No segundo aniversário do famigerado Oito de Janeiro, assistimos a uma democracia que resiste e a instituições que não parecem dispostas a anistiar.
Geórgia Santos
10 de janeiro de 2025
Foto: Ricardo Stuckert / PR
Ficamos meses longe do nosso estúdio, longe do nosso microfone. Mas muita coisa aconteceu na política brasileira. Chegamos ao mês de janeiro de 2025 com a dúvida de se é um ano novo de fato, ou um ano novo … de novo.
No segundo aniversário do famigerado Oito de Janeiro, com letra maiúscula, mesmo, assistimos a uma democracia que resiste e a instituições que não parecem dispostas a anistiar. Pelo contrário, prendem generais de quatro estrelas como nunca se viu. E ao ex-presidente golpista, só resta a espera.
No segundo aniversário do terceiro governo Lula, assistimos a um presidente que decidiu, por fim, mudar a cara do governo. Ou, pelo menos, a percepção que o povo tem dele. Depois da queda de um ministro importante e a queda literal do próprio presidente, entre especulações e a economia de fato, Lula decidiu mexer na comunicação do governo.
E a nós cabe brincar de Mãe Diná neste retorno.
Apresentação: Geórgia Santos Participação: Igor Natusch e Marcelo Nepomuceno Foto de capa: Ricardo Stuckert / PR
Há dez anos, eclodia um dos principais ciclos de protesto da história da democracia brasileira. As Jornadas de Junho de 2013 são um marco na política do país. Um divisor de águas, podemos dizer. O que começou com um protesto pela redução no preço da passagem do transporte público culminou em uma das maiores mobilizações populares que o Brasil já viu.
.
A essa altura, já sabemos que não foi apenas por 20 centavos, mas há muito a entender
.
Os protestos fizeram bem pra o país? Ou foram responsáveis por todo o mal do mundo? Aqui, a gente acredita que não foi nem uma coisa, nem outra. Mas reconhecendo que é um assunto complexo – e com a intenção de cultivas essas complexidades -, vamos dedicar dois episódios ao tema.
Na semana que vem, a gente vai contar pra vocês das nossas experiências pessoas em lados diversos. Cobrindo, reportando, estudando e, ainda, o lado de quem estava dentro do governo. Mas antes disso, a gente traz uma análise técnica sobre as Jornadas de Junho. Vamos conversar com o professor Marcelo Kunrath Silva, do departamento de Sociologia da UFRGS.
E já que o dia pede, vamos falar sobre a indicação e sabatina de Cristiano Zanin para o Supremo Tribunal Federal (STF).
Apresentação de Geórgia Santos e participação de Igor Natusch – e Flávia Cunha na Palavra da Salvação. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
Nos últimos dias, as atenções estiveram voltadas à atuação do Congresso Nacional. Primeiro, com a boiada passando, quando os deputados aprovaram a urgência do PL que discute o famigerado Marco Temporal, inclusive com votos do PT de Lula, e uma comissão mista aprovou textos que desidratam ministérios, inclusive do Meio Ambiente.
E agora com a aprovação do próprio PL-490. Um projeto controverso e inconstitucional até que o STF determine o contrário. Segundo a tese jurídica do Marco Temporal, os povos indígenas têm direito de estar apenas nas terras que já ocupavam em 1988 – e comprovar isso. Mas a questão a se discutir, ao fim e ao cabo, é oimenso poder de Artur Lira, que até ameaçou a base governista.
Para entender melhor esse turbilhão institucional, conversamos com o cientista político Augusto Neftali de Oliveira, professor da PUC-RS.
Apesar da instabilidade na relação entre Legislativo e Executivo, o presidente delega a tarefa de negociar com um Congresso em que tem absoluta minoria ao ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, enquanto foca na política externa.
Lula reuniu dez chefes de Estado em Brasília nesta semana para falar de integração na América do Sul, em mais um passo para retomar o protagonismo do Brasil no cenário internacional. Até aí, tudo bem. Porém, um dia antes, formalizou o restabelecimento de relações diplomáticas com a Venezuela, recebeu Nicolas Maduro no Palácio do Planalto e minimizou a tragédia do país, dizendo que era uma questão de narrativa.
A manifestação de Lula repercutiu mal entre os outros presidentes que participariam da reunião de cúpula e em diversos setores da sociedade civil e da imprensa. Como resposta, Lula reforçou a defesa a Maduro.
Mais tarde, a jornalista Delis Ortiz, da Rede Globo, afirmou ter sido agredida pela segurança de Maduro e por agentes a serviço do Gabinete de Segurança Institucional. Em nota, o governo federal afirma que o GSI abriu sindicância para investigar a agressão.
Apresentação de Geórgia Santos e participação de Marcelo Nepomuceno e Flávia Cunha na Palavra da Salvação. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
Bendita Sois Vós #80 Chuva de CPIs e a cassação de um deputado aí
Geórgia Santos
17 de maio de 2023
Nesta semana, chuva de CPIs. E a cassação de um deputado, aí.
Depois do sucesso – de audiência – da CPI da Covid, o Brasil testemunha agora uma chuva das famigeradas Comissões Parlamentares de Inquérito. Acertei no Plural? Algumas muito recomendadas, outras com pouco ou nenhum fundamento e ainda as que já nascem sem futuro.
Nesta semana, apenas, a Câmara está às voltas com a CPI das Apostas Esportivas – na categoria das muito recomendadas; com a CPI do MST, na categoria das sem fundamento; e com a CPI das Americanas, que já nasce morta, tadinha. Isso sem falar na CPI do Golpe, que ninguém mais sabe se quer.
A gente conversa, então, sobre as possibilidades de cada CPI e sobre a imensa chance de a oposição dar um tiro no pé ao mirar no Movimento dos Sem-Terra. Afinal, a tentativa de virar o jogo sobre o oito de janeiro já não está funcionando e toda a semana é uma lapada diferente de Flávio Dino e outros membros do governo.
E a cereja do bolo é a surpresa da terça, que foi quase um sextou. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou, por unanimidade, o pedido de cassação do mandato de Deltan Dallagnol, ex-procurador da Lava Jato e ex-deputado, segundo a rápida Wikipédia. Mas eterno fazedor de Power Points. E ainda tem depoimento do Bolsonaro. E baixou o preço da gasolina e do gás.
A apresentação é de Geórgia Santos. Marcelo Nepomuceno participa do debate e Flávia Cunha traz a Palavra da Salvação. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
Bendita Sois Vós #78 A comunicação no governo Lula
Geórgia Santos
26 de abril de 2023
Nesta semana, um assunto que quase ninguém comenta por aí: a comunicação do governo Lula
Pois resolvemos largar o absoluto factual de mão neste episódio para abordar uma questão que vem incomodando aliados e apoiadores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: a estratégia de comunicação do governo. Ou a falta de.
Desde o início do mandato, há certa frustração com a maneira como as coisas tem sido conduzidas nessa área. Primeiro, há críticas direcionadas especificamente à Secom, comandada pelo ministro Paulo Pimenta, deputado federal eleito pelo PT do Rio Grande do Sul. Mas há outras coisas.
Declarações desnecessárias – ou desastrosas de Lula são parte do problema. Vão desde a Guerra na Ucrânia até videogames violentos. Não se sabe o quanto é possível controlar ou combinar o que o presidente diz, mas traçar essa estratégia também é prerrogativa da Secom.
Outro ponto crítico é a interferência da primeira-dama. Mais recentemente, Janja resolveu responder ao perfil Choquei, no Twitter, sobre a questão da isenção de impostos para compras no exterior e desencadeou um problemão para o governo. Aliás, esse é o exemplo perfeito do que estamos falando aqui. É um problemão para vários ministérios, porque se trata de uma medida polêmica, que foi mal comunicada, piorada pelo tuíte da primeira-dama e agora agravada pelo presidente, que resolveu voltar atrás, segundo ele, porque Janja alertou que era uma medida impopular. De novo, não há alinhamento.
É preciso dizer, no entanto, que também se espera da Secom uma função que não é dela, que é a de defender o presidente ou atacar o antecessor. Algo que é, nitidamente, uma consequência do governo Bolsonaro, que misturou a comunicação institucional com a político-partidária.
A apresentação é de Geórgia Santos. Marcelo Nepomuceno e Igor Natusch participam do debate e Flávia Cunha traz a Palavra da Salvação. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
Cem dias de governo Lula. Cem dias de um governo que, inclusive, sobreviveu a um golpe de estado. Nesse meio tempo, houve erros; houve acertos; houve retomadas; cutucos adequados – outros nem tanto. Mas, acima de tudo, houve e há democracia.
A apresentação é de Geórgia Santos. Marcelo Nepomuceno e Igor Natusch participam do debate e Flávia Cunha traz a Palavra da Salvação. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
Desde que Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse, em primeiro de janeiro de 2023, muita coisa aconteceu. Já no dia da posse foi possível perceber a diferença do petista para o antecessor. Subindo a rampa, ao lado de Lula e do vice, Geraldo Alckmin, estavam representantes do povo brasileiro. Mais especificamente, de camadas mais agredidas pelas medidas de Jair Bolsonaro – ou falta delas. Também na posse, o prestígio do novo presidente era evidente pela fila das delegações estrangeiras, o que indicava, de fato, um novo tempo. Até o dólar caiu, apesar dos faniquitos do mercado.
Mas muita coisa aconteceu ao longo do mês. Primeiro, a história sendo feita com posses como as de Sonia Guajajara no Ministério dos Povos Indígenas e de Aniele Franco no Ministério da Igualdade Racial. Ou ainda mensagens fortes para setores negligenciados, como a posse da Marina Silva no Ministério Meio Ambiente ou de Nísia Trindade no Ministério da Saúde.
.
Aconteceu tanta coisa ao longo do mês de janeiro que teve até tentativa de Golpe de Estado
.
Depois disso tudo ainda houve intervenção federal em Brasília, golpistas e o ex-ministro Anderson Torres presos, e o bolsonarismo empenhado em dizer que os bolsonaristas golpistas não são bolsonaristas. Segundo eles, os apoiadores de Bolsonaro que passaram meses dizendo que fariam o que de fato fizeram não eram … apoiadores de Bolsonaro.
Muita coisa aconteceu em janeiro, e uma delas é que o rastro de destruição do governo anterior é cada vez mais evidente. Agora materializado na morte dos Yanonamis, que estão sendo dizimados por meio da fome causada pelo garimpo ilegal.
E, virando o mês, temos eleição para a presidência da Câmara e do Senado. A Câmara deve permanecer nas mãos de Artur Lira (PP-AL). Já o Senado é uma incógnita. Estão na disputa o atual presidente, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o bolsonarista Rogério Marinho (PL-RN). E tem também o glorioso senador Eduardo Girão (Podemos – CE), que só faz figuração. De todo modo, é o bolsonarismo se organizando – com sucesso – sem Bolsonaro, que continua nos Estados Unidos.
A apresentação é de Geórgia Santos. Participam Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
Bendita Sois Vós #73 Pelé, Lula e a história do Brasil
Geórgia Santos
7 de janeiro de 2023
Nesta semana, Pelé, Lula e a Historia do Brasil. Porque entre a última semana de 2022 e os primeiros dias de 2023, todo brasileiro vivo pôde ser testemunha da História.
No dia 29 de dezembro, recebemos a notícia da morte de Edson Arantes do Nascimento, o homem a quem coube ser Pelé. O maior e melhor jogador de futebol de todos os tempos, provavelmente a pessoa mais conhecida do mundo, partiu dizendo love, love, love.
A gente vai falar um pouco sobre o legado de Pelé e o apagamento que inclusive este homem negro sofreu em vida quando teve suas ideias escondidas, fazendo com que o brasileiro não enxergasse o Edson político. E vamos falar da despedida daquele que é sinônimo de Brasil mas que foi, no fundo, o Rei de todo o mundo.
.
Foram poucos os jogadores presentes no velório de Pelé, que ocorreu entre os dias dois e três, mas o povo esteve lá
.
O mesmo povo que passou a faixa presidencial a Luiz Inácio Lula da Silva no dia primeiro. Em um dia histórico do nosso país, Lula subiu a rampa ao lado da esposa, Janja; do vice, Geraldo Alckmin, que estava com a esposa Lu; e com representantes do povo brasileiro.
.
Em um discurso carregado de simbolismo, Lula deu início a um governo de reconstrução e prometeu olhar para este mesmo povo que lhe confiou o posto mais alto da República
.
E essa promessa, no que depender do time de ministros, não será vazia. Silvio Almeida, novo ministro dos Direitos Humanos, emocionou o país com um discurso que não poderia ser mais distante de tudo o que o antecessor representou ao longo de quatro anos.
O governo eleito em 2018 acabou. O ex-presidente fugiu. É hora de recomeçar e dar novos contornos à História do Brasil. Vamos em frente.
A apresentação é de Geórgia Santos. Participam Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
Durante a eleição de 2018, a gente começou a ouvir, da boca de um candidato à presidência da República, o impensável. No palanque, ameaçava fuzilar a oposição, em entrevistas, não escondia a homofobia, o machismo e ainda lançava mão de narrativas racistas. Elogiava ditadores e idolatrava torturadores diante de um microfone. Ele foi eleito. À época não sabíamos se apesar disso ou por causa disso.
.
O governo que se desenhou nos quatro anos seguintes refletiu todo o discurso autoritário e retrógrado da eleição
.
Foi uma administração que desmantelou a educação, a pesquisa e a ciência. Que acabou com a cultura a tal ponto que, em certo momento, colocou um homem que se prestou a fazer uma ode pública ao nazismo. Foi um governo que tinha uma ministra das mulheres que perseguiu uma criança de onze anos que havia sido abusada sexualmente e estava grávida. Foi um governo cujo ministro do Meio Ambiente quis aproveitar um momento de pânico para “passar a boiada” e flexibilizar a legislação ambiental. Foi um governo que, diante da pior pandemia dos últimos cem anos, deixou que 700 mil brasileiros morressem. Debochou da doença, debochou dos cuidados, debochou dos mortos, debochou da vacina.
Não há tempo ou espaço para um relato que contemple o horror dos quatro anos de Jair Bolsonaro no poder. Então basta dizer que foi um governo que nunca se preocupou com Deus, Pátria ou Família – aliás, um lema fascista. Foi um governo que tentou reescrever a história política e social do Brasil por meio do apagamento e da desumanização de quem não se parece com eles. Mas também é um governo derrotado.
Derrota, aliás, que trouxe à tona o fruto da semeadura golpista que já dura quase 1460 dias. Fruto mofado e estragado que de fato não caiu longe do pé e agora apodrece aos pés de uma árvore morta. Mas é um governo derrotado.
Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito ao lado de Geraldo Alckmin, algo impensável há alguns anos, e promete reconstruir o Brasil. Não sabemos como será, se será bem sucedido, mas sabemos que não será Bolsonaro e, mesmo parecendo ingênuo, isso basta. E agora, com o novo governo batendo à porta, emprestamos o mantra dos golpistas prostrados em frente aos quartéis e dizemos: só mais 72 horas.
A apresentação é de Geórgia Santos. Participam Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
Nesta semana, um novo governo começa a aparecer – enquanto um velho governo só faz chorar.
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá 37 ministérios. A nova estrutura será oficializada em medida provisória em 1º de janeiro de 2023, quando Lula e o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), tomarão posse. Uma das principais mudanças é o desmembramento do atual Ministério da Economia em outros quatro: Fazenda, Indústria e Comércio Exterior, Planejamento e Gestão. Além da criação de pastas novas, como dos Povos Originários, e a recriação de outros ministérios extintos por Bolsonaro, como o Ministério da Cultura e o das Cidades.
O presidente eleito Lula começou a anunciar os nomes para os ministérios no dia 9 de dezembro. Os primeiros confirmados foram o ex-ministro e ex-prefeito Fernando Haddad, para a Fazenda; o governador da Bahia Rui Costa na Casa Civil; o ex-governador do Maranhão e senador eleito Flávio Dino para o Ministério da Justiça e Segurança Pública; o ex-ministro José Múcio Monteiro na Defesa; e o diplomata Mauro Vieira para Relações Exteriores.
A apresentação é de Geórgia Santos. Participam Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.