A cada período de férias, crianças felizes, ansiosas pela diversão. Período de reorganizar. E os pais mães, o que fazem? E quem não tem o mesmo período de férias? Pelo menos em julho e no verão as famílias passam por isso. TODOS OS ANOS.
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Haja criatividade! Coloco aqui algumas dicas reunidas em blogs/sites que pensam em coisas para nos salvar!
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No Tempo Junto, tem muitas ideias simples e divertidas. Fizemos essa hoje mesmo, rendeu horas de diversão com as cobras de espuma. Na página The Dad Lab também há muitas inspirações. Desse, já separei essa aqui pra fazer semana que vem:
Quando a chantagem vira “ação de governo”, é o Brasil que fica na pior
Igor Natusch
27 de dezembro de 2017
Brasília - O ministro da Secretaria de Governo da Presidência, Carlos Marun, fala à imprensa, após reunião com o presidente Michel Temer, no Palácio do Planalto (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Houve um tempo em que a negociação de recursos financeiros em troca de apoio político era uma operação discreta, até certo ponto constrangida – um procedimento padrão, é claro, mas que a decência recomendava que fosse feito longe dos holofotes e com o mínimo de estardalhaço. Mas, como bem sabemos, Brasília transformou-se em um deserto de posturas decentes, e Carlos Marun (PMDB-MS) é uma das figuras melhor adaptadas para a sobrevivência nesse terreno. Constranger-se não é com ele, como a dancinha da vitória na vergonhosa recusa da denúncia contra Michel Temer serve para demonstrar. Não surpreende, então, que seja agora ministro da Secretaria de Governo, adaptado que é a um terreno onde a chantagem e o fisiologismo são as bases da sobrevivência política.
Alguns governadores abriram o bico, revoltados com a exigência de que garimpassem votos a favor da reforma da Previdência entre deputados de seus Estados em troca de empréstimos da Caixa Econômica Federal. Um deles, o sergipano Jackson Barreto, foi explícito, nomeando Marun como responsável pelo recado: verba dos contratos, só depois da reforma passar no Congresso.
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Diante da grave acusação, Marun não titubeou. Achou um modo curioso de rebater a denúncia de chantagem: seguir chantageando, mas dizer que não é chantagem, e sim um procedimento absolutamente normal
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“O governo espera dos governadores que têm recursos a serem liberados uma reciprocidade no que tange a questão da Previdência”, disse ele, com a expressão plácida de quem diz que vai tomar um cafezinho no boteco da esquina. Rebatizou a chantagem como “ação de governo”, usando um pouco sofisticado jogo de palavras para dar continuidade à chantagem publicamente, em uma entrevista para grandes veículos de comunicação.
A liberação de verbas da Caixa é, de fato, uma ação de governo. Afinal, é parte das tarefas que se espera da União a elaboração de um plano nacional de desenvolvimento, que delimita as obras para as quais Estados e municípios terão recursos federais na mão.
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O que não é “ação de governo” é condicionar a liberação da bufunfa a ganhos políticos
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Por muitos motivos, mas especialmente porque essa grana não é do governante da vez: é um fundo de investimento que pertence ao conjunto da sociedade brasileira, que o alimenta com impostos e contas de FGTS. Embora a prerrogativa de gerenciar esse montante seja do governo federal, o procedimento deve levar em conta acima de tudo o benefício dos investidores, não a meta política da vez, seja ela qual for. Ou seja, definir para onde vai esse dinheiro é uma das tarefas mais importantes da União, algo que deve obedecer metas de longo prazo e ter como norte absoluto o desenvolvimento do País.
Nada disso, é claro, surge na fala de Marun. Nela, ouve-se apenas o escambo baixo e explícito, um toma-lá-dá-cá tão desprovido de disfarces que talvez ganhasse um tom quase romântico, não fosse tão descaradamente contrário aos interesses e necessidades da nação. A coisa pública é moeda de troca, em nome de uma reforma que não se discute minimamente com a esfera pública – mas que é tão importante para o governo que justifica a chantagem aos governos estaduais, com direito a recado direto diante das câmeras e microfones. E note-se que o nobre ministro não fala em “governos estaduais”, mas sim em “governadores” – ou seja, um diálogo de indivíduos políticos em meio a uma disputa política, não de representantes eleitos de amplas fatias da população.
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É bem mais do que sintomático que a interlocução política do governo Temer esteja nas mãos desse senhor
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Afinal, só quem passou os últimos meses em Júpiter deixou de ver a falta de finesse com que se negociou a derrubada das duas denúncias contra o homem sentado no trono do Planalto – um descompromisso com a decência que continuará a ser útil enquanto mais uma reforma que jamais se discutiu em lugar algum estiver pendente. E, na medida em que o discurso perde o caráter de convencimento e se torna apenas pro forma (ou alguém acha que Temer queria mesmo convencer a população em seu pronunciamento de Natal, quando falou que está “mais barato para viver” no País?), os ratos ficam à vontade para mostrar o focinho, o ataque ao butim passa a prescindir dos salamaleques. Com a Era do Grande Acordo Nacional (mais a respeito disso em um futuro artigo) mais consolidada do que nunca, não há mais preocupação nem necessidade de disfarçar a chinelagem.
Ninho vazio. Não quero nem pensar nisso. Tá, ainda não é hora de pensar, meus filhos têm três e seis anos – mas bem pertinho de quatro e sete. Só um ano a mais, mas parece tanto! Às vezes em conversas hipotéticas sobre o futuro, conversamos sobre onde eles vão morar. O menor continua brincando e nem dá bola. O maior diz com veemência que nunca vai sair de casa, que não quer ficar longe.
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Eu sei que ele vai pro mundo. Mas ainda é bom pensar que não
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A dinda do menor fez aniversário mês passado. Somos muito amigos da família, então fizemos um almoço de comemoração na casa da mãe dela, que foi minha professora, virou orientadora, mãe, conselheira. O mais velho ficou realmente chateado, sem entender o porquê de ela não morar mais na mesma casa que os pais, já que eles são tão legais.
Íamos assim. Até que… semana passada estávamos no carro. A família toda. Esse foi um semestre puxado, de muito trabalho e muita correria, por isso eu comemorei o fato de estarmos juntos sem ter compromisso. Íamos só sair pra brincar. E o maior disse: eu amo fim de semana. Vou sempre ficar com vocês no fim de semana. Passou um tempo (três segundos) e ele:
“Na verdade, não vou conseguir passar todos. Porque vou ser inventor da Lego na Alemanha. Daí eu tenho que pegar um avião, ir lá, trabalhar um dia e falar com meu chefe ou minha chefe (coisa linda) pra ver se posso voltar e passar o fim de semana com vocês. Daí passo o fim de semana com vocês se eles deixarem.”
Isso aqui não é notícia! – ou, protestos na Argentina e nosso amor por fake news
Igor Natusch
20 de dezembro de 2017
Já comentei por aqui em tempos idos como a produção e disseminação de fake news é uma indústria, que nos oferece argumentos convenientes em troca do nosso engajamento e, é claro, de dinheiro. É um círculo vicioso extremamente nocivo para a discussão política e para toda a sociedade – e tivemos mais uma prova nos últimos dias, quando muita gente jurou de pés juntos que argentinos estavam gritando “isso aqui não é o Brasil!” durante os protestos contra a reforma previdenciária em curso naquele país.
Multidões identificadas com o pensamento progressista e contrário às medidas que vêm sendo adotadas por Michel Temer no Brasil acabaram disseminando a suposta informação. Eu mesmo, confesso, recém chegado de viagem e um tanto desligado do noticiário, cheguei a acreditar, durante algum tempo, que pudesse ser algo verdadeiro. Uma notícia que, como denunciado por usuários do Twitter e depois demonstrado pelo site E-farsas, não tem qualquer base identificável na realidade.
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Não existem registros em vídeo, relatos nos jornais locais, menções ao grito entre usuários argentinos de redes sociais, nada. Absolutamente nada
Se gritaram, não foi possível, pelo menos por enquanto, provar – e se não é possível provar, noticiar para quê?
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O primeiro a noticiar a suposta bomba por aqui foi o site Brasil 247 – não vou dar link porque né, trata-se de uma não-notícia e não merece ser disseminada. Mesmo não sendo um espaço “clássico” de fake news, o portal está (com todo o respeito) notoriamente distante de ser um veículo comprometido com apuração exaustiva ou com a credibilidade das informações que divulga. De onde terá tirado dados que corroborem o que divulga? Não se sabe, e pelo jeito não se saberá em momento algum.
Mesmo sendo altamente enviesado em sua cobertura, e mesmo sem apresentar qualquer evidência daquilo que afirmava em sua matéria, o Brasil 247 conseguiu atingir o coração e a imaginação de milhares de pessoas. Jogando não apenas com a insatisfação diante de reformas sem debate com a sociedade e que mudam (ou mudarão) drasticamente a vida da maioria da população, mas também com o sentimento de desamparo causado pela ausência de protestos nas principais cidades brasileiras. E tendo a publicação compartilhada, obtendo acessos, conquistando espaços de debate. Com uma informação que, repetindo, de informação mesmo não tem quase coisa alguma. Com uma matéria que, no mínimo, foi publicada antes de assar adequadamente no forno – se é que não foi para a mesa do leitor completamente crua, mesmo.
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Isso funciona, é claro, porque ninguém – absolutamente ninguém – está imune à tentação do viés de confirmação
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O questionamento incansável às falsas notícias do lado de lá não é o mesmo quando a manchete encaixa com nossos discursos, quando diz algo que nos é interessante que seja realidade. Não estavam compartilhando por aí que Bono Vox, o vocalista do U2 engajado com causas sociais, viria ao Brasil participar da mobilização de apoio a Lula no julgamento no TRF-4 – algo que a própria “fonte”, senador Roberto Requião, já deixou claro que era uma afirmação hipotética e não um anúncio? Requião mencionou o nome do músico, e isso basta. Que venham as manchetes e os memes!
Muito difícil ver boas perspectivas em um cenário onde a não-notícia só precisa ser agradável para ser tratada como verdade – ainda mais em um lugar como o Brasil, onde a importância da imprensa como salvaguarda democrática nunca chegou a se consolidar de fato. Estamos reféns de nós mesmos, de nossa vontade de ter proeminência em um debate transformado em gritaria de malucos, onde o principal valor é apenas determinar quem grita mais alto. Se a ignorância nos serve, assinamos contrato na hora, sem ler as letrinhas miúdas – e esse é o cenário de sonhos para quem, sem nenhum fato a seu favor, seguirá inventando pseudo-fatos para virar o jogo político na direção desejada. Uma falta de escrúpulos que não tem restrições ideológicas, como se vê.
Prendam a respiração, que 2018 vai ser um negócio daqueles.
Tiririca (PR-SP) resolveu se aposentar. Na última quarta-feira, ele usou o primeiro e último discurso na Câmara para anunciar que abandonaria a vida pública. O deputado federal disse estar com vergonha da política brasileira e decepcionado com os colegas. Pediu para que os parlamentares olhem pelo país.
“Eu jamais vou falar mal de vocês em qualquer canto que eu chegar e não vou falar tudo o que eu vi, tudo o que eu vivi aqui, mas eu seria hipócrita se saísse daqui e não falasse realmente que estou decepcionado com a politica brasileira, decepcionado com muitos de vocês. Eu ando de cabeça erguida porque não fiz nada de errado, mas acho que muitos dos senhores não têm essa coragem”, disse.
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E assim, de repente, Tiririca estava sendo ovacionado em redes sociais. Aplaudido por direita e esquerda. Representante da frustração do cidadão brasileiro
Uma palhaçada
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O decepcionado Tiririca votou pelo impeachment de Dilma, foi conivente com o atual governo. O frustrado Tiririca usou verba pública para viajar às cidades em que se apresentaria como humorista. Aliás, comprou passagens para ele e seus assessores. Além disso, não contribuiu com nenhum debate significativo e não alterou em nada a realidade do país. Sequer tentou. E agora é aplaudido porque tem vergonha?
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Ele adere ao sistema, não faz nada para mudar, piora o problema e ainda se faz de vítima
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Pior do que tá não fica? Qualquer semelhança com o espelho não é mera coincidência. A triste verdade é que nós somos todos uns tiriricas.
Meu filho tá crescendo. Meus filhos tão crescendo. Pela primeira vez tô achando rápido. Eu tive a sorte de poder ser a mãe (quase sempre) que queria ser. Amamentei o quanto quis, fiquei com eles o tanto que quis, do jeito que quis. Tudo em concordância/planejamento com o pai deles. Foi uma opção nossa. Abrimos mão de várias cosias, como do nosso tempo, por exemplo. Mas foi calculado. E para nós foi bem bom assim.
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Então tava tudo bem. Eles crescendo, nós achando bonito. Emocionante como tem que ser, cansativo como é. Vida real
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Estávamos nessa até semana passada. Fomos a um parque de diversões. Normalmente quando vamos, cada um de nós, adultos, fica com um dos guris nos brinquedos que precisam de um responsável junto. Dessa vez meu marido foi comprar uma água e eu estava com os dois. Liberou a entrada para o brinquedo e tinha um adulto para duas crianças. Não cabe, disse o moço. Suei prevendo o choro que viria. Meu filho disse: eu vou sozinho, mamãe.
Coração quis pular pra fora do peito. Respirei, dei aquela olhada desesperada para ver se o marido estava perto. Nem sinal ainda. Vamos lá. Tem certeza, meu filho? Tenho, mamãe. Vamos lá. Ajudei a entrada no avião. Sentei no de trás com o pequeno.
Claro, na hora as lágrimas correram. As minhas. Ele tava bem feliz. Bem feliz mesmo. Na hora que o brinquedo começou a andar, vi meu marido chegando. Na cara de espanto dele, me enxerguei. Nos enxergamos. Sorrisos e olhos marejados. Voa, meu filho, voa.
Mesmo se não concorrer, Lula pode decidir a eleição – e ele sabe disso
Igor Natusch
13 de dezembro de 2017
07/12/2017- Rio de janeiro- Visita do ex-presidente Lula em Magé, no Rio de janeiro
Foto: Ricardo Stuckert
Há algum tempo vem sendo dito em diferentes cantos da internet – por aqui, inclusive – que a ideia que move a pré-campanha de Lula à presidência nem é tanto viabilizar de fato a candidatura, mas inviabilizar ao máximo decisões judiciais que o tornem inelegível e, em última consequência, o coloquem na prisão. A situação se torna mais sólida na medida em que o TRF-4, com agilidade de todo incomum, já tem marcada a data do julgamento do barbudo: em 24 de janeiro do ano que vem a coisa começa, para o bem e para o mal, e o Brasil que se vire com um ano político já começando em tal intensidade.
Mesmo que o ex-presidente seja condenado em segunda instância (um cenário, no mínimo, bastante plausível), há considerável espaço para movimentos jurídicos de caráter protelatório, que podem arrastar a situação e permitir a candidatura. Mas penso eu que nem é esse o grande debate no momento.
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A questão é: Lula está mesmo determinado a concorrer à presidência? Ou trabalha com outros cenários, cogitando – e talvez até mesmo construindo – uma situação favorável a outro candidato que não ele próprio?
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Quem observa com atenção os recentes discursos do líder petista percebe que ele constrói duas narrativas paralelas. Em primeiro plano, coloca a si mesmo como um perseguido pela Justiça e por setores retrógrados do poder político nacional, um injustiçado que pode ir à cadeia sem que exista qualquer prova dos crimes que supostamente teria cometido. A outra esfera, menos óbvia, talvez, é talvez ainda mais importante: a de resgate de um passado recente pretensamente idílico, de negação das reformas promovidas pela gestão de Michel Temer ao mesmo tempo que acena para possíveis gestos de conciliação – algo que, vale dizer, ele está longe de ser a pessoa mais capacitada, neste momento, para propor.
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A primeira dimensão não é uma plataforma política, por assim dizer. A segunda é. A primeira é, por óbvio, indissociável de Lula e de sua imagem; a segunda, não. Ao contrário: talvez seja ainda mais palpável na medida em que o barbudo não esteja no centro do cenário
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Condenar Lula em segunda instância já é uma batata quente daquelas, com consequências políticas e sociais difíceis de prever. Há quem pense que a letargia da população facilita um cenário onde Lula vai pro xilindró; pessoalmente, não acredito muito nisso. Prender o ex-presidente é contrariar diretamente quase 40% da população que, segundo as pesquisas, manifesta interesse em elegê-lo novamente. Quem acha que isso pode ser feito sem que haja barulho e reação ou está na torcida, ou está sendo ingênuo.
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Nesse sentido, é possível inclusive dizer que Lula já teve sucesso – ou alguém acha mesmo que, condenado, ele viraria um proscrito, seria rejeitado pelas massas que hoje o veneram, deixaria de ter qualquer importância nos rumos políticos do Brasil?
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Ao contrário: talvez um veredito desfavorável o fortaleça ainda mais.
É difícil dizer, nesse momento, quem seria o plano B de Lula e do PT. Talvez uma figura mais jovem e menos desgastada da sigla, como Fernando Haddad? Quem sabe um outro candidato qualquer, sem chance de vitória, mas como um aceno a outras figuras de centro-esquerda, como Ciro Gomes ou até mesmo Marina Silva, para uma aliança no segundo turno? São cenários possíveis – e seguem perfeitamente possíveis, dentro do posicionamento que Lula vem adotando até aqui.
Longe da “radicalização” pintada pelos que desejam colocá-lo como o extremo oposto de um Bolsonaro, Lula usa um discurso não só palatável para diferentes setores de oposição, mas que também pode colar com quem está cansado de guerra e pode ver como injustiça uma eventual nova condenação. E que possivelmente concorda com a ideia de que Dilma Rousseff foi injustiçada, outra narrativa bem construída pelo ângulo petista da discussão política. Há força e viabilidade eleitoral para um candidato de Lula, seja o próprio Lula ou não. E isso faz com que o julgamento no TRF-4, mesmo importantíssimo, não seja tão definitivo politicamente quanto parece.
Nessa semana um funcionário CC da secretaria de cultura de Porto Alegre foi preso em flagrante num vôo entre Guarulhos e Porto Alegre. Ele foi acusado de ter estuprado uma menina de seis anos. Li várias notícias, discussões, pontos de vista a respeito.
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Gente que admiro falou sobre esperar as provas
Gente que admiro falou em linchar
Eu fiquei zonza
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Já tive caso de abuso na família. Uma pessoa muito amada e próxima foi abusada quando criança. Nunca conseguiu contar para alguém. Um dia me contou. Já tinham se passado 40 anos. E contou como se tivesse vivendo o dia. Cada detalhe. A dor, a culpa, a vergonha, o desespero. A marca que fica, não sai. Nunca.
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Isso não pode acontecer. Não pode. Lendo sobre essa notícia, mexi no baú da dor. Não pode acontecer. Não pode
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Li gente dizendo que o abusador tem bom caráter, que é pai de uma menina. Isso é o mais assustador. Os abusadores normalmente são pessoas próximas das crianças. Que tem a confiança delas. Um parente, um amigo da família. Alguém que devia estar cuidando, protegendo. E isso é ainda mais assustador.
Não sei como foi o caso nesse vôo. Confesso que não quero nem ler mais a respeito. Não quero ler porque me dói nas entranhas. Por essa menina, pela pessoa que amo e foi abusada. Mas principalmente porque sei que isso acontece e vai continuar acontecendo. E isso não pode acontecer. Não pode.
Duas em cada cinco crianças sofrem algum tipo de abuso sexual. Por isso, é interessante conversar com as crianças para alertá-las sobre adultos com comportamentos suspeitos. Pipo e Fifi é um livro infantil que funciona como uma ferramento de proteção, explicando a crianças que tenham mais de três anos de idade conceitos básicos sobre o corpo, sentimentos, convivência e trocas afetivas. Ele ensina a diferenciar toques de amor de toques abusivos. Clique aqui e conheça o projeto.
Meu filho mais velho tem seis anos. Quando era bebê, fugia de todas as situações mais tensas. Não era bem uma fuga, era uma defesa. Eu admirava a sensibilidade dele. Se chegava uma criança mais agressiva na praça, instantaneamente ele mudava de lugar. Evitava o conflito. Sempre. Era mesmo impressionante essa distância que ele tomava das situações de confronto. Além disso, nós nunca deixamos assistir TV por muito tempo, sempre fomos cuidadosos na seleção do que ia assistir, também evitando ao máximo cenas violentas.
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Quando nasceu nosso segundo filho, recebemos visitas de uns amigos muito queridos. Eles trouxeram um brinquedo de pano lindo para o bebê. Adorável. E um Darth Vader para o irmão. Sim! Um Darth Vader
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Já não achei os amigos tão queridos. Na verdade, nem eram meus amigos. Eram amigos do meu marido. E eu ali, olhando pra aquele brinquedo, pensando no quão rápida eu poderia ser para fazer sumir aquilo sem que o filho notasse, sem que os amigos percebessem meu desconforto. Nesses dois segundos, paixão à primeira vista! O Darth Vader tinha sido um encontro lindo! Uma criança completamente feliz com o brinquedo novo! Completamente feliz mesmo. Respirei, sequei as três lágrimas que já tinham caído e pensei: tudo bem, é só um boneco. Até que outro dia…
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Uma amiga muito querida mostrou um vídeo do Vader pra ele. Assim, sem falar comigo. Pegou o celular e mostrou. Suei frio, gelei, ri de nervoso, respirei e tentei desmontar a cara de louca que devia estar
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Ele adorou. Amou. Venerou. Feliz da vida! Andava pela casa cantarolando a música. Realmente muito empolgado. O bebê cresceu. O irmão mais velho seguiu gostando do lado escuro da força. Os dois brincam muito de serem o Vader. Adoram. Seguem sem assistir. Seguem amando. Respirei e entendi que tem o boneco, tem a música, tem a fantasia. E tem eles. Eles vão brincar, experimentar, fantasiar. E seguirão sendo eles. Meus adoráveis Vaders.
Eduardo Galeano, em Futebol – Ao sol e à sombra, diz que é raro o torcedor que afirma “Meu time joga hoje”. Ele está certo. A um esporte coletivo, não cabe a possessão ou a singularidade. Incumbe, em vez, o pertencimento da primeira pessoa do plural. NÓS jogamos hoje.
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E NÓS, Grêmio, jogamos hoje
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Enquanto aguardo com certa ansiedade e estômago inquieto este 29 de novembro passar, refaço em minha memória a linha do tempo que me avaliza como jogadora número 12. O que vejo não é o primeiro jogo no Olímpico ou na Arena ou a primeira camisa que ganhei. Tampouco o momento em que me dei conta que era gremista, pois sempre fez parte da minha natureza. Não penso nos choros e soluços, nos gritos e desabafos. Nos desaforos e desafogos. Não lembro de quando ganhei autógrafo do time todo em 95; mesmo dia em que o Dinho me fez chorar com sua cara feia, para diversão do meu pai. Não repasso os adesivos enfeitando os cadernos na adolescência em que os títulos desapareceram.
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O que vejo é o banquinho da vó Julia quebrando
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Eu tinha sete anos em 1995 e vivia em Paraí, minha cidade natal. Entretanto, por algum motivo do qual não lembro, viajamos a Porto Alegre naquele 30 de agosto. Meus pais e eu estávamos hospedados na casa da vó Julia e da tia Marta, que tinha uma televisão grande na sala – sala que ficou pequena graças à nossa ocupação. Tralhas à parte, cada um acomodou-se como foi possível. Ao meu pai coube o banquinho branco, baixinho e de pernas frágeis.
O Grêmio entrou no Estádio Atanasio Girardot, em Medellín, com uma grande vantagem de 3 a 1 conquistada no primeiro jogo. Mas futebol é futebol. É aquele ritual imprevisível e estressante, em que as funções naturais do nosso corpo se descompensam tanto quanto as de quem está entre as quatro linhas. E o Atlético Nacional marcou aos 12 minutos de partida. Gol de Aristizábal. Nunca esqueci desse nome.
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Eu já estava fardada, como os outros jogadores, mas ali naquele momento, era como se Felipão tivesse escalado a mim para resolver o jogo, e não Alexandre
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Passei resto do jogo em pé, secando as mãozinhas suadas naquele uniforme com o patrocínio da Renner. Andando de um lado para o outro, como se o time dependesse da minha energia, da minha vitalidade. Eu fazia parte daquele time, eu era o Grêmio. “Este jogador número doze sabe muito bem que é ele quem sopra os ventos de fervor que empurram a bola quando ela dorme, do mesmo jeito que os outros onze jogadores sabem que jogar sem torcida é como dançar sem música.” Eu estava sendo abonada pelas palavras que Galeano nem sabia que escreveria.
Pouco antes do final, aquele Alexandre que era eu sofreu um pênalti. Dinho cobrou e marcou. A América era NOSSA. O árbitro apitou o final da partida e eu pulei no colo do meu pai, que permaneceu sentado no banquinho da vó Julia. Mas era Grêmio demais e o banquinho não aguentou. O pai e eu nos espatifamos no chão, em cima de uma mesinha de centro. A casa quase implodiu de alegria com as gargalhadas da mãe. NÓS tínhamos vencido.
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Futebol, meu povo, não é futilidade. É memória, é afeto, é parceria. É diversidade. É comunidade