Cléber Grabauska

O barulho da queda

Geórgia Santos
10 de dezembro de 2019
BELO HORIZONTE / BRASIL (08.12.2019) Cruzeiro x Palmeiras, trigésima oitava rodada do campeonato Brasileiro 2019, no Mineirão, em Belo Horizonte/MG. Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro IMPORTANTE: Imagem destinada a uso institucional e divulgação, seu uso comercial está vetado incondicionalmente por seu autor e o Cruzeiro Esporte Clube. IMPORTANT: image intended for institutional use and distribution. Commercial use is prohibited unconditionally by its author and Cruzeiro Esporte Clube.

A última rodada do Brasileirão não foi emocionante. A única definição importante era para saber quem acompanharia Avaí, Chapecoense e CSA rumo à Série B: Cruzeiro ou Ceará. E coroando uma temporada de inúmeros erros administrativos e uma vertiginosa queda de rendimento, o Cruzeiro caiu.

Não foi o Ceará que se salvou. Não. Foi o Cruzeiro que caiu. Digo isso porque Argel Fucks, mesmo que tenha dito que “missão dada é missão cumprida”, não consegiu fazer o Ceará caminhar com as próprias pernas. Afinal, o Vozão, desde que resolveu tirar o treinador gaúcho do CSA, só conseguiu dois pontos nas três últimas rodadas. Começou empatando com o Athletico em casa. Perdeu para o Corinthians também no Castelão. E na última rodada empatou com o Botafogo no Engenhão. Tá certo que, com o pontinho conquistado na última rodada, de nada adiantava o Cruzeiro vencer no Mineirão. Mas a verdade é que o Ceará deu muita sopa para o azar.

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O problema é que o Cruzeiro foi muito imcompetente. Não só na reta final. Mas ao longo de todo campeonato. Dentro e fora de campo

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A direção cumpriu todo roteiro que nós, gaúchos, havíamos visto o Inter percorrer em 2016. Acusações, desvio de dinheiro, contratações equivocadas, repetidas trocas de treinador e um grupo demsobilizado. Para ser mais parecido com o que fez o Inter na administração Píffero, só faltou contratar o Ariel ou tentar o empréstimo do Paulão.

Esse festival de equívocos manchou a história de um time glorioso que revelou Tostão, Piazza, Dirceu Lopes, Nelinho, Palhinha, Joãozinho e muitos outros craques que nunca disputaram uma segunda divisão. O Cruzeiro sempre foi time de ponta. E agora vai penar uma temporada na Série B, lambendo as suas feridas como tantos outros grandes já fizeram.

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Mas a imagem que fica dessa queda do Cruzeiro, não verdade não é uma imagem. É um som
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Foi triste e constrangedor acompanhar o jogo de domingo após o primeiro gol do Palmeiras marcado por Zé Rafael. Depois que o Cruzeiro sofreu o primeiro gol, boa parte da torcida esqueceu o jogo e partiu para a briga, depredação e violência. O policiamento precisou entrar em ação para evitar algo pior. E o jogo passou a ter uma sonoplastia de tiros, bombas e explosões. Enquanto um desanimado Cruzeiro tentava correr atrás de um milagre, que não veio, sua torcida estava dividida em duas partes. Uma querendo quebrar o estádio.  E outra, atendendo o pedido do sistema de alto-falantes, buscando os portões de saída para salvar a própria pele.

Triste cena de um campeonato que teve muita coisa boa. Mas que terminou sem graça, nem emoção. Só com o barulho da queda de um gigante.

 

Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro

Cléber Grabauska

UM NOVO MILAGRE DE JESUS

Cléber Grabauska
24 de novembro de 2019

A vitória foi fantástica. A virada foi histórica. O Flamengo derrotou o River Plate por 2 x 1 , em Lima, conquistou a Copa Libertadores da América e mostrou uma garra que a gente só acreditava existir nos castelhanos. Mesmo que o Mister Jesus tenha trazido um algo mais do “além mar”, a conquista é muito mais brasileira do que postuguesa. E isso não é desmerecimento nenhum ao trabalho exemplar do treinador e sim um reconhecimento ao potencial que o futebol brasileiro tem e que nós não aceditamos mais.

Mesmo que o grupo flamenguista estivesse praticamente todo à disposição de Abel Braga, o time não encaixou. Jorge Jesus chegou no começo do Brasileiro sob forte desconfiança e ouviu muitas cornetas após a eliminação na Copa do Brasil para o Athletico.

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Mas os mesmos que esquentaram a frigideira para fritar o bacalhau, precisaram apagar o fogão à medida que o treinador conseguiu implantar o seu estilo, definir um padrão e emplacar vitórias que levaram o Flamengo a fechar o ano com os títulos da Libertadores e do Brasileirão na mesma semana
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Jesus atingiu um padrão de qualidade que há muito tempo não víamos num time brasileiro. Mesmo que Renato Portaluppi diga que o Flamengo só tenha atingido esse nível pelo investimento de mais de R$ 200 milhões, vale lembrar que outros clubes como Cruzeiro e, principalmente, o Palmeiras investiram pesado e nunca chegaram ao patamar do rubro-negro – cuja base está montada. Mesmo que a permanância de Gabigol ainda seja uma incógnita, nomes como Diego Alves, Rafinha, Filipe Luiz, Gérson, Éverton Ribeiro, Gérson, Arrascaeta e Bruno Henrique colocam uma qualidade que não enxergamos em outros times. E não se fala apenas em qualidade individual. Se fala em dedicação, entrega, inteligência e trabalho coletivo.

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A Libertadores mostrou que o Flamengo é, além do melhor time da América, obviamente, que ele também é o melhor do Brasil

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Uma superioridade que ficou evidente nos confrontos contra o Grêmio na semifinal. Mesmo que tanha restado alguma dúvida após o empate no primeiro jogo contra o tricolor na Arena, a goleada de 5 x 0 no Maracanã foi inconstestável e Renato Portaluppi precisou rever os seus conceitos.

O jogo contra o River Plate teve um Flamengo diferente. Marcelo Gallardo tirou o rubro-negro da sua zona de conforto e, mesmo com maior posse de bola, o jogo do Fla foi confuso e improdutivo. A objetividade só esteve presente a partir da entrada de Diego no lugar de Gérson. O time cresceu e o River cansou. Lucas Pratto perdeu a chance de liquidar o jogo e no final, Gabigol não perdoou. Empatou em cima da hora e virou quando os flamenguistas ainda agradeciam aos céus pela graça alcançada.

O Flamengo de Gabigol e Jorge Jesus chegou praticamente ao mesmo tamanho do Flamengo de Zico & Cia. Mas ainda falta o algo a mais. Que pode ser uma sequência de títulos tão grande quanto à conquistada nos anos de 1980 e 1990, ou simplesmente mais uma taça. Não uma qualquer. O que falta é o Mundial da Fifa. E a resposta pode vir já no próximo mês quando o rubro-negro, caso não ocorra nenhum tropeço, encarará o Liverpool de Klopp. Para muitos poderá ser a reafirmação do futebol brasileiro. E para outros, mais descrentes, um novo milagre de Jesus.

Foto original: Daniel Apuy/Getty Images