Raquel Grabauska

Morte e vida

Raquel Grabauska
7 de setembro de 2018

Meu filho maior (sete anos) começou a sentir medo da morte. Da própria morte. Ouviu algo no noticiário do rádio do carro e ficou impressionado. Foi uma das poucas vezes em que me senti tão incapacitada para orientá-lo. Só consigui abraçar e dizer que é assim, mesmo.

As mortes precoces sempre rondaram minha família. Eu cresci com esse medo. Minha mãe era refugiada de guerra. Família dissipada, um tio morto em terras distantes, outro ficou por lá enquanto a família fugiu para sobreviver. Um outro tipo de morte.

Hoje, sete de setembro, é a data de nascimento da minha mãe. Antes de ter filho, meu maior medo era o da morte dela. Perdi o meu pai aos 17 anos – ele tinha 47. Quase a minha idade agora. É assustador pensar que daqui três anos terei vivido mais que meu pai. Já tenho mais tempo de vida sem pai do que com ele. Haja terapia. E nem com terapia.

Aniversário da minha mãe sem ela. Pelo quinto ano. O pai nos dava a sensação de estrutura. Quando ele se foi, a casa se desorganizou. Tivemos que reaprender tudo.

.

Quando a mãe se foi, o coração se desorganizou
E de um jeito…
Não tem mais aquela sopinha no dia de gripe. Não tem mais aquele abraço nos dias em que se está pequeno demais pro tamanho do mundo. Não tem não mais aquele olhar dizendo que tudo vai dar certo

.
Então meu filho, hoje não consigo conversar contigo sobre a morte. Vou tentar te falar do amor que fica. Da panqueca que aprendi a fazer. Das risadas e brincadeiras que minha mãe me ensinou. Da força para viver em dias não tão bons. A morte vai vir. Não quero pensar nisso. (Haja terapia). Quero ser tua mãe o maior tempo que eu puder. Quero que tua vida seja boa, pra te fazer tu sorrir ao lembrar quando não estiver mais aqui.

* Sobre a ilustração, pedi ao Benjamin que desenhasse sobre o medo que tem sentido. Ele não quis. Insisti um pouco, dizendo que se ele desenhasse, poderíamos olhar pro medo juntos. Ele não quis. Disse que queria desenhar uma coisa feliz. Que assim seja.

Igor Natusch

Vídeos de Michel Temer são o abraço de um homem tóxico

Igor Natusch
6 de setembro de 2018

Os recentes vídeos de Michel Temer falando de candidatos à presidência surgiram de forma tão inesperada que ficou difícil, em um primeiro momento, entender o que havia por trás deles. O primeiro, destinado a Geraldo Alckmin, poderia trazer algumas leituras nas entrelinhas, já que muito se referia a partidos da base aliada do atual presidente – que podem, quem sabe, estar em polvorosa com a aparente dificuldade do tucano em decolar nas pesquisas. Veio um segundo, agora chamando o PSDB às caras pela parceria de governo que, agora, tenta a todo custo ignorar, e aí a leitura ganhava outros contornos: poderia ser um grito para não ser abandonado na estrada, ou talvez uma ação calculista para confundir os potenciais eleitores do ex-governador de São Paulo.

Mas aí surge um terceiro vídeo, no qual Michel Temer lança críticas pouco lógicas contra o vice-que-deve-virar-cabeça-de-chapa-do-PT Fernando Haddad. “Leia a Constituição. Tome cuidado, Haddad”, diz ele, por razões que talvez só ele entenda, e todas as tentativas de uma leitura estratégica ou calculista para tais manifestações vão pro espaço.

Trata-se, pura e simplesmente, de orgulho ferido. Temer está passando recibo, para usarmos termos mais populares. O presidente do Brasil está, pura e simplesmente, dodói.

Michel Temer é, hoje, um proscrito. Uma figura tóxica, com quem ninguém deseja ser visto, que ninguém gosta muito de ter por perto.  Seu governo já é um zumbi, e não é de agora – em certo sentido, é assim praticamente desde o início, quando áudios comprometedores o associaram a condutas claramente criminosas, situação da qual só se livrou ao abrir a guaiaca de forma escandalosa. Foi vassalo do próprio Congresso, atropelado em pautas que veste como suas, mas das quais herda a impopularidade e nada mais.

E de impopularidade Temer entende: bateu recordes negativos em pesquisas, sendo execrado por quase a totalidade dos brasileiros. É visto, de forma generalizada, como um traidor que conspirou contra Dilma Rousseff e que, uma vez alçado ao posto que a ela pertencia, esmerou-se em salvar a própria pele e implantar medidas que fizeram ainda mais dura a vida de brasileiros e brasileiras.

Ninguém gosta de Michel Temer – e ele sabe disso tão bem quanto todo mundo, se não ainda melhor.

A situação é tão curiosa que Henrique Meirelles, candidato da situação, simplesmente ignora o governo que representa em seus espaços de campanha. Menciona mais o ex-presidente Lula (que acusa o atual governo de golpe, e que está preso) do que Temer, de quem era ministro até dias atrás. É de se pensar que palavras carinhosas terá Michel Temer a dizer sobre seu candidato presidencial, que ostensivamente finge que o atual governo não existe e recusa-se a colocar o rosto do ex-vice em um panfleto sequer.

Temer é um homem vaidoso. E o rancor que o consome quando sente-se desprezado já rendeu outras situações tragicômicas, como no famoso “verba volant, scripta manent” que mandou para Dilma. Solitário em seu castelo, recebendo desprezo de seus parceiros de artimanhas recentes, viu-se consumido pelo orgulho ferido – e passou a cuspir fel nas redes sociais, em falas cuja linguagem escorreita mal consegue disfarçar a revolta figadal que as motiva.

Se Collor, em tempos idos, pediu que não o deixassem só, Michel Temer adota uma variante amarga: não me deixarão sozinho coisíssima nenhuma. Mesmo que queiram.

A correção (para não dizer a decência) de um presidente ficar dando recadinhos, em plena campanha eleitoral, aos que concorrem para substituí-lo é altamente questionável, mas isso pouco importa em um país cuja política já abandonou qualquer ideia de rito ou civilidade. Trata-se do abraço do homem tóxico, disposto a envenenar o futuro político de todos que dele tentam se escapar. 

E a verdade é que, embora pareça ter pouco de estratégia, o magoado rompante de Temer tem, sim, consequências políticas. Mesmo porque, ao menos no que se refere ao PSDB e seus aliados de momento, as críticas podem ser patéticas, mas estão longe de serem injustas. Geraldo Alckmin já tratou de responder, tanto em público quanto nas redes, às acusações do atual presidente – sinal inequívoco de que entende, e muito bem, o quão danosa essa conexão pode ser à sua já claudicante candidatura. Em um cenário onde a chance de Alckmin ir ao segundo turno parece distante, o recado de Temer pode soar de forma peculiar aos ouvidos de partidos como PP, PTB e DEM – que ainda estão gravitando em torno do cadavérico governo Temer, mesmo aliados à chapa do tucano, e certamente estudam movimentos em uma campanha que, em cerca de um mês, já pode estar no segundo round.

Foto: Reprodução /Twitter

Igor Natusch

Reconstruir o Museu Nacional? Ah, vá.

Igor Natusch
3 de setembro de 2018
Um incêndio de proporções ainda incalculáveis atingiu, no começo da noite deste domingo (2), o Museu Nacional do Rio de Janeiro, na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, na zona norte da capital fluminense

“Não vamos medir esforços para reconstruir o Museu Nacional”

.

A frase acima – ou palavras do mesmo efeito – foi dita por diferentes figuras da política brasileira diante do horrendo e desesperador incêndio que consumiu, ontem, o mais antigo e um dos mais importantes polos da história e ciência do país. Figuras como o ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já vieram com esse papo.

Para acreditar na sinceridade de propósito dessas declarações, é preciso dispor de uma credulidade de deixar a Velhinha de Taubaté chocada diante de alguém tão ingênuo. Ou os nobres políticos estão milagrosa e subitamente dispostos a dar uma guinada sem paralelos na história de nosso país, ou estão apenas falando como políticos brasileiros costumam falar diante da tragédia, o que é muitíssimo mais provável.

.

Ninguém vai reconstruir o Museu Nacional coisa nenhuma

E por vários motivos

Primeiro, porque é impossível. Há, com certeza, gente muitíssimo mais qualificada que eu para listar a quantidade incalculável de itens históricos e pesquisas – inúmeras delas em andamento – arruinadas pelo fogo. E mesmo elas terão dificuldade enorme em dar a real dimensão, absolutamente sufocante e desoladora, de tudo que se perdeu na Quinta da Boa Vista. Não são coisas que se possa reconstruir. Não são objetos empoeirados que alguém possa ter em uma gaveta de casa e doar para o poder público, ou que se possa adquirir em um brique ou brechó. Não existe máquina do tempo para nos ajudar.

.

O Museu Nacional, pelo menos em sua maior parte, acabou, e uma grande fatia do que fomos, somos e poderíamos ser está perdida para sempre. Falar em reconstrução é até ofensivo, em semelhante panorama.

.

Em segundo lugar, porque os esforços que agora dizem que não medirão já vêm sendo medidos, há décadas, quando se trata de investir na história, na cultura e na ciência do Brasil. Uma reforma – incompleta, mas urgente – do agora extinto Museu Nacional estava orçada em algo como R$ 22 milhões; a manutenção do espaço, com serviços básicos de limpeza e conservação estrutural, não ia muito além dos R$ 520 mil anuais. Mesmo redundante (já que dinheiro para conhecimento, no Brasil, nunca vem), importante frisar que esses valores, meros trocados para o gigantesco orçamento da União, vinham sendo negados ou contingenciados por diferentes governos – em 2018, o museu tinha recebido apenas R$ 54 mil até aqui. O simples fato de a UFRJ, gestora do espaço, estar há décadas às voltas com a falta de repasses federais já nos explica muito do problema que o Museu vivia e que resultou em seu aniquilamento.

Vivemos em um país que limita os já miseráveis gastos com educação por 20 anos, e eu vivo em um estado onde o governo é incansável no esforço de extinguir fundações públicas voltadas à pesquisa, produção e catalogação de conhecimento. O prefeito da cidade atingida pelo desastre demonstra nem saber direito para quê o museu servia, no fim das contas.

.

Não existe lobby a favor da ciência no Congresso, não existe bancada das universidades ou gente brigando para incluir pesquisa e conservação no orçamento. Achar que isso tudo mudará de forma mágica é uma pureza de coração da qual, infelizmente, não compartilho.

.

Por fim, nenhum político deve ajudar a reconstruir o Museu Nacional porque ninguém se importa, de verdade, com o assunto. Estamos em meio a uma disputa presidencial, e apenas duas candidaturas – Marina Silva (Rede) e a de Lula (PT), que deve ser assumida por Fernando Haddad – trazem propostas para uma política específica voltada a museus. Diante da tragédia, não são poucos os ignorantes que gritam tolices como pedir o fim da Lei Rouanet (responsável por grande fatia dos caraminguás que caem na conta dos museus para reformas e conservação), ou associam a tragédia com as convicções políticas da vez, de forma irresponsável e doentia. O descaso com a ciência e a produção do conhecimento não é exclusividade dos políticos, embora seja uma vergonha que cai fortemente sobre eles: é nossa, também.

Aqui achamos que universitário é vagabundo, que professor não pode fazer greve mesmo ganhando uma merreca, que incentivo à cultura e à ciência é dar dinheiro para gente que só quer mamar nas tetas do governo. Aqui a gente quer tutelar o que se ensina dentro da sala de aula, com um movimento esdrúxulo (Escola Sem Partido) que tem como líder um ator e sub-celebridade que jamais teve qualquer papel em discussões sérias sobre educação. Aqui a gente acha que ciências humanas não são ciência de verdade.

.

Não surpreende, no fundo, que o museu mais emblemático do Brasil tenha virado cinzas: é apenas um retrato cruelmente acurado do que boa parte de nós, todos os dias, pede e exige para tudo que se refere a conhecimento nesse país.

.

Sei que não sou, nem de perto, o primeiro a sugerir isso. Mas acho que não seria má ideia não reconstruir o Museu Nacional do Rio de Janeiro coisíssima nenhuma. Talvez fosse pedagógico deixar as ruínas do museu lá, ao sabor das intempéries, cobertas de fuligem até que o tempo se encarregasse de derrubá-las de vez. Seria um bom lembrete do nosso descaso por tudo que ele representava, por toda a riqueza que ele trazia dentro de si e permitimos que queimasse numa fogueira de desinteresse, oportunismo e burrice. Não seria uma resposta racional ao horror que testemunhamos, mas nada é racional nesse pesadelo de ignorância e descalabro em que mergulhou o nosso país.

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Raquel Grabauska

Minha infância e a infância dos meus filhos

Raquel Grabauska
31 de agosto de 2018

Muitas vezes me pego pensando no quão boa é a vida que meus filhos têm. Eles são realmente privilegiados. Muito. Tem um tanto disso que é sorte, tem um tanto que é decisão nossa como pais, tem um tanto que é da vida. De vez em quando eu dou choques de realidade.

.

Esses dias um deles começou a dar meu discurso sobre as pessoas que não tem comida ou oportunidade. Eu comecei e ele foi falando junto e disse: tu sempre diz isso, mamãe.
Eu falei: sempre digo e sempre vou dizer.

.
Eu recebi muito amor quando era pequena. Tive uma mãe muito amorosa. Meu pai era uma pessoa dura. Do seu jeito, mostrava que se importava conosco, mas a dureza era constante. Já o amor da mãe transbordava, e isso era quase tudo que eu precisava. Passamos por bastante privação, tive poucas oportunidades de fazer programas legais em família, passeios e outras coisas que todos deveriam poder. Quando vejo meus filhos Tendo a vida que têm, fico com o coração cheio. Eles têm uma vida linda. Imagino que as lembranças da infância serão incríveis.

.

Eles têm pais amorosos e presentes. Somos pais privilegiados também. Um tanto de sorte, um tanto de opção nossa. Uma série de fatores que nos fazem felizes por estarmos juntos

.
Mas me preocupo e até me assusto quando eles estão descontentes. A vontade que tenho é de contar o que vivi, que não foi fácil, porque foi comigo, fui em quem sentiu. Mas que não é nada comparado ao que se vê por aí. Parâmentro é tudo. Não quero assustar, mas quero que saibam a vida linda que têm.

Sei que posso tentar fazer o melhor, que nunca vai ser o suficiente. Eles vão sempre ter do que reclamar. Assim como eu fiz com minha mãe. A semana toda passei cantando essa música.

Gosto mais da versão na voz da mãe dela, mas achei pertinente ser a filha cantando..

Raquel Grabauska

Mãe Careta

Raquel Grabauska
24 de agosto de 2018

Dia desses nos encontramos entre adultos. Começamos a brincar, jogar, rir muito. Todos com filhos. Tava um momento tão lindo dos pais (pais que estão sempre proporcionando momentos lindos para os filhos), que naquele instante focamos em nós. Um filho pediu o celular, o pai deu. Outra pediu, ganhou. E assim foi. Os meus olharam pro meu marido: porque eles podem e nós não? Ganharam. Aquele dia me deu um aperto. Porque se não tivesse celular, eles estariam brincando.

Dois dias depois, encontramos um amigo querido dos guris no almoço. Ele já chegou com celular. Nem almoçaram. Só jogaram. Achei tão triste!

.

De uma amiga sobre a filha: “Ela por exemplo tá de férias agora, mas não sinto que tô inteira… porque continuo trabalhando…”

.
Viajamos de avião e meu filho menor jogou no celular durante vôo – a gente também não quer ser E.T. Mas foi o próprio inferno. Ele só queria fazer isso. Com o maior, eu conversei e ele entendeu e cedeu. Mas com o menor, precisou eu ter um chilique com o meu marido. Ele é bem legal, e eu também sou, mas disse que se ele desse o telefone de novo, eu ia embora na hora. Imagina o tanto que me irritei.

Então, nas férias, fiz uma desintoxicação. No dia seguinte, comprei canetas, papel e livro de colorir. Brincaram a tarde toda, nem quiseram ver televisão.

.

Da minha amiga: “Bah, pior que ela (a filha) quando tem lápis e coisas pra pintar fica muito tempo. Mas tem vezes q eu esqueço disso e parece ser mais fácil ligar a TV, o jogo…”

.
E ela é uma ótima mãe. Ótima! Mas a questão é que é fácil na hora, depois, é o próprio inferno. Eu quando chego em casa, sei, só pelo jeito dos guris, se assistiram algum desenho violento ou jogaram. É muito visível o quanto se alteram. Meu filho maior tá questionando sobre quando terá seu próprio celular. Se depender de mim….

Sou atriz, utilizo tratamentos alternativos de saúde, sou a senhora dos orgânicos, nunca imaginei que seria a mãe careta! Mas sou. Assumidamente careta.

Raquel Grabauska

Programa de família

Raquel Grabauska
17 de agosto de 2018

Sempre que viajamos priorizamos os programas que serão possíveis para os nossos filhos. Eles têm sorte por terem pais que não gostam de shopping. Brincadeiras à parte, gostamos de nos divertir vendo eles se divertirem. Agora que estão crescendo, temos conversado a respeito de vermos coisas diferentes, ter outras experiências, novas vivências.

.
Uma das coisas que testamos foi levá-los nas férias que passamos em Montevidéu para uma visita guiada ao Teatro Solis

.

Aproveitamos que meu irmão, minha cunhada e sua mãe estariam junto  – para caso precisássemos amordaçar os guris, digo, caso precisássemos de apoio. Confesso que entrei meio sem respirar. A guia falava em um espanhol mega rápido, estava bastante quente dentro do prédio, ocasionando um festival de tirar roupas.  Era muita explicação. Andamos por umas salas e tudo ia bem. Me emociono sempre que conheço um teatro novo. Ter essa experiência com meus queridos foi ainda mais emocionante.

.

Quando entramos no majestoso teatro, desconfiança
O mais velho disse: não vai ter peça, né?
Eu disse que não, que iríamos só conhecer
.

Estávamos ouvindo a explicação da guia quando alguém dá um grito no teatro. Um dos guris estava comigo e o meu marido e o outro mais atrás com os tios. Eu gelei, suei, tremi até perceber que não era da minha prole que tinha saído o som. Uma pequena apresentação surpresa para alegrar a visita ao teatro. A encenação percorreu a plateia.

.

Claro que o ator parou ao lado do meu filho para o qual eu tinha dito que não teria peça
Claro que em dois segundos meu filho estava ao meu lado
Quase ao mesmo tempo ouvi o mais novo: é muita conversa! Porque eles não apresentam lá em cima? (Apontando para o palco)

.

Tudo isso durou uns 5 anos (contagem de tempo de mãe em perigo) ou 3 minutos em contagem de tempo de pessoas em situações normais de pressão e temperatura. Quando saímos, todos que estavam na visita estavam parados no saguão e meu filho disse: eu prefiro o teatro da mamãe. Um oinnnnn coletivo e uma mãe com sorriso bobo feliz. Os guris estão crescendo.

Geórgia Santos

Não se distraiam com a loucura do Cabo Daciolo

Geórgia Santos
15 de agosto de 2018

O primeiro debate na televisão entre os candidatos à presidência da República, organizado e transmitido pela Rede Bandeirantes, deu o que falar. Houve a ladainha de sempre, é verdade, mas o costumeiro festival de desinformação ganhou uma nova roupagem. Neste ano, ficou por conta dos delírios de Cabo Daciolo, que concorre pelo Patriotas. O deputado federal surpreendeu a todos quando questionou Ciro Gomes, do PDT, sobre o plano da Ursal – União das Repúblicas Socialistas da América Latina, do qual, segundo ele, o pedetista faz parte.

 

 A loucura de Cabo Daciolo deu vazão à ótima resposta de Ciro Gomes, que disse que a democracia, apesar de ser uma delícia, tem seus custos e a uma legião de memes maravilhosos.  Além da Ursal, destacam-se obsessão com o “Glória a Deus”, a paranóia do comunismo, Iluminatti e uma suposta Nova Ordem Mundial que destruiria o Brasil e acabaria com as fronteiras. Bom, não seria nada mal uma seleção com Messi, Cavani, Suárez e Neymar, hein – para citar uma das maravilhosas pérolas que li por aí.


Nesta semana, Cabo Daciolo voltou aos holofotes. Divulgou um vídeo em sua página do Facebook em que, do alto de uma montanha, grita “Glória! Glória a Deus!” – super novidade. Em 15 minutos, ele associa a crise brasileira a problemas espirituais, diz que está ameaçado de morte pela “nova ordem mundial” e diz sua estratégia de campanha será a oração. Ah, ele vai ficar no monte jejuando. Galera gosta de jejuar no Brasil.

Mas enquanto a gente ri e ridiculariza este homem, ele serve como uma ótima distração pra os verdadeiros problemas desta campanha eleitoral. Depois de assistir ao debate, a primeira coisa que eu disse, foi:

Perto dele, Bolsonaro é bolinho!

.

Imediatamente me dei conta do problema dessa frase. Quando aparece uma pessoa mentalmente desequilibrada – como parece ser o caso do Cabo Daciolo – e disposta a ridicularizar o processo eleitoral porque não tem nada a perder, a figura de Jair Bolsonaro  (PSL) começa a parecer aceitável até mesmo para quem, inicialmente, não tinha intenção de votar nele. Não que isso vá fazer com que alguém que abomine as ideias de Bolsonaro, passe a gostar. Mas pode fazer diferença na balança dos indecisos, e isso é tudo o que ele quer.

Bolsonaro é um notório canastrão, isso não é novidade. Assim como também sabemos que é preconceituoso em diversos níveis.  Mas a distração de Daciolo pode ser prejudicial para toda a campanha, porque a tendência é que a gente “passe pano” também para outros candidatos.

.

Afinal, quando alguém estabelece uma linha de corte tão baixa, todos os concorrentes – mesmo com inúmeros problemas – passam a ser aceitáveis, uma ameaça menor

.

Bem, eu usei alguns minutos para escrever este texto e é todo o tempo que vou gastar com Cabo Daciolo. Nem um minuto a mais. Meu tempo – e o do Brasil – é precioso demais. Espero que vocês façam o mesmo e não desperdicem tempo e energia com um balão de ensaio.

Raquel Grabauska

O Dia dos Pais e o dia em que me senti a pior mãe do mundo (e arredores)

Raquel Grabauska
10 de agosto de 2018

Estávamos fazendo uma viagem em família. Passeio gostoso, com tempo, caminhadas sem pressa ou destino. Parávamos para contemplar o que queríamos, crianças correndo atrás dos pombos. Éramos o próprio comercial de margarina (se é que existe comercial de margarina ao ar livre).

Só uma coisa, antes de continuar a história: sou o tipo de pessoa que perde o amigo, mas não perde a piada. Sempre. Já me meti em cada fria, cada constrangimento. Mas não aprendo. Quando vi, a bobagem já saiu.

Voltando ao passeio. Eu estava andando de noite com minha querida cunhada. Vimos uma faixa com um pitoresco desenho que era IGUAL ao meu marido. Na manhã seguinte, repetimos o caminho com a família toda e eu estava ansiosa pela piada. Quando chegamos, apontei para a faixa, bem feliz mostrando aos meus filhos.

.

Olhem só, uma foto do papai!!!!!

Os dois me olharam incrédulos. O menor logo mudou o foco. O maior ficou paralisado: “esse não é o meu pai!!!!!” Eu achei estranha tamanha veemência. Ele tem bastante senso de humor. Fazemos muitas piadas juntos.  Olhei pra ele, olhei pra faixa, olhei pra ele e olhei pra faixa de novo. Olhei de novo e gritei!

A pintura da faixa tinha uma grande faca cravada nas costas
Eu só não tinha percebido esse pequeno detalhe

Depois disso, haja pombos, passeios e brincadeiras pra extrair a culpa das minhas costas! Um feliz Dia dos Pais para todos os pais. Especialmente para o pai dos meus filhos, que além de ter me dado os nossos dois gurizinhos, ainda segue comigo há 15 anos. Com todas as minhas piadinhas.

Geórgia Santos

Danço eu, dança você, na dança da convenção

Geórgia Santos
6 de agosto de 2018
Com a voz mansa acompanhada de um violão e um pandeiro, Paulinho da Viola canta, sorrindo, que
Solidão é lava que cobre tudo
Mas não é sorrindo que eu concordo. É concordando que me entristeço ao perceber a semelhança. Estamos sozinhos. A solidão, a lava, cobriu tudo e nos deixou petrificados.
Treze pessoas afirmaram, no último final de semana, que não nos deixarão sozinhos. Querem uma chance para provar que não estão mentindo, querem nosso voto para comandar o Brasil. Eu acredito que a democracia seja o único caminho para o restabelecimento de um sistema político saudável e, principalmente, para alcançarmos a justiça social. Por isso, quero acreditar em uma dessas pessoas.
Montagem sobre o quadro Almoço dos Barqueiros, de Pierre-Auguste Renoir
Aliás, gostaria de acreditar em todos os candidatos e candidatas à presidência da República. Mas é difícil. Estamos sozinhos há muito tempo. Sozinhos, desempregados, miseráveis, sem esperança e com o gosto amargo do abandono na boca.
[A ] Amargura em minha boca,
porém, não é exclusividade, é sintoma social de refluxo de desespero, medo, cansaço e insegurança. Desesperança.  Natural que nos sintamos assim diante dos rumos que o Brasil vem tomando. Milhões de pessoas sem emprego; cortes na saúde e educação; problemas gravíssimos na área da segurança; sem contar a crise política e institucional do país. É natural, portanto, que nos sintamos assim. Mas não é saudável. Essa combinação é muito perigosa porque permite que esses sentimentos tomem conta de decisões que deveriam ser racionais. É essa dormência no pensamento que torna sedutores candidatos como Jair Bolsonaro (PSL), que
Sorri seus dentes de chumbo,
ou dos anos de chumbo, que seja. Ele e seu vice, General Mourão (PRTB), saudosos da Ditadura e com o discurso cheio de frases prontas e inflamadas, prometem o que não podem cumprir; falam o que não deveriam dizer. Iludem. De novidade, o meme ambulante não tem nem o preconceito. Mas a mesma dormência que faz com que parte da população deposite sua confiança em Bolsonaro também favorece paixões que nos cegam por conveniência. Ciro Gomes (PDT), por exemplo, está sendo achincalhado por parte da esquerda e por ter escolhido Kátia Abreu (PDT) como vice – a rainha da motosserra para alguns, em alusão ao vínculo com o agronegócio. A mesma Kátia Abreu que apoiou Dilma Rousseff de forma incondicional e, por isso, foi expulsa do MDB. Aliás, a mesma Kátia Abreu que apoiou Dilma Rousseff, que escolheu Michel Temer (MDB) como vice.
A decisão de Ciro Gomes foi pragmática, pode ser boa ou ruim, mas não se pode negar que ele não teve escolha depois de o PT inviabilizar sua coligação com o PSB e o deixar sozinho.
Solidão [é] palavra cavada no coração
de Ciro Gomes, cuja candidatura tem apenas o apoio do obscuro AVANTE e terá de sobreviver ao seu temperamento para levar uns votinhos daqui e outros dali. Ciro se mantém em um muro conveniente, sem se posicionar sobre assuntos polêmicos ou que demandem atenção ideológica. Afinal, a centro-esquerda está fragmentada e o PT deixou muito claro que está pensando em si, apenas. Lançou a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde abril, e indicou Fernando Haddad como vice. Mas todos sabemos que essa candidatura não será autorizada e que Haddad será o candidato de fato, com Manuela D´Ávila (PCdoB) como vice.
Faz sentido que o coro por Lula Livre siga eleição adentro, é legítimo que seja assim. Assim como faz sentido, do ponto de vista estratégico, o acordo com o PCdoB, porque estender a possibilidade de candidatura de Lula dá força à chapa. Mas não é transparente com o eleitor. Simplesmente não é.
O candidato é Lula, mas não é Lula, é Haddad; o candidato a vice-presidente é Haddad, mas é Manuela, que foi confirmada como candidata pelo seu partido, mas depois desistiu e agora é a vice do vice. É a dança da convenção.
Do lado de cá, do lado dos que só assistem, o povo espera uma resolução,
Resignado e mudo
No compasso da desilusão
Desilusão por tudo. Desilusão porque, no final das contas, continuamos sozinhos. No final das contas, parece que nada muda. O discurso de Geraldo Alckmin (PSDB), por exemplo, continua o mesmo engodo. Na convenção em que foi indicado, disse que vai “devolver aos brasileiros a dignidade que lhes foi roubada.” Ele fala como se o seu partido não tivesse parte nesse roubo. Ele ainda criticou quem usa “o ódio como combustível de manipulação eleitoral”, logo ele, que convidou Ana Amélia Lemos (PP) para ser sua vice, a mesma que “confundiu” Al Jazeera com Al Qaeda e acusou a petista Gleisi Hoffmann de violar a Lei de Segurança Nacional ao fazer o que ela chamou de “pedido para o Exército Islâmico atuar no Brasil”. A mesma que aplaudiu violência na caravana promovida por Lula pelo interior do Rio Grande do Sul. “Botaram para correr aquele que foi lá, levando um condenado se queixando da democracia. Atirar ovo, levantar o relho, levantar o rebenque é mostrar onde estão os gaúchos”, disse. Parece piada, mas é a mais pura realidade da política brasileira. Isso sem contar o apoio do “centrão” –  que bem poderia ser direitão -, aquele bloco de partidos cuja foto está no dicionário ao lado da palavra fisiologismo.
Desilusão, desilusão
Danço eu dança você
Na dança da [convenção]
Na dança da convenção e convenções. Marina Silva (Rede) se uniu, justamente, ao seu antigo partido, o PV, e na dança das convenções se apresenta contra tudo e contra todos. No primeiro evento após sua candidatura ter sido oficializada, disse que “discursos extremistas que prometem saídas fáceis para uma crise complexa crescem na sociedade brasileira, alimentando-se de nossa insegurança e de nossa revolta. Já vimos esse filme antes e sabemos como ele acaba”, disse.
Meu pai sempre me dizia, meu filho tome cuidado
Quando eu penso no futuro, não esqueço o meu passado
Bem, Marina está certa. Paulinho da Viola também, não podemos esquecer do passado. Mas é aí que Marina erra o pulo, afinal, ela fez parte desse passado. Como ministra de Lula, como candidata à presidência pelo PSB, ao dar apoio a Aécio Neves (PSDB). Ela também atuou nesse filme. O mesmo vale para Henrique Meirelles (MDB), presidente do Banco Central durante o governo Lula e Ministro da Fazenda nos últimos dois anos.
Paulinho da Viola diz, com entusiasmo, que
Apesar de tudo, existe uma fonte de água pura
Quem beber daquela água não terá mais amargura
Apesar da análise amarga, permaneço otimista em encontrar a fonte de água pura que me curará da amargura. Escolho acreditar na democracia, escolho acreditar em um desses 13 candidatos. Os que listei acima são os melhores colocados nas pesquisas mais recentes, mas há outros candidatos na disputa. Abaixo, veja a lista dos candidatos e candidatas à presidência.
Raquel Grabauska

O Museu Desmiolado

Raquel Grabauska
3 de agosto de 2018

Me senti desmiolada por quase perder. Uma exposição linda, completamente interativa e gratuita. Não tem desculpa para não ir no Museu Desmiolado.

Aqui vão os depoimentos de como foi vista por cinco crianças diferentes

Joana levantou, sentou na cama. Sorrisão no rosto: “Mãe! Tem muita coisa! Muita coisa naquele museu…”, deitou e voltou a dormir.
Joana, 4 anos

Tem uma coisa muito macia. Eu me joguei e não conseguia sair (rindo muito). É amarela. E tinha a vermelha também.
Tom, 4 anos

Adorei poder desenhar e deixar o desenho na parede. E desenhei aquelas obras que deram medo: o castelo da bruxa e as fitas.
Anita, 5 anos

Gostei das fitas coloridas que balançam e voam não me lembro direito, e em segundo, daquela outra das pedras preciosas.
João , 5 anos

Gostei do relógio gigante , porque dava pra mexer e ele girava. Gostei muito dos pufes macios.  Da mesa que tava pra tirar todas as peças de encaixe e não precisava arrumar depois.
Benjamin, 7 anos

 

A inspiração para tudo isso é o livro Museu Desmiolado, de Alexandre Brito.

Museu Desmiolado
Onde: Santander Cultural
Quando: até 12 de agosto
Horário: de terça a sábado das 10 às 19h
Domingo: das 13 às 19h