Voos Literários

O melhor e o pior da Copa e suas inspirações literárias

Flávia Cunha
17 de julho de 2018

Canarinho Pistola – Virou meme, ganhou destaque nos noticiários e o resultado desastroso do Brasil em campo em nada abalou o amor dos internautas ao mascote do Brasil.

Livro pistola em homenagem ao CanarinhoA Raiva, de Blandina Franco e José Carlos Lollo. Obra, ganhadora do prêmio Jabuti de 2015, é originalmente destinada ao público infantojuvenil. Mas pessoas de todas as idades precisam saber como lidar com esse sentimento tão intenso. Pra completar, a obra aborda o assunto com humor (tudo a ver com o Canarinho) e ilustrações bem bonitas.

Mick Jagger e seu pé frio – A má fama como torcedor ronda o vocalista dos Rolling Stones desde a Copa de 2014. Mas depois da Inglaterra ser eliminada com a sua presença no estádio na Rússia, a Internet não perdoou. Seu filho brasileiro bem que tentou defendê-lo, mas se tem algo que não adianta é tentar lutar contra esse tipo de brincadeira virtual. E, vamos combinar que nesse caso, é algo que não parece maldoso.

Livro em homenagem a Mick Jagger – Um roqueiro com tanto tempo de atividade já ganhou várias biografias, assim como os Stones. Mick a vida louca e o gênio selvagem de Jagger, do jornalista norte-americano Christopher Andersen, é uma obra que agradará quem gosta de saber detalhes pessoais de seus ídolos.

Neymar, Cristiano Ronaldo e o limite da vaidade – Tem quem defenda o menino Neymar e sua preocupação excessiva com a autoimagem, usando como justificativa o fato de Cristiano Ronaldo ser igual (ou ainda mais narcisista). O problema em questão é que, mesmo com salário astronômico e dois cabeleireiros o acompanhando durante a Copa, Neymar não obteve o resultado esperado em campo.  

Sugestão de leitura sobre a vaidade – O clássico O Retrato de Dorian Grey, de Oscar Wilde. O enredo mostra o protagonista em situações que o levam a ser cada vez mais arrogante e egocêntrico. Mas não espere um livro moralista, porque, afinal, trata-se de Oscar Wilde, um gênio rebelde das Artes.

Protesto feminista em plena Copa – Em uma competição masculina, uma manifestação feita por mulheres chamou a atenção. O grupo Pussy Riot invadiu o campo na final da competição para protestar contra o governo russo e a falta de liberdade no país.

Manifestação tem a ver com literatura – O ato foi organizado em homenagem a Dmitri Prigov, poeta dissidente da União Soviética, que morreu há 11 anos justamente nessa data (15 de julho). O escritor retratava em seus textos o “Policial”, uma representação da ditadura do Estado soviético.

A França vencedora e a necessária reflexão sobre xenofobia e racismo – O bicampeonato da seleção francesa na Copa suscitou debates que vão muito além das análises desportivas. A vitória deveu-se à atuação de um time formado em grande parte por imigrantes ou descendentes de africanos. O que chama mais atenção é o fato de a maioria dos franceses ser abertamente contra à presença de pessoas de outras nacionalidades em seu país, seja em campo ou fora dele. O comportamento preconceituoso está infelizmente presente em diversos países europeus, nos Estados Unidos e também no Brasil.

Duas obras para saber mais sobre o assunto e poder debater em alto nível com preconceituosos  de plantão:

Direitos Humanos e Hospitalidade – A proteção internacional para apátridas e refugiados, de Gustavo Oliveira de Lima Pereira

A obra analisa, a partir do viés do Direito Internacional, a questão dos direitos humanos e discute, com profundidade, conceitos como cidadania, soberania, democracia e tolerância. Um assunto pertinente em um mundo com cerca de 47 milhões de refugiados e outros 12 milhões de pessoas sem cidadania.

Direitos Humanos e Xenofobia: Violência internacional no contexto dos imigrantes e refugiados, organização de Cristiane Feldmann Dutra e Gustavo de Lima Pereira

Uma coletânea de artigos para entender e poder questionar a inutilidade das atuais as políticas migratórias restritivas. Medidas que dificultam a permanência regular de imigrantes em um determinado país mas não restringem a entrada dessas pessoas, criando, assim, um negócio lucrativo e ilegal, para os coiotes e agentes corruptos dos governos. Uma obra de resistência feita por quem realmente entende do assunto.

Livros sobre xenofobia e direitos humanos sugeridos pela socióloga e doutoranda  em Sociologia Aline Passuelo de Oliveira, especialista em sociologia das migrações, deslocamentos populacionais forçados, refugiados, conflitos armados e os impactos nas populações locais.

Voos Literários

Batalha literária . Inglaterra x Colômbia

Flávia Cunha
3 de julho de 2018

Inspirada pelas oitavas de final da Copa do Mundo, proponho uma espécie de super trunfo de livros dos países classificados . E este é o último duelo, afinal, as quartas já começam na próxima sexta-feira. Para a escolha das obras, criei o seguinte critério: escritores contemporâneos e ainda em atividade. E neste final, dois países famosos pelos prodigiosos escritores e escritoras.

Representante da Colômbia . Andrea Cote, 37 anos

Minibiografia . Professora universitária, fotógrafa e ensaísta, Andrea lançou seu primeiro livro de poesias em 2003. Logo obteve reconhecimento, com premiações e traduções de suas obras para outros idiomas, algo difícil de ocorrer com quem escreve poemas. De acordo com especialistas, sua escrita tem elementos que assinalam a urgência de seus fantasmas pessoais e a necessidade de transformar a experiência em palavra.

Livro escolhido para essa batalha . Puerto Calcinado, ainda sem tradução para o português

Motivo da escolha . É difícil a gente dissociar a literatura colombiana de García Márquez e seu realismo fantástico. Por isso mesmo, a intenção foi destacar um estilo literário completamente diverso do de Gabo. A poesia de Andrea Cote é forte e envolvente, com uma sonoridade que atrai os leitores que gostam de ler poemas em voz.

Bônus:  

Puerto quebrado

Si supieras que afuera de la casa,

atado a la orilla del puerto quebrado

hay un río quemante

como las aceras.

Que cuando toca la tierra

es como un desierto al derrumbarse

y trae hierba encendida

para  que ascienda por las paredes,

aunque te des a creer

que el muro perturbado por las enredaderas

es milagro de la humedad

y no de la ceniza del agua.

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Representante da Inglaterra . Zadie Smith, 42 anos

Minibiografia . Nascida em um distrito de Londres, é descendente de ingleses e jamaicanos. Formada em Literatura Inglesa pela Universidade de Cambridge. Lançou seu primeiro romance com 24 anos. Dentes Brancos obteve sucesso imediato. A fama repentina provocou um bloqueio criativo na escritora, que conseguiu vencer o problema algum tempo depois.

Livro escolhido para essa batalha . O caçador de autógrafos, de 2002 (o primeiro depois do bloqueio criativo)

Motivo da escolha . A trajetória do caçador de autógrafos é narrada com maestria por Zadie Smith. Como pano de fundo, a globalização e a miscigenação presente na Europa do século XXI. O protagonista, por exemplo, é filho de uma mãe judia e de um chinês convertido ao judaísmo. A cultura de massa e a supervalorização das celebridades também é um dos temas desse romance.

Bônus . “Como os filmes de Woody Allen, este livro é uma grande piada judaica: a busca do amor e o medo da morte são tratados com muito humor e ironia.” – The Sunday Telegraph

Voos Literários

Batalha Literária . Suécia x Suíça

Flávia Cunha
3 de julho de 2018

Inspirada pelas oitavas de final da Copa do Mundo, proponho uma espécie de super trunfo de livros dos países classificados. Essa fase da competição está chegando ao fim, mas a gente segue por aqui. Para a escolha das obras, criei o seguinte critério: escritores contemporâneos e ainda em atividade. Na primeira batalha de hoje, temos o que o público do futebol gosta de chamar de clássico do IDH.

Representante da Suécia . Camilla  Läckberg, 43 anos

Minibiografia . Licenciada em Economia, atuou na área até resolver fazer um curso de escrita criativa e lançar romances policiais. Foi muito bem-sucedida em sua mudança de carreira e foi considerada a escritora sueca do ano em 2004 e 2005. Seus livros foram traduzidos para 35 idiomas e vendidos em 50 países.

Livro .  A Princesa de Gelo, de 2003, lançado no Brasil em 2010

Motivo da escolha . Romances policiais fazem um sucesso enorme nos países nórdicos europeus, mesmo com índices de criminalidade baixíssimos. Para quem gosta do gênero, a obra vale a pena. O enredo mostra a escritora Erica Falck que retorna à sua cidade natal e acaba envolvendo-se na investigação da morte de uma amiga de infância, um suposto suicídio.

Bônus . A escritora é conhecida como a Rainha Europeia do Crime, sendo considerada a nova Agatha Christie. O livro A Princesa de Gelo foi adaptado para a televisão sueca. A obra integra uma série de diversos em que a escritora é a protagonista.

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Representante da Suíça . Joël Dicker, 33 anos

Minibiografia . Formado em Direito pela Universidade de Genebra, o escritor lançou seu primeiro livro aos 25 anos. Logo alcançou a fama mundial, chegando a ultrapassar nomes como Dan Brown na lista dos mais vendidos. O autor escreve em francês e, por isso, já recebeu alguns prêmios representativos da área nesse país europeu.

Livro . A verdade sobre o caso Harry Quebert, de 2012

Motivo da escolha . O livro é um fenômeno editorial e seu enredo chegou a ser comparado a obras de Truman Capote. O livro é um romance policial e uma história de amor, também misturando ao texto relatórios policiais e trechos de entrevistas. A obra é considerada uma grande crítica aos Estados Unidos.

Bônus . O autor esteve na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), em 2014. Aqui no Brasil, A verdade sobre o caso Harry Quebert recebeu algumas críticas negativas, como uma publicada na revista Veja. Toda a unanimidade é burra, como diria Nelson Rodrigues. Então, o mais adequado é ler as mais de 500 páginas desse romance e, depois disso, termos nosso próprio veredito.

Geórgia Santos

Vamos aproveitar a Copa com leveza

Geórgia Santos
2 de julho de 2018

Por que eu gosto tanto da Copa? A verdade é que eu não sei. Responder que eu gosto de futebol não é suficiente, porque eu não fico assistindo a Champions League, por exemplo, com exceção das finais e olhe lá. Aliás, não assisto muita coisa além dos jogos do Grêmio. Não sei porque gosto tanto da Copa. Mas gosto muito. E aproveito muito.

A primeira Copa de que tenho lembrança é a de 1994. Eu criança, lembro bem dos braços do Bebeto indo de um lado para outro a cada comemoração de gol, balançando aquele nenê invisível mas que todos víamos; está gravado na minha memória o rabinho estranho no cabelo  de Roberto Baggio; quem não recorda do “Vai que é sua, Taffarel!”, e daquela roupa escandalosa do goleiro? Também não preciso do Youtube para lembrar do Galvão pulando, com Pelé pendurado no pescoço, enquanto gritava “Cabô! Acabou! É Tetra! É Tetra!”. Lembro dos meus pais, geralmente discretos, pulando e celebrando e chorando. Não só eles, mas a família inteira. Os adultos pareciam entorpecidos – provavelmente estavam, eu é que não conhecia os efeitos do álcool. Mas não era só o álcool.

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Levei 20 anos para perceber aquela celebração de 94 não era como qualquer outra, mas era o desabafo de um jejum de mais de duas décadas

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Mas foi a Copa do Mundo de 1998 que me marcou. Até a final de 98, tudo o que eu conhecia em Copas era vitória. Brasil era tetra, como o Galvão não nos deixava esquecer. Nós éramos os últimos campeões do mundo, os únicos a vencer o torneio por quatro vezes. Nós éramos o Brasil. Eu não sabia o que era perder até 12 de julho de 1998.

Há 20 anos, eu pedi pra o meu pai o “V” da vitória, o xodó dos torcedores brasileiros. Era uma espécie de luva em látex para os dedos indicador e do meio, o famoso pai de todos. Era muito legal. Não ganhei, meu pai comprou um genérico, de pano, na loja de R$1.99, que era uma novidade. Ficava caindo da minha mão, porque era enorme, mas eu adorava. Pedi uma camisa da seleção, não levei. Minha mãe tinha ganho uma camiseta do Guga falsificada, igual a que ele usava em Roland-Garros, mas era horrível.  Nem aí, usei sempre. Pintei a cara com tinta guache, que secava e craquelava; enrolava o corpo em uma bandeira mal pintada; amarrava uma bandana, também no Guga, na cabeça e era só alegria. Tudo estava bem. Tinha até me conformado com a ausência do Romário.

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Aí apareceu o Zidane e eu descobri o que era perder na Copa

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Eu chorei, chorei muito. Meus pais me abraçavam, com dó. Tenho quase certeza que achavam quase divertido, embora minha cara fosse de cortar o coração. Havia uma obra nos fundos da casa e foi lá que me refugiei, aos prantos, sentada entre os tijolos. Era um pouco de drama, sim, muito antes de Neymar, mas eu estava profundamente triste. Eu não conseguia entender como o todo poderoso Brasil estava naquela situação. Como não ganhamos? Nós não ganhamos sempre? Aos dez anos, era complicado entender o tempo, não sabia o que eram 24 anos, não conseguia assimilar a dimensão daquele hiato.  

Desde aquela Copa da França, ganhamos o penta em 2002 e é isso. Em 2006, a seleção dos sonhos foi parada pela França (de novo) nas quartas de final. Em 2010 eu não sei o que aconteceu, é uma Copa que foi completamente apagada da minha memória. Já a de 2014 eu adoraria esquecer, apagar dos meus neurônios  a lembrança dolorosa do famigerado 7 a 1. E agora estamos aqui, em 2018. Estamos há 16 anos sem ganhar e eu, finalmente, compreendo a dormência do jejum de mais de uma década. 

Bah, mas como eu gosto da Copa do Mundo. Não sei porque gosto tanto da Copa. Mas gosto muito. E aproveito muito. É um momento para exorcizar demônios; para torcer;  se apaixonar;  gritar; abraçar; beijar; curtir; sorrir; cantar. É um momento para encarnar o espírito do canarinho pistola, o melhor mascote de todos os tempos; para esquecer do trabalho; esquecer dos problemas; esquecer da política; esquecer da dor.

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Vamos aproveitar a Copa com leveza. É uma válvula de escape com prazo de validade e ele já está chegando

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Não percam tempo reclamando do nosso melhor jogador, falando de alienação, xingando a geração belga, dizendo que os uruguaios são melhores que a gente, que o Messi não joga nada, que a posse de bola matou o futebol, que o Tite é chato. Aproveitem a Copa com leveza. Já nos tiraram tanto, não vamos deixar que nos tirem o prazer de torcer.

Foto de capa: Joosep Martinson – FIFA/FIFA via Getty Images

 

Voos Literários

Batalha literária . Bélgica x Japão

Flávia Cunha
2 de julho de 2018

Dando continuidade aos embates literários, escolhi autores bem diferentes entre si. Inspirada pelas oitavas de final da Copa do Mundo, proponho uma espécie de super trunfo de livros dos países classificados nessa fase da competição. Para a escolha das obras, criei o seguinte critério: escritores contemporâneos e ainda em atividade. Um teve sua obra reconhecida pelo maior prêmio literário mundial, e, o outro, é aclamado por fãs da cultura pop.

Representante da Bélgica, Hermann Huppen, 79 anos

Minibiografia . Veterano criador de HQs, tem uma legião de fãs ao redor do mundo. Começou a carreira como desenhista e logo decidiu também escrever o argumento de suas histórias. Teve como inspiração o belga Hergé (1907-1983), criador do personagem Tintim.

Livro escolhido para essa batalha . Caatinga, lançado mundialmente na década de 1990.

Motivo da escolha . Uma história em quadrinhos lançada na Bélgica tendo o cangaço como ponto de partida é, no mínimo, motivo para curiosidade. O enredo se passa na década de 1930, no Nordeste brasileiro. Dois irmãos tentam vingar a morte do pai, assassinado por um rico fazendeiro da região. Perseguidos pelos capangas do latifundiário, eles são resgatados por cangaceiros, foras-da-lei que escondem-se no sertão.

Bônus . A obra foi premiada, inclusive no Brasil. Por aqui, o livro foi lançado pela Editora Globo e está esgotado. Mas é possível encontrá-la em sebos online.

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Representante do Japão, Kazuo Ishiguro, 63 anos

Minibiografia . O escritor ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 2017. Japonês radicado em território britânico desde a infância, recebeu influência das duas culturas. Depois de ter o sonho de ser músico frustrado, resolveu dedicar-se à literatura. Seu plano de ter reconhecimento mundial deu certo e sua obra já foi traduzida para 28 idiomas.

Livro escolhido para essa batalha . O Gigante Enterrado, de 2015

Motivo da escolha . É uma mistura interessante de melancolia e magia, em um tom onírico. O épico inspira-se na lenda do rei Arthur, que influencia diretamente a cultura britânica. O enredo também tem dragões, monstros e seres mágicos, o que pode agradar a quem gosta de obras no estilo de Game of Thrones e O Senhor dos Aneis.

Bônus . O clima soturno já fica claro ao leitor no capítulo de abertura da obra:

“Uma névoa gelada pairava sobre rios e pântanos, muito útil aos ogros que ainda eram nativos daquela terra. As pessoas que moravam ali perto — e pode-se imaginar o grau de desespero que as teria levado a se estabelecer num lugar tão soturno — teriam razão de sobra para temer essas criaturas, cuja respiração ofegante se fazia ouvir muito antes de seus corpos deformados emergirem da neblina.”

Voos Literários

Batalha literária . Brasil x México

Flávia Cunha
2 de julho de 2018

Passo longe do ufanismo de achar os brasileiros melhores em tudo apenas pela nacionalidade. Por isso, acho difícil saber quem ganharia a batalha literária Brasil e México. Inspirada pelas oitavas de final da Copa do Mundo, proponho uma espécie de super trunfo de livros dos países classificados nessa fase da competição. Para a escolha das obras, criei o seguinte critério: escritores contemporâneos e ainda em atividade. As duas competidoras são de peso e com trajetórias relevantes fora de suas obras. 

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Represente do Brasil . Clara Averbuck, 39 anos

Minibiografia: Gaúcha radicada em São Paulo há alguns anos, Clara foi da primeira geração de escritores a perceberem a Internet como um canal de divulgação para textos literários. A escritora tem uma legião de fãs em suas redes sociais e assumiu publicamente uma batalha a favor do feminismo e das causas LGBT. Não esconde seu posicionamento político de esquerda e mesmo assim tem espaço para escrever colunas remuneradas em veículos da grande mídia.

Livro escolhido para essa batalha: Máquina de Pinball, seu primeiro romance publicado, em 2002

Motivo da escolha: O enredo é corajoso ao mostrar uma protagonista feminina com uma postura junkie, inconsequente e totalmente livre do ponto de vista sexual. A personagem Camila está longe de ser uma heroína e isso é absolutamente libertador para quem acha que livros escritos por mulheres precisam ser necessariamente sensíveis e delicados.

Bônus: O livro virou peça de teatro. Também foi adaptado para o cinema, com o título de Nome Próprio. A escritora não gostou do resultado do filme. Ainda assim, considero que vale a pena conferir o longa-metragem.

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Representante do México . Laura Esquivel, 67 anos

Minibiografia . Professora por formação,  em determinado momento de sua vida acabou escrevendo roteiros para televisão e cinema. A ideia de um roteiro virou um romance, que deu início a uma carreira literária de sucesso. Já consagrada como escritora, elegeu-se deputada em 2015, pelo Movimento de Regeneração Nacional, partido de esquerda

Livro escolhido para essa batalha . Como Água para Chocolate, seu romance de estreia, lançado em 1989

Motivo da escolha . O livro traz uma curiosa combinação de gastronomia e amor, sem cair em clichês. As metáforas culinárias são o ponto alto do livro, assim como a dicotomia entre a tradição mexicana e o desejo de rompê-las. O que poderia ser apenas mais uma história de amor proibido, vai muito além disso.

Bônus . O livro foi adaptado para o cinema em 1992, É considerado um dos 100 melhores filmes mexicanos de todos os tempos e recebeu diversos prêmios. Como Água para Chocolate ganhou uma sequência literária em 2016, chamada O Diário de Tita. Laura Esquivel na época desse lançamento anunciou que o enredo se encerraria como uma trilogia, então resta esperar pelo fim dessa história.

Voos Literários

Batalha literária . Croácia x Dinamarca

Flávia Cunha
1 de julho de 2018

Nesse domingo de Copa do Mundo, vamos à segunda  batalha literária. Inspirada pelas oitavas de final, proponho uma espécie de super trunfo de livros dos países classificados nessa fase da competição. Para a escolha das obras, criei o seguinte critério: escritores contemporâneos e ainda em atividade. 

Represente da Croácia . Dubravka Ugresic, 69 anos

Minibiografia . Professora de literatura russa, deixou a Croácia em 1993, após ser perseguida por suas críticas ao governo vigente no país na época. Foi tachada de “bruxa, puta e traidora” por seus posicionamentos políticos. Viveu durante um tempo em Berlim até ir morar definitivamente em Amsterdam.

Livro escolhido para essa batalha . O Museu da Rendição Incondicional, traduzido para a língua portuguesa em 2011.

Motivo da escolha . A obra retrata o período de exílio da escritora na Alemanha. O relato é considerado um dos mais relevantes livros lançados na Europa nas últimas décadas. 

Bônus . Em uma entrevista, a escritora comentou sobre a verdadeira caça às bruxas que enfrentou em seu país de origem. Ela avaliou que sempre existiu uma hostilidade contra mulheres intelectuais, escritoras e pensadoras e que esse sentimento ressurge mais fortemente em momentos mais críticos, como em crises políticas.  “Nessas situações, as mulheres são sempre as mais vulneráveis.”

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Represente da Dinamarca . Peter Hoeg, 61 anos

Minibiografia . Antes de dedicar-se à literatura, o escritor nascido em Copenhague teve diferentes ocupações. Foi marinheiro, dançarino e ator, além de praticar esgrima e montanhismo. Ter experiências tão variadas acabou servindo de combustível para contar histórias e essas vivências acabam aparecendo em seus livros.

Livro escolhido para essa batalha . Senhorita Smilla e o Sentido da Neve, lançado em 1992.

Motivo da escolha . Uma protagonista feminina forte em uma trama de suspense já é de chamar a atenção. Situado na Groenlândia, o enredo mostra um cotidiano completamente desconhecido para  a maior parte dos leitores brasileiros.

Bônus . O livro traz frases emblemáticas, como essa: ”Não há ser humano que não fique aliviado quando alguém o obriga a falar a verdade.” A obra ganhou uma adaptação para o cinema, em uma coprodução da dinamarquesa, sueca e alemã.

Voos Literários

Batalha Literária . Espanha x Rússia

Flávia Cunha
1 de julho de 2018

Hoje é domingo e é dia de futebol. E a gente tá nessa também é claro. Inspirada pelas oitavas de final da Copa do Mundo, proponho uma espécie de super trunfo de livros dos países classificados nessa fase da competição. Para a escolha das obras, criei o seguinte critério: escritores contemporâneos e ainda em atividade. Vamos às duas competidoras dessa batalha.

Represente da Espanha . María Dueñas, 54 anos

Minibiografia . A escritora espanhola era professora universitária especializada no estudo da língua inglesa até consagrar-se como uma romancista mundialmente famosa. Atualmente, suas obras já foram traduzidas para mais de 35 idiomas e é um dos destaques literários espanhóis da atualidade.

Livro escolhido para essa batalha . O Tempo entre Costuras, publicado em 2009.

Motivo da escolha: O livro retrata a guerra civil espanhola, ocorrida entre 1936 e 1939, sob a perspectiva feminina. A história da protagonista Sira Quiroga é entrelaçada com acontecimentos e histórias reais, o que dá mais força ao relato.

Bônus: O enredo do livro virou uma série em 2013, com figurinos e elenco que fazem jus à obra original. Para os interessados em conferir a adaptação, o seriado está disponível na Netflix.

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Representante da Rússia . Victor Pelevin, 55 anos

Minibiografia: O escritor é um dos autores russos contemporâneos com mais representatividade mundial desde o fim da União Soviética. Com inúmeros prêmios em sua trajetória literária, sua obra é reconhecida por mesclar a cultura pop com elementos de ficção científica.

Livro escolhido para essa batalha . A metralhadora de argila, lançado em 1996.

Motivo da escolha: Os delírios oníricos em que o protagonista da obra está imerso acaba sendo a base de uma reflexão sobre os dilemas russos enfrentados com o fim do regime soviético. No fim das contas, os questionamentos apresentados no enredo são universais e servem como ponto de partida para reflexões pessoais dos leitores.

Bônus: Os delírios do protagonista são intercalados por alucinações relatadas por outros personagens. “Nada existe de verdade, tudo depende daquele que olha”, é um das frases mais emblemáticas desse livro.

Voos Literários

Batalha literária da Copa . Uruguai x Portugal

Flávia Cunha
30 de junho de 2018

Na segunda batalha do Voos Literários, vamos a dois competidores com trajetórias bem distintas  – assim como Uruguai e Portugal em Copas do Mundo – mas que tem curiosas relações com suas respectivas nacionalidades. No gramado, o Uruguai levou a melhor em 2018. Mas como será no papel? Inspirada pelas oitavas de final da Copa do Mundo, proponho uma espécie de super trunfo de livros dos países classificados nessa fase da competição. Para a escolha das obras, criei o seguinte critério: escritores contemporâneos e ainda em atividade. Vamos às duas competidoras dessa batalha.

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Representante do Uruguai . Carmen Posadas, 64 anos

Minibiografia .  Começou sua carreira como escritora com livros infantojuvenis e consagrou-se na literatura adulta, tendo recebido diversos prêmios ao longo de sua trajetória.  Nascida em Montevideu, também tem cidadania espanhola, após muitos anos morando na Europa. Sua obra é apreciada por leitores de língua espanhola de diferentes países e já foi traduzida para 21 idiomas.

Livro escolhido para essa batalha . As Moscas Azuis, lançado em 1996

Motivo da escolha . É o primeiro romance dessa grande escritora. Além disso, tem um enredo bem interessante. O protagonista, um homem decidido a suicidar-se acaba envolvido na tentativa de resolver a trama de um assassinato.

Bônus . Carmen Posadas também é reconhecida como articulista, tendo ganho em 2017 o prêmio Rei da Espanha de Jornalismo pelo artigo Sonhar em Espanhol.

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Representante de Portugal, José Mario Silva, 46 anos

Minibiografia . Apesar de ter nascido em Paris, o escritor foi levado pelos pais com poucos meses de vida para morar em Portugal, onde segue residindo. Licenciado em Biologia, trabalha como jornalista desde 1993.  Publicou poesias e contos.

Livro escolhido para essa batalha . Efeito Borboleta e outras histórias, de 2010

Motivo da escolha . Ganhei um exemplar dessa obra durante uma aula do professor Luis Augusto Fischer, na UFRGS, em 2013, ano em que ele foi escolhido como patrono da Feira do Livro de Porto Alegre. Desde então, tem um lugar especial na minha biblioteca pessoal.

Bônus . Apenas os minicontos no fim do livro já valem a leitura. Entre eles, destaco meu preferido:

“Noções de geometria afectiva

Os triângulos amorosos nunca são equiláteros.”

Voos Literários

Batalha literária da Copa . França x Argentina

Flávia Cunha
30 de junho de 2018

Inspirada pelas oitavas de final da Copa do Mundo, proponho uma espécie de super trunfo de livros dos países classificados nessa fase da competição. Para a escolha das obras, criei o seguinte critério: escritores contemporâneos e ainda em atividade. Vamos às duas competidoras dessa batalha.

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Representante da França  .  Marie NDiaye, 51 anos

Minibiografia . Filha de uma francesa e de um senegalês, publicou seu primeiro livro em 1985. Tem uma vasta obra de livros adultos e alguns infantojuvenis. Também é dramaturga e foi uma das roteiristas do filme Minha Terra África, de 2010.

Livro escolhido para essa batalha  .  Três Mulheres Fortes, publicado em 2010

Motivo da escolha . Com esse título, não tem como não chamar a atenção de uma feminista. Mas a verdade é que retratar o sexo feminino sem pudores e em situações-limite é o ponto forte dessa obra.

Bônus . O livro foi vencedor do Prêmio Gouncourt em 2009, uma dos mais respeitados da França.

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Representante da Argentina  .  Samanta Schweblin, 40 anos

Minibiografia . Nascida em Buenos Aires, a escritora resgata o realismo fantástico na literatura argentina e é considerada sucessora de Julio Cortázar. Também integra listas dos escritores contemporâneos mais promissores em língua espanhola.

Livro escolhido para essa batalha . Pássaros na Boca, o primeiro da autora publicado no Brasil

Motivo da escolha . Apesar do peso da comparação com Cortázar pode ser uma maldição, os 18 contos da obra fazem jus à herança literária. Um mundo insólito repleto de estranhezas é o universo dessa obra. Para quem gosta de mergulhar na realidade paralela do realismo fantástico, é uma boa pedida.

Bônus . O livro é vencedor do prêmio Casa de Las Américas, o mais prestigiado em língua espanhola.