Do seu gênero

Mesmo com maior representatividade, percentual de mulheres no Congresso está abaixo da média da população

Évelin Argenta
4 de dezembro de 2018
Brasilia DF 11 07 2018-Sessão do Congresso Plenário da Câmara dos Deputados durante sessão conjunta do Congresso Nacional destinada a deliberação da Lei de Diretrizees Orçamentárias (LDO) e créditos suplementares (projetos de Lei do Congresso Nacional nºs 13, 9, 10 e 2 de 2018).Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

As eleições de 2018 mostraram um avanço das mulheres na Câmara dos Deputados.  Em 2019 teremos 50% mais mulheres na Casa Legislativa do que havia em 2015, quando as eleitas em 2014 tomaram posse. No pleito de 07 de outubro foram eleitas 77 deputadas federais, 26 a mais do que em 2014. Isso quer dizer que a nova Câmara vai ter 15% de mulheres na sua composição.

Mesmo com a melhoria na representatividade feminina de forma geral no legislativo, a proporção de mulheres segue abaixo do encontrado na população brasileira. No país, de acordo com dados do IBGE, a cada 10 pessoas, pelo menos 5 são do gênero feminino.

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Mulheres da Câmara Federal

Segundo dados colhidos pelo Vós junto ao Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), apesar do aumento no número de deputadas federais, três estados não elegeram nenhuma mulher para o cargo: Amazonas, Maranhão e Sergipe.

No caso das Assembleias estaduais, em 2018 foram eleitas 161 deputadas, aumento de 35% em relação a 2014. São Paulo e Rio de Janeiro são os Estados que mais elegeram mulheres para a Câmara. O estado paulista terá 18 representantes mulheres, sete a mais do que no último pleito. Já o estado fluminense elegeu 12 mulheres. Em São Paulo está a deputada federal mais votada no país. A jornalista Joyce Hasselmann, do PSL – partido do presidente eleito Jair Bolsonaro – recebeu mais de um milhão de votos.

Ainda na Câmara dos Deputados, aumentou o número de negras: de 10 para 13 e de brancas: 41 para 63. Em 2019 também teremos a primeira mulher indígena no Congresso Nacional: Joenia Wapichana, da Rede, foi eleita por Roraima.

Dentro dos partidos

O PT (Partido dos Trabalhadores), que ficou com a maior bancada na Câmara, também foi o que mais elegeu mulheres: são 10 deputadas entre as 56 cadeiras que o partido conquistou. Em seguida vem o PSL (Partido Social Liberal), do candidato presidencial Jair Bolsonaro. Com nove mulheres, o PSL tem a segunda maior bancada na casa, com 52 parlamentares. Depois deles, o PSDB aparece em terceiro com maior número de mulheres na Câmara: serão oito deputadas entre os 29 eleitos.

O único partido que conquistou a paridade entre homens e mulheres foi o PSOL. O partido elegeu 10 parlamentares, cinco homens e cinco mulheres. O PTC também tem uma divisão de 50% entre os gêneros na bancada, mas elegeu apenas dois parlamentares e não atingiu a cláusula de barreira. O PCdoB, que também não atingiu a cláusula, chegou perto da paridade: cinco homens e quatro mulheres.

Família ê, família á…

Ainda segundo o Diap, pelo menos oito parlamentares eleitas em 2018 chegaram ao posto possuindo parentesco com políticos tradicionais. No Distrito Federal, por exemplo, a campeã de votos Flávia Arruda (PR) é mulher do ex-governador José Roberto Arruda. Do Espírito Santo, retornará à Câmara Federal, a empresária e música, Lauriete Rodrigues (PR), esposa do senador não reeleito Magno Malta. No Paraná, foi eleita a deputada mais jovem: Luisa Canziani (PR), que tem 22 anos. A estudante é filha do deputado Alex Canziani,que não foi eleito para o Senado Federal neste ano. No Rio de Janeiro, foi eleita Daniela do Waguinho (MDB-RJ), mulher do prefeito de Berlfor Roxo.

Outra deputada que chegará à Câmara com sobrenome tradicional na política é a advogada e empresária Jaqueline Cassol (PP), irmã do senador por Rondônia, Ivo Cassol. Entre as atuais deputadas, renovaram os mandatos: Clarissa Garotinho (Pros-RJ), filha do ex-governador Anthony Garotinho; Soraya Santos (PR), que é casada com o ex-deputado federal Alexandre Santos; e Rejane Dias (PT), a campeã de votos no Piauí (138.800), que é mulher do governador reeleito Wellington Dias.

Mulheres no Senado

Já no Senado, os dados do Diap mostram que a bancada de mulheres para os próximos quatro anos será menor do que a atual, apesar do número recorde de candidaturas no pleito. Conforme dados do Supremo Tribunal Federal, ao todo, 62 candidatas se cadastraram para tentar ocupar as 54 cadeiras. Com sete senadoras eleitas e uma vaga de suplente assumida, a Casa terá doze senadoras, uma a menos do que o grupo atual.

As sete novas senadoras que tomarão posse em 2019 são: Leila do Vôlei (PSB-DF), Eliziane Gama (PPS-MA),  Soraya Thronicke (PSL-MS),  Juíza Selma Arruda (PSL-MT),  Daniella Ribeiro (PP-PB), Drª Zenaide Maia (PHS-RN) e Mara Gabrilli (PSDB-SP).

BANCADA FEMININA *

PARLAMENTAR PARTIDO UF MANDATOS VOTAÇÃO 2018 IDADE SITUAÇÃO PROFISSÃO
Jéssica Sales MDB AC 28.717 38 Reeleita Médica
Perpetua Almeida PCdoB AC 18.374 54 Nova Professora e Bancária
Mara Rocha PSDB AC 40.047 45 Nova Empresária
Drª Vanda Milani SDD AC 22.219 65 Nova Magistrada
Teresa Nelma MDB AL 44.207 61 Nova Professora
Leda Sadala Avante AP 11.301 52 Nova Contadora
Professora Marcivânia PCdoB AP 14.196 45 Reeleita Professora de Ensino Médio
Aline Gurgel PRB AP 16.519 38 Nova Advogada
Alice Portugal PCdoB BA 126.595 59 Reeleita Química Industrial e Farmacêutica Bioquímica
Lídice da Mata PSB BA 104.348 62 Nova Economista
Profª Dayane Pimentel PSL BA 136.742 32 Nova Professora de ensino superior
Luizianne PT CE 173.777 50 Reeleita Jornalista e Professora de Ensino Superior
Celina Leão PP DF 31.610 41 Nova Administradora
Paula Belmonte PPS DF 46.069 45 Nova Empresária
Flavia Arruda PR DF 121.340 38 Nova Empresária e professora
Bia Kicis PRP DF 86.415 57 Nova Advogada
Érika Kokay PT DF 89.986 61 Reeleita Bancária
Norma Ayub DEM ES 57.156 59 Reeleita Servidora Pública Estadual
Lauriete PR ES 51.983 48 Nova Empresária e Música
Dra. Soraya Manato PSL ES 57.741 57 Nova Médica
Flávia Morais PDT GO 169.774 49 Reeleita Professora de Educação Física
Magda Mofatto PR GO 88.894 70 Reeleita Empresária
Greyce Elias Avante MG 37.620 37 Nova Advogada
Alê Silva PSL MG 48.043 44 Nova Advogada
Aurea Carolina PSol MG 162.740 35 Nova Socióloga e Cientista Política
Margarida Salomão PT MG 89.378 68 Reeleita Professora Universitária e Escritora
Tereza Cristina DEM MS 75.068 64 Reeleita Engenheira Agrônoma e Empresária
Rose Modesto PSDB MS 120.901 40 Nova Servidor Público Estadual
Professora Rosa Neide PT MT 51.015 55 Nova Professora
Elcione Barbalho MDB PA 165.202 74 Reeleita Empresária
Edna Henrique PSDB PB 69.935 60 Nova Delegada
Marília Arraes PT PE 193.108 34 Nova Advogada
Iracema Portella PP PI 96.277 52 Reeleita Empresária
Margarete Coelho PP PI 76.338 57 Nova Servidora Pública do Estado
Rejane Dias PT PI 138.800 46 Reeleita Administradora
Dra. Marina PTC PI 70.828 38 Nova Médica
Christiane de Souza Yared PR PR 107.636 58 Reeleita Empresária e Pastora
Aline Sleutjes PSL PR 33.628 39 Nova Agente Administrativo
Gleisi Lula PT PR 212.513 53 Nova Advogada
Luisa Canziani PTB PR 90.249 22 Nova Estudante
Leandre PV PR 123.958 43 Reeleita Engenheira
Daniela do Waguinho MDB RJ 136.286 42 Nova Professora
Jandira Feghali PCdoB RJ 71.646 61 Reeleita Médica e Música
Soraya Santos PR RJ 48.328 60 Reeleita Advogada
Rosângela Gomes PRB RJ 63.952 52 Reeleita Bacharel em Direito
Clarissa Garotinho PROS RJ 35.131 36 Reeleita Jornalista
Flordelis PSD RJ 196.959 57 Nova Administradora
Chris Tonietto PSL RJ 38.525 27 Nova Advogada
Major Fabiana PSL RJ 57.611 38 Nova Policial Militar
Talíria Petrone PSol RJ 107.317 33 Nova Professora
Benedita da Silva PT RJ 44.804 76 Reeleita Assistente Social
Natalia Bonavides PT RN 112.998 30 Nova Advogada
Silvia Cristina PDT RO 33.038 44 Nova Jornalista
Jaqueline Cassol PP RO 34.193 44 Nova Advogada
Mariana Carvalho PSDB RO 38.776 32 Reeleita Médica e Música
Shéridan PSDB RR 12.129 34 Reeleita Psicóloga
Joenia Wapichana Rede RR 8.491 45 Nova Advogada
Liziane Bayer PSB RS 52.977 37 Nova Pastora
Fernanda Melchionna PSOL RS 114.302 34 Nova Bancária e Bibliotecária
Maria do Rosário PT RS 97.303 52 Reeleita Professora
Angela Amin PP SC 86.189 65 Nova Professora
Carmem Zanotto PPS SC 84.703 56 Reeleita Enfermeira
Geovania de Sá PSDB SC 101.937 46 Reeleita Administradora
Caroline de Toni PSL SC 109.363 32 Nova Advogada
Adriana Ventura NOVO SP 64.341 49 Nova Administradora
Tabata Amaral PDT SP 264.450 25 Nova Cientista Política e Astrofísica
Renata Abreu PODE SP 161.239 36 Reeleita Empresária e Advogada
Policial Katia Sastre PR SP 264.013 42 Nova Policial Militar
Maria Rosas PRB SP 71.745 53 Nova Administradora
Rosana Valle PSB SP 106.100 49 Nova Jornalista
Bruna Furlan PSDB SP 126.847 35 Reeleita Bacharel em Direito e Empresária
Carla Zambelli PSL SP 76.306 38 Nova Gerente
Joice Hasselmann PSL SP 1.078.666 40 Nova Jornalista
Luiza Erundina PSOL SP 176.883 84 Reeleita Assistente Social
Sâmia Bomfim PSOL sp 249.887 29 Nova Servidora Pública Municipal
Professora Dorinha Seabra Rezende DEM TO 48.008 54 Reeleita Empresária e Professora Universitária
Dulce Miranda MDB TO 40.719 55 Reeleita Graduada em Direito

*A tabela acima foi organizada pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar e pode ser acessado através do site http://www.diap.org.br/

PodCasts

Sobre Nós # 3 |  Machismo

Geórgia Santos
4 de outubro de 2018

O movimento #elenão não surge à toa. É um grito de desabafo. São as mulheres dizendo que não vão mais aguentar. No Sobre Nós desta semana, atores interpretam relatos reais de mulheres que sofreram com o machismo no ambiente de trabalho – extraídos do projeto Everyday Sexism. E relatos reais  de homens machistas – extraídos de comentários em sites de notícia. A direção é da Raquel Grabauska.

 

Reporteando

A mulher e a moeda de troca na campanha eleitoral

Évelin Argenta
20 de setembro de 2018

Na semana passada o Vós trouxe um compilado das propostas dos candidatos para as mulheres.  No pleito de 2018 há duas candidaturas encabeçadas por elas e outras quatro compostas por mulheres na vice-candidatura, achamos interessante explorar o tema. Tão interessante, que procuramos duas pesquisadoras para comentar os planos.

Deisy Cioccari e Beatriz Pedreira estudam os temas mulher e política e, como já esperávamos, não ficaram surpresas com a falta de propostas para o público feminino. Para Deisy fica claro o uso a mulher como moeda de troca nas campanhas eleitorais. Já para Beatriz, temas como o aborto ainda ficam de fora , pois precisamos ainda desmistificar o tema antes de colocá-lo na berlinda. Separamos dois trechos da entrevista com cada uma delas.

Deisy Cioccari, jornalista, mestre em Produtos Midiáticos: Jornalismo e Entretenimento, doutora em Ciência Política e pós-doutoranda em Comunicação

A surpresa seria se as pautas do aborto e da equiparação salarial entre homens e mulheres estivessem bem específicas nos planos de governo. Lendo os planos de governo lembrei da presidente Dilma Rousseff na campanha de 2010. Ela tentou tocar na pauta do aborto e depois passou a campanha inteira sofrendo pelo que falou. Ela teve até que escrever uma carta à população e, ainda assim, foi super genérica. Eu costumo dizer que a política é feita de homens para homens e quando surge uma questão feminina eles silenciam. A conversa com o congresso (sobre o aborto) é quase impossível. As bancadas mais fortes na Câmara são a bancada ruralista, a bancada da bala e a bancada evangélica. E a bancada evangélica vai trancar qualquer pauta ligada ao aborto”

“A mulher é usada na propaganda eleitoral como moeda de troca. Quando interessa, ela aparece na pauta do debate eleitoral. Um exemplo é quando você vê o Bolsonaro falando algo sobre a mulher. Ele que é o candidato mais misógino que vimos nos últimos anos! Fora isso, a própria equiparação salarial não tem nenhuma proposta concreta. É tudo muito genérico quando a pauta é o feminismo. É uma política de homens para homens. Quando a mulher aparece nos planos de governo, ela aparece ainda associada a políticas voltadas para criação de creches, ou com alguma função mais familiar. A mulher não assume o protagonismo nos planos de governo. Mesmo tendo duas mulheres como candidatas a presidente e quatro como vices, não há protagonismo feminino.”

Beatriz Pedreira, é cientista social e especialista em inovação política, cofundadora do Instituto Update (instituto que mapeia iniciativas de inovação política na América Latina)

Eu não fiquei surpresa, mas fiquei impressionada com a pouca presença das mulheres nos planos, mesmo nos candidatos que têm uma visão mais progressista. Mesmo no que diz respeito a iniciativas de incentivo à equiparação salarial, qualquer mudança na legislação precisaria passar pelo Congresso. O que o presidente pode fazer é criar campanhas e incentivos para começar a discutir de uma forma mais direta isso na sociedade. A equiparação salarial entre homens e mulheres que ocupam os mesmos cargos já está na Constituição, só precisamos encontrar maneiras de cumprir.”

“O aborto é um tema muito sensível, um tema que não tem espaço para discussão na sociedade brasileira. Muitos candidatos, mesmo pessoalmente à favor, entendem essa iniciativa como inviável politicamente. É um tema extremamente impopular. Somos uma sociedade conservadora, religiosa, que tem pouquíssima informação sobre a descriminalização do aborto como política de saúde pública. Não temos nenhuma conscientização sobre isso. É outro tema que depende do Congresso. O que o presidente pode fazer é criar campanhas de conscientização, ir trabalhando isso na sociedade para desmistificar esse processo. Os números são muito racionalmente explicáveis, mas o tema é ainda muito tabu. É uma questão de tempo, não é algo para agora.”

Eleições

Políticas para as mulheres . Quatro dos 13 candidatos sequer citam a palavra “mulher” nos planos de governo

Évelin Argenta
13 de setembro de 2018

O eleitorado feminino é maioria no universo de eleitores. Somos 52,5% do eleitorado no pleito de 2018 e também representamos a maioria dos indecisos. Segundo dados da última pesquisa Datafolha, divulgada em 11 de setembro, uma em cada duas mulheres ainda não sabe em quem votar. É quase o dobro da indefinição entre os homens, de 26%.

Não é de se surpreender que, nesse cenário, o público feminino tenha sido escolhido como parte do discurso dominante. Depois de seguidos movimentos denunciando abusos e agressões contra mulheres, o feminismo virou pauta (não sem antes virar mercadoria) na boca dos candidatos.

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Diante de um cenário ainda tão confuso, atrair a atenção desse segmento pode ser crucial para definir quem vai para o segundo turno

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Há duas mulheres disputando o pleito: Marina Silva (Rede) e Vera Lúcia (PSTU). Mas a preocupação com o eleitorado feminimo também tem como primeiro sinal a escolha dos vices nas campanhas. Embora não envolvidas diretamente com a pauta feminina, as candidaturas do PSDB e do PDT escolheram mulheres para dividir o governo. As senadoras Ana Amélia e Kátia Abreu, respectivamente, foram oficializadas no começo de agosto para compor as candidaturas. Uma terceira vice, mesmo que, inicialmente, em posição de stand-by, foi anunciada pelo PT. Trata-se da deputada gaúcha Manuela d’Ávila que chegou a oficializar a candidatura para presidente pelo PCdoB.

Mas será que o discurso condiz com a prática? O Vós analisou os planos de governo registrados pelas 13 candidaturas no TSE. A ordem de apresentação no texto segue a posição dos candidatos na última pesquisa Datafolha, divulgada no dia 11 de setembro.

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Jair Bolsonaro – O caminho da prosperidade

Candidato do PSL, o deputado federal Jair Bolsonaro tem maior prevalência de votos entre os homens. Entre as mulheres, a rejeição ao candidato ainda é grande: 49% do eleitorado feminino diz que não votaria em Bolsonaro de jeito nenhum.

O programa de governo dele disponível no TSE menciona uma única vez a palavra “mulheres” em 81 páginas.

As propostas apresentadas são em geral dirigidas a todos os “cidadãos”, às “pessoas” ou às famílias, sem direcioná-las a grupos específicos. Em suas manifestações públicas, Bolsonaro afirma que tratará os gêneros igualmente. Quando questionado sobre desigualdade salarial entre homens e mulheres, o candidato afirma que não cabe ao Estado interferir no mercado de trabalho e que a CLT já trata da equiparação salarial.

Os planos do PSL

  • Combater o estupro de mulheres e crianças, por meio de medidas como investimento policial, redução da maioridade penal de 18 para 16 anos e ampliação do acesso ao porte de armas;
  • Investir na saúde bucal e no bem-estar de gestantes, com foco na prevenção de doenças;
Ciro Gomes – Diretrizes para uma estratégia nacional de desenvolvimento para o Brasil

Candidato do PDT, o ex-governador do Ceará, Ciro Gomes afirma em seu programa que, se for eleito, ele pretende corrigir desigualdades sociais entre homens e mulheres e que isso faz parte de sua estratégia. O plano inclui as mulheres ao lado da população negra, LGBT e pessoas com deficiência.

Um dos tópicos é “respeito às mulheres”, em que propõe 32 medidas. A palavra mulheres aparece, igualmente, 32 vezes no programa.

Os planos do PDT

  • Recriar a Secretaria das Mulheres;
  • Promover ações de combate à violência contra a mulher;
  • Equiparar o número de homens e mulheres em cargos de comando no governo federal;
  • Aumentar as vagas em creches (não fala em números ou prazos);
  • Fortalecer programas de qualificação profissional;
  • Criar programas de microcrédito;
  • Promover ações com foco no aumento de mulheres na política;
  • Garantir cumprimento da lei que determina igualdade salarial entre homens e mulheres com igual função e carga horária;
  • Incentivar criação de novas delegacias de atenção à mulher.
Marina Silva – Brasil justo, ético, próspero e sustentável

Candidata da Rede, a ex-ministra Marina Silva fala das mulheres em pontos do programa dedicados à saúde, educação e emprego. As ações são articuladas a propostas que incluem também as populações LGBT, negra e povos indígenas.

A palavra “mulher” aparece nove vezes no programa da candidata.

No capítulo “Direitos Humanos e cidadania plena”, por exemplo, o programa fala em definir políticas específicas para “as desigualdades que atingem mulheres, população negra“, entre outros grupos. Nesse ponto, há um tópico só para mulheres, em que Marina detalha algumas propostas.

Os planos da Rede

  • Ampliação das políticas de prevenção à violência contra a mulher;
  • Combate ao tráfico interno e internacional de pessoas, bem como o turismo sexual, que atingem majoritariamente as mulheres;
  • Criação de políticas que enfrentem a discriminação no mercado de trabalho, com o objetivo de garantir igualdade salarial para mulheres e homens;
  • Apoiar o empreendedorismo feminino, por meio de acesso a crédito e capacitação profissional;
  • Ampliar oferta de creches em tempo integral (como forma de facilitar o ingresso e a continuidade da mulher no mercado de trabalho);
  • Ampliação do tempo de licença paternidade e a construção de um modelo que possibilite uma transição gradual para um sistema de licença parental;
  • Promoção de ações preventivas e efetividade dos Programa de Planejamento Reprodutivo e Planejamento Familiar;
  • Oferta de contraceptivos pelas farmácias populares e estímulo ao parto humanizado;
  • Promover ações de prevenção e atendimento à gravidez na adolescência;
  • Ampliar as políticas de prevenção à violência contra mulher e a rede de atendimento às vítimas
Geraldo Alckmin – Diretrizes gerais

Candidato do PSDB, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin entregou um programa de governo enxuto. Ele é composto por propostas curtas, em formato de tópicos. Há três eixos principais de ação, que giram em torno do desenvolvimento econômico e do combate à corrupção e à desigualdade social.

A palavra “mulheres” aparece apenas duas vezes no plano do tucano.

O tema “mulheres” surge associado a políticas sociais e de segurança pública, que incluem outros grupos, como idosos, LGBT e “outras minorias”. Lembrando que as mulheres são a maioria da população e do eleitorado brasileiro. Lembrando, ainda, que em janeiro de 2015, quando o então eleito governador de São Paulo anunciou o secretariado, apenas duas das 25 pastas foram ocupadas por mulheres.

Os planos do PSDB

  • Incentivar a disseminação de “patrulhas Maria da Penha” nas PMs e nas Guardas Municipais com a padronização dos serviços em âmbito da Academia Nacional de Polícia;
  • Incentivar a criação de uma rede nacional de serviços especializados de atendimento a mulheres vítimas de violência (exame de corpo de delito, atendimento nas delegacias etc.);
  • Incentivar a criação de redes não-governamentais de atendimento às vítimas de violência doméstica, violência de gênero, violência racial, violência contra homossexuais, contra idosos, abuso sexual e exploração sexual de crianças e adolescentes;
Fernando Haddad – Plano Lula de governo

O plano registrado pelo PT foi oficializado ainda quando o partido tinha em sua cabeça de chapa o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba, condenado pela Lava-Jato. O partido dedicou um tópico a políticas para mulheres dentro do capítulo “Inaugurar um novo período histórico de afirmação de direitos”. De forma geral, o programa trata a temática de maneira conjunta com outros setores, destacando ações específicas para esse público em campos diversos, como economia, saúde, social e segurança pública.

A palavra mulheres aparece 25 vezes no programa do PT.

Em outros pontos do programa, o partido inclui as mulheres ao lado de outros grupos, como indígenas, negros e população LGBT, cuja participação promete “aumentar significativamente” nas instâncias de decisão do Poder Executivo.

Os planos do PT

  • Recriar as secretarias, com status de ministério, de Direitos Humanos, Políticas para as Mulheres e Promoção da Igualdade Racial;
  • Incentivo à produção de ciência e tecnologia pelas mulheres;
  • Aumentar o valor e o tempo do seguro-desemprego para as gestantes e lactantes (não traz números);
  • Aumentar significativamente a presença das mulheres e de negras/os nas instâncias de decisão do Poder Executivo, sobretudo na composição dos ministérios, do Poder Judiciário, do Poder Legislativo e Ministério Público;
  • Ampliar políticas de proteção e combate à violência contra a mulher;
  • Incentivar políticas de saúde voltadas a gestantes (como programas de valorização do parto normal) e ao combate à mortalidade infantil;
  • Apoiar prefeituras para ampliar oferta de vagas em creches (para facilitar o ingresso e a continuidade da mulher no mercado de trabalho);
  • Assegurar às mulheres a titularidade prioritária dos lotes em assentamentos de programas de reforma agrária;
    -Investir na estruturação do futebol feminino;
Alvaro Dias – Plano de metas 19+1: para refundar a República!

O plano de governo do candidato do Podemos, senador Alvaro Dias, não tem tópico específico sobre a temática de gênero ou ações direcionadas a mulheres ou outros grupos específicos. O tom do documento se destina essencialmente ao “povo brasileiro”.

A palavra “mulheres” não aparece uma única vez no plano do candidato.

A única menção ao público feminino aparece dentro de “sociedade”, no tópico “família unida”, em que o candidato promete acesso universal a creches para “as mães que trabalham”.

João Amoedo – Mais oportunidades, menos privilégios

Candidato do Novo, o empresário João Amoêdo não traz em seu plano de governo ações específicas a mulheres ou a outros grupos, como negros, indígenas ou população LGBT.

Mais uma vez, as “mulheres” não são citadas em nenhuma das 23 páginas do plano.

O candidato só fala ao público feminino quando fala da ideia de universalizar o acesso às creches (que permite que as mães possam trabalhar enquanto os filhos estudam), mas o programa não faz essa relação nem detalha a promessa com ações e prazos.

Henrique Meirelles – Pacto pela confiança!

Candidato do MDB, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles elaborou um plano direcionado quase que exclusivamente à economia, tema que abre o programa do candidato.

A palavra “mulheres” aparece duas vezes no plano do emedebista.

Em um trecho específico ele menciona a diferença salarial entre homens e mulheres, detalhando que trabalhamos, em média, três horas a mais todas as semanas e temos 76,5% do rendimento dos homens. Com efeito indireto para as mulheres, o plano enfatiza investimentos em educação infantil, mas o candidato não explicita essa relação no documento.

Os planos do MDB

  •  Incentivar a redução da diferença salarial entre homens e mulheres;
  • Criar o Pró-Criança, programa de transferência de renda para famílias colocarem filhos em creches particulares;
  • Retomar obras paradas de creches.
Guilherme Boulos – Programa da coligação Vamos sem medo de mudar o Brasil

Candidato do PSOL, o coordenador nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Guilherme Boulos, elaborou um programa amplo, com 228 páginas, que tem como prioridade o combate às desigualdades sociais.

A palavra “mulheres” aparece 125 vezes.

Boulos coloca como medidas centrais de seu plano, as ideias voltadas às mulheres, à população negra, LGBT e indígena e a pessoas com deficiência. A parcela que, nas palavras do candidato, representa a “maioria da classe trabalhadora brasileira”. O texto tem tópicos específicos para mulheres e ao menos 40 ações intersetoriais mencionadas em todo o programa.

Os planos do Psol

  • Realizar uma reforma eleitoral para assegurar cotas de participação a mulheres e negros nos partidos;
  • Instituir cotas para mulheres, negros e indígenas em cargos públicos;
  • Criar mecanismos de equiparação salarial entre homens e mulheres;
  • Criar um plano nacional contra a violência contra a mulher;
  • Destinação de 1% do PIB para combate à violência contra a mulher;
  • Implantar projetos de modelo de atenção à saúde mental das mulheres na perspectiva de gênero com os Centros de Atenção Psicossocial;
  • Garantir a equiparação salarial;
  • Descriminalizar e legalizar o aborto;
  • Ampliar o acesso à creche.
Vera Lúcia –16 pontos de um programa socialista para o Brasil contra a crise capitalista

Candidata do PSTU, a educadora sindical Vera Lúcia tem um plano de governo voltado para a classe trabalhadora, há referências a mulheres e população LGBT. O texto traz 16 pontos que tratam de questões trabalhistas, geração de emprego e melhorias na saúde e educação.

A palavra “mulher” é citada quatro vezes.

As referências de políticas voltadas ao público feminino não trazem detalhes de como essas propostas seriam colocadas em práticas.

Os planos do PSTU

  • Combater a violência contra mulher;
  • Equiparar salários entre homens e mulheres;
  • Legalizar o aborto.
Cabo Daciolo – Plano de nação para a colônia brasileira

O deputado federal Cabo Daciolo, candidato à presidência pelo Patriota, não traz nenhuma menção ou proposição específica para mulheres ou outros grupos, como população LGBT. As propostas, bastante generalistas, são divididas em cinco grupos: educação, saúde, economia, infraestrutura de transportes e segurança pública. No plano, um dos pontos que toca indiretamente as mulheres é o aborto. Daciolo critica o debate sobre a legalização do aborto.

A palavra “mulheres”, mais uma vez, não aparece no documento protocolado no TSE.

João Goulart Filho – Distribuir a renda, superar a crise e desenvolver o Brasil

Candidato do PPL, o escritor João Goulart Filho propôs um programa voltado à distribuição de renda e ao desenvolvimento econômico. A proposta é organizada em 20 tópicos. Em um deles, o candidato afirma que a situação da mulher é o principal “termômetro do avanço ou atraso de uma sociedade”, cabendo ao Estado assegurar o desenvolvimento das mulheres. A palavra “mulher” aparece 20 vezes no plano de 14 páginas.

O documento sinaliza que, se eleito, o candidato manterá as regras atuais (legalizado em casos de estupro, risco de vida da mãe e anencefalia). Ele ainda defende que o Estado proporcione acesso a métodos anticoncepcionais.

Os planos do PPL

  • Equiparar os salários entre homens e mulheres;
  • Aumentar para 1 ano a licença maternidade;
  • Reduzir a carga de trabalho que recai sobre as mulheres, ao desenvolver equipamentos sociais que reduzam as tarefas domésticas;
  • Incluir mulheres na titularidade de terras concedidas em programas de reforma agrária;
  • Instituição de policiamento específico – policiais femininas, delegacias da mulher, que devem ser restabelecidas, e outros aparelhamentos públicos;
  • Zerar o deficit de creches e garantir creche em horário integral (não apresenta metas ou prazos)
José Maria Eymael – Carta 27: diretrizes gerais de governo para construir um novo e melhor Brasil

Candidato pelo Democracia Cristã, o advogado José Maria Eymael apresentou um plano que tem como compromisso o cumprimento da Constituição e dos “valores éticos” da família. É mais um plano que sequer menciona a palavra “mulheres”. Eymael cita idosos e pessoas com deficiência, como aqueles que necessitam ações específicas, mas sem dizer quais são. Em educação e emprego, o programa propõe medidas voltadas a crianças e adolescentes.

Voos Literários

O Dia da Mulher e as heroínas da vida real

Flávia Cunha
6 de março de 2018

O Dia Internacional da Mulher acaba favorecendo o protagonismo feminino na mídia. Tanto pela pauta de lutas por direitos das mulheres quanto por marcas e lojas tentando fazer “homenagens” – por vezes equivocadas. No meio literário, seguem as tentativas de reconhecimento das mulheres, como já escrevi aqui.

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O texto de hoje é mais um diagnóstico do apagamento de algumas mulheres em detrimento dos homens na literatura brasileira (e fora dela)

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Nessas investigações, cheguei ao ainda pouco conhecido Úrsula, escrito por Maria Firmina dos Reis e publicado em 1859. É considerado o primeiro romance abolicionista brasileiro. Foi escrito por uma mulher negra, em uma época em que poucas escritoras tinham vez na literatura nacional. Como deve ter sido a vida dessa escritora maranhense, falecida em 1917?

Dá para saber um pouco da trajetória dela através do livro Extraordinárias, Mulheres que revolucionaram o Brasil, de Aryane Cararo e Duda Porto de Souza. Resultado de uma pesquisa extensa, traz a história de cerca de 40 mulheres de diferentes épocas, do século 16 até a atualidade. Entre elas, a estilista Zuzu Angel, que lutou contra a ditadura militar; a guerreira negra Dandara; a atriz Leila Diniz, que subverteu a moral e os costumes da sua época; e Maria da Penha, que batizou uma das leis fundamentais dos direitos femininos atuais.

Na apresentação, as autoras comentam sobre a condição da mulher e o feminismo nos dias atuais:

“Cada mulher tem sua parte heroína. Enfrentar os preconceitos que mesmo no século xxi são tão presentes em nossa sociedade, dando conta também de tantos papéis e exigências, é, sem dúvida, prova de força. Prova. Essa palavra que nasce conosco e nunca nos abandona. Parece que temos de provar tudo a todos a todo momento, embora a gente saiba muito bem que ninguém nunca deveria ter de provar nada para garantir direitos iguais e respeito. Mas quem seria sua heroína? Não vale falar da Mulher-Maravilha, Jean Grey, Mulan, Katniss Everdeen, Beatrix Kiddo ou Trinity.

Queremos saber quem é sua heroína de verdade, de carne e osso, aquela que você admira, cuja história conhece, com quem se identifica. Joana d’Arc? Frida Kahlo? Marie Curie? Cleópatra? É fácil citar estrangeiras, mas onde ficam as brasileiras nessa lista? Sua inspiração é uma de nós? Na terceira onda do feminismo — ou quarta ou pós-feminismo, porque só o tempo dirá como ficarão conhecidos os dias atuais —, ainda parece difícil citar nossas guerreiras de ontem e de hoje, aquelas que, como nós, nasceram no Brasil ou decidiram viver aqui. E é por isso que escrevemos este livro.”

Dá para ler mais um trecho do livro aqui.

Outra publicação que vai destacar perfis de mulheres que revolucionaram o mundo deve ser lançada em breve pelo projeto As Minas na História. O livro será publicado em uma parceria com a Gibim Editora.

A foto desse texto são de ilustrações feitas especialmente para o livro Extraordinárias, Mulheres que revolucionaram o Brasil.

Voos Literários

Por onde andam as escritoras do presente e do passado?

Flávia Cunha
20 de fevereiro de 2018

Volta e meia, me pego pensando sobre como eu, mesmo sendo mulher e adepta do feminismo, leio poucos textos literários escritos por mulheres. Mas vocês já se perguntaram a razão de, em geral, lermos mais livros escritos por homens? Entre os motivos, eu acredito que esteja o pouco destaque dado à literatura feita por mulheres.

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Um levantamento divulgado no ano passado revelou que no Brasil, desde 1941, as mulheres ganharam só 17% do total de premiações dos maiores eventos literários do país

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Essa matéria também revela que há uma crença de que as escritoras produzem “literatura feminina”, como se fosse uma categoria menos relevante.

Outro dado que me chamou a atenção foi sobre a literatura beat. Eu sempre amei as obras escritas pelos doidos da geração beatnik, em especial Jack Keroauc e seu clássico On The RoadE eu nunca tinha parado para pensar porque não lia textos de mulheres nesse movimento literário. Não existiam ou não ganharam visibilidade? Pois ao ler um texto do sensacional projeto As Minas e a História descobri que existiram, sim, escritoras beatPorque não foram reveladas na época? Observem essa resposta do poeta Gregory Corso:

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“Tinha mulheres sim, eu conheci elas, suas famílias puseram elas em hospícios, foram parar no eletrochoque. Nos anos 50, se você fosse homem, dava para ser rebelde, mas se fosse mulher, a família te interditava.

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Essa matéria traz nomes de cinco escritoras: Elise Cowen (na foto acima com um dos ícones do movimento beat, o escritor Allen Ginsberg), Hettie Jones (que ilustra a capa), Denise Levertov, Joyce Johnson e Diane Di Prima. Para conhecer mais a obra das escritoras dessa época, recomendo a leitura do livro Meninas que Vestiam Preto, à venda aqui.

Em pleno século 21, ainda é muito necessário e louvável quando aparecem iniciativas destinadas a dar visibilidade para as mulheres na literatura. Destaco aqui uma proposta da Editora Calamares, de Minas Gerais, que está selecionando textos para uma Coletânea de Escritoras. Nossa intenção é que essa publicação seja impressa, anual e tenha seu primeiro número lançado em 2018. Para o processo de seleção dos textos que vão compor esse primeiro número, estamos com uma chamada aberta até o dia 15 de março de 2018.” Outras informações sobre a seleção estão aqui.

E, depois de escrever esse texto, coloquei com uma das minhas metas para 2018 ler mais livros escritos por mulheres.

Tão série

The Handmaid´s Tale – Quando a ficção está muito perto da realidade

Geórgia Santos
2 de dezembro de 2017

Recomendar a série The Handmaids Tale ( O conto da Serva, em tradução livre) é um tanto desconfortável diante do contexto político no qual estamos inseridos. A obra da Hulu é uma adaptação do livro homônimo de Margaret Atwood, que apresenta um cenário distópico em que mulheres férteis são escravizadas por homens poderosos que as estupram com fins de reprodução.

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É quase cruel falar disso em um momento em que 18 homens tiram o direito de uma mulher abortar o fruto de um estupro

Mas é necessário

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The Handmaid´s Tale se passa em um futuro próximo no que é conhecido como a República de Gileade, uma teonomia cristã e militar que ocupa o que antes se conhecia por Estados Unidos da América. A nação é controlada por um grupo fundamentalista evangélico autointitulado “Filhos de Jacó”, que suspende a Constituição dos EUA com o pretexto de restaurar a ordem. O que vale, então, é a lei de Deus – o Deus no qual eles acreditam, no caso.

O novo regime se baseia na restauração, com o objetivo de reorganizar a sociedade americana em torno de um novo modelo totalitário e militarizado inspirado no Antigo Testamento. A sociedade é dividida em castas e os direitos das mulheres são retirados imediatamente – são, inclusive, proibidas de ler.

A produtora executiva da série, Elisabeth Moss, interpreta a narradora da história, a serva Offred, cujo nome significa literalmente Of-Fred. Ou seja, “De (propriedade de) Fred”. Ela faz parte de uma classe de mulheres que é mantida única e exclusivamente para fins reprodutivos, passando de senhor em senhor para procriar. Elas são crucias para a perpetuação da humanidade em um mundo em que a maioria das pessoas é estéril devido à poluição e doenças sexualmente transmissíveis.

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Trata-se de uma história em que as complexas camadas revelam as inúmeras formas que a opressão às mulheres pode assumir. Inclusive por mulheres

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Conforme a intimidade da protagonista é revelada, testemunhamos a viagem de Offred à lembrança de uma vida feliz em que podia ter uma conta bancária, em que podia usar a roupa que quisesse, conversar com quem bem entendesse. Ler. Mas também testemunhamos o egoísmo de Serena Joy (Yvonne Strahowski), a mulher que arquitetou a opressão – ela sempre acreditou que as mulheres deveriam servir.

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Eu só espero que qualquer semelhança seja mera coincidência

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O problema é que são coincidências demais. Basta acompanhar a TV Câmara para ver que a decisão sobre a saúde reprodutiva das mulheres já está nas mãos de homens. Neste mesmo canal, assistimos estes mesmos homens tomarem essas mesmas decisões com base em uma interpretação particular da Bíblia. Em qualquer comentário do Facebook há traços de repressão sobre o que uma mulher deve vestir ou como se comportar.

Aproveitemos, então, enquanto ainda podemos ler. É uma ótima oportunidade para compreender a importância do feminismo e da luta por direitos iguais. Da luta por uma vida decente.

Enquanto produto de entretenimento, apesar da bela fotografia e do suspense, é uma obra de linguagem arrastada por vezes, que atrasa o engajamento inicial. Mas é uma observação absolutamente pessoal, que resistiu à vontade de acompanhar aquela realidade tão distante e tão próxima. É uma produção importante e que deve ser vista. E que bom que eu insisti.

Toda mulher – e todo homem – precisa assistir ao que pode ser o nosso não tão impraticável futuro.

 

Imagens: Divulgação

Glow

Clitóris ou Ovário?

Fernanda Ferrão
22 de junho de 2017
Clipe música Lalá da cantora Karol Conka Clipe música Lalá da cantora Karol Conka

Se quiser, clique e leia ouvindo: Karol Conka – Lalá

Sabe o boquete? Sabe, né? Já parou para pensar que não existe uma palavra equivalente para sexo oral em mulheres? A Karol Conka pensou. A rapper paranaense de 30 anos é uma das mulheres símbolo do que chamamos de terceira onda do feminismo. O último lacre foi lançado na primeira semana de junho: a música Lalá. O termo foi criado pela própria Karol.

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Sexo oral feminino é ‘lalá’

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É claro que o clipe foi lançado acompanhado de “””””””polêmica”””””””. Afinal, tem muita gente para dar pitaco em todo e qualquer assunto relacionado ao feminino. A equipe que criou o vídeo lindo que acompanha a música é composta apenas por mulheres. O vídeo tem quase dois milhões e meio de visualizações.

Camila Cornelsen e Vera Egito dividiram a direção. Camila teve sua conta extinta e foi bloqueada do Instagram depois de postar 01 minuto do vídeo em seu perfil. Vera, em conversa com a Dani Arrais, do Don’t Touch My Moleskine, disse:

“Na celebrada música brasileira – poderia dizer de todo o mundo também – o sujeito do desejo é masculino e o objeto desse desejo é feminino tradicionalmente. Mas agora a moça bonita que vem, não passa. Ela fica e fala do que está afim. Deixa claro também quais são suas vontades, preferências, e toma o eu lírico do tesão pra si. Karol é essa mulher inteligente, de personalidade, independente e corajosa. Ela é linda também. Provavelmente o rosto mais simétrico que eu já filmei, impressionante. Linda em qualquer enquadramento. Mas já é tempo do atributo da beleza não ser mais o principal ao se falar de uma mulher. Especialmente uma mente criativa como Karol Conká. Foi de uma honra e de uma felicidade enormes realizar esse trabalho para ela. Especialmente ao lado da Camila Cornelsen, minha mana fotógrafa inspiração e apoio pro meu trabalho e pra minha vida. ‘Direitos de prazer iguais’, clama Karol. É isso aí. Celebremos esses novos tempos. Não tem retrocesso. Desse lugar de fala a gente não sai mais.”. Punto y basta.

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Nos dias seguintes ao lançamento, Karol postou frames e imagens do clipe sempre lembrando o quanto tem sido atacada apenas por falar de um assunto que incomoda aqueles que estão acostumados a dominarem todos os cenários: os homens.

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Eu poderia falar muitas outras coisas sobre este assunto, falar das conversas que tenho com amigas, sempre cheias de relatos de homens que não conhecem o corpo feminino e de como o pudor imposto pela sociedade faz com que essas mulheres que reclamam dos homens muitas vezes nem saibam instruí-los. Porém, deixo aqui apenas a íntegra da letra escrita por Conka. Te juro que vais entender do que estamos falando! #melambelá

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Lalá – Karol Conka

Lá lá lá

Moleque mimado bolado que agora chora
Só porque eu mandei ajoelhar
Fazer um lalá por várias horas

Ele disse por aí que era o tal
Pega geral e apavora
Seduzi pra conferir
E percebi que era da boca pra fora

Dá pra perceber que existem vários
Falam demais, fingem que faz
Chega a ser hilário
Mal sabe a diferença de um clitóris pra um ovário
Dedilham ao contrário
Egoístas criando um orgasmo imaginário

Pouco importa pra ele se você também tá satisfeita
Esses caras ainda não aprenderam que 10 minutos é desfeita
Nem a bomba que toma não aguenta o molejo da lomba
Se desmonta, tem medo e no final só me desaponta

Já fico arrependida
Seca, desacreditada e fria
Desse jeito desanima
Quero ser bem atendida

O que me anima é a habilidade na lambida
Malícia, muita saliva enquanto eu queimo uma sativa

Lá lá lá, me lambe lá
Lá lá lá, me lambe, me lambe, me dê uma lambida lá

É inacreditável, eles ficam sem ação
Quando a gente sabe o que quer e já mete a pressão
Tem que saber fazer se não gera contradição
Direitos de prazer iguais, mais compreensão

Isso daqui não tá de enfeite
Dá um jeito, se ajeite
Sem ser fake, então vai se deite
Se eu quero, respeite

O clima deixa de ser quente, confundiu minha mente
Falam de mais, quando chega na hora a ação não é equivalente
Nem vem, sou apenas mais uma com experiência e sabe quem tem
Vejo vários convencidos achando que no final mandou bem

Minhas amigas concordam também
Vocês podem ir mais além
Sem dedicação espantam um harém

Curvem-se, encostem os lábios na flor
Quebra esse tabu, isso não é nenhum favor

O que me anima é a habilidade na lambida
Malícia, muita saliva
Enquanto eu queimo uma sativa

Lá lá lá
Lá lá lá, me lambe lá
Lá lá lá, me lambe, me lambe
Me dê uma lambida lá
Lá lá lá
Lá lá lá, me lambe lá
Lá lá lá, me lambe, me lambe
Me dê uma lambida lá

Raquel Grabauska

Uma simples ida ao supermercado

Raquel Grabauska
21 de abril de 2017

Estamos morando na Alemanha faz dois meses e, há poucos dias, fiz meu primeiro papelão aqui! Fui ao supermercado. Não, o papelão não foi esse.

Quando cheguei, vi que tinha esquecido as sacolas em casa, então fui colocar moedas pra poder usar o carrinho e não tinha  –  e aqui precisa colocar uma moeda para liberar o carrinho e quando tu devolve ele pro lugar, pega a moeda de volta. Então, peguei um cestinho e tentei equilibrar todas as compras. Filão no caixa.

Abriu o caixa do lado, um express. O caixa passa as coisas numa velocidade quase como a da luz e tem uma prateleira do tamanho de um o.b. médio pra equilibrar tudo. Tu tem que guardar as compras nas sacolas – que a essa altura eu tinha comprado no super. Consegui, suando, mas consegui. Fiz uma economia em relação às compras anteriores, então fiquei feliz.

Passei o cartão e pediu o PIN

Coloquei a senha

O PIN tem quatro dígitos

“Ai,ai,ai,ai,ai”  

A senha tem seis

Coloquei os 4 primeiros. Senha errada. A moça do caixa já me fuzilando. Eu disse que não tinha o PIN. Ela me disse que todo mundo tem pin. A fila cresceu como bolo bom. Ligo pro meu marido. Guris gritando ao fundo. Ele diz que o PIN é a senha. Digo que não. Ele insiste. Digo delicadamente que a senha é teu **, procura o PIN. A fila já tava na França. Perguntei sobre o pin pra moça que falava inglês na fila. Diz que o PIN nasce com o cartão, no dia que ele sai do banco. Falei pro meu marido que o PIN tem quatro números. Ele me dá cinco. Insisti carinhosamente que eram quatro. Ele tinha certeza absoluta que eram cinco.

“Tá, amor. Vou desligar. Desculpa, moça, vou ter que sair pra tirar dinheiro.”

Coloquei TODAS as compras num canto. Pedi desculpas pro pessoal da fila, que já tava lá na África. Saí, peguei o carrinho das crianças que levei pra colocar as compras e caminhei 30 minutos de volta pra casa. As pessoas me olham passeando com um carrinho de crianças e sorriem. Olham pra dentro do carrinho, não enxergam crianças e me olham espantadas – obviamente pensando que eu tenho sérios problemas.

Meu marido liga dizendo que achou o PIN. O PIN tem quatro dígitos. Estou na porta de casa.

Tão série

Mês das Mulheres – The Good Wife

Geórgia Santos
18 de março de 2017

 

O nome não parece ter a ver com empoderamento feminino, afinal, a premissa da “boa esposa” é herança da sociedade machista. Mas The Good Wife é o oposto disso. Ao longo de sete temporadas, a advogada Alicia Florrick (Julianna Margulies) se afasta daquilo que todos esperam dela: o estereótipo de bela, recatada e do lar.

Evolução da “boa esposa”

No primeiro episódio da primeira temporada, vemos uma Alicia pálida, mal vestida e com cara de dona de casa suburbana. Vemos uma esposa humilhada enquanto fica ao lado do marido, o procurador-geral que teve um caso com outra mulher e se envolveu em um escândalo de corrupção. Isso faz com que ela precise/queira mudar sua vida: ela volta a advogar e toma as rédeas da própria vida. Encontra um antigo amor dos tempos de faculdade, começa a trabalhar no escritório do bonitão e está armada a cama. Só precisamos deitar.

A trama tem tudo que a gente precisa pra não desgrudar os olhos da televisão: crimes, política, intrigas, sexo, affairs, mentiras, traições, mais crimes, mais intrigas e mais crimes. E sexo. E mentiras. E mais traições.

 

Com o passar do tempo, Alicia e a série amadurecem o suficiente para que fiquemos viciados na história dessa mulher poderosa que é uma mãe-dona-de-casa-que-trabalha-fora-e-é-casada-mas-não-é-e-ama-dois-caras-ao-mesmo-tempo-mas-não-tem-certeza-e-está-crescendo-profissionalmente-mas-talvez-não-saiba-lidar-bem-com-isso-ou-saiba. Ufa. Eu sei que ficou grande, mas na série também é assim, tudo ao mesmo tempo agora.

Mulheres poderosas

E não é somente Alicia. Temos Diane Lockhart (Christine Baranski), uma advogada fodona e Democrata até a alma, constantemente lutando contra os conservadores e pelos direitos da mulher, como regularização do aborto. Temos Kalinda Sharma (Archie Panjabi), uma mulher misteriosa e independente que não deixa que ninguém diga como viver a vida.

Então, se tu ainda não viu, corre pra assistir The Good Wife. A série está disponível no Netflix e vale cada clicada. É uma história de empoderamento e emancipação, uma história crua e real sobre os degraus que a mulher precisa subir ou escalar para conseguir ser vista. Eu não vou dar spoiler, mas se tu não te importa com isso, dá uma olhada neste texto da Time sobre o último episódio da série e entenda a evolução de uma personagem que estava em busca de si.

A série acabou, mas o nosso amor, não. Dá uma olhada no recap da primeira temporada e me diz se não é de viciar?