2022 é o ano que não terminou. Claro, escrevo no dia 6 de dezembro. Então, pelo calendário gregoriano realmente o período de 12 meses ainda não se encerrou. Mas o que me refiro é a algo mais profundo e subjetivo. Ou seja, a maneira reiterada como determinados assuntos no Brasil parecem não ter conclusão nunca.
Novas variantes de um mesmo tema
Um exemplo de que 2022 é o ano que não terminou? Vamos à pandemia. Aparentemente, era uma preocupação passada. Aos poucos, mesmo os mais cautelosos foram abrindo mão do uso de máscaras e voltando ao convívio social sem restrições. Até que novas variantes vieram, aos poucos, mostrando que a pandemia não acabou. Para piorar, a campanha de vacinação contra a covid é praticamente inexistente por parte do já quase extinto governo Bolsonaro. Além disso, o Ministério da Saúde não comprou as vacinas com maior proteção contra as variantes mais recentes do coronavírus. Ou seja, é uma preocupação que não vai acabar neste ano.
Teimosia eleitoral?
Outro sintoma de que 2022 é um ano atípico para o encerramento de ciclos, são as eleições presidenciais. Para os apoiadores do candidato derrotado, o pleito não acabou. Eles pedem recontagem, anulação da votação ou intervenção militar, enquanto permanecem em frente a quartéis, gritando palavras desconexas de ordem. E os protestos contra a vitória de Lula parecem não ter um fim previsto. Além dos acampados saudosos da ditadura, nesta semana manifestantes tentaram invadir um hotel em Brasília onde o presidente eleito está hospedado. O tema eleições, pelo jeito, só acabará com a posse de Lula na virada do ano. Ainda assim, permanece o receio de que parte da população siga negando o resultado das urnas.
Militares intrometidos onde não devem
Fora dessa perspectiva anual e entrando em uma espécie de espiral do tempo, vemos integrantes das Forças Armadas intrometidos na política, apoiando as manifestações golpistas. Além disso, não é incomum vermos oficiais do Exército fazendo declarações de cunho ideológico nas redes sociais, o que é considerado transgressão disciplinar pela caserna. Neste aspecto, 2022 se assemelha – de forma perigosa – a 1968, o ano que realmente não terminou. Há 54 anos, os militares brasileiros apertavam ainda mais o cerco a quem era contra a ditadura, com o AI-5 e outros atos antidemocráticos. Naquela época, artistas eram perseguidos e tratados como comunistas e subversivos. Infelizmente, este pensamento está longe de ser algo ultrapassado. Em 2022, o ano que não terminou, parece estar na moda ser contra a democracia e apoiar um capitão derrotado que chora em público para comover seu eleitorado.
O livro que inspirou este texto
1968: o ano que não terminou, de Zuenir Ventura, é um clássico brasileiro de não ficção lançado em 1989. Na obra, o jornalista aborda os diversos fatos históricos que marcaram o Brasil e o mundo naquele ano. Muitos destes acontecimentos têm repercussão ainda na atualidade. Recentemente, Zuenir Ventura declarou que considera que 1968 “ainda não terminou”.
O orgulho dele não me ofende tanto – disse Miss Lucas – como o orgulho em geral, porque existe um motivo. Não é de admirar que um rapaz tão distinto, com família, fortuna, tudo a seu favor, tenha de si mesmo uma alta opinião. Se posso exprimir-me assim, ele tem o direito de ser orgulhoso.
– Isto é bem verdade – replicou Elizabeth -, e eu perdoaria facilmente o seu orgulho se ele não tivesse mortificado o meu.
– O orgulho – observou Mary, que se gabava da solidez das suas reflexões – é um defeito muito comum, creio eu. Por tudo o que tenho lido, estou mesmo convencida de que é muito comum, que a natureza humana manifesta uma tendência muito acentuada para o orgulho, que são pouquíssimos os que não alimentam esse sentimento, fundados em alguma qualidade real ou imaginária! A vaidade e o orgulho são coisas diferentes, embora as palavras sejam frequentemente usadas como sinônimos. Uma pessoa pode ser orgulhosa sem ser vaidosa. O orgulho se relaciona mais com a opinião que temos de nós mesmos, e a vaidade, com o que desejaríamos que os outros pensassem de nós.”
A frase acima é do clássico de Jane Austen, Orgulho e Preconceito. Um livro que aborda as diferenças de classe nas relações interpessoais na Inglaterra, no início do século XIX. Mas qual a relação desse romance com o Brasil do século 21?
Vivemos há alguns anos em uma sociedade dividida entre orgulho e o preconceito. Enquanto a direita conservadora apega-se cada vez mais a conceitos preconceituosos, relativizando racismo, LGBTfobia e machismo, parte dos militantes do espectro mais à esquerda, em especial os intelectuais, parece não se dar conta da vaidade e do orgulho excessivos emanados em seus discursos.
Em um país onde menos de 10% de seus habitantes conseguem completar o ensino superior, é preciso ter cuidado ao atribuir inteligência apenas a quem teve acesso às universidades. Não estou aqui dizendo que devemos ignorar a ciência e desvalorizar a educação como o governo Bolsonaro faz. Porém, precisamos ficar atentos ao comportamento de militantes de esquerda que são favoráveis ao #Lulalivre e defendiam um operário no poder, mas que em, seu dia a dia, demonstram a vaidade de acharem-se superiores às pessoas que não tiveram acesso ao mundo acadêmico.
Como diz uma frase compartilhada em redes sociais:
“Não adianta ter doutorado e não cumprimentar o porteiro.”
Por mais duro que seja para nós de esquerda reconhecermos, é inegável que Bolsonaro e seus seguidores no PSL conseguiram mobilizar mais o eleitorado do que a esquerda nas últimas eleições. Um dos motivos é justamente a dificuldade de comunicar-se com a população, como alertou Mano Brown em um comício de Fernando Haddad:
“A comunicação é a alma. Se não está conseguindo falar a língua do povo vai perder mesmo. Falar bem do PT para a torcida do PT é fácil. Tem uma multidão que não está aqui que deveria ser conquistada”.
Para quem não é filiado a um determinado partido, restam as relações pessoais. Por isso, precisamos eliminar o orgulho e elitismo intelectual do nosso cotidiano, se quisermos uma mudança no cenário político atual e a diminuição real das desigualdades sociais.
Quando pensamos nos desmandos e arbitrariedades de um governo conservador e reacionário como o que está no poder no Brasil, automaticamente nos remetemos à Idade Média, uma época obscura, misógina e predominantemente masculina. Porém, apesar das imensas dificuldades enfrentadas nesse período histórico, novas pesquisas e publicações dão conta de relatos de trajetórias de figuras femininas que conseguiram estudar, trabalhar e ter destaque em diversas áreas do conhecimento, apesar do rígido controle da Igreja Católica no Ocidente.
Um dos livros que aborda esse viés é Mulheres Intelectuais na Idade Média – Entre a medicina, a história, a poesia, a dramaturgia, a filosofia, a teologia e a mística. A obra. de autoria de Marcos Roberto Nunes Costa e Rafael Ferreira Costa, está disponível para download gratuito aqui. O livro tem cerca de 50 perfis femininos com relatos historiográficos. Dentre tantas histórias interessantes, escolhi a de Hipátia de Alexandria (370-413 d. C), uma estudiosa grega de arte, ciência e literatura É considerada a primeira mulher especialista em matemática no mundo. Também teve grande destaque na área de filosofia.
Tinha independência e autonomia por influência do pai, um grande intelectual da época que deu à filha total acesso à Educação algo difícil na época. Manteve-se casta por convicção filosófica platônica. Nem assim escapou do controle religioso.
Por viver numa época de luta entre o paganismo e o cristianismo, Hipátia acabou sendo vítima de uma trama políticoreligiosa que a levou a um trágico fim, que teve início a partir de 412, com a ascensão de Cirilo (Patriarca de Alexandria) ao poder. Um cristão fanático, árduo defensor da Igreja e acirrado adversário daqueles que ele considerava serem hereges. Por ser uma mulher pagã, seus ideais científicos converteram-se em alvo fácil para Cirilo, que convenceu os cristãos a elegê-la como bode expiatório. Assim, em 4153 , quando ela regressava do Museu, onde lecionava, foi atacada em plena rua pelos seguidores de Cirilo, os quais, enfurecidos, arrastaram-na para o interior de uma Igreja e lá, “seu corpo foi ultrajado e espalhado por toda cidade […]. Uma multidão de homens mercenários e ferozes, que não temiam castigo divino, nem vingança humana, matou a filósofa, e assim cometeram um monstruoso e atroz ato contra a pátria. Tinha entre 60 a 65 anos de idade quando foi assassinada.”
Relatos como esse são chocantes, mas podem servir de incentivo para todas as mulheres do século 21. Não podemos permitir que a fé em uma religião possa ser imposta.
Isso não existe mais?
Pergunte para uma mulher desesperada com uma gravidez indesejada se ela não tem medo de ser trucidada por fanáticos “pela vida”, caso esses tivessem oportunidade.
Ponha-se no lugar de vítimas de estupro que têm o crime relativizado por decisões judiciais que levam em conta o teor alcóolico das mulheres abusadas.
Em meio à barbárie pós-moderna, sigamos o exemplo das intelectuais medievais, que lutaram pelo direito de ser quem quisessem, mesmo que o preço a pagar pudesse ser alto demais. É importante esse resgate histórico para mostrar a resistência feminina, mesmo em tempos dificeis,
Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira”
Bolsonaro, Jair – julho de 2019
No imaginário brasileiro, políticos mentem durante as campanhas eleitorais. Ao chegarem ao poder, precisariam respeitar o cargo que ocupam e ter um pouco mais de cuidado em suas declarações. Não é o que acontece desde janeiro de 2019 no Brasil. As reiteradas falas públicas do presidente da República são descuidadas e parecem ainda partir do deputado do baixo clero que era “polêmico”, para se dizer o mínimo.
A última declaração para jornalistas sobre a fome foi remendada no mesmo dia, com a alegação de que “uma pequena parte (dos brasileiros) passa fome”. Sabemos que Bolsonaro não gosta de dados estatísticos, mas em momentos com esse, facilitaria muito se os assessores do presidente o orientassem sobre a importância de citar pesquisas idôneas ou ao menos se inteirar sobre o assunto para saber que pessoas com sobrepeso podem estar desnutridas, por exemplo.
Uma revista de circulação nacional da grande mídia chegou a fazer uma matéria com os dados estatísticos que contradizem a afirmação falsa do presidente. Para quem se interessar, é só acessar aqui.
Para além da declaração desastrosa do presidente da República, o problema da fome, no Brasil e no mundo, precisa ser compreendido por quem tem acesso a todas as refeições do dia sem precisar ter preocupação alguma. Por isso, selecionei dois livros sobre o assunto.
O primeiro é bastante didático, e poderia ser uma leitura importante para Bolsonaro e seus seguidores. O que é fome, Ricardo Abramovay, de 1985, ainda segue bastante atual e é fundamental para entender o assunto (e não sair disparando desinformação por aí.):
A angústia que a refeição de amanhã representa hoje para centenas de milhões de seres humanos é sem dúvida o maior escândalo já conhecido no planeta, desde a fatal mordida da maçã. Por que motivo tanta gente passa fome? Por falta de comida diria o conselheiro Acácio. Por incrível que pareça, sua resposta está longe da realidade: nos dias de hoje não se pode mais identificar a fome e escassez. Ao contrário, os subalimentados que nos cercam (e que constituem quase a metade da nossa espécie) vivem num mundo de fartura e sobretudo desperdício.
Já em Agonia da Fome, Maria do Carmo Soares de Freitas faz, a partir de um estudo de caso em uma comunidade periférica e faminta no estado da Bahia, um alerta para as autoridades:
A condição de fome, como uma das mais terríveis experiências da vida, vem confirmar a necessidade de ações políticas mais amplas do que a doação de alimentos pelos serviços de saúde para uma população concebida como “vulnerável” aos efeitos da fome crônica. Uma complementação estaria em ações que manifestem a importância da reversão dos sentidos de fome a partir da valorização social do sujeito, associado a mudanças estruturais na sociedade que produz fome. Com esse caminho, a conquista da cidadania estaria mais próxima de cada pessoa, e certamente poderia libertar-se da fome, esse espectro que ameaça a vida e interrompe qualquer sonho humano.”
A declaração de Bolsonaro sobre a fome gerou indignação principalmente entre os integrantes da sociedade civil que se mobilizam sem apoio do poder público para tentar reduzir esse problema no país. Uma das entidades que lançou uma nota de repúdio nas redes sociais são os Cozinheiros do Bem, uma ONG que serve refeições para pessoas em situação de rua embaixo de viadutos em Porto Alegre (RS). Abaixo, um trecho do texto:
“Lutamos contra a fome 365 dias por ano. É inevitável não externarmos nossa opinião. Repudiamos a mentira vomitada pelo homem que lidera nosso país e por isso aqui vão alguns números. 9 milhões de brasileiros entre 0 e 14 anos vivem em situação de extrema probreza (fundação Abrinq). Há no Brasil 207 mil crianças menores de 5 anos com desnutrição grave ( Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do Ministério da Saúde – Sisvan). 6 em cada 10 crianças no Brasil vivem na pobreza ( Unicef). Com 1/4 da comida que vai para o lixo acabaríamos com a fome no planeta (ONU).
Não importa se você é direita ou esquerda. Tá na hora de entender que essa classe política alienada e fascista NÃO GOSTA DE POBRE!”
Na íntegra desse manifesto também tem a forma de ajudar os Cozinheiros do Bem a seguirem fazendo um trabalho que entra em uma lacuna do poder público.
João Gilberto se foi, deixando uma lacuna na cultura brasileira. Porque é inegável seu legado ao reinventar o jeito de cantar no país, além de dar status internacional para composições da Bossa Nova. É um fato inquestionável em 2019.
Mas em 1958 o cenário era diferente. Era uma revolução aquela voz “pequena”, tão diferente do vozeirão dos cantores de sucesso do samba-canção, gênero consagrado no Brasil da época. A tal novidade impactou jovens (entre eles, famosos ainda desconhecidos na época, como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque), mas gerou estranheza entre os conservadores. Ruy Castro conta, em Chega de Saudade – A História e As Histórias da Bossa Nova, que o gerente da principal loja de discos de São Paulo reagiu mal ao ouvir pela primeira vez a canção homônima, gravada em um compacto com duas faixas:
Por que gravam cantores resfriados?”, rugiu. Não esperou a música terminar e não chegou a ouvir “Bim bom”. Tirou o disco do prato, pronunciou a célebre frase — “Então, é esta a merda que o Rio nos manda?” — e quebrou-o na quina da mesa.
No Brasil de 2019, tem muita gente agindo como esse gerente, ao preferir reverenciar “ritmos” ultrapassados como a defesa do trabalho infantil, o preconceito disfarçado de opinião e o elitismo travestido de cidadania do bem. Não entendem que por mais que se sintam ultrajados, as bossas novas (musicais e sociais) sempre aparecerão para revolucionar a sociedade e o modo de pensar dos caretas.
O Brasil muitas vezes me parece imerso no realismo mágico, um movimento literário que tem como principal característica a alternância entre a lucidez e a loucura. Há meses penso se comparar o monumental Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez, com o atual momento político brasileiro não seria um desrespeito à memória e ao legado do genial escritor colombiano.
Porém, ao começar a pesquisa para escrever esse texto, deparei com diversas análises de especialistas em literatura que consideram o enredo Cem Anos de Solidão uma grande alegoria à história da América Latina. A repetição e a circularidade temporal seriam então metáforas para a realidade latinoamericana. Mais tranquila, prossegui na escrita dessa coluna.
Para quem ainda não leu esse clássico, a obra mostra a trajetória de sete gerações dos Buendía, com repetições de nome tão frequentes que é preciso estar atento para não se atrapalhar na leitura. Na comparação que me permitirei fazer aqui sobre a obra de García Márquez e o Brasil, vou ressaltar uma característica dos Buendía: o vício de construir para destruir.
Aureliano Segundo foi um dos que mais fizeram para não se deixar vencer pela ociosidade. […] Para não se chatear, entregou-se à tarefa de consertar as numerosas imperfeições da casa. Apertou dobradiças, lubrificou fechaduras, parafusou aldrabas e nivelou ferrolhos. […] Vendo-o colocar os trincos e desmontar os relógios, Fernanda se perguntou se não estaria também caindo no vício de fazer para desfazer, como o Coronel Aureliano Buendía com os peixinhos de ouro, Amaranta com os botões e a mortalha, José Arcadio Segundo com os pergaminhos e Úrsula com as lembranças.”
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Assim como os Buendia, os políticos brasileiros parecem ter o vício de construir, para destruir e para construir novamente em seguida. Vamos tomar como exemplo as reforma trabalhista e previdenciária
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Alguém duvida que daqui a um tempo surja algum novo governante sugerindo recriar o que hoje está sendo eliminado? E talvez esse político do futuro seja visto como um visionário, alguém que finalmente pensou no futuro dos trabalhadores.
Falando em direitos trabalhistas, um episódio da história real colombiana que foi inserido no enredo é o Massacre das Bananeiras, ocorrido em 1928, quando um número desconhecido de trabalhadores foi morto pela polícia. O motivo, a participação em uma grande greve de funcionários de uma multinacional norte-americana, a United Fruits. Os grevistas foram considerados subversivos e comunistas e, por isso, foram assassinados.
Na versão ficcional, o massacre é esquecido pelos sobreviventes do povoado de Macondo:
A versão oficial, mil vezes repetida e repisada em todo o país por quanto meio de divulgação o Governo encontrou ao seu alcance, terminou por se impor: não houve mortos, os trabalhadores satisfeitos tinham voltado para o seio das suas famílias, e a companhia bananeira suspendia as suas atividades até passar a chuva. A lei marcial. continuava, prevendo que fosse necessário aplicar medidas de emergência para a calamidade pública do aguaceiro interminável, mas a tropa estava aquartelada. Durante o dia, os militares andavam pelas torrentes das ruas, com as calças enroladas na metade da perna, brincando de naufrágio com as crianças. De noite, depois do toque de recolher, derrubavam as portas a coronhadas, arrancavam os suspeitos das camas e os levavam para uma viagem sem regresso. Era ainda a busca e o extermínio dos malfeitores, assassinos, incendiários e revoltosos do Decreto Número Quatro, mas os militares o negavam aos próprios parentes das suas vítimas, que atulhavam os escritórios dos comandantes em busca de notícias. ‘Claro que foi um sonho’, insistiam os oficiais. ‘Em Macondo não aconteceu nada, nem está acontecendo nem acontecerá nunca. É um povoado feliz.’ Assim consumaram o extermínio dos líderes sindicais.”
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Assim como na Macondo de García Márquez, o Brasil atual insiste em ignorar fatos históricos e tentar reescrever a História brasileira.
Não houve ditadura. Não houve tortura. Não houve censura. (Só pra quem mereceu…). Quantas gerações de Buendia brasileiros serão necessárias até o Brasil acordar desse realismo mágico, entre a lucidez e a loucura?
Imagem: Reprodução do quadro A Persistência da Memória, de Salvador Dali
Mas é isso o que acontece. Uma vez encerrada a tragédia humana, cabe aos jornalistas banalizarem-na para convertê-la em entretenimento. Talvez porque todo aquele frenesi irracional tenha arrombado a porta da nossa casa e nenhum detalhe maledicente e distorcido dos jornais deixasse de chamar a minha atenção, acabei considerando a era McCarthy o início do triunfo da fofoca no pósguerra, a fofoca que se estabeleceu como o credo unificador da mais antiga república democrática do mundo. Na Fofoca Nós Acreditamos. Fofoca como o evangelho, a religião nacional. O macarthismo como o início da conversão não só da política séria mas de tudo o que é sério em entretenimento para distrair a massa. O macarthismo como a primeira florescência do vazio mental americano que agora está por toda parte.
O negócio de McCarthy, na verdade, nunca foi a perseguição de comunistas; se ninguém sabia, disse, ele sabia. A virtude dos julgamentos espetáculo da cruzada patriótica de McCarthy era simplesmente a sua forma teatralizada. Ter câmeras voltadas para aquilo apenas lhe conferia a falsa autenticidade da vida real. McCarthy compreendeu melhor do que qualquer político americano anterior a ele que as pessoas cujo trabalho era legislar podiam fazer muito mais em benefício de si mesmas se representassem um espetáculo; McCarthy compreendeu o valor de entretenimento da desgraça e aprendeu como alimentar as delícias da paranóia. Ele nos levou de volta a nossas origens, de volta ao século XVII e a nossos antepassados. Foi assim que o país começou: a desgraça moral como entretenimento público. McCarthy era um empresário dos espetáculos e, quanto mais desvairados os pontos de vista, tanto mais ofensivas as acusações, maior a desorientação e melhor a diversão para todo mundo. Os livres e corajosos de Joe McCarthy, este era o espetáculo em que meu irmão ia representar o papel mais importante da sua vida.”
Vocês me desculpem a digressão pessoal que farei na coluna de hoje, mas é que o texto o de Philip Roth me inspirou um certo saudosismo, sabem?
Pra começar, posso dizer que bom mesmo era no meu tempo, em que o professor de história falava sobre Guerra Fria, socialismo e comunismo em sala de aula e ninguém acusava-o de ser doutrinador, estava só cumprindo o seu papel de ensinar o conteúdo aos alunos. Hoje em dia, esses moderninhos ficam querendo questionar o conhecimento e autoridade dos docentes, vocês acreditam nessa pouca vergonha?
São esses mesmos moderninhos, aliás, que resolveram que o correto é se atualizar pelo whatsapp em vez de ler um livro ou um jornal como o pessoal da velha guarda, como eu, ainda faz. Aonde esse mundo vai parar?
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No meu tempo, gente, militar ficava era na caserna, bem escondido depois da ditadura. Não tinha essas modernidades de se candidatar às eleições
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Aliás, lá na época da minha adolescência, no início da década de 90, não existia uma só pessoa que defendesse publicamente a volta do regime militar. Isso seria um vexame completo! As viúvas da ditadura eram enrustidas. Agora, tão aí, na maior pouca vergonha, relativizando tortura e dizendo que nem houve ditadura, o que só pode demonstrar que esse mundo tá perdido, mesmo.
Vocês vão me desculpar o tom nostálgico, mas é que “o meu tempo” era da redemocratização e os candidatos iam aos debates, não tinha essa de dar desculpa e não aparecer. Os debates depois eram manipulados pela edição da Globo e a esquerda podia falar mal da mídia, como deve ser. Agora é uma loucura, ficam dizendo que a Globo é comunista e a gente nem sabe mais quem deve defender. Essas modernidades não são mesmo pra mim!
Por fim, já que a Educação desse país tá de mal a pior e o governo federal só sabe nomear louco para esse ministério, só tenho uma coisa a dizer. Bom mesmo era no meu tempo de adolescência, em que Paulo Freire era secretário de Educação em São Paulo e não execrado publicamente como nesse século 21.
(Esse texto contém ironia mas é baseado em fatos reais. Tenhamos forças para suportar a atualidade)
“A futilidade é uma arma essencial para a sobrevivência nestes hard times.”
A frase de Caio Fernando Abreu é um dos meus mantras atuais. Precisamos de momentos de escapismo para conseguir levar a vida nessa conjuntura sociopolítica. As notícias ruins jorram à nossa frente e contaminam nosso dia a dia e é difícil fugir e alienar-se quando estamos sempre conectados.
Para preservar a minha saúde mental, tenho criado situações de pura futilidade, sem nenhum remorso. Do ponto de vista literário, desde a campanha política de 2018 tenho me jogado na leitura de obras “menores” e experimentado até um gênero visto com desprezo pelos intelectuais: autoajuda.
Com uma ressalva. O livro pelo qual eu me apaixonei é de “anti autoajuda”. A Sutil Arte de Ligar o F*da-se, de Mark Manson, nos alerta, por exemplo, que não somos tão especiais como imaginamos. E é isso é ótimo porque nos tira uma carga de responsabilidade imposta por nós mesmos. É difícil ser genial, afinal se todos fossem excepcionais o conceito por si só perderia sentido.
Contextualizando para o nosso Brasil atual, meu capítulo preferido é Rejeição Faz Bem:
Como extensão de nossa cultura positiva/consumista, muitas pessoas foram ‘doutrinadas’ na crença de que devem tentar concordar e aceitar o máximo possível. Este é um dos pilares de muitos dos livros que pregam o pensamento positivo: abra-se para as oportunidades, aceite, diga sim a tudo e a todos, e por aí vai.”
Esse trecho me fez refletir sobre que nem sempre concordar e dizer “sim” é positivo. Vamos aceitar para sempre um emprego com chefe abusivo? Vamos rir da piada preconceituosa para evitar desconforto de quem acha que isso é humor? Vamos concordar com a opinião dos parentes que propagam ideias fascistas de higienização social e depois vão à igreja sentindo-se perfeitos cristãos?
O autor prossegue sobre o assunto nesse mesmo capítulo:
O desejo de evitar a rejeição a todo custo, de evitar o confronto e o conflito, o desejo de tentar aceitar tudo igualmente e de tornar tudo coerente e harmônico, é uma forma profunda e sutil de arrogância. Pessoas que pensam assim acham que merecem se sentir bem o tempo todo, aceitando tudo porque rejeitar algo pode causar desconforto a elas mesmas ou a outra pessoa. E como elas se recusam a rejeitar qualquer coisa, levam uma vida sem valores, egoísta e voltada para o prazer. […] A honestidade é um desejo natural da humanidade mas um de seus efeitos colaterais é nos obrigar a ouvir e dizer ‘não’. Desse modo, a rejeição aprimora nossos relacionamentos e torna a vida emocional mais saudável”.
Por isso, não dá para ser isentão nesse Brasil de ânimos tão acirrados só para ser o bonzinho da turma de amigos ou da família. Claro que podemos escolher que batalhas valem a pena ser travadas. E em caso de verificarmos que o fascismo alheio é incorrigível, talvez o ideal seja darmos um tempo no contato com essas pessoas.
Para ligar o f*da-se em 2019, precisamos estar de olho em nosso autocuidado e sobrevivermos com um mínimo de sanidade nesses ‘hard times’, como falava Caio Fernando Abreu.
Foto: Reprodução/Pinterest – Madonna, a rainha de ligar o f*da-se desde a década de 1980
A socióloga e pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo, Esther Solano, avalia que o ódio virou uma moeda de troca importante no campo político atual. Segundo ela existe um uso eleitoral do ódio, já que o “ódio potencializado” é um caminho às urnas. A pesquisadora espanhola é autora de estudos sobre o que pensam os eleitores do capitão reformado do Exército e deputado federal, Jair Bolsonaro. Ao comentar seu novo livro “O ódio como política”, lançado pela editora Boitempo, Esther ainda falou sobre o “risco real” de fascismo no Brasil e na vanguarda da luta das mulheres contra esse sistema. Confira a entrevista.
*Originalmente a conversa foi veiculada pela Rádio CBN. A entrevista foi realizada em parceria com os jornalistas Roberto Nonato e Kennedy Alencar.
Estamos em uma fase onde o ódio está cada vez mais presente na sociedade?
O que o livro quis fazer é justamente chamar atenção para essa presença de ódio como uma moeda de troca importante no campo eleitoral e no campo político. Vivemos no Brasil em uma sociedade que se constrói muito na ideia do ódio, do machismo, do racismo, da desigualdade. O que vemos hoje é uma politização do discurso de ódio, uma “eleitorização” do discurso de ódio e ódio polarizado, pois ele é um bom caminho para as urnas.
O candidato Jair Bolsonaro (PSL) é que mais recorre a esse tipo de discurso. O que explica o crescimento desse discurso de ódio e da extrema-direita no Brasil?
Eu sempre digo que a candidatura da extrema-direita brasileira, de forma geral, se constrói sobre três “antis”. A primeira delas é a politização da antipolítica, que é aquele sentimento de “são todos iguais, todos corruptos”. A segunda é a negação do petismo e da esquerda. Existe um discurso muito forte de combate á esquerda e ao campo progressista e intelectual. E, por fim, há uma reação muito forte aos movimentos identitários, onde ganhou força o discurso antifeminista, movimento negro, movimento LGBT, colocando esses movimentos como culpados pela diferenciação social tão grande que existe nas relações sociais no Brasil.
Antes de passar por governos alinhados socialmente à esquerda, o Brasil passou por governos alinhados social e economicamente à direita. Por que esses discursos de ódio não surgiram antes? Existe um fator econômico no ódio?
Sem dúvida. Existe hoje um realinhamento de uma força neoconservadora e intolerante no campo dos valores e uma força econômica liberal ou ultraliberal. A candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) é altamente simbólica nisso. Ele é um personagem construído nessa ideia dos valores, da família cristã, do militarismo, mas atrás da candidatura dele está o Paulo Guedes, que é uma pessoa que simboliza esse liberalismo ,a privatização e esse capitalismo mais selvagem. Existe um casamento obviamente oportunista aí. Só que as pessoas não são conscientes disso. Quando você pergunta para eleitores da extrema-direita sobre economia, ele não é consciente desse discurso neoliberal que está por trás, já que ele é tratado de forma escondida, às escuras.
Essa percepção vai além do Brasil em uma espécie de onda global?
Se dúvida. Globalmente existe um ressurgimento dessa extrema direita e isso é uma coisa que, efetivamente, você vê em países da Europa, América Latina e Estados Unidos. A diferença no Brasil e o que me preocupa bastante é que normalmente nos países europeus a retórica dessa extrema-direita se constrói com base no inimigo externo, no imigrante ou no refugiado. No Brasil existe uma peculiaridade. Essa retórica na extrema-direita se constrói com base em um inimigo interno. Então aqui a luta é contra o jovem negro da periferia, contra a feminista, contra o professor, contra a pessoa da esquerda. Existe uma violência contra o próprio brasileiro que é considerado como um “não cidadão de bem”
Nos últimos tempos a palavra fascismo vem sendo dita com uma frequência muito grande. Em alguns momentos , até, corre-se o risco de esvaziar a palavra de significado. Existe um risco real de fascismo no Brasil?
Sem dúvida. E nesse caso é importante contextualizarmos o que significa fascismo. Muitas pessoas confundem fascismo com uma certa política adotada em determinado momento histórico, fundamentalmente na Europa. Mas o fascismo na sua concepção política e filosófica mais ampla é o silenciamento, aniquilamento do outro que é considerado diferente. É uma política que mobiliza o ódio, que utiliza o ódio como mobilizador para fazer política. Então quando você tem candidatos que são abertamente xenofóbicos, misóginos, que dizem que “bandido bom é bandido morto”, esse é um discurso claramente fascista. O que não quer dizer que todo mundo que vote nesse tipo de pessoa seja fascista. Há pessoas que votam por outros fatores, como a descrença na política. Mas essa tendência política pode, sim, ser nomeada dessa forma.
Se o candidato Jair Bolsonaro for eleito, esse movimento terá no presidente da república o seu líder. No entanto, se ele perder a eleição quem ficaria nesse grupo de direita? A senhora vê uma retomada desse eleitorado pelo PSDB ou pelo João Amoêdo, do Partido Novo?
Por um lado existe um certo paradoxo, pois você tem uma “bolsonarização” da esfera pública. Se o Bolsonaro não foi eleito o que fica capilarizado na esfera pública é esse discurso de ódio, da intolerância, do antipetismo, da moralização do debate público. Agora, ele é um candidato que não tem um partido político com estrutura, é isolado politicamente. Eu não vejo nesse momento uma estrutura político-partidária, institucional que consiga capitalizar esse discurso de ódio a ponto de você ter, de fato, uma estrutura forte ou competitiva como você tem na França. Mas isso é secundário, pois quando você já tem essa bolsonarização do debate na sociedade é questão de tempo para eles encontrarem outros tipos de canalizações. Temos que atacar esse discurso no campo social para que ele não extrapole o campo político.
Nos últimos dias vimos o crescimento de um movimento muito forte de mulheres que se opõem ao candidato Jair Bolsonaro. É um movimento que surgiu na internet, mas que já vem sendo usado de forma partidária por outros candidatos. Já havíamos presenciado algo parecido na história recente? Qual a dimensão desse movimento fora das redes sociais?
Já tivemos movimentos parecidos encabeçados por mulheres quando elas encabeçaram a oposição ao Eduardo Cunha, na questão da descriminalização do aborto. Uma coisa muito importante é que a internet tem sido um ambiente muito colonizado ultimamente pelo pensamento feminista. Houve o movimento #meuprimeiroassedio, #agoraéquesãoelas, etc. Esse movimento Mulheres Contra Bolsonaro ele é extraordinário por vários fatores. Primeiro que o voto feminino vai ser determinante nessa eleição, também pelo fato de as mulheres serem claramente atacadas pelo discurso de ódio (estamos na linha de frente dessa luta) e também em função de outros grupos terem se juntado a isso. Temos agora os LGBT Contra Bolsonaro, Negros Contra Bolsonaro, Evangélicos Contra Bolsonaro. Você vê que no campo do social, do coletivo e das ruas o feminismo é muito forte. Ele tem potencial para criar uma frente contra o fascismo. Acho que a onda de feminismo brasileira é a vanguarda da luta contra o fascismo. Somos nós, mulheres, que temos mais dificuldades para entrar na política. Então acho simbólico que sejam as mulheres a tomar a frente desse movimento.
Na semana passada o Vós trouxe um compilado das propostas dos candidatos para as mulheres. No pleito de 2018 há duas candidaturas encabeçadas por elas e outras quatro compostas por mulheres na vice-candidatura, achamos interessante explorar o tema. Tão interessante, que procuramos duas pesquisadoras para comentar os planos.
Deisy Cioccari e Beatriz Pedreira estudam os temas mulher e política e, como já esperávamos, não ficaram surpresas com a falta de propostas para o público feminino. Para Deisy fica claro o uso a mulher como moeda de troca nas campanhas eleitorais. Já para Beatriz, temas como o aborto ainda ficam de fora , pois precisamos ainda desmistificar o tema antes de colocá-lo na berlinda. Separamos dois trechos da entrevista com cada uma delas.
Deisy Cioccari, jornalista, mestre em Produtos Midiáticos: Jornalismo e Entretenimento, doutora em Ciência Política e pós-doutoranda em Comunicação
A surpresa seria se as pautas do aborto e da equiparação salarial entre homens e mulheres estivessem bem específicas nos planos de governo. Lendo os planos de governo lembrei da presidente Dilma Rousseff na campanha de 2010. Ela tentou tocar na pauta do aborto e depois passou a campanha inteira sofrendo pelo que falou. Ela teve até que escrever uma carta à população e, ainda assim, foi super genérica. Eu costumo dizer que a política é feita de homens para homens e quando surge uma questão feminina eles silenciam. A conversa com o congresso (sobre o aborto) é quase impossível. As bancadas mais fortes na Câmara são a bancada ruralista, a bancada da bala e a bancada evangélica. E a bancada evangélica vai trancar qualquer pauta ligada ao aborto”
“A mulher é usada na propaganda eleitoral como moeda de troca. Quando interessa, ela aparece na pauta do debate eleitoral. Um exemplo é quando você vê o Bolsonaro falando algo sobre a mulher. Ele que é o candidato mais misógino que vimos nos últimos anos! Fora isso, a própria equiparação salarial não tem nenhuma proposta concreta. É tudo muito genérico quando a pauta é o feminismo. É uma política de homens para homens. Quando a mulher aparece nos planos de governo, ela aparece ainda associada a políticas voltadas para criação de creches, ou com alguma função mais familiar. A mulher não assume o protagonismo nos planos de governo. Mesmo tendo duas mulheres como candidatas a presidente e quatro como vices, não há protagonismo feminino.”
Beatriz Pedreira, é cientista social e especialista em inovação política, cofundadora do Instituto Update (instituto que mapeia iniciativas de inovação política na América Latina)
Eu não fiquei surpresa, mas fiquei impressionada com a pouca presença das mulheres nos planos, mesmo nos candidatos que têm uma visão mais progressista. Mesmo no que diz respeito a iniciativas de incentivo à equiparação salarial, qualquer mudança na legislação precisaria passar pelo Congresso. O que o presidente pode fazer é criar campanhas e incentivos para começar a discutir de uma forma mais direta isso na sociedade. A equiparação salarial entre homens e mulheres que ocupam os mesmos cargos já está na Constituição, só precisamos encontrar maneiras de cumprir.”
“O aborto é um tema muito sensível, um tema que não tem espaço para discussão na sociedade brasileira. Muitos candidatos, mesmo pessoalmente à favor, entendem essa iniciativa como inviável politicamente. É um tema extremamente impopular. Somos uma sociedade conservadora, religiosa, que tem pouquíssima informação sobre a descriminalização do aborto como política de saúde pública. Não temos nenhuma conscientização sobre isso. É outro tema que depende do Congresso. O que o presidente pode fazer é criar campanhas de conscientização, ir trabalhando isso na sociedade para desmistificar esse processo. Os números são muito racionalmente explicáveis, mas o tema é ainda muito tabu. É uma questão de tempo, não é algo para agora.”