Era uma vez uma jovem chamada Democracia.
Linda, era daquele tipo de mulher que contagia, sabe? Uma brasileira voluptuosa de cerca de 30 anos com um poder hipnotizador. Com aquele sorriso largo, cheio de dentes e significado, ela dominava qualquer ambiente. Parecia quase uma justiceira, uma Mulher Maravilha em roupas mais discretas, talvez, mas sempre com o laço da verdade.
Ela era do tipo que acreditava realmente na igualdade, dizia que somente na igualdade nossa sociedade pode evoluir. Mais do que isso, ouvia a todos com a mesma atenção enquanto pregava que a liberdade de expressão é a mãe de todas as liberdades. Ela era tão livre que costumava sair correndo por aí, deixando sua marca por onde quer que passasse. Mas ela detestava atalhos. Ah, como detestava.
Mas esse caráter afável e altivo da Democracia a deixava vulnerável. Ela confiava e abraçava a todos mas nem todos o faziam com sinceridade. No discurso, eram amigos, mas pelas costas, o jeito faceiro dessa mulher inteligente e intensa, com os lábios sempre pintados de vermelho, incomodava aos que preferem uma moça recatada e do lar.
Em público, era a namoradinha do Brasil. Mas a portas fechadas, diziam que não é pra casar.
Todo o cinismo a deixou frágil a ponto de ela se tornar refém de sua madrasta, dona Câmara, que tinha duas filhas muito malvadas, chamadas Corrupção e Farsa. Ah, como elas a maltratavam. Dona Câmara fazia dela um joguete, usava seu nome quando considerava conveniente, mas não tinha a menor consideração por ela, o menor cuidado. E suas irmãs não perdiam a oportunidade de a destruir. Corrupção e Farsa constantemente espancavam Democracia diante de todos, que assistiam atônitos ao espetáculo. Rasgavam sua roupa, machucavam seu corpo e cometiam os abusos mais atrozes.
Depois de muito sangrar, porém, Democracia se reergueu. Com a ajuda de tantos admiradores que jamais deixaram de acreditar, ela percebeu que podia confiar no futuro. Justiça, a fada madrinha, preparou-a para uma nova vida. Pegou uma abóbora, transformou-a em bicicleta mágica e chamou de Legalidade.
Por um tempo, a Legalidade conduziu Democracia. Por caminhos tortos às vezes, é verdade, mas elas sempre chegavam ao destino.
Justiça não avisou, no entanto, que Legalidade sucumbiria eventualmente.E todos descobriram da maneira mais dura.
Meia-noite ainda não chegou, mas Legalidade já virou abóbora e Democracia está ferida.
(Espero que não seja o Fim)
