Raquel Grabauska

Voo solo

Raquel Grabauska
15 de dezembro de 2017
Meu filho tá crescendo. Meus filhos tão crescendo. Pela primeira vez tô achando rápido. Eu tive a sorte de poder ser a mãe (quase sempre) que queria ser. Amamentei o quanto quis, fiquei com eles o tanto que quis, do jeito que quis. Tudo em concordância/planejamento com o pai deles. Foi uma opção nossa. Abrimos mão de várias cosias, como do nosso tempo, por exemplo. Mas foi calculado. E para nós foi bem bom assim.
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Então tava tudo bem. Eles crescendo, nós achando bonito. Emocionante como tem que ser, cansativo como é. Vida real

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Estávamos nessa até semana passada. Fomos a um parque de diversões. Normalmente quando vamos, cada um de nós, adultos, fica com um dos guris nos brinquedos que precisam de um responsável junto. Dessa vez meu marido foi comprar uma água e eu estava com os dois. Liberou a entrada para o brinquedo e tinha um adulto para duas crianças. Não cabe, disse o moço. Suei prevendo o choro que viria. Meu filho disse: eu vou sozinho, mamãe.

Coração quis pular pra fora do peito. Respirei, dei aquela olhada desesperada para ver se o marido estava perto. Nem sinal ainda. Vamos lá. Tem certeza, meu filho? Tenho, mamãe. Vamos lá. Ajudei a entrada no avião. Sentei no de trás com o pequeno.

Claro, na hora as lágrimas correram. As minhas. Ele tava bem feliz. Bem feliz mesmo. Na hora que o brinquedo começou a andar, vi meu marido chegando. Na cara de espanto dele, me enxerguei. Nos enxergamos. Sorrisos e olhos marejados. Voa, meu filho, voa.

Raquel Grabauska

Saudade antecipada

Raquel Grabauska
13 de outubro de 2017

Várias vezes em que eu estava com meus filhos bebê no colo, chegaram pessoas e diziam: ai, que saudade de ter um bebê!

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Eu nunca entendi isso direito . Aquele início onde ninguém dorme, a gente não sabe se  o choro é de fome, frio, calor, xixi ou tudo junto, não me faz sentir nenhuma saudade. Ver os guris crescendo, começando falar, a andar, a ser cada vez mais eles e menos nós, me apaixona. Gosto de conversar com eles. De ouvir as teorias do Benjamin, que aos seis anos, pretende ser inventor. Gosto das proezas do Tom, que antecipa que vai aprontar quando nos pede licença e fica sozinho em algum cômodo da casa. Me divirto com eles.

Essa semana o Tom estava dormindo no meu colo. Eu sentada na poltrona e ele esparramado ali. Coube bem certinho. Fiquei olhando ele dormir e não tive vontade de levar pra cama. Levei quando o Benjamin pediu um colo também. Fiz mesma coisa. Ele deitou na poltrona, ficamos aconchegados. Contei pra ele que era nessa poltrona que eu dava de mamar quando era bebê (em muitos outros lugares também, mas ali era nossa base). Ficou me pedindo histórias de quando era bebê. Fiquei contando, ele ouvindo, nós nos amando com aquela intensidade que só pertence a pais e filhos

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Tava tudo lindo. Daí ele diz: mamãe, quero ir pra minha cama, aqui não tá muito confortável

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Engoli em seco o choro que quase veio, sorri pra ele e ele deitou na cama. Acho que vou começar a entender que tem saudades dos filhos bebês.

 

Raquel Grabauska

Vai doer mais em mim do que em ti

Raquel Grabauska
6 de outubro de 2017

Sabe aquela história do vai doer mais em mim do que em ti? Quando a gente tem filhos, acho que isso passa a ser verdade

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Tenho uma grande amiga. Pessoa linda, boa, íntegra. Cria a filha com um amor, um cuidado comovente. Minha grande amiga é uma pessoa pequena de tamanho. A filha tinha chances de ser também. Começaram a perceber que a menina não estava crescendo como deveria. Exames, angústias, esperas e diagnóstico. Ela tem um problema hormonal e precisa de injeções sistemáticas para possibilitar seu crescimento.

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E agora? Como explicar pra uma criança de dois anos que aquelas espetadinhas diárias são pro bem? Como fazer para ela entender? Como, realmente, entender?

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Conversas, apoios, carinho. Sempre muito carinho. Dias de choro, revolta. De incompreensão. De compreensão, de aceitação também.

No aniversario e quatro anos, muitos tubinhos do líquido da injeção estavam guardados. A mãe, que além de todos as qualidades que já citei é uma pessoa altamente criativa, transformou os tubinhos da dor em lembrancinha da festa. Areia colorida, uma cordinha e tá ali a felicidade. Transformou a dor em arte, em carinho. Todos ficamos felizes com aquele carinho. Alguns de nós, sabendo a história, ficamos emocionados também.

Esse ano, uma coincidência. Sabe aquela mãe que ficava triste com as picadas  diárias da filha? Essa mãe forte, linda e sensível começou a ser sentir fraca, estranha. Exames, angústia, diagnóstico: diabetes. Uma pessoa saudável, que cuida sempre da alimentação. Diabética. Insulina diária. Picadinhas diárias.

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Vendo mãe  e filha ali, crescendo juntas, aprendendo uma com a outra a contornar aquela chatice, aquilo que não queriam, é incrível

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Elas sorriem e a gente não percebe o quão frágeis elas ficam às vezes. Elas sorriem e temos certeza de que ali estão duas super meninas. A Kátia é mãe da Anita e uma fotógrafa incrível. Pra quem quiser conhecer um pouco do trabalho dela: https://m.facebook.com/katiabressanefotografia/