa de 1986: “Obrigado, Deus, pelo futebol, por Maradona e por essas lágrimas.”
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*Montagem com foto de David Cannon/Allsport/Getty Images/Hulton Archive
O ano de 2020 da América do Sul será uma extensão do turbulento 2019. A observação não é tanto um exercício de futurologia, senão uma análise das pautas que marcaram os últimos 12 meses. Peguemos alguns exemplos…
A Venezuela tem alguma perspectiva de solução do impasse político que iniciou neste ano? Nicolás Maduro não parece disposto a negociar e ainda conta com a sustentação da cúpula militar do país. O líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, desidratou e não parece mais ser o “autoproclamado” presidente que se vendeu no primeiro semestre. A violência segue nas ruas, com ataque a bases militares, e a escassez de alimentos persiste, com mais uma ceia de Natal suprida com aves russas. A Colômbia, ao lado, com todos os seus problemas, vive reflexos da situação venezuelana.
Do norte, vamos para o sul. A Argentina, mesmo com troca de governo, não apresenta sinais de recuperação. É verdade que Alberto Fernández não completou um mês na Casa Rosada, mas as políticas implementadas pelos peronistas repetem as que fracassaram com o neoliberalismo de Mauricio Macri. Aumentos de impostos foram aprovados pelo Congresso e também devem vigorar na populosa província de Buenos Aires, que cerca a capital do país.
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O tranquilo Chile entrou em erupção e até agora o presidente Sebastian Piñera não acertou a medida capaz de satisfazer uma população incomodada com anos de desequilíbrio econômico e social. A crise prossegue, bem como as incertezas sobre o futuro político do país
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A Bolívia, com a renúncia de Evo Morales, vive expectativa de uma nova eleição, com garantias de transparência. As primeiras pesquisas apontam uma divisão entre Carlos Mesa, ex-presidente moderado e opositor de Evo, e um jovem líder cocaleiro do partido do líder de origem indígena. Os artífices da ruptura colocada em prática vão aceitar os resultados das eleições organizadas por eles próprios?
Peru e Equador viveram dias intensos pela corrupção e decisões econômicas controversas, respectivamente, que acabaram desaguando nas ruas, em protestos e reações oficiais violentos. Já Brasil e Paraguai estão em um período de estabilidade, no qual, de forma contraditória, a instabilidade é a regra. A novidade mesmo vai ficar com o Uruguai, com novo governo.
A expressão latina quid pro quo significa a ação de dar uma coisa em troca de outra. No vivíssimo português, o sentido da frase ancestral se transformou graças a um livro farmacêutico levava esse nome. Com orientações para aplicar um princípio medicinal em vez de outro, com os mesmos efeitos, a publicação levou a culpa pelas confusões cometidas por seus leitores. Cada erro de receita sustentava o que virou o tão nosso quiprocó.
Coube ao ordenamento jurídico dos Estados Unidos trazer o original latino de volta à pauta. O presidente Donald Trump, denunciado na Câmara dos Representantes por abuso de poder e obstrução do Congresso, responderá a um processo de impeachment no Senado.
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O motivo? Quid pro quo!
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Trump teria oferecido, ao presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, liberar recursos retidos na área militar. Em troca, o hóspede da Casa Branca pediu uma atenção especial à suspeita de envolvimento de Hunter Biden (filho do ex-vice e atual pré-candidato democrata à presidência, Joe Biden) em um esquema de corrupção empresarial no país do leste europeu.
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Na pura essência das letras, _quid pro quo_!
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No início de dezembro, Donald Trump anunciou sanções a Brasil e Argentina pela desvalorização do real e do peso diante do dólar. Segundo o presidente dos Estados Unidos, os dois latino-americanos se aproveitavam deliberadamente do peso e do poder da verdinha. Como punição, taxas sobre o aço e o alumínio produzidos por aqui. O presidente Jair Bolsonaro disse ter uma linha aberta com o colega do norte, mas não houve correspondência. E antes já tínhamos ficado a ver navios no caso da OCDE, quando Trump preferiu apoiar a adesão de Argentina e Romênia no grupo dos ricos.
Na nossa nova diplomacia, com Brasil acima de tudo, Deus acima de todos e America first, Bolsonaro bem que queria firmar um quid pro quo com Trump. Mas só dando e sem receber nada em troca, apenas nos sobrou o quiprocó.
(Bento Gonçalves - RS, 05/12/2019) Presidente da República Jair Bolsonaro, assiste à Assinatura de Atos.
Foto: Alan Santos/PR
Depois de tantas crises espalhadas pelo continente, coube a Bento Gonçalves fechar o ano de 2019 no Mercosul. A cidade da serra gaúcha recebeu a Cúpula de Chefes de Estado do bloco econômico em um período de incertezas e de ruídos entre os países. O Brasil de Bolsonaro deixou clara sua mensagem aos povos (e, principalmente, ao diplomatas, ministros e presidentes) vizinhos.
O país, por intermédio do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, defendeu a abertura do Mercosul à economia mundial. O chanceler defendeu acordos bilaterais mais flexíveis e parcerias com a Europa, além de países asiáticos, caribenhos e latino-americanos. Até aí, uma posição legítima. No entanto, o discurso pragmático tinha em si doses de olavismo.
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Araújo condenou o “socialismo”, tratando como uma força que para o trem do desenvolvimento da América do Sul
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Disse que o modelo foi aplicado no Mercosul pelos governos anteriores e pela Venezuela, que colocaram o continente no “fundo da caverna”. O chefe do Itamaraty foi mais longe: disse que o Brasil de hoje não age mais por ideologia.
O recado foi interpretado, por jornalistas e correspondentes que cobrem a Cúpula, como um recado à Argentina de Alberto Fernández, que assume o poder no dia 10 de dezembro. O peronista de centro-esquerda chegou ao poder com o apoio do kirchnerismo, uma vertente que, na economia, adota uma postura bastante protecionista no mercado.
Se Araújo e Paulo Guedes, o ministro da Economia, realmente não têm ideologia e vão se guiar pelo pragmatismo, deverão sentar para conversar com Fernández e seu novo gabinete. Se o governo Bolsonaro quiser imprimir uma postura mais flexível e liberal na economia – e repito, é legítimo – não vai poder tratar tratar um governo igualmente legítimo da forma como vem tratando. Se o Brasil quiser tratar o Mercosul não mais como um “freio”, mas como um “acelerador”, conforme declarou o chanceler, vai ter que conversar com os russos… ou melhor, com os argentinos!
Cercado por dois gigantes de 210 e 45 milhões de habitantes, o Uruguai está acostumado com a coadjuvância. Não foi diferente no domingo, 27 de outubro. Enquanto os argentinos iam às urnas para eleger o peronista Alberto Fernández contra Mauricio Macri, atraindo as atenções do continente, os orientales também realizavam eleições presidenciais. A discrição do Uruguai e de sua população de 3,5 milhões de pessoas contrasta com a agitação vivida pela América do Sul neste ano de 2019. Até o Chile entrou em erupção, depois de Paraguai, Equador e Bolívia – sem contar os instáveis Brasil e Venezuela, além da economicamente dramática Argentina.
Os uruguaios vivem um momento de relativa tranquilidade econômica, social e política. O PIB cresce há 16 anos, contrariando o comportamento de seus vizinhos. Em 2004, por exemplo, o principal problema que as pessoas apontavam no país era o desemprego. Enquanto quase a metade da população tinha essa preocupação naquela época, hoje apenas 14% elege a falta de trabalho como um problema no Uruguai.
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O recorte temporal de uma década e meia não é por acaso
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Foi em 2005 que a Frente Ampla, coalizão de partidos de esquerda, assumiu o poder em um país marcado pela dualidade entre blancos e colorados. O partido de Tabaré Vázquez e José “Pepe” Mujica quebrou uma sequência de mais de 150 anos de alternância entre dois perfis de direita, uma conservadora e rural e outra liberal e urbana, cujas práticas mais as aproximam do que as separam. A experiência bem sucedida da esquerda no poder começou mais cedo, com o próprio Vázquez assumindo a prefeitura da capital, Montevidéu, em 1990 (desde então, a FA nunca deixou o comando da cidade). Se construiu uma era de respeito às instituições, de avanços no campo dos direitos humanos e de desenvolvimento num continente onde direita e esquerda deixam a desejar em alguns (ou todos) os quesitos.
Coube justamente ao último intendente de Montevidéu defender o bom legado frenteamplista. O engenheiro Daniel Martínez foi escolhido para representar a bandeira de esquerda em eleições sem precedentes na história uruguaia.
A renovação de quadros foi interessante. O senador Lacalle Pou (filho do ex-presidente Lacalle) teve que enfrentar o magnata Juan Sartori nas primárias do Partido Nacional (blanco). Nascido no Uruguai, mas radicado na Europa, Sartori voltou ao país se dizendo o outsider capaz de revolucionar a política local, mesmo com os suspeitos auxílios da família russa de sua esposa, cujo pai é dono do clube de futebol Monaco, e do estrategista miamense-venezuelano JJ Rendón, especialista em fake news. No Partido Colorado, o Chicago boy Ernesto Talvi desbancou o octogenário ex-presidente Julio María Sanguinetti nas prévias. A grande surpresa, no entanto, foi a candidatura do ex-comandante do Exército Guido Manini Ríos. Preso por reclamar da previdência dos militares e depois demitido por criticar o Judiciário pela condenação de criminosos da ditadura militar, o general entrou na política como um crítico da esquerda (não confundi-lo com Bolsonaro, Manini Rios está mais para Mourão).
Postulantes em campo e eleitores nas urnas, a eleição de domingo não foi uma surpresa. As pesquisas acertaram a liderança de Martínez, que fechou com 39% dos votos. Lacalle Pou, com seus 28%, vai ao segundo turno. O candidato de direita já recebeu o apoio dos derrotados Talvi e Manini Ríos, que marcaram 12% e 11% respectivamente.
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Um simples (e simplório) exercício matemático nos permite supor que, com a soma dos votos opositores à Frente Ampla, Lacalle Pou será o novo presidente do Uruguai. Alguns fatores podem ser determinantes nos debates decisivos até o segundo turno
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A segurança (ou falta de) foi o ponto de maior fragilidade no último ciclo da FA no governo. Os números de homicídios aumentaram em 35% no ano passado e política flexível sobre a maconha ainda divide o país. No entanto, a reforma constitucional proposta pela oposição que criava uma força policial militar no país e que previa até a prisão perpétua para alguns crimes foi rejeitada pela população.
A ver também o papel de lideranças importantes, como Mujica, que voltou à política e foi eleito senador, e Vázquez, que enfrenta um câncer de pulmão. Outro ponto interessante é o fator Bolsonaro. O presidente brasileiro declarou preferência a Lacalle Pou. Será mais uma bola fora do Mick Jagger? O próprio Lacalle rejeitou o apoio, dizendo não ser correto que um líder estrangeiro influencie a eleição de outro país. Além de ter noção dos limites institucionais, o candidato tem noção do que pode sofrer com o toque do Midas al revés. Manini Ríos, o militar, também criticou Bolsonaro pela intromissão.
Com o governo da Frente Ampla em xeque, estamos diante do fim de uma era de esquerda no Uruguai? No dia 24 de novembro, finalmente, os discretos vizinhos do Prata serão protagonistas na América do Sul.
Nesta semana, falamos sobre o ciclo de protestos no Chile. Os jornalistas Geórgia Santos, Tércio Saccol e Flávia Cunha conversaram com a jornalista Isabela Vargas, que vive em Santiago e trouxe o relato de quem está testemunhando a História. Também participam do debate o professor Marcelo Kunrath, da UFRGS, especialista em confronto político e o novo colunista do Vós para América Latina, o jornalista Gustavo Chagas.
Além da crise do Chile, os jornalistas ainda discutem a instabilidade política da América Latina como um todo. Brasil, Equador, Bolívia e até a Argentina. O repórter do portal Sul 21, Luis Eduardo Gomes, esteve em Buenos Aires e falou sobre a situação das eleições antes do resultado.
Inspirada pelas oitavas de final da Copa do Mundo, proponho uma espécie de super trunfo de livros dos países classificados nessa fase da competição. Para a escolha das obras, criei o seguinte critério: escritores contemporâneos e ainda em atividade. Vamos às duas competidoras dessa batalha.
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Representante da França . Marie NDiaye, 51 anos
Minibiografia . Filha de uma francesa e de um senegalês, publicou seu primeiro livro em 1985. Tem uma vasta obra de livros adultos e alguns infantojuvenis. Também é dramaturga e foi uma das roteiristas do filme Minha Terra África, de 2010.
Livro escolhido para essa batalha . Três Mulheres Fortes, publicado em 2010
Motivo da escolha . Com esse título, não tem como não chamar a atenção de uma feminista. Mas a verdade é que retratar o sexo feminino sem pudores e em situações-limite é o ponto forte dessa obra.
Bônus . O livro foi vencedor do Prêmio Gouncourt em 2009, uma dos mais respeitados da França.
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Representante da Argentina . Samanta Schweblin, 40 anos
Minibiografia . Nascida em Buenos Aires, a escritora resgata o realismo fantástico na literatura argentina e é considerada sucessora de Julio Cortázar. Também integra listas dos escritores contemporâneos mais promissores em língua espanhola.
Livro escolhido para essa batalha .Pássaros na Boca, o primeiro da autora publicado no Brasil
Motivo da escolha . Apesar do peso da comparação com Cortázar pode ser uma maldição, os 18 contos da obra fazem jus à herança literária. Um mundo insólito repleto de estranhezas é o universo dessa obra. Para quem gosta de mergulhar na realidade paralela do realismo fantástico, é uma boa pedida.
Bônus . O livro é vencedor do prêmio Casa de Las Américas, o mais prestigiado em língua espanhola.
O começo do ano é perfeito para planejar uma viagem para o exterior. Aquela energia para experimentar está constantemente pulsando em nossas veias, como se o sangue fosse composto única e exclusivamente por adrenalina. É o momento ideal para explorar o mapa do mundo à procura de lugares legais para conhecer. Especialmente agora em que lugares antes ignorados por viajantes inveterados passam a entrar na lista de aventuras inesquecíveis. Assim como alguns destinos esquecidos voltam a aparecer na lista em função de uma espécie de reafirmação cultural.
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Mas o mundo é grandão. E para te poupar um pouco do trabalho de fazer essa varredura, a gente fez uma lista com
Cinco lugares bem legais para conhecer em 2018
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Buenos Aires – Argentina
Caminito, Buenos Aires, Argentina
Estive na capital argentina há muitos anos e, finalmente, chegou o momento de voltar. É a minha escolha de viagem para este ano. Buenos Aires é uma capital impregnada por cultura, arte e história. Em que a tristeza das mães da Plaza de Mayo se misturam ao som do Tango e ao aroma dos vinhos, que se mescla à memória de Evita e seu túmulo, que estão ligados ao Caminito e suas cores, compartilhadas com o futebol e o mate. Sem contar que uma viagem a Buenos Aires pode ser esticada até Mendoza, terra dos vinhos, ou, quem sabe, até ao Sul e à fria Bariloche.
Neste ano ainda há um detalhe: a Feira de Arte Contemporânea, agendada para setembro, acontece na capital dos Hermanos. Um ótimo momento para conhecer Buenos Aires e tomar um mate.
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Costa Vicentina e Algarve
Algarve, Portugal
Sempre que se fala sobre turismo em Portugal, imediatamente pensa-se em Lisboa ou Porto – alguns talvez lembrem de Fátima ou Coimbra. Mas o fato é que raríssimos são os que pensam em praia. E eu não era diferente. Qual não foi minha surpresa quando deparei com cenários paradisíacos, escondidos na Costa Vicentina e no Algarve? Minha amiga Ana e eu embarcamos em uma road trip inesquecível. Partimos do Cascais e fomos até Portimão, parando em pequenas vilas e praias pelo caminho, sem destino certo, sem lugar para ficar. Decidíamos onde dormir na hora, perguntando por aí se havia quartos para uma noite. Vimos quartos sujos dos quais fugimos; pousadas, nas quais ficamos, que abrigavam assustadoras bonecas de porcelana; pensão com senhoria preconceituosa. Cantamos “Cheira a Lisboa”, levemente embriagadas, pelas ruas de Vila Nova de Milfontes.
Experimente, em qualquer lugar, ameijoas fresquinhas e cataplanas de frutos do mar. Babe com as construções mouras, as cerâmicas, os penhascos, a água transparente e fria. Cada passo do caminho certamente faz da costa sul de Portugal um destino especial para conhecer em 2018.
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Santiago – Chile
A isolada capital chilena está se tornando uma queridinha em guias de viagem mundo afora e sua popularidade só tende a aumentar em 2018. Por isso, este ano é um ótimo momento para conhecer Santiago. Mesmo porque, é uma visita que se estende aos vinhedos do interior e às praias de Viña del Mar e Valparaíso; ou à Cordilheira dos Andes e seus picos nevados; ou ao Deserto do Atacama. O Chile oferece aos viajantes uma gama bastante extensa de atrações, capaz de agradar aos públicos mais diversos. Vá às degustações de vinho, passeios por museus, à casa de Pablo Neruda. Se não for teu caso, há também esportes radicais, escalada, montanhismo. Ainda não? Então desfrute das praias e deliciosos frutos do mar. Em resumo, qualquer época é época para viajar ao país, tão diverso que chega a ser difícil definir.
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Toscana – Itália
Montepulciano, Toscana, Itália
Assim como no caso do litoral português, a sugestão não é uma cidade, mas uma região, talvez uma das mais emblemáticas da Itália, impregnada pelo romantismo que a precede. A Toscana já foi imortalizada em filmes e certamente o será por ti. Não fique em hotel, alugue uma casinha no interior, em algum vilarejo pequeno, e se deixe levar pelo calor. Aprenda a fazer massa. Aprenda italiano. Alugue um carro e explore os vinhedos, as cantinas, os queijos. Esqueça os passeios turísticos com guia, explore os cantos sem pressa, coma uma pizza, beba um vinho, experimente a Bisteca Fiorentina, aprecie David.
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Cidade do Cabo
Table Mountain, Cidade do Cabo, África do Sul
Os planos de viagem raramente incluem o continente africano. Por um hábito de origem preconceituosa, é comumente associado à pobreza e violência. O lance é que pensar assim é uma perda de tempo que nos afasta de maravilhas como Marrocos, Egito, Moçambique e tantos outros. Ao sul, por exemplo, encontra-se a Cidade do Cabo, na África do Sul. Meu marido fala que as praias do Cabo são tão bonitas quanto as do Rio de Janeiro. De fato, é uma cidade maravilhosa. Apenas não tem a badalação da orla carioca. Infelizmente, os traços do Apartheid permanecem e o povo ainda sofre essa consequência. E assim como na Argentina, em que a história triste história política se mistura à cultura, a Cidade do Cabo tem esse período marcado na carne. Ter consciência do que se passou ali, porém, torna o passeio cheio de significados. A cada passo na Table Mountain ou a cada gole dos vinhos sul-africanos.
Isso aqui não é notícia! – ou, protestos na Argentina e nosso amor por fake news
Igor Natusch
20 de dezembro de 2017
Já comentei por aqui em tempos idos como a produção e disseminação de fake news é uma indústria, que nos oferece argumentos convenientes em troca do nosso engajamento e, é claro, de dinheiro. É um círculo vicioso extremamente nocivo para a discussão política e para toda a sociedade – e tivemos mais uma prova nos últimos dias, quando muita gente jurou de pés juntos que argentinos estavam gritando “isso aqui não é o Brasil!” durante os protestos contra a reforma previdenciária em curso naquele país.
Multidões identificadas com o pensamento progressista e contrário às medidas que vêm sendo adotadas por Michel Temer no Brasil acabaram disseminando a suposta informação. Eu mesmo, confesso, recém chegado de viagem e um tanto desligado do noticiário, cheguei a acreditar, durante algum tempo, que pudesse ser algo verdadeiro. Uma notícia que, como denunciado por usuários do Twitter e depois demonstrado pelo site E-farsas, não tem qualquer base identificável na realidade.
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Não existem registros em vídeo, relatos nos jornais locais, menções ao grito entre usuários argentinos de redes sociais, nada. Absolutamente nada
Se gritaram, não foi possível, pelo menos por enquanto, provar – e se não é possível provar, noticiar para quê?
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O primeiro a noticiar a suposta bomba por aqui foi o site Brasil 247 – não vou dar link porque né, trata-se de uma não-notícia e não merece ser disseminada. Mesmo não sendo um espaço “clássico” de fake news, o portal está (com todo o respeito) notoriamente distante de ser um veículo comprometido com apuração exaustiva ou com a credibilidade das informações que divulga. De onde terá tirado dados que corroborem o que divulga? Não se sabe, e pelo jeito não se saberá em momento algum.
Mesmo sendo altamente enviesado em sua cobertura, e mesmo sem apresentar qualquer evidência daquilo que afirmava em sua matéria, o Brasil 247 conseguiu atingir o coração e a imaginação de milhares de pessoas. Jogando não apenas com a insatisfação diante de reformas sem debate com a sociedade e que mudam (ou mudarão) drasticamente a vida da maioria da população, mas também com o sentimento de desamparo causado pela ausência de protestos nas principais cidades brasileiras. E tendo a publicação compartilhada, obtendo acessos, conquistando espaços de debate. Com uma informação que, repetindo, de informação mesmo não tem quase coisa alguma. Com uma matéria que, no mínimo, foi publicada antes de assar adequadamente no forno – se é que não foi para a mesa do leitor completamente crua, mesmo.
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Isso funciona, é claro, porque ninguém – absolutamente ninguém – está imune à tentação do viés de confirmação
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O questionamento incansável às falsas notícias do lado de lá não é o mesmo quando a manchete encaixa com nossos discursos, quando diz algo que nos é interessante que seja realidade. Não estavam compartilhando por aí que Bono Vox, o vocalista do U2 engajado com causas sociais, viria ao Brasil participar da mobilização de apoio a Lula no julgamento no TRF-4 – algo que a própria “fonte”, senador Roberto Requião, já deixou claro que era uma afirmação hipotética e não um anúncio? Requião mencionou o nome do músico, e isso basta. Que venham as manchetes e os memes!
Muito difícil ver boas perspectivas em um cenário onde a não-notícia só precisa ser agradável para ser tratada como verdade – ainda mais em um lugar como o Brasil, onde a importância da imprensa como salvaguarda democrática nunca chegou a se consolidar de fato. Estamos reféns de nós mesmos, de nossa vontade de ter proeminência em um debate transformado em gritaria de malucos, onde o principal valor é apenas determinar quem grita mais alto. Se a ignorância nos serve, assinamos contrato na hora, sem ler as letrinhas miúdas – e esse é o cenário de sonhos para quem, sem nenhum fato a seu favor, seguirá inventando pseudo-fatos para virar o jogo político na direção desejada. Uma falta de escrúpulos que não tem restrições ideológicas, como se vê.
Prendam a respiração, que 2018 vai ser um negócio daqueles.