Toda vez que eu ligo o computador, sem exceção, leio algo que me deixa devastada. Pode ser uma notícia, um tuíte aleatório de uma pessoa errática, ou o comentário em um portal de hardnews que, de maneira quase sádica, eu insisto em ler.
A minha alucinação, é, de fato, suportar o dia-a-dia. E o meu delírio é a experiência com coisas reais quando já parece que não pertenço a esse mundo
Não posso pertencer a um mundo em que o ódio é a gênese do que se acredita ser raciocínio lógico; em que existe origem certa ou errada; em que mulher é sinônimo de nada; em que ditadores são aclamados. Eu não posso pertencer a um mundo em que um rapaz delicado e alegre, que canta e requebra, seja ridicularizado e em que o amar é pecado.
Às vezes eu simplesmente sinto que o sinal está fechado pra nós, que somos jovens. Parece exagero, eu sei. Pior ainda, soa como reprise, como o desespero que era moda em 76. Mas ando mesmo descontente e quero que esse canto torto ecoe e, feito faca, corte a carne de vocês.
Nós não podemos amar o passado e viver como nossos pais, precisamos evoluir. Precisamos acordar e fazer o destino com o suor das nossas mãos. Aproveitar o momento em que nossa voz resiste e, por isso, podemos cantar muito mais.
Me assusta que meus horrores não assustem a todos. Confesso. E me assusta porque ao vivo é muito pior
Meninos de 14 anos acham que estupro é culpa da menina que usa saia curta. Adolescentes acham que ser gay é errado. Crianças rejeitam o colega diferente. Jovens gritam, a plenos pulmões, que comunistas tem que morrer.
Ainda assim, acredito nos bons ventos do futuro. Que uma nova mudança, em breve, vai acontecer e que o passado de preconceitos é uma roupa que não nos serve mais. E a minha parte eu faço, amando e mudando. Tenho ouvido muitos discos, conversado com pessoas, caminhado meu caminho. Porque amar e mudar as coisas, me interessa mais.

Obrigada, Belchior, por me emprestar as palavras deste texto e algumas ideias. Obrigada, Belchior, por me permitir cantar política e a sociedade com a melodia de quem fala de amor.

