PodCasts

Bendita Sois Vós #73 Pelé, Lula e a história do Brasil

Geórgia Santos
7 de janeiro de 2023

Nesta semana, Pelé, Lula e a Historia do Brasil. Porque entre a última semana de 2022 e os primeiros dias de 2023, todo brasileiro vivo pôde ser testemunha da História.

No dia 29 de dezembro, recebemos a notícia da morte de Edson Arantes do Nascimento, o homem a quem coube ser Pelé. O maior e melhor jogador de futebol de todos os tempos, provavelmente a pessoa mais conhecida do mundo, partiu dizendo love, love, love.

A gente vai falar um pouco sobre o legado de Pelé e o apagamento que inclusive este homem negro sofreu em vida quando teve suas ideias escondidas, fazendo com que o brasileiro não enxergasse o Edson político. E vamos falar da despedida daquele que é sinônimo de Brasil mas que foi, no fundo, o Rei de todo o mundo.

.

Foram poucos os jogadores presentes no velório de Pelé, que ocorreu entre os dias dois e três, mas o povo esteve lá

.

O mesmo povo que passou a faixa presidencial a Luiz Inácio Lula da Silva no dia primeiro. Em um dia histórico do nosso país, Lula subiu a rampa ao lado da esposa, Janja; do vice, Geraldo Alckmin, que estava com a esposa Lu; e com representantes do povo brasileiro.

.

Em um discurso carregado de simbolismo, Lula deu início a um governo de reconstrução e prometeu olhar para este mesmo povo que lhe confiou o posto mais alto da República

.

E essa promessa, no que depender do time de ministros, não será vazia. Silvio Almeida, novo ministro dos Direitos Humanos, emocionou o país com um discurso que não poderia ser mais distante de tudo o que o antecessor representou ao longo de quatro anos.

O governo eleito em 2018 acabou. O ex-presidente fugiu. É hora de recomeçar e dar novos contornos à História do Brasil. Vamos em frente.

A apresentação é de Geórgia Santos. Participam Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.

Vós Pessoas no Plural · Bendita Sois Vós #73 Pelé, Lula e a história do Brasil
PodCasts

BSV Especial Coronavírus #61 Tudo é político, até o futebol

Geórgia Santos
9 de junho de 2021

Nesta semana, a gente fala de futebol, porque tudo é político, de Copa América, CPI da Covid e eleições no Peru.

Após disputas internas na CBF, está confirmada a realização da Copa América no Basil. Jogadores levantaram a voz, o técnico foi ameaçado e o presidente da CBF, Rogério Caboclo, ofereceu a cabeça de Tite ao presidente Jair Bolsonaro. O vice, General Hamilton Mourão, também meteu o bedelho. Mas nada disso aconteceu. Caboclo foi afastado por uma denúncia de assédio, mas foi o posicionamento dos jogadores que o derrubou.

.
Não são jogadores revolucionários, longe disso, mas se posicionaram
.

O governo federal também se posicionou, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que é um evento pequeno e que não oferece risco ADICIONAL.  Ele disse isso em novo depoimento à CPI da Covid. Enquanto isso, Bolsonaro continua mentindo a respeito da COVID, dizendo que não morreu tanta gente assim e usando dados falsamente atribuídos ao Tribunal de Contas da União. O TCU desmentiu a lorota em seguida e o presidente precisou admitir o engodo.

E ainda, as eleições no Peru. A legítima filhote de ditador, Keiko Fujimoi, foi derrotada por Pedro Castillo.

Participam os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no SpotifyItunes e Castbox

Vós Pessoas no Plural · BSV Especial Coronavírus #61 Tudo é político, até o futebol
Cléber Grabauska

Maradona entre o céu e o inferno

Cléber Grabauska
26 de novembro de 2020

Eu não sei se Maradona vai para o céu ou para o inferno. Caso seja enviado ao Paraíso, certamente fará reivindicações e reclamará da rotina e dos horários. Assim como fez na Copa de 1986, quando encarou os cartolas da FIFA afirmando que era desumano obrigar os jogadores a atuarem ao meio-dia do escaldante verão mexicano. Não é coincidência que Maradona só batia com a esquerda. Caso vá para o outro lado, porém, talvez aceite sem contestações, afinal, Maradona sempre foi pouco convencional.  Mas se não gostar, também vai dar um jeito. Provavelmente com um maravilhoso drible no capeta – uma “gambeta” como dizem os argentinos. Uma gambeta no capeta e sairá de lá dando risada e dançando daquele jeito estranho e engraçado com que costumava bailar.

Eu não sei se Maradona vai para o céu ou para o inferno. Mas sei que ele nunca teve medo.  Desafiou muito mais que adversários. Desafiou as regras dentro e fora de campo, desafiou a gravidade, desafiou a divindade e a humanidade. Desafiou a todos. E para desgosto dos conservadores, também desfilou. Desfilou ao lado de Fidel Castro com a tatuagem de Che em um braço, um boné verde oliva na cabeça e um charuto na boca.

.

Durante muito tempo, brasileiros e argentinos discutiram quem era maior: Pelé ou Maradona. Mas isso não importa, agora. Aliás, as duas coisas que mais me sensibilizaram sobre Maradona foram ditas por brasileiros.

Uma delas pelo Careca, o “Carecôni”, que tinha seus gols do Nápoli narrados nas animadas manhãs do campeonato italiano pelo Silvio Luiz. O Careca foi um monstro e só não foi maior porque uma lesão o tirou da Copa de 1982 quando seria titular no lugar do Serginho. E esse brasileiro, que fez dupla com el pibe de oro no Napoli de 1986 até 1981, disse que Maradona foi o maior que ele viu jogar. E  nessa comparação com Pelé, ele não vestiu a amarelinha: “Pelé era mais completo, praticamente perfeito. Sabia chutar de direita, de esquerda e cabecear. Maradona era fantástico, um cara de circo. O que ele fazia com uma perna só era brincadeira. Ele não tinha perna direita e não sabia cabecear. Então, imagina se ele tivesse tudo isso”.

Já Casagrande enxerga o outro lado da vida do argentino. Casão também conhece o pesadelo da dependência química e se emocionou durante um depoimento ao vivo no dia da morte de Maradona. Por perceber que o argentino passou pelo mesmo que ele e teve uma trajetória brilhante e gigantesca mutilada: “Eu me tratei e sempre fiquei revoltado com quem estava ao redor dele, porque quem está do lado dele, está vendo que está indo para o fundo do poço, se destruindo. E ninguém fez alguma coisa para evitar o que aconteceu hoje. Para mim, é muito duro. Fico chocado pela perda de um grande jogador, por um cara que eu conheci, gostava muito e por ser um dependente químico.”

.

Eu não sei se Maradona vai para o céu ou para o inferno. Talvez transite entre os dois como fez em vida. Afinal, ele esteve no paraíso quando venceu a Copa do México marcando o gol com a mão de Deus. E o inferno ele viu quando a performance de alto nível foi encurtada por causa das drogas.  De todo modo, o rei Pelé parece ter a resposta:

“Um dia, eu espero que possamos jogar bola juntos no Céu”, disse ele.

.

Eu não sei, mas espero que ele esteja em um lugar especial reservado aos gênios do futebol. Talvez um lugar em que possa encontrar Garrincha, o anjo das pernas tortas que sucumbiu ao álcool. Um lugar em que possa encontrar Cruijff, que morreu em função de um câncer no pulmão por causa do cigarro. E Puskas, que não sei se tinha algum vício delirante, mas, certamente, como bom húngaro, gostava de uma vodka ou de um bom charuto. Espero que ele os encontre em um lugar reservado aos semideuses que só não foram perfeitos porque eram humanos. E que bom que eram humanos. De outra forma,  não seriam eles.

Como disse Victor Hugo Morales após narrar o segundo gol de Maradona contra a Inglaterra na Copa de 1986: “Obrigado, Deus, pelo futebol, por Maradona e por essas lágrimas.”

.

*Montagem com foto de David Cannon/Allsport/Getty Images/Hulton Archive

Cléber Grabauska

O homem que trocou a esposa pelo Ronaldinho

Cléber Grabauska
24 de março de 2020
Data da foto: 1998 Ronaldo Gaúcho, do Grêmio, comemorando um gol.
Por mais aleatórios que sejam os rolês do bruxo, ninguém imaginou que Ronaldinho Gaúcho estaria preso no dia do seu 40º aniversário.  Ele e o irmão Assis estão detidos no Paraguai acusados de falsificação de documentos. Uma situação nada agradável para aquele que já teve o mundo aos seus pés, foi um dos melhores e desfilou uma habilidade poucas vezes vista. Coisa de Pelé, Garrincha, Messi, Maradona. Ou seja, de um grupinho seleto. Mas depois que largou o futebol, transformou-se em uma espécie de atração de circo. E agora o circo pegou fogo.
O Ronaldinho com 40 não sei se é muito diferente daquele que eu conheci pessoalmente em 2001, em Osório, numa pelada realizada no campo de futebol sete com grama natural que ficava nas dependências da Juvesa, uma revenda de automóveis FIAT, que ainda hoje existe. A situação criou-se assim. Sílvio Benfica, meu colega de Rádio Gaúcha, era amigo de infância do Sérgio, dono da revenda. E por conta dessa parceria, ele começou a encaminhar os mais chegados para comprar carros lá na Juvesa. Emplacamento, tanque cheio, IPVA grátis,desconto nas prestações…o cliente sempre ganhava uma facilidade. O Benfica aproximou os colegas da Gaúcha, inclusive eu, e conseguiu fazer com que o Assis comprasse um automóvel FIAT para o Ronaldinho lá na Juvesa. Provavelmente, o primeiro carro do futuro melhor do mundo tenha sido adquirido lá.
.
Pois, para festejar essa parceria, resolveram marcar um jogo entre a Rádio Gaúcha e o time do Ronaldinho
.
Imagine o Ronaldinho, em janeiro de 2001, com toda vitalidade dos seus 19 anos jogando contra uma gurizada que gostava de futebol, mas que não jogava nada. A exceção era o Rafael Colling que, por causa dos seus cabelos ruivos, era chamado de Barão Vermelho. Mas independente da cor dos cabelos, a verdade é que o Colling jogava bem, mesmo, Inclusive, fez muito sucesso na várzea de Montenegro e arrepende-se até hoje de não ter tentado a carreira profissional.
O jogo estava marcado para às sete da noite. Seis e quinze nós já estávamos lá aguardando a chegada do adversário. Chegou sete da noite e nada do Ronaldinho. Sete e meia, e nem sinal. Oito da noite recebemos a informação que a delegação está a caminho. Termina a Voz do Brasil e começa a programação esportiva no rádio.O Show dos Esportes, na Gaúcha, abre com a notícia da contratação do técnico Tite pelo Grêmio. E o novo treinador é colocado na abertura do programa para falar com os apresentadores. Nesse meio tempo, chega a van com o time do Ronaldinho. Dela descem Ronaldinho, Assis, Baidek, Almir, João Antônio, os primos e tios do Ronaldinho, enfim, um elenco muito melhor que o da Gaúcha.

Foto: Grêmio / Divulgação

Com a agilidade costumeira de grande repórter, o Benfica puxa o Ronaldinho e o coloca ao vivo para falar com Tite. os dois trocam algumas palavras e o craque é liberado para iniciar os preparativos para o grande duelo. à aquela altura, Assis já tinha encaminhado a saída do irmão para o Paris Saint Germain, mas o fato ainda não estava consumado.ou seja, o garoto ainda era adorado por todos, inclusive pelos gremistas. E todos queriam um autógrafo ou tirar uma foto ao lado do craque, incluindo o pessoal da rádio.
Começou o jogo e o time da Gaúcha teve um rodízio de goleiros. Foram uns quatro ou cinco. Pois todo mundo queria jogar uns minutinhos para poder dizer que defendeu um chute ou sofreu um gol do Ronaldinho que jogou sem fazer força. Ele brilhou e deixou os parceiros correrem por ele. Por incrível que pareça,o jogo não terminou em goleada. A vitória do time do Ronaldinho foi pela diferença mínima. Tipo 11 a 10 ou 10 a 9.
Todo mundo saiu satisfeito do jogo.Menos o Colling que deixou o gramado de cabeça baixa e resmungando. Vendo aquela cara contrariada, como capitão do time, perguntei o que tinha acontecido e o Barão Vermelho respondeu;
– Não dá pra aguentar esses caras. Fiquem se “fresqueando” só porque é o Ronaldinho. e a gente tivesse caprichado dava para ganhar – desabafou o Colling.
Eu olhei para ele e respondi:
– Peraí, tu acha que a gente iria ganhar do time do Ronaldinho? Tu tá louco. Se nós fizéssemos 100 gols, ele ia lá, na brincadeira, e faria 101. Não tinha como, Colling!!!
Minha explicação não convenceu. O Colling foi para o banho, não falou com ninguém e só se acalmou na hora do churrasco. Estava sentando com o pessoal da Gaúcha e na outra mesa, de frente para ele, os irmãos Moreira, o dono da revenda e o Benfica. Nisso, o Ronaldinho cutuca o Benfica, aponta para o Colling e diz:
– Ô, Sílvio, esse alemão joga bola, hein?
Essa frase fez o mundo do Colling mudar, Imagina ser elogiado pessoalmente pelo Ronaldinho? O craque da Gaúcha não precisava de mais nada. A sua noite estava completa.Ele até esqueceu a derrota de minutos atrás.  Aquela frase dita por Ronaldinho foi como a realização de um sonho. A sua fisionomia se transformou e ele transformou-se em uma outra pessoa.
Tanto é verdade que no dia seguinte, a primeira coisa que ele providenciou foi transformar a foto tirada antes do jogo ao lado do Ronaldinho, num poster gigante. A imagem foi captada num celular rudimentar e a iluminação era precária. e o resultado final não foi muito bom. Azar. Mesmo assim, ele fez o poster, colocou numa moldura e pendurou num lugar nobre da sala exatamente no local onde ficava a foto do seu casamento. Ou seja, o Colling trocou a esposa pelo Ronaldinho.
PodCasts

OUÇA Bola na Rede #1 Futebol e música

Geórgia Santos
11 de fevereiro de 2020

No primeiro podcast do Bola na Rede, o Sarau do Futebol, Cléber Grabauska aborda relação do esporte bretão com a música.

.
Com textos de Chico Buarque, Nelson Motta, Eduardo Bueno e Eduardo Galeano, um passeio pela paixão de Lupicínio Rodrigues, Wilson Simonal, Jorge Ben e tantos outros que homenagearem o filó e os seus melhores com uma canção
.

O convidado especial dessa edição é o jornalista Beto Xavier, autor do livro “O Futebol no País da Música”, da Panda Books. Participam Richard Serraria, Júnior Maicá e Geórgia Santos. O podcast do bola na rede é gravado ao vivo, em Porto Alegre.

Você também pode ouvir o podcast no Anchor, Spotify e, em breve, em outras plataformas de streaming. Direção: Raquel Grabauska; Técnica: Marcos Vaz; Edição: Fane Weber; Produção: Vós. 

 

 

Cléber Grabauska

Sobre times que viraram espantalhos

Cléber Grabauska
26 de janeiro de 2020

Rogério; Orlando Lelé, Alex, Geraldo e Álvaro; Ivo Wortmann, Bráulio e Edu (o irmão do Zico); Flecha, Luisinho e Gílson Nunes Com essa escalação e comando do técnico Danilo Alvim, o América-RJ, ou melhor, America, sem acento, conquistou o título da Taça Guanabara – o primeiro turno do campeonato do Rio de Janeiro – em 1974. Essa formação entrou para a história mesmo sem ter conquistado o Estadual. E ficou para sempre na minha memória porque foi o meu primeiro time de botão.

America-RJ, em 1974, na conquista da Taça Guanabara.

Mesmo sem ter alcançado nenhum título brasileiro, o América ergue a taça do Torneio dos Campeões, organizado pela CBF, em 1982. Fez uma brilhante campanha no Brasileirão de 1986, terminando em terceiro lugar e sendo eliminado na semifinal pelo São Paulo que acabou tornando-se campeão. O curioso é que, no ano seguinte, veio a Copa União, criada pelo Clube dos Treze, e o America ficou fora da elite. Como protesto, negou-se jogar em qualquer outra divisão. E essa decisão marcou o início do fim. Mesmo com a abnegação de fanáticos dirigentes e torcedores, o time nunca mais foi o mesmo. Nunca retomou o tamanho. Tanto que na recente disputa de duas vagas no Módulo Especial, ficou fora do Carioca, ficando atrás de Portuguesa e Macaé e perdendo uma das duas vagas.

.

E sabe do que mais? Eu também não tenho mais o meu time de botão

.

Menos glorioso foi o SAAD. O time de São Caetano do Sul disputou o Paulistão de 1974 e depois despencou. Fechou o departamento de futebol profissional, ressurgiu com força no futebol feminino, montou um projeto numa das ligas norte-americanas, mas poucos se lembram de que esteve entre os grandes de São Paulo. Algo parecido aconteceu com o CEUB. O Centro Esportivo Universitário de Brasília tornou-se CEUB Futebol Clube e jogou o Brasileirão de 1973. O time teve uma vida efêmera, mas pelo menos serviu para iniciar a história do futebol no Distrito Federal.

Mais antigo e muito mais glorioso, o Grêmio Esportivo Renner desbancou Grêmio e Inter e faturou o Gauchão de 1954, colocando em evidência o goleiro Valdir de Morais e o meia Ênio Andrade. Mas o time das empresas Renner foi extinto em 1957. Também no Rio Grande do Sul vale a pena resgatar o 15 de Campo Bom. O clube existe desde 1911. Por muito tempo dedicou-se ao futebol amador, mas ganhou notoriedade quando se profissionalizou e, por muito pouco, não fez algo parecido com o Renner. Foi vice-campeão gaúcho em três ocasiões: 2002, 2003 e 2005 e em todas as edições perdeu o título para o Inter. O 15 de Campo Bom, como clube social, continua firme. Já o departamento de futebol profissional tenta se reerguer e existe a possibilidade de disputar a Terceira Divisão em 2020.

Grêmio Esportivo Renner, em 1953

Quem também tenta se reerguer é o São Caetano. O Azulão surgiu em 1981 e, praticamente no mesmo período,  fez um sucesso ainda maior que o 15 de Campo Bom. Foi vice-campeão brasileiro em 2000 e 2001, ficando atrás de Vasco da Gama e Athletico Paranaense. Perdeu a Libertadores de 2002 para o Olímpia. Mas, ao menos, conseguiu garantir o Paulistão de 2004. O time que já teve Adhemar, Mineiro, Marcos Senna, Serginho e tantos outros, foi rebaixado no Paulistão de 2019 e prepara-se agora para encarar a Série A-2.

A “segundona paulista” é também endereço da Portuguesa de Desportos. Longe dos dias de glória, a Lusa tem uma dívida gigantesca e luta pela sobrevivência. Corre o risco inclusive de perder o estádio do Canindé. E nós sabemos que, caso isso aconteça, a história não terá mais volta. Um time que revelou talentos como Félix, Zé Maria, Marinho Perez, Leivinha, Enéias e Dener, atualmente é um rascunho do que já foi. Campeã paulista de 1973, a Portuguesa fez uma final histórica contra o Santos de Pelé e acabou dividindo o título porque o árbitro Armando Marques enganou-se nas cobranças de pênaltis e deu a vitória ao Peixe antes da hora. Em 1985 chegou à final novamente, mas perdeu para o São Paulo. E a sua última grande façanha aconteceu em 1996 quando decidiu o Brasileiro contra o Grêmio e acabou ficando com o vice-campeonato. O time tinha Clemer, Valmir, Emerson, César e Carlos Roberto, Capitão, Gallo, Caio e Zé Roberto, Alex Alves e Rodrigo Fabri.

O inferno da Lusa começou em 2013 quando a equipe, em uma situação muito mal explicada, utilizou o jogador Heverton de forma irregular, perdeu pontos, acabou rebaixada e livrou o Fluminense da Segundona.

Assim como a Portuguesa e o America, o Bangu é um time querido e histórico, Já não tem mais o apoio da fábrica de tecidos que impulsionou o futebol e abriu caminho para a presença de negros e operários no futebol. Não tem também mais ídolos do peso de Domingos da Guia e Zizinho. Também não tem mais o dinheiro do bicheiro Castor de Andrade, patrono do clube, que financiou a montagem da equipe que em 1985 chegou ao vice-campeoanto brasileiro e ao vice carioca. Mas pelo menos mantém o seu lugar na Primeira Divisão do Rio de Janeiro e sonha com dias melhores.

Dias tão promissores como os que vive o Bragantino, ou agora, Red Bull Bragantino. O campeão paulista de 1990 e vice brasileiro de 1991, cedeu seu nome e sua estrutura para montar uma parceria com a multinacional de energéticos que, agora, coloca em prática, aqui no Brasil, o mesmo modelo que utiliza na Europa com o Leipzig, da Alemanha, e o Salzburg, da Áustria. A fase onde brigava com dificuldades para manter-se na Série B do Brasileiro é passado. O projeto montado em Bragança Paulista torna-se o sonho de consumo de praticamente todos os times do futebol brasileiro, e principalmente daqueles que já foram gigantes e hoje são espantalhos que não assustam mais ninguém.

Cléber Grabauska

Porque eu gosto de Iúra e não de Luan

Cléber Grabauska
15 de dezembro de 2019

Eu me criei numa época em que os times eram montados no esquema 4-3-3. No ataque existiam dois pontas e um centroavante, camisa nove, matador. O meio-campo era muito bem definido. Tinha um médio-volante, camisa cinco, carregador de piano, o homem da marcação. O camisa dez, o maestro, o craque do time. O cara que ditava o ritmo, chamado meia-armador. Nessa função de “pensadores” tínhamos Rivelino, Ademir da Guia, Gérson e Carpegiani. E a camisa oito ficava com o “ponta de lança”, que era um jogador de meio com qualidade de infiltração e talento de artilheiro, como Zico, Pelé e Jair, por exemplo.

.
Nem sempre o número indicava a posição. O dez sempre vestiu o diferenciado. E, por isso, Zico e Pelé consagraram a dez e não a oito
.

Mas deixando de lado a numerologia e destacando a função, eu sempre admirei e me identifiquei com os jogadores que vestiram a camisa oito. Pois, quase sempre, eles eram aqueles que faziam o trabalho limpo e o trabalho sujo. Ajudavam na marcação e apareciam no ataque para tabelar com o centroavante para achar uma brecha, para furar o bloqueio e entrar na cara do gol.

Me criei admirando camisas oito clássicos como Iúra, Jair, Osvaldo, Cléo e Emerson. Uns mais marcadores, outros mais atacantes. Mas jogadores de fôlego, de entrega e de habilidade. Onde existia um camisa oito, quase sempre existia coração. E também qualidade técnica.

Pois, sem nunca ter vestido a oito, Luan, no 4-3-3 dos anos setenta e oitenta, seria um jogador dessa função. Mas eu não sei se ele vingaria tempos atrás. Digo isso porque vejo muita técnica e muito pouco coração no jogador que está trocando o Grêmio pelo Corinthians.

“Rei da América” em 2017 e principal nome do Grêmio na conquista da Libertadores daquele ano, Luan não conseguiu dar um passo à frente. A sua ausência na lista de Tite para a Copa de 2018 parece ter sido determinante. Nos dois últimos anos , ele não conseguiu evoluir. Estacionou. Quem sabe, até regrediu. Quase foi trocado por Tiago Neves. Acabou ficando em Porto Alegre e perdendo relevância.

A torcida discute a sua saída. Mas poucos ainda acreditam que Luan possa repetir o que fez em 2017. Talvez falte foco. Quem sabe condicionamento físico ou sequência. Mas, acima de tudo, acho que falta a Luan o amor à camisa. Mesmo que ele tenha sido multicampeão pelo Grêmio e que tenha feito mais gols que Renato, Luan nunca fez juras de amor ao Grêmio. Algo bem diferente do que eu vi, por exemplo, em Iúra, que comeu o pão que o diabo amassou, mas teve força e qualidade suficientes para dar a volta por cima e mudar o rumo da história.

Luan pode jogar mais que Iúra, mas os velhos armadores ou pontas de lança tinham muito mais coração que alguns ditos craques de hoje em dia.

Cléber Grabauska

O barulho da queda

Geórgia Santos
10 de dezembro de 2019
BELO HORIZONTE / BRASIL (08.12.2019) Cruzeiro x Palmeiras, trigésima oitava rodada do campeonato Brasileiro 2019, no Mineirão, em Belo Horizonte/MG. Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro IMPORTANTE: Imagem destinada a uso institucional e divulgação, seu uso comercial está vetado incondicionalmente por seu autor e o Cruzeiro Esporte Clube. IMPORTANT: image intended for institutional use and distribution. Commercial use is prohibited unconditionally by its author and Cruzeiro Esporte Clube.

A última rodada do Brasileirão não foi emocionante. A única definição importante era para saber quem acompanharia Avaí, Chapecoense e CSA rumo à Série B: Cruzeiro ou Ceará. E coroando uma temporada de inúmeros erros administrativos e uma vertiginosa queda de rendimento, o Cruzeiro caiu.

Não foi o Ceará que se salvou. Não. Foi o Cruzeiro que caiu. Digo isso porque Argel Fucks, mesmo que tenha dito que “missão dada é missão cumprida”, não consegiu fazer o Ceará caminhar com as próprias pernas. Afinal, o Vozão, desde que resolveu tirar o treinador gaúcho do CSA, só conseguiu dois pontos nas três últimas rodadas. Começou empatando com o Athletico em casa. Perdeu para o Corinthians também no Castelão. E na última rodada empatou com o Botafogo no Engenhão. Tá certo que, com o pontinho conquistado na última rodada, de nada adiantava o Cruzeiro vencer no Mineirão. Mas a verdade é que o Ceará deu muita sopa para o azar.

.

O problema é que o Cruzeiro foi muito imcompetente. Não só na reta final. Mas ao longo de todo campeonato. Dentro e fora de campo

.

A direção cumpriu todo roteiro que nós, gaúchos, havíamos visto o Inter percorrer em 2016. Acusações, desvio de dinheiro, contratações equivocadas, repetidas trocas de treinador e um grupo demsobilizado. Para ser mais parecido com o que fez o Inter na administração Píffero, só faltou contratar o Ariel ou tentar o empréstimo do Paulão.

Esse festival de equívocos manchou a história de um time glorioso que revelou Tostão, Piazza, Dirceu Lopes, Nelinho, Palhinha, Joãozinho e muitos outros craques que nunca disputaram uma segunda divisão. O Cruzeiro sempre foi time de ponta. E agora vai penar uma temporada na Série B, lambendo as suas feridas como tantos outros grandes já fizeram.

.
Mas a imagem que fica dessa queda do Cruzeiro, não verdade não é uma imagem. É um som
.

Foi triste e constrangedor acompanhar o jogo de domingo após o primeiro gol do Palmeiras marcado por Zé Rafael. Depois que o Cruzeiro sofreu o primeiro gol, boa parte da torcida esqueceu o jogo e partiu para a briga, depredação e violência. O policiamento precisou entrar em ação para evitar algo pior. E o jogo passou a ter uma sonoplastia de tiros, bombas e explosões. Enquanto um desanimado Cruzeiro tentava correr atrás de um milagre, que não veio, sua torcida estava dividida em duas partes. Uma querendo quebrar o estádio.  E outra, atendendo o pedido do sistema de alto-falantes, buscando os portões de saída para salvar a própria pele.

Triste cena de um campeonato que teve muita coisa boa. Mas que terminou sem graça, nem emoção. Só com o barulho da queda de um gigante.

 

Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro

Cléber Grabauska

Os gringos colocaram o futebol brasileiro na psiquiatria

Cléber Grabauska
2 de dezembro de 2019

Engana-se quem acha que a derrota de 7 x 1 para a Alemanha na Copa do Mundo de 2014 tenha iniciado um revolução no futebol brasileiro. Nada disso. Na época, existiam duas explicações. A safra era ruim e vergonhosa e goleada era resultado da desorganização da CBF, envolvida em vários escândalos financeiros.

.

Técnico estrangeiro? Intercâmbio? Nem pensar. A gente não precisa, dizia-se

.

 

Numa tentativa de moralizar o futebol brasileiro, José Maria Marin, o sucessor de Ricardo Teixeira, trouxe Dunga. A qualidade não melhorou e os resultados continuaram sendo ridículos. E a Seleção seguiu desmoralizada. Correndo risco de não garantir vaga para a Copa do Mundo de 2018, o estudioso e bem prepardo Tite foi chamado em 2016 por Marco Polo Del Nero para salvar a pátria. A resposta do novo treinador foi espetacular. O time cresceu, novos talentos surgiram e o Brasil terminou as eliminatórias sul-americanas em primeiro lugar e com classificação antecipada. Veio a Copa da Rússia e, mesmo que Tite não tenha derrotado nenhuma equipe europeia na fase de preparação, acreditava-se que teríamos chances de sonhar com o título. Afinal, contávamos com a inteligência de Tite e o talento de Neymar. Chegamos somente até às quartas de final. Um “nó tático” aplicado no primeiro tempo pela Bélgica nos tirou do Mundial e reacendeu a discussão sobre o tipo de futebol que praticamos aqui.

.
Nesse período que abrange as Copas de 2014 e 2018 culpamos basicamente a CBF pelos erros da nossa seleção e pelo declínio do nosso futebol

.

Precisaram chegar, primeiro, o argentino Jorge Sampaoli, e, depois, o português Jorge Jesus para se perceber que é possível fazer um futebol diferente e de muito mais qualidade em relaçao àquele que estávamos habituados e ver no Campeonato Brasileiro. Sim, diferente porque Sampaoli pegou um Santos sem dinheiro e, com um grupo modesto, inclusive perdendo o garoto Rodrygo, deu um padrão de jogo que coloca o Peixe numa valorosa disputa de segundo lugar com o milionário Palmeiras. E diferente também porque Jorge Jesus pegou um supertime que não decolava com Abel Braga e colocou o Flamengo no topo da América do Sul e do Brasil com as conquistas da Libertadores e Brasleirão.

O sucesso do Flamengo de Jesus fez do Palmeiras a sua mais recente vítima. A derrota de 3 x 1 no último domingo e a diferença de onze pontos na tabela fizeram o presidente palmeirense mudar de planos, demitir o técnico Mano Menezes (há apenas três meses no cargo) e também Alexandre Mattos, que estava há cinco anos como diretor de futebol. Pelo dinheiro que investe e que já investiu desde a chegada do patrocínio da Crefisa, o Palmeiras conquistou muito pouco. No ano passado, quando se disse que, após as eliminações na Copa do Brasil e na Libertadores, o título do Brasileiro era obrigação, os palmeirenses não gostaram muito. Talvez, agora, olhando onde o Flamengo chegou, eles reconsiderem isso.

O surpreendente da coletiva do presidente Maurício Galiotte é que ele disse o futebol vive uma transformação e que o Palmeiras precisa adotar um modelo diferente. Que o futebol vive em transformação isso existe há bastante tempo. Quanto ao projeto novo, me parece que o Palmeiras seguirá os passos de Santos e Flamengo e buscará um técnico de fora para alcançar um patamar que nem Felipão, nem Mano conseguiram. Em outras palavras dá para dizer que o Palmeiras entendeu que não é mais o único rico do futebol brasileiro. O Flamengo, com um aporte financeiro crescente, tem um tendência de crescimento e manutenção daquilo que já alcançou. E para superar o time da Gávea, é preciso encontrar alguém que consiga mudar o estilo de jogo que o Verdão vinha apresentando há basante tempo.

Possivelmente, o novo comandante do Palmeiras seja um técnico de fora. Pode ser até mesmo Jorge Sampaoli que não deve ficar no Santos. O fato é que no mercado local, as opções foram reduzidas. Pouca gente se destaca. Pouca gente apresenta um trabalho inovador. Daria para citar Renato Portaluppi, Thiago Nunes, Rogério Ceni e um renascido Vanderlei Luxemburgo. Nem mesmo os outrora elogiados Fernando Diniz e Roger Machado conseguem manter o rótulo de inovadores.

.

O Brasileirão de 2019 precisa ser destacado por ser o momento em que o futebol brasileiro deu o braço a torcer e entendeu que o intercâmbio é salutar

.

Novas ideias e conceitos fazem muito bem para os nossos times, nossos treinadores e agora também para nossos dirigentes. Quem ainda discordar disso, precisa ser internado para tratamento. O trabalho de Jorge Jesus e Sampaoli colocou o futebol brasileiro contra a parede. Pôs em questionamento o modelo que os consagrados Felipão, Mano e Abel Braga, por exemplo, utilizavam para aqui. O nível subiu. E a cobrança em cima dos nossos técnicos também. O intercâmbio vai crescer e só poderemos dizer que esse ciclo estará completo quando, ao mesmo tempo em que os nossos clubes busquem técnicos de fora, os europeus e argentinos também se interessem pelos técnicos brasileiros.

 

Cléber Grabauska

UM NOVO MILAGRE DE JESUS

Cléber Grabauska
24 de novembro de 2019

A vitória foi fantástica. A virada foi histórica. O Flamengo derrotou o River Plate por 2 x 1 , em Lima, conquistou a Copa Libertadores da América e mostrou uma garra que a gente só acreditava existir nos castelhanos. Mesmo que o Mister Jesus tenha trazido um algo mais do “além mar”, a conquista é muito mais brasileira do que postuguesa. E isso não é desmerecimento nenhum ao trabalho exemplar do treinador e sim um reconhecimento ao potencial que o futebol brasileiro tem e que nós não aceditamos mais.

Mesmo que o grupo flamenguista estivesse praticamente todo à disposição de Abel Braga, o time não encaixou. Jorge Jesus chegou no começo do Brasileiro sob forte desconfiança e ouviu muitas cornetas após a eliminação na Copa do Brasil para o Athletico.

.
Mas os mesmos que esquentaram a frigideira para fritar o bacalhau, precisaram apagar o fogão à medida que o treinador conseguiu implantar o seu estilo, definir um padrão e emplacar vitórias que levaram o Flamengo a fechar o ano com os títulos da Libertadores e do Brasileirão na mesma semana
.

Jesus atingiu um padrão de qualidade que há muito tempo não víamos num time brasileiro. Mesmo que Renato Portaluppi diga que o Flamengo só tenha atingido esse nível pelo investimento de mais de R$ 200 milhões, vale lembrar que outros clubes como Cruzeiro e, principalmente, o Palmeiras investiram pesado e nunca chegaram ao patamar do rubro-negro – cuja base está montada. Mesmo que a permanância de Gabigol ainda seja uma incógnita, nomes como Diego Alves, Rafinha, Filipe Luiz, Gérson, Éverton Ribeiro, Gérson, Arrascaeta e Bruno Henrique colocam uma qualidade que não enxergamos em outros times. E não se fala apenas em qualidade individual. Se fala em dedicação, entrega, inteligência e trabalho coletivo.

.

A Libertadores mostrou que o Flamengo é, além do melhor time da América, obviamente, que ele também é o melhor do Brasil

.

Uma superioridade que ficou evidente nos confrontos contra o Grêmio na semifinal. Mesmo que tanha restado alguma dúvida após o empate no primeiro jogo contra o tricolor na Arena, a goleada de 5 x 0 no Maracanã foi inconstestável e Renato Portaluppi precisou rever os seus conceitos.

O jogo contra o River Plate teve um Flamengo diferente. Marcelo Gallardo tirou o rubro-negro da sua zona de conforto e, mesmo com maior posse de bola, o jogo do Fla foi confuso e improdutivo. A objetividade só esteve presente a partir da entrada de Diego no lugar de Gérson. O time cresceu e o River cansou. Lucas Pratto perdeu a chance de liquidar o jogo e no final, Gabigol não perdoou. Empatou em cima da hora e virou quando os flamenguistas ainda agradeciam aos céus pela graça alcançada.

O Flamengo de Gabigol e Jorge Jesus chegou praticamente ao mesmo tamanho do Flamengo de Zico & Cia. Mas ainda falta o algo a mais. Que pode ser uma sequência de títulos tão grande quanto à conquistada nos anos de 1980 e 1990, ou simplesmente mais uma taça. Não uma qualquer. O que falta é o Mundial da Fifa. E a resposta pode vir já no próximo mês quando o rubro-negro, caso não ocorra nenhum tropeço, encarará o Liverpool de Klopp. Para muitos poderá ser a reafirmação do futebol brasileiro. E para outros, mais descrentes, um novo milagre de Jesus.

Foto original: Daniel Apuy/Getty Images