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Bendita Sois Vós #81 Os patriotas que não gostam do Brasil

Geórgia Santos
30 de novembro de 2022

Nesta semana, a gente vai falar dos patriotas que odeiam o Brasil. Porque no álbum de figurinhas dos defensores da pátria, é possível encontrar de tudo um pouco, menos alguém que goste do nosso país.

A Copa do Mundo está on fire, o Pombo tá com tudo e o Brasilzão já está classificado para as oitavas de final. Mas contrariando a história do país do futebol, há um grupo de brasileiros que resolveu boicotar a Seleção. Não, não é o povo que tava usando camiseta vermelha há um mês, é justamente o grupo que sequestrou a Amarelinha.

Os patriotas que estão acampados em frente aos quartéis se recusam a assistir aos jogos da Seleção, boicotam o time do Brasil e já até orientam a não usar mais o manto amarelo ouro – que neste ano não é ouro, é um amarelo frio que eu, particularmente, amei. Pois é, os patriotas estão boicotando a Seleção nacional.

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Mas não é só isso, olhando bem, já reparou que eles detestam o Brasil?

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A apresentação é de Geórgia Santos. Participam Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.

Vós Pessoas no Plural · Bendita Sois Vós #81 Os patriotas que não gostam do Brasil
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BSV Especial Coronavírus #61 Tudo é político, até o futebol

Geórgia Santos
9 de junho de 2021

Nesta semana, a gente fala de futebol, porque tudo é político, de Copa América, CPI da Covid e eleições no Peru.

Após disputas internas na CBF, está confirmada a realização da Copa América no Basil. Jogadores levantaram a voz, o técnico foi ameaçado e o presidente da CBF, Rogério Caboclo, ofereceu a cabeça de Tite ao presidente Jair Bolsonaro. O vice, General Hamilton Mourão, também meteu o bedelho. Mas nada disso aconteceu. Caboclo foi afastado por uma denúncia de assédio, mas foi o posicionamento dos jogadores que o derrubou.

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Não são jogadores revolucionários, longe disso, mas se posicionaram
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O governo federal também se posicionou, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que é um evento pequeno e que não oferece risco ADICIONAL.  Ele disse isso em novo depoimento à CPI da Covid. Enquanto isso, Bolsonaro continua mentindo a respeito da COVID, dizendo que não morreu tanta gente assim e usando dados falsamente atribuídos ao Tribunal de Contas da União. O TCU desmentiu a lorota em seguida e o presidente precisou admitir o engodo.

E ainda, as eleições no Peru. A legítima filhote de ditador, Keiko Fujimoi, foi derrotada por Pedro Castillo.

Participam os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no SpotifyItunes e Castbox

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Geórgia Santos

Vamos aproveitar a Copa com leveza

Geórgia Santos
2 de julho de 2018

Por que eu gosto tanto da Copa? A verdade é que eu não sei. Responder que eu gosto de futebol não é suficiente, porque eu não fico assistindo a Champions League, por exemplo, com exceção das finais e olhe lá. Aliás, não assisto muita coisa além dos jogos do Grêmio. Não sei porque gosto tanto da Copa. Mas gosto muito. E aproveito muito.

A primeira Copa de que tenho lembrança é a de 1994. Eu criança, lembro bem dos braços do Bebeto indo de um lado para outro a cada comemoração de gol, balançando aquele nenê invisível mas que todos víamos; está gravado na minha memória o rabinho estranho no cabelo  de Roberto Baggio; quem não recorda do “Vai que é sua, Taffarel!”, e daquela roupa escandalosa do goleiro? Também não preciso do Youtube para lembrar do Galvão pulando, com Pelé pendurado no pescoço, enquanto gritava “Cabô! Acabou! É Tetra! É Tetra!”. Lembro dos meus pais, geralmente discretos, pulando e celebrando e chorando. Não só eles, mas a família inteira. Os adultos pareciam entorpecidos – provavelmente estavam, eu é que não conhecia os efeitos do álcool. Mas não era só o álcool.

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Levei 20 anos para perceber aquela celebração de 94 não era como qualquer outra, mas era o desabafo de um jejum de mais de duas décadas

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Mas foi a Copa do Mundo de 1998 que me marcou. Até a final de 98, tudo o que eu conhecia em Copas era vitória. Brasil era tetra, como o Galvão não nos deixava esquecer. Nós éramos os últimos campeões do mundo, os únicos a vencer o torneio por quatro vezes. Nós éramos o Brasil. Eu não sabia o que era perder até 12 de julho de 1998.

Há 20 anos, eu pedi pra o meu pai o “V” da vitória, o xodó dos torcedores brasileiros. Era uma espécie de luva em látex para os dedos indicador e do meio, o famoso pai de todos. Era muito legal. Não ganhei, meu pai comprou um genérico, de pano, na loja de R$1.99, que era uma novidade. Ficava caindo da minha mão, porque era enorme, mas eu adorava. Pedi uma camisa da seleção, não levei. Minha mãe tinha ganho uma camiseta do Guga falsificada, igual a que ele usava em Roland-Garros, mas era horrível.  Nem aí, usei sempre. Pintei a cara com tinta guache, que secava e craquelava; enrolava o corpo em uma bandeira mal pintada; amarrava uma bandana, também no Guga, na cabeça e era só alegria. Tudo estava bem. Tinha até me conformado com a ausência do Romário.

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Aí apareceu o Zidane e eu descobri o que era perder na Copa

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Eu chorei, chorei muito. Meus pais me abraçavam, com dó. Tenho quase certeza que achavam quase divertido, embora minha cara fosse de cortar o coração. Havia uma obra nos fundos da casa e foi lá que me refugiei, aos prantos, sentada entre os tijolos. Era um pouco de drama, sim, muito antes de Neymar, mas eu estava profundamente triste. Eu não conseguia entender como o todo poderoso Brasil estava naquela situação. Como não ganhamos? Nós não ganhamos sempre? Aos dez anos, era complicado entender o tempo, não sabia o que eram 24 anos, não conseguia assimilar a dimensão daquele hiato.  

Desde aquela Copa da França, ganhamos o penta em 2002 e é isso. Em 2006, a seleção dos sonhos foi parada pela França (de novo) nas quartas de final. Em 2010 eu não sei o que aconteceu, é uma Copa que foi completamente apagada da minha memória. Já a de 2014 eu adoraria esquecer, apagar dos meus neurônios  a lembrança dolorosa do famigerado 7 a 1. E agora estamos aqui, em 2018. Estamos há 16 anos sem ganhar e eu, finalmente, compreendo a dormência do jejum de mais de uma década. 

Bah, mas como eu gosto da Copa do Mundo. Não sei porque gosto tanto da Copa. Mas gosto muito. E aproveito muito. É um momento para exorcizar demônios; para torcer;  se apaixonar;  gritar; abraçar; beijar; curtir; sorrir; cantar. É um momento para encarnar o espírito do canarinho pistola, o melhor mascote de todos os tempos; para esquecer do trabalho; esquecer dos problemas; esquecer da política; esquecer da dor.

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Vamos aproveitar a Copa com leveza. É uma válvula de escape com prazo de validade e ele já está chegando

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Não percam tempo reclamando do nosso melhor jogador, falando de alienação, xingando a geração belga, dizendo que os uruguaios são melhores que a gente, que o Messi não joga nada, que a posse de bola matou o futebol, que o Tite é chato. Aproveitem a Copa com leveza. Já nos tiraram tanto, não vamos deixar que nos tirem o prazer de torcer.

Foto de capa: Joosep Martinson – FIFA/FIFA via Getty Images

 

Geórgia Santos

A Copa do Mundo e a perspectiva das coisas

Geórgia Santos
27 de junho de 2018

Talvez a gente dê muita importância à Copa do Mundo. Não sei mensurar o valor adequado a se dispensar a esse tipo de evento.

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Para poucos, não significa absolutamente nada;

Para alguns, redenção;

Para tantos, é desafogo;

Para outros, paixão;

Para muitos, apenas entretenimento;

Para quem gosta muito de futebol, é tudo isso junto;

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Eu gosto muito de futebol. Eu adoro assistir à Copa do Mundo. Eu adoro ver o Brasil em campo. Eu adoro ver a seleção canarinho erguer a taça – estou com saudades, inclusive. Azar. Eu adoro assistir ao efeito que esse torneio causa nas pessoas.

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Especialmente porque tudo é uma questão de perspectiva

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Se, para um brasileiro pentacampeão, erguer a taça é um dever. Para um panamenho, a vitória é outra. É a primeira vez que o Panamá participa da Copa do Mundo e o seu torcedor soube aproveitar a honra como poucos. Tanto é assim que, no jogo contra a Inglaterra, o gol do zagueiro Baloy foi celebrado como se já não tivesse levado seis gols do adversário. O pé direito de Felipe Baloy foi a redenção do estreantes, que comemoraram o gol como se fosse um título.

Photo by Maja Hitij – FIFA/FIFA via Getty Images)

Baloy chorou, foi abraçado pelos companheiros, abraçado pela torcida, abraçado pela família e entrou para a história como o estreante mais velho a marcar em Copas – 37 anos e 120 dias.

Algo parecido aconteceu com o Peru, de volta à Copa depois de 36 anos. Já eliminado, venceu a Austrália por 2 a 0. O último gol dos peruanos em um Mundia foi marcado em 1982, na Espanha. A última vitória aconteceu quatro anos antes, na Argentina. Foi somente agora, em 2018, na Rússia, que o desafogo chegou nos pés de Carrillo e Guerrero.

E além da redenção e desafogo dos panamenhos e peruanos, temos a paixão dos argentinos, que comoveu até mesmo os maiores rivais; a alegria dos senegaleses; o contentamento dos islandeses; a esperança dos iranianos; o desolamento dos alemães; o conforto dos sul-coreanos; o temor dos mexicanos; o susto dos portugueses; a fé dos nigerianos; a tranquilidade dos belgas; a surpresa dos croatas; e a lista segue.

Mas daqui a pouco tem Brasil e, de minha parte, Brasil em campo é tudo isso junto. É uma questão de perspectiva.

(Photo by Jamie Squire – FIFA/FIFA via Getty Images)