Voos Literários

O melhor e o pior da Copa e suas inspirações literárias

Flávia Cunha
17 de julho de 2018

Canarinho Pistola – Virou meme, ganhou destaque nos noticiários e o resultado desastroso do Brasil em campo em nada abalou o amor dos internautas ao mascote do Brasil.

Livro pistola em homenagem ao CanarinhoA Raiva, de Blandina Franco e José Carlos Lollo. Obra, ganhadora do prêmio Jabuti de 2015, é originalmente destinada ao público infantojuvenil. Mas pessoas de todas as idades precisam saber como lidar com esse sentimento tão intenso. Pra completar, a obra aborda o assunto com humor (tudo a ver com o Canarinho) e ilustrações bem bonitas.

Mick Jagger e seu pé frio – A má fama como torcedor ronda o vocalista dos Rolling Stones desde a Copa de 2014. Mas depois da Inglaterra ser eliminada com a sua presença no estádio na Rússia, a Internet não perdoou. Seu filho brasileiro bem que tentou defendê-lo, mas se tem algo que não adianta é tentar lutar contra esse tipo de brincadeira virtual. E, vamos combinar que nesse caso, é algo que não parece maldoso.

Livro em homenagem a Mick Jagger – Um roqueiro com tanto tempo de atividade já ganhou várias biografias, assim como os Stones. Mick a vida louca e o gênio selvagem de Jagger, do jornalista norte-americano Christopher Andersen, é uma obra que agradará quem gosta de saber detalhes pessoais de seus ídolos.

Neymar, Cristiano Ronaldo e o limite da vaidade – Tem quem defenda o menino Neymar e sua preocupação excessiva com a autoimagem, usando como justificativa o fato de Cristiano Ronaldo ser igual (ou ainda mais narcisista). O problema em questão é que, mesmo com salário astronômico e dois cabeleireiros o acompanhando durante a Copa, Neymar não obteve o resultado esperado em campo.  

Sugestão de leitura sobre a vaidade – O clássico O Retrato de Dorian Grey, de Oscar Wilde. O enredo mostra o protagonista em situações que o levam a ser cada vez mais arrogante e egocêntrico. Mas não espere um livro moralista, porque, afinal, trata-se de Oscar Wilde, um gênio rebelde das Artes.

Protesto feminista em plena Copa – Em uma competição masculina, uma manifestação feita por mulheres chamou a atenção. O grupo Pussy Riot invadiu o campo na final da competição para protestar contra o governo russo e a falta de liberdade no país.

Manifestação tem a ver com literatura – O ato foi organizado em homenagem a Dmitri Prigov, poeta dissidente da União Soviética, que morreu há 11 anos justamente nessa data (15 de julho). O escritor retratava em seus textos o “Policial”, uma representação da ditadura do Estado soviético.

A França vencedora e a necessária reflexão sobre xenofobia e racismo – O bicampeonato da seleção francesa na Copa suscitou debates que vão muito além das análises desportivas. A vitória deveu-se à atuação de um time formado em grande parte por imigrantes ou descendentes de africanos. O que chama mais atenção é o fato de a maioria dos franceses ser abertamente contra à presença de pessoas de outras nacionalidades em seu país, seja em campo ou fora dele. O comportamento preconceituoso está infelizmente presente em diversos países europeus, nos Estados Unidos e também no Brasil.

Duas obras para saber mais sobre o assunto e poder debater em alto nível com preconceituosos  de plantão:

Direitos Humanos e Hospitalidade – A proteção internacional para apátridas e refugiados, de Gustavo Oliveira de Lima Pereira

A obra analisa, a partir do viés do Direito Internacional, a questão dos direitos humanos e discute, com profundidade, conceitos como cidadania, soberania, democracia e tolerância. Um assunto pertinente em um mundo com cerca de 47 milhões de refugiados e outros 12 milhões de pessoas sem cidadania.

Direitos Humanos e Xenofobia: Violência internacional no contexto dos imigrantes e refugiados, organização de Cristiane Feldmann Dutra e Gustavo de Lima Pereira

Uma coletânea de artigos para entender e poder questionar a inutilidade das atuais as políticas migratórias restritivas. Medidas que dificultam a permanência regular de imigrantes em um determinado país mas não restringem a entrada dessas pessoas, criando, assim, um negócio lucrativo e ilegal, para os coiotes e agentes corruptos dos governos. Uma obra de resistência feita por quem realmente entende do assunto.

Livros sobre xenofobia e direitos humanos sugeridos pela socióloga e doutoranda  em Sociologia Aline Passuelo de Oliveira, especialista em sociologia das migrações, deslocamentos populacionais forçados, refugiados, conflitos armados e os impactos nas populações locais.

Voos Literários

Batalha literária da Copa . França x Argentina

Flávia Cunha
30 de junho de 2018

Inspirada pelas oitavas de final da Copa do Mundo, proponho uma espécie de super trunfo de livros dos países classificados nessa fase da competição. Para a escolha das obras, criei o seguinte critério: escritores contemporâneos e ainda em atividade. Vamos às duas competidoras dessa batalha.

.

Representante da França  .  Marie NDiaye, 51 anos

Minibiografia . Filha de uma francesa e de um senegalês, publicou seu primeiro livro em 1985. Tem uma vasta obra de livros adultos e alguns infantojuvenis. Também é dramaturga e foi uma das roteiristas do filme Minha Terra África, de 2010.

Livro escolhido para essa batalha  .  Três Mulheres Fortes, publicado em 2010

Motivo da escolha . Com esse título, não tem como não chamar a atenção de uma feminista. Mas a verdade é que retratar o sexo feminino sem pudores e em situações-limite é o ponto forte dessa obra.

Bônus . O livro foi vencedor do Prêmio Gouncourt em 2009, uma dos mais respeitados da França.

.

Representante da Argentina  .  Samanta Schweblin, 40 anos

Minibiografia . Nascida em Buenos Aires, a escritora resgata o realismo fantástico na literatura argentina e é considerada sucessora de Julio Cortázar. Também integra listas dos escritores contemporâneos mais promissores em língua espanhola.

Livro escolhido para essa batalha . Pássaros na Boca, o primeiro da autora publicado no Brasil

Motivo da escolha . Apesar do peso da comparação com Cortázar pode ser uma maldição, os 18 contos da obra fazem jus à herança literária. Um mundo insólito repleto de estranhezas é o universo dessa obra. Para quem gosta de mergulhar na realidade paralela do realismo fantástico, é uma boa pedida.

Bônus . O livro é vencedor do prêmio Casa de Las Américas, o mais prestigiado em língua espanhola.