Geórgia Santos

Vão-se os fascistas, fica a pasta

Geórgia Santos
25 de julho de 2023

O 25 de julho é celebrado na Itália como o dia que representa a queda do fascismo. Há exatos 80 anos, o ditador Benito Mussolini foi deposto e preso. Centenas de milhares de italianos se renderam à desforra pelas ruas e praças das cidades, gritando e cantando de alegria, destruindo bustos de Il Duce e cuspindo em retratos daquele homem atarracado. Os ativistas também libertaram os presos políticos naquele dia, os antifascistas.

É verdade que se cometeu o erro de acreditar que a guerra havia acabado e talvez esse erro tenha sido repetido muitas e muitas vezes, em muitos e muitos lugares, mesmo no Brasil de 2022. Mas a realidade que desse as caras em outro momento, aquele era o dia de uma celebração muito aguardada.

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Tanto que os italianos comemoraram comendo pasta. Muita pasta. E não qualquer pasta

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Eu não sabia da existência da Pasta Antifascista até deparar com o texto da newsletter da Emiko Davies, uma fotógrafa e culinarista que vive em Florença. A Emiko contou que depois de duas décadas de ditadura fascista e cinco anos de guerra, a Itália estava derrotada, a população faminta e ingredientes simples como sal, farinha, arroz, carne e azeite foram racionados até se tornarem virtualmente inexistentes. Consequentemente, já não havia pão ou pasta disponíveis para o povo. E os fazendeiros eram obrigados ou a ceder a terra às necessidades do exército nazista – de quem a Itália era aliada – ou a enviar a maior parte da produção de grãos, carne e leite para a Alemanha.

Reprodução Newsletter Emiko Davies

Como se não bastasse, a boa e velha massa era demonizada pelos fascistas e pelo futuristas. O Futurismo foi um movimento artístico e literário que rejeitava, é claro, o passado. As obras se apoiavam fortemente na velocidade e desenvolvimento tecnológico do final do século 19 e, inclusive, exaltavam a guerra e a violência. Filippo Tommaso Marinetti foi o fundador do movimento e, pasmem, escreveu um manifesto contra a pastasciutta. No livro “La Cucina Futurista”, de 1932, ele dizia que essa “religião gastronômica absurda” deixa as pessoas “pesadas”, “lentas” e “pessimistas”.

Os italianos do sul não gostaram nada dessa bobajada e algumas donas de casa de Puglia, que fica bem no salto da bota, escreveram uma carta em protesto ao manifesto anti-pasta. O prefeito de Nápoles respondeu de maneira inefável: “Os anjos no céu não comem nada além de vermicelli com molho de tomate.” Vermicelli é o que a gente conhece por cabelinho de anjo. Obviamente.

Mussolini apoiou o manifesto do amigo Marinetti porque a ideia cabia perfeitamente na agenda fascista que pretendia tornar a Itália uma nação auto-suficiente. Para se ter uma ideia da dimensão do absurdo, o governo dizia que comer pasta não era patriótico porque o país dependia – e ainda depende – de trigo importado para produzir aquela massinha. Então, em 1925 ele lançou a Batalha pelo Trigo ou Batalha pelo Grão, uma política econômica que tinha o objetivo de “libertar” a Itália da dependência estrangeira. Não deu certo. A inflação aumentou e os estoques diminuíram enquanto os fascistas sugeriam que se comesse arroz.

Peça de propaganda fascista onde se lê: “Coma arroz. O arroz é saúde.” / Reprodução Newsletter Emiko Davies

Então, se massa é algo que os fascistas desprezavam, o amor pela pasta era automaticamente antifascista, lembra Emiko. E os membros da família Cervi, formada por Genoveffa e Alcide e seus sete filhos, levaram isso ao pé da letra.

Eles eram agricultores e também eram partisans – ou partigianos. Ou seja, apoiavam a luta antifascista. Por isso, quando souberam da prisão de Mussolini, montaram uma operação sem precedentes na cidade de Campegine, na Emilia-Romanha.  Eles ofereceram 370 quilos de massa para todos que quisessem celebrar a queda do regime. A pasta foi temperada com manteiga e queijo parmesão, ingredientes que hoje parecem simples, mas que naquele momento foram degustados como o que de mais caro havia. Era um momento em que os italianos viviam sob a brutalidade do fascismo, estavam exaustos, famintos, com os corpos e as almas quebrados. E a família Cervi ofereceu pasta, sim, mas também afeto, generosidade, acolhimento, alegria. Esperança. A polícia tentou dispersar os grupos porque ajuntamentos de mais de três pessoas eram proibidos desde 1931, mas nem os oficiais conseguiram resistir a um prato de euforia, a uma garfada de normalidade.

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E assim, em meio a guerra, a pasta com manteiga e queijo parmesão se tornou um símbolo de liberdade e resistência

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O jantar foi em 27 de julho de 1943, mas a Pasta Antifascista é celebrada hoje, dia 25, a data oficial do fim do Fascismo na Itália. Pelo menos até aquele momento. 

Retra
Retrato da família Cervi / Reprodução Newsletter Emiko Davies

Infelizmente, a história da Família Cervi não acabou em boa nota como essa história belíssima poderia indicar. Pouco mais de um mês depois do jantar, a Itália anunciou que não lutaria mais ao lado dos nazistas e Hitler ordenou uma caça aos “traidores” ao mesmo tempo em que eclodia uma guerra civil entre os Fascistas e os Partigianos. Alcide e os sete filhos foram presos em novembro daquele ano. Os irmãos foram executados um mês depois. O pai conseguiu escapar e só soube do destino dos rebentos quando chegou em casa. Em 1955, ele publicou um livro chamado “I miei sete figli”, em tradução livre, “Os meus sete filhos”. A história virou um filme de Gianni Puccini em 1968 chamado I sette fratelli Cervi.

Eu, que agora faço gosto em comer picanha e gosto menos de leite condensado, que na pressa do dia-a-dia já fiz muita massa puxada na manteiga com queijo parmesão, não conhecia o peso dessa receita. Mas que bom. Vão-se os fascistas e fica a pasta.

Voos Literários

Motociatas, o conservadorismo brasileiro sobre rodas

Flávia Cunha
13 de julho de 2021

Motociatas parecem ser o fenômeno bolsonarista de 2021. Já é a quinta vez que o presidente sem partido Jair Bolsonaro usa desse recurso: a convocação de integrantes de motoclubes para passeios exibicionistas. No último final de semana, a motociata foi realizada em Porto Alegre, cidade de onde escrevo esse texto. E, talvez pela proximidade geográfica com tamanha estupidez,  esta manifestação sobre rodas me entristeceu mais do que as outras.

Pensando de forma racional, a adesão ao ato em apoio a Bolsonaro foi ínfima, se comparada a manifestações de repúdio ao presidente. Porém, a verdade é que depois de tantas denúncias de irregularidades na condução da pandemia, parece um contrassenso que ainda existam pessoas demonstrando apoio a este governo. E por quê motociclistas estariam dispostos a isso?

O histórico do motoqueiro rebelde

Para começo de conversa, os apoiadores de Bolsonaro pertencem a associações, os chamados motoclubes. Esses grupos estabeleceram-se com mais força no Brasil em 1980 e 1990, muitas décadas depois de o motociclismo ter se consolidado nos Estados Unidos. Porém, foi a ficção a responsável por reforçar, no imaginário popular, a figura do motociclista como um rebelde em busca de liberdade e de uma vida fora dos padrões. Além disso, alguns episódios de violência também contribuíram para marginalizar o movimento. Olhando a superfície, parece não haver uma relação entre quem usa a moto como um estilo de vida e o bolsonarismo, tão imbuído de conservadorismo e falsa moral.

Masculinidade hegemônica

Mas, ao pesquisarmos o comportamento da maioria dos integrantes dos motoclubes brasileiros, passamos a entender melhor a existência das motociatas pró-Bolsonaro. No livro Isso é coisa pra macho – Masculinidades e Encontros Motociclísticos, o mestre em Antropologia Social Kleber Lopes da Silva reflete sobre os modelos conservadores presentes nos motoclubes mais tradicionais, citados em seu texto como “M.C.”:

“Estes modelos abarcam em sua essência comportamentos que ditam o conservador e o tradicional pautados em uma masculindade heteronormativa, a valorização de atributos socialmente reconhecidos como masculinos, como a racionalidade, a virilidade e mesmo a violência, são performatizados o tempo todo, base conceitual para composição dos M.C. tradicionais e para a maioria dos encontros de motociclistas. Os semblantes fechados, os braços cruzados, sempre em pé com olhares desconfiados, fazem parte dos comportamentos, principalmente, dos integrantes dos M.C. tradicionais que frequentam os encontros.” 

Bolsonarismo e Fascismo

Além disso, não podemos deixar de destacar o simbolismo fascista do uso de motos em manifestações políticas. Sem dúvida, o mais famoso ícone do conservadorismo sobre rodas é Benito Mussolini. Dentro dessa perspectiva, um livro que nos ajuda a entender esta relação é A linguagem fascista, de Carlos Piovezani e Emilio Gentile. Na obra, são comparados os discursos de Mussolini e Bolsonaro, contextualizados aos cenários políticos da Itália e do Brasil, com a devida perspectiva histórica.

 Já o livro Bolsonarismo: teoria e prática, organizado por Carlos Savio Teixeira e Geraldo Tadeu Monteiro, destaca a relação entre Bolsonaro e Donald Trump. Vale lembrar que o ex-presidente norte-americano contou com o apoio de motociclistas conservadores desde sua posse.

Motoboys antifascistas

Por fim, é importante assinalar a diferença entre os motociclistas apoiadores de Bolsonaro e os motoboys. Ao contrário de quem usa motos de luxo para passeio, os trabalhadores são, em sua maioria, contrários ao governo. Já abordamos o tema nesta coluna aqui

Para demonstrar essa diferença de alinhamento ideológico, uma ação alternativa foi realizada em Porto Alegre durante o ato pró-Bolsonaro. Motofretistas distribuíram refeições e arrecadaram cestas básicas, ajudando quem passa dificuldades durante a pandemia. Enquanto isso, o presidente transitiva pela capital gaúcha com seus apoiadores sem um objetivo específico, apenas parecendo celebrar os milhares de mortos pela covid-19.

Imagem: Isac Nóbrega/Fotos Públicas

PodCasts

Todo Dia Oito #3 Olga, a revolucionária que jamais perdeu a ternura

Geórgia Santos
8 de maio de 2021

Todo dia Oito. Todo dia oito, uma história. Todo dia oito, uma mulher
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No terceiro episódio do podcast, Olga, a revolucionária que jamais perdeu a ternura. Ou, na letra batida a máquina dos arquivos da Gestapo, a polícia secreta do Terceiro Reich, uma mulher plenamente judia. Uma comunista ousada e astuta. Uma comunista convicta que casou com Luis Carlos Prestes e foi entregue a Adolf Hitler. Olga Benário poderia ter sido apenas uma alemã que viveu no Brasil.  Mas quando Getúlio Vargas a expulsa daqui, ela se torna nossa.

QUEM FAZ

Produção: Vós

Pesquisa: Flávia Cunha e Geórgia Santos

Roteiro: Geórgia Santos e Flávia Cunha

Direção Artística: Raquel Grabauska

Apresentação e edição: Geórgia Santos

Locução: Raquel Grabauska como Olga Benário

Trilha sonora original: Gustavo Finkler

Voos Literários

Manifesto antifascista

Flávia Cunha
20 de dezembro de 2019

Precisamos falar sobre o avanço do reacionarismo no Brasil e, por mais pífia que tenha sido em termos de adesão, sobre a manifestação de integralistas saudando as ideias ultraconservadoras de Plínio Salgado, realizada há poucos dias em São Paulo. É importante, em primeiro lugar, ressaltar as semelhanças da Ação Integralista Brasileira com o nazismo e o fascismo. Para isso, recorro à análise do renomado crítico literário Antonio Candido, no prefácio da primeira edição do livro O Integralismo de Plinio Salgado, de autoria de J. Chasin, lançado em 1978, apenas três anos após a morte do controverso líder político. Candido não tem dúvidas da proximidade ideológica entre o movimento brasileiro e o extremismo nazifascista:

“Com efeito assim como os nazistas e fascistas, os integralistas pregavam a substituição da luta de classes pela ascensão dos melhores, para renovar as camadas dirigentes gastas e continuar estrutural e funcionalmente o seu papel na sociedade. No principal livro que escreveu como definição do movimento Plinio Salgado deixa tudo isso evidente. Ataca a liberal-democracia e diz que o integralismo será a democracia verdadeira. Reconhece afinidades com o socialismo, mas vê nele o perigo máximo contra a sociedade, negando-lhe o caráter revolucionário que, alega, caberia ao integralismo (exatamente como diziam Mussolini e Hitler sobre os seus movimentos).” 

Antonio Candido prossegue, nessa introdução, com a comparação do integralismo com o nazifascismo e minimiza as peculiaridades brasileiras do movimento integralista, que seriam mais na forma do que no conteúdo ideológico:

“De fato, a Ação Integralista·Brasileira possuía todos os elementos de caracterização externa do fascismo, como a camisa-uniforme; nascida da camiccia nera de Mussolini, que nele era verde (como nos congêneres romeno e húngaros), tendo sido parda no nazismo, preta nos fascistas tchecos e ingleses, azul nos irlandeses e nos portugueses de Rolão Preto; e até dourada num agrupamento mexicano aparentado. Ou, ainda, o signo de conotação meio mística: fascio littorio, svástica, cruz de flechas, tocha e, no Brasil, o sigma somatório. Ou, também, a saudação romana, comum a todas as modalidades e que entre nós passou por um processo revelador de assimilação, identificando-se à saudação indígena de paz com o brado ‘Anauê’. Resultou uma saudação nacional, peculiar, reveladora do indianismo que sempre reponta em nossos diferentes nacionalismos como busca do timbre diferenciador; mas que nem por isso deixa de ser manifestação do sistema simbólico do fascismo, geral.”

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Passado modernista

Candido cita o nacionalismo exacerbado dos integralistas e considero importante ressaltar o passado literário de Plínio Salgado. Antes de desenvolver seu ideário político conservador, ele foi um poeta parnasiano. Porém, aos poucos, foi se identificando com a estética do modernismo e chegou a lançar um manifesto modernista em 1927 chamado A Anta e o Curupira. No mesmo ano, lança O curupira e o carão, em colaboração com Menotti del Pichia e Cassiano Ricardo. Em 1926, já havia publicado o romance O Estrangeiro, considerado o primeiro do gênero de estética modernista.  Era um desafeto de Oswald  de Andrade dentro do movimento modernista, pelas ligações de Oswald com o comunismo e ideias libertárias. Aparentemente, Plínio Salgado apropriou-se de alguns elementos do modernismo, como a exaltação da cultura nacional, para criar seu ideário político. Em 1933, lança o livro O Que é O Integralismo. No ano seguinte, é alçado a chefe nacional do partido Ação Integralista Brasileira.

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Ligações com o  nazifascismo

Para quem ainda duvida da proximidade das ideias de Plinio Salgado com o nazismo, é bom destacar que nesse período dos anos 30 a AIB chegou a dividir sedes com o Partido Nazista em cidades catarinenses e recebia dinheiro do governo fascista italiano. Era um movimento majoritariamente branco e classe média, composto principalmente por descendentes italianos e germânicos. Apesar dos líderes integralistas dessa época publicamente rejeitarem o racismo e antissemitismo, há registro de espancamentos de negros por parte de integrantes da AIB. Um dos casos mais emblemáticos de violência racial ocorreu após uma manifestação integralista no centro do Rio de Janeiro, em 1936, quando militantes agrediram centenas de negros.

Os integralistas foram freados pela ditadura de Getúlio Vargas, que extinguiu os partidos políticos em 1937. Plínio Salgado acabou sendo exilado em 1939 e só retornou ao Brasil em 1945, com o fim do Estado Novo. Então, fundou o Partido de Representação Popular (PRP), procurando esconder o passado fascista e apresentando as ideias integralistas como alinhadas à democracia. Concorreu à presidência em 1955, tendo obtido 8% do total de votos. De 1958 até 1964, é deputado federal pelo PRP. Antes disso, em 1962 é um dos oradores da Marcha da Família com Deus Pela Liberdade, contra o presidente João Goulart. Plínio Salgado apoiou o regime militar e, com a introdução do sistema bipartidário, acaba integrando-se à Arena, partido de direita, onde obtém mais dois mandatos como deputado federal, antes de sair da vida pública.

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Respingos no presente

Percebemos então que os elementos ultraconservadores do integralismo estão mais próximos do que podemos imaginar da nossa política atual, já que os resquícios da ditadura militar ainda reverberam no Brasil reacionário do século 21. Por isso, precisamos ficar atentos a mais um partido conservador tentando ingressar na política brasileira atual. A Ação Integralista Brasileira, que em nada nega as ideias de Plinio Salgado, pretende participar das eleições de 2020. Será que as ligações históricas com o nazismo não deveriam ser razão suficiente para barrar a restauração desse partido?  

Para fechar com uma inspiração literária, resgato o trecho de uma crônica de 1943 de Jorge Amado, publicado no livro póstumo A Hora da Guerra. No texto, o escritor baiano, um comunista declarado, demonstra sua aversão ao integralismo a partir de um incidente registrado na época no Nordeste brasileiro:

“No Ceará encontraram, enterradas num buraco, camisas e insígnias integralistas. Enterradas, porém não destruídas. O dono de tais enfeites verdes estava evidentemente embaraçado, sem saber o que fazer deles no momento. Por outro lado não estava disposto a queimá-los certo de que camisas e insígnias ainda viriam a ter utilidade. Eis aí um exemplo claro, a atitude integralista no Brasil, a atitude fascista nos países onde se desenvolve a guerra contra o Eixo: esconder as camisas e insígnias, guardá-las bem guardadas, esperando o momento em que possam voltar a reluzi-las ao sol meridiano. Esse acontecimento do Ceará não é uma coisa isolada é apenas o símbolo de um fenômeno mundial.”

No final dessa crônica, Jorge Amado defende a ideia de que as camisas verdes integralistas apodrecerão nos esconderijos, pois nunca mais serão usadas. Imaginem o desgosto do escritor, falecido em 2001, se ficasse sabendo de integralistas nas ruas do Brasil novamente. É pelo nosso futuro e pela memória de quem lutou contra os conservadores desde o início do século 20 é que bradamos:

Fascistas, não passarão!

Sugestão de leitura antifascista: A Revoada dos Galinhas Verdes, de Fúlvio Abramo, que mostra a batalha entre integralistas e esquerdas na São Paulo da década de 1930.

Imagem: Reprodução/Internet

 

Igor Natusch

De vez em quando, os fascistas não vão passar

Igor Natusch
12 de setembro de 2019

Na dura luta conta a escalada reacionária e fascista que ameaça transformar o Brasil em escombros, todas as vitórias devem ser comemoradas.

No último dia 7 de setembro, tivemos um triunfo significativo nesse sentido. Diante da censura homofóbica promovida pelo prefeito Marcelo Crivella contra a Bienal do Livro no Rio, uma reação (disparada, até certo ponto, pelo super-trunfo midiático Felipe Neto) forçou a ofensiva obscurantista a recuar, em uma sequência de acontecimentos que incluiu recordes de vendas, manifestações ruidosas e uma capa história da Folha de S. Paulo. A insensatez preconceituosa de Crivella (e do desembargador Cláudio de Mello Tavares, do TJ-RJ, que temporariamente autorizou o absurdo recolhimento de livros com temática LGBT) foi enfrentada e, no fim das contas, não triunfou.

Pela primeira vez em um tempo considerável, os fascistas não passaram.

Ainda assim, não foram poucos os que se mostraram, no mínimo, reticentes em comemorar. Afinal, argumentou-se, a ala mais radicalizada à direita estaria achando o máximo o posicionamento do prefeito carioca – e a reação estaria, na verdade, fidelizando e dando coesão às forças obscurantistas ao invés de enfraquecê-las. Ao falar do assunto, servimos à narrativa deles. Se continuarmos agindo assim, eles vão se reeleger, vão seguir no poder indefinidamente e nunca poderão ser derrotados etc e por aí vai.

Olha, sinceramente: está na hora de desapegar desse medo.

Não há qualquer sentido em disputar a mente dos apoiadores mais empedernidos de Bolsonaro, Crivella e de tudo que eles representam. Eles investiram muito de si nessa história, enormes quantidades de recalques e angústias, e simplesmente não vão saltar fora do barco ao primeiro sacolejo do mar revolto. Talvez desistam, em algum momento, desta trilha de destruição – mas dificilmente agora, e certamente não pelas palavras de ordem de um bando de petralhas esquerdopatas.

E, se converter os convertidos não está no horizonte, que sentido há em ficar temeroso pelo que eles pensam?

Quem propôs a briga foram Crivella e os seus. A reação veio porque, no caso, não tinha como não vir. Silenciar era inconcebível.

Ou permitir que os livros fossem recolhidos era, quem sabe, uma posição tática aceitável? Talvez, para evitar reforçar os reacionários, devamos aceitar que eles façam o que der na telha, sem qualquer tipo de contestação? Torcer para que, se ficarmos bem quietinhos, eles simplesmente desistam de nos importunar?

É possível acalmar a besta fingindo que não se escuta o que ela diz, que não se vê o que ela faz?

A fandom reacionária está, por assim dizer, perdida. Não temos que lutar por eles, mas sim enfrentar quem os usa como manobra. Agir de forma que, ao espectador ainda não posicionado, o lado do atraso, da destruição e do ódio a tudo que não seja espelho pareça tão inaceitável quanto de fato é. E, acima de tudo, temos que lutar pela nossa própria força. Temos que ser capazes não apenas de resistir, mas de confrontar. Se é preciso aprender a não dar fôlego a essa corrente-para-trás que nos consome, é igualmente importante tirar lições de nossas vitórias. Ser capaz de encontrar força, inspiração e estratégia em tudo que nos tira, mesmo que por poucos momentos, da defensiva.

Os fascistas não passaram, ao menos desta vez. E, se não passaram, é porque alguma coisa de certo a gente fez.

Foto: Ana Paula Rocha / Reprodução / Twitter

Reporteando

O vencedor já é o ódio

Évelin Argenta
8 de outubro de 2018
Brasília - O deputado Jair Bolsonaro discute com a deputada Maria do Rosário durante comissão geral, no plenário da Câmara dos Deputados, que discute a violência contra mulheres e meninas, a cultura do estupro, o enfrentamento à impunidade e políticas públicas de prevenção, proteção e atendimento às vítimas no Brasil (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

“Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder.”

A frase, dita pela ex-presidente Dilma Rousseff, é tão confusa que mais parece uma premonição. Sairemos todos perdedores desse processo eleitoral. O único vencedor será o ódio, o sentimento de ódio que já se mostra em cada esquina.

A presença do ex-capitão Jair Bolsonaro, do PSL, no pleito desse ano (e alcançando níveis altíssimos de aceitação) é o principal sintoma de um fenômeno que não é brasileiro e, sim, mundial. Vivemos a era do individualismo, do neopopulismo, do antiglobalismo, expresso no seu maior ícone, Donald Trump.

O ódio que se espalha pelo mundo e – na Europa e nos Estados Unidos – tem como alvo os imigrantes e os refugiados, no Brasil é canalizado internamente. O ódio tupiniquim é pelo seu próprio povo, pelos jovens pobres da periferia, pelo movimento feminista, pelos intelectuais de esquerda. O ódio legitimado pelo candidato de extrema-direita é, em parte, uma reação de quem perdeu as garantias e o status nos últimos anos. Como no trumpismo, o bolsonarismo usa o ódio e o rancor como orgulho e afirmação.

É esse sentimento já existe, independentemente do vencedor. Na vitória de Bolsonaro, a legitimação da homofobia, misoginia, machismo, racismo e intolerância. Na vitória de Haddad, a desconfiança, o boicote por parte de outros setores, a instabilidade política por mais quatro anos, o revanchismo.

O que acontece com ódio depois da eleição? Na rua, simplesmente ser é perigo. Ser jovem, gay e querer caminhar (somente caminhar com seu fone de ouvido) pode ser perigoso se você estiver sozinho. Ter um adesivo contrário ao candidato do momento faz você correr um grande risco de levar uma fechada numa grande avenida e ter que ouvir coisas do tipo “comunista tem que andar de ônibus”. Andar com sua filha pequena numa praça e pedir que os manifestantes parem de gritar palavrões ao defenderem o dito candidato pode resultar em tiros para o alto. Ser judeu e amanhecer com um símbolo nazista pintado no portão da sua casa.

As histórias acima poderiam ser fictícias, numa espécie de exercício de futurologia, mas todas elas são reais e aconteceram na mesma semana em três estados diferentes.

Seja quem for o presidente, no Congresso aumentamos ainda mais o conservadorismo com o reforço  das bancadas evangélica, ruralista e da bala (a famosa Boi, Bíblia e Bala, BBB), o que deixa o país na mesma encruzilhada de sempre. Acabamos com a velha política e colocamos o que no lugar dela?

Serão quatro anos de um país que não se assusta em ter um ex-militar que tirou do armário o conservadorismo de quem anseia um líder que se guia pelos princípios dos tempos da ditadura. Como dizia Pedro Aleixo, então vice-presidente às vésperas do Ato Institucional -5, “o problema não é a lei ou os que governam. O problema é o guarda da esquina.”

Reporteando

O feminismo na vanguarda contra o fascismo

Évelin Argenta
26 de setembro de 2018

A socióloga e pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo, Esther Solano, avalia que o ódio virou uma moeda de troca importante no campo político atual.  Segundo ela existe um uso eleitoral do ódio, já que o “ódio potencializado” é um caminho às urnas.  A pesquisadora espanhola é autora de estudos sobre o que pensam os eleitores do capitão reformado do Exército e deputado federal, Jair Bolsonaro.  Ao comentar seu novo livro “O ódio como política”, lançado pela editora Boitempo, Esther ainda falou sobre o “risco real” de fascismo no Brasil e na vanguarda da luta das mulheres contra esse sistema. Confira a entrevista. 

*Originalmente a conversa foi veiculada pela Rádio CBN.  A entrevista foi realizada em parceria com os jornalistas Roberto Nonato e Kennedy Alencar. 

 

Estamos em uma fase onde o ódio está cada vez mais presente na sociedade?

O que o livro quis fazer é justamente chamar atenção para essa presença de ódio como uma moeda de troca importante no campo eleitoral e no campo político. Vivemos no Brasil em uma sociedade que se constrói muito na ideia do ódio, do machismo, do racismo, da desigualdade. O que vemos hoje é uma politização do discurso de ódio, uma “eleitorização” do discurso de ódio e ódio polarizado, pois ele é um bom caminho para as urnas.

 

O candidato Jair Bolsonaro (PSL) é que mais recorre a esse tipo de discurso. O que explica o crescimento desse discurso de ódio e da extrema-direita no Brasil?

Eu sempre digo que a candidatura da extrema-direita brasileira, de forma geral, se constrói sobre três “antis”. A primeira delas é a politização da antipolítica, que é aquele sentimento de “são todos iguais, todos corruptos”. A segunda é a negação do petismo e da esquerda. Existe um discurso muito forte de combate á esquerda e ao campo progressista e intelectual. E, por fim, há uma reação muito forte aos movimentos identitários, onde ganhou força o discurso antifeminista, movimento negro, movimento LGBT, colocando esses movimentos como culpados pela diferenciação social tão grande que existe nas relações sociais no Brasil.

 

Antes de passar por governos alinhados socialmente à esquerda, o Brasil passou por governos alinhados social e economicamente à direita.  Por que esses discursos de ódio não surgiram antes? Existe um fator econômico no ódio?

Sem dúvida. Existe hoje um realinhamento de uma força neoconservadora e intolerante no campo dos valores e uma força econômica liberal ou ultraliberal. A candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) é altamente simbólica nisso. Ele é um personagem construído nessa ideia dos valores, da família cristã, do militarismo, mas atrás da candidatura dele está o Paulo Guedes, que é uma pessoa que simboliza esse liberalismo ,a privatização e esse capitalismo mais selvagem. Existe um casamento obviamente oportunista aí. Só que as pessoas não são conscientes disso. Quando você pergunta para eleitores da extrema-direita sobre economia, ele não é consciente desse discurso neoliberal que está por trás, já que ele é tratado de forma escondida, às escuras.

 

Essa percepção vai além do Brasil em uma espécie de onda global?

Se dúvida. Globalmente existe um ressurgimento dessa extrema direita e isso é uma coisa que, efetivamente, você vê em países da Europa, América Latina e Estados Unidos. A diferença no Brasil e o que me preocupa bastante é que normalmente nos países europeus a retórica dessa extrema-direita se constrói com base no inimigo externo, no imigrante ou no refugiado. No Brasil existe uma peculiaridade. Essa retórica na extrema-direita se constrói com base em um inimigo interno. Então aqui a luta é contra o jovem negro da periferia, contra a feminista, contra o professor, contra a pessoa da esquerda. Existe uma violência contra o próprio brasileiro que é considerado como um “não cidadão de bem”

 

Nos últimos tempos a palavra fascismo vem sendo dita com uma frequência muito grande. Em alguns momentos , até, corre-se o risco de esvaziar a palavra de significado. Existe um risco real de fascismo no Brasil?

Sem dúvida. E nesse caso é importante contextualizarmos o que significa fascismo. Muitas pessoas confundem fascismo com uma certa política adotada em determinado momento histórico, fundamentalmente na Europa. Mas o fascismo na sua concepção política e filosófica mais ampla é o silenciamento, aniquilamento do outro que é considerado diferente. É uma política que mobiliza o ódio, que utiliza o ódio como mobilizador para fazer política. Então quando você tem candidatos que são abertamente xenofóbicos, misóginos, que dizem que “bandido bom é bandido morto”, esse é um discurso claramente fascista. O que não quer dizer que todo mundo que vote nesse tipo de pessoa seja fascista. Há pessoas que votam por outros fatores, como a descrença na política. Mas essa tendência política pode, sim, ser nomeada dessa forma.

 

Se o candidato Jair Bolsonaro for eleito, esse movimento terá no presidente da república o seu líder. No entanto, se ele perder a eleição quem ficaria nesse grupo de direita?  A senhora vê uma retomada desse eleitorado pelo PSDB ou pelo João Amoêdo, do Partido Novo?

Por um lado existe um certo paradoxo, pois você tem uma “bolsonarização” da esfera pública. Se o Bolsonaro não foi eleito o que fica capilarizado na esfera pública é esse discurso de ódio, da intolerância, do antipetismo, da moralização do debate público. Agora, ele é um candidato que não tem um partido político com estrutura, é isolado politicamente. Eu não vejo nesse momento uma estrutura político-partidária, institucional que consiga capitalizar esse discurso de ódio a ponto de você ter, de fato, uma estrutura forte ou competitiva como você tem na França. Mas isso é secundário, pois quando você já tem essa bolsonarização do debate na sociedade é questão de tempo para eles encontrarem outros tipos de canalizações. Temos que atacar esse discurso no campo social para que ele não extrapole o campo político.

 

Nos últimos dias vimos o crescimento de um movimento muito forte de mulheres que se opõem ao candidato Jair Bolsonaro. É um movimento que surgiu na internet, mas que já vem sendo usado de forma partidária por outros candidatos. Já havíamos presenciado algo parecido na história recente? Qual a dimensão desse movimento fora das redes sociais?

Já tivemos movimentos parecidos encabeçados por mulheres quando elas encabeçaram a oposição ao Eduardo Cunha, na questão da descriminalização do aborto. Uma coisa muito importante é que a internet tem sido um ambiente muito colonizado ultimamente pelo pensamento feminista. Houve o movimento #meuprimeiroassedio, #agoraéquesãoelas, etc. Esse movimento Mulheres Contra Bolsonaro ele é extraordinário por vários fatores. Primeiro que o voto feminino vai ser determinante nessa eleição, também pelo fato de as mulheres serem claramente atacadas pelo discurso de ódio (estamos na linha de frente dessa luta) e também em função de outros grupos terem se juntado a isso. Temos agora os LGBT Contra Bolsonaro, Negros Contra Bolsonaro, Evangélicos Contra Bolsonaro. Você vê que no campo do social, do coletivo e das ruas o feminismo é muito forte. Ele tem potencial para criar uma frente contra o fascismo. Acho que a onda de feminismo brasileira é a vanguarda da luta contra o fascismo. Somos nós, mulheres, que temos mais dificuldades para entrar na política. Então acho simbólico que sejam as mulheres a tomar a frente desse movimento.

Ouça a entrevista na íntegra

 

Igor Natusch

Sim, precisamos falar sobre Bolsonaro. Mas sem perda de tempo

Igor Natusch
20 de junho de 2018
O deputado Jair Bolsonaro durante sessão do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados que instaurou nesta terça-feira (16) processo por quebra de decoro contra o deputado Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

A oposição a Jair Bolsonaro nas redes sociais costuma dividir-se em dois posicionamentos fundamentais. De um lado, estão os que denunciam com indignação crescente as manifestações absurdas e o flagrante desconhecimento de fatos básicos, descrevendo o candidato do PSL com os termos mais enfáticos (quando não agressivos) que estejam à mão. No outro flanco, estão grupos que criticam essa postura, acreditando que cada comentário a respeito de Bolsonaro, mesmo negativo, acaba projetando ainda mais sua figura – o que explicaria não apenas sua popularidade, mas a quantidade crescente de pessoas dispostas a entregar seu voto a ele, já suficientes para elevá-lo ao patamar de figura de frente na eleição presidencial que se avizinha.

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Pessoalmente, concordo bem mais com a primeira leitura do que com a segunda. Mas também penso que é preciso pensar um pouco mais na estratégia, para não desperdiçar munição e acabar acertando no alvo errado.

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Os eleitores de Bolsonaro não são todos iguais. Se fossem, seu teto eleitoral já teria sido alcançado há tempos – o que, convenhamos, é bem diferente do que diferentes pesquisas de intenção de voto têm nos apontado. Se o candidato cresce nos levantamentos, é porque pessoas que antes não levavam seu nome em conta agora o conhecem e enxergam nele uma opção.

Verdade que, com muitos defensores da aterradora candidatura de Bolsonaro, não adianta discutir. São eleitores não apenas cativos, mas obstinados: diante de um cenário político que se esfarela e de um mundo onde enxergam apenas absurdos e riscos pessoais, enxergam na figura do outsider a implosão necessária de um sistema que desprezam, em nome do resgate de um passado melhor que só existe em suas imaginações. Para outros, especialmente ativos nas redes sociais, Bolsonaro é a trollagem perfeita, a desculpa para uma risada debochada e destrutiva. Não interessam os resultados da molecagem: ela vai incomodar os oponentes, e isso basta. São diferentes tipos de desajuste, mas que encontram na figura do candidato não só uma personificação de sua inadequação mas, também, uma chance de ter a última palavra. Esses estão, por assim dizer, fora do alcance: votarão Bolsonaro, e já era.

Mas nem todo mundo é tão sólido em sua opção. Muita gente está chegando agora: pessoas que sentem um profundo desconforto diante de uma política que não compreendem, de ameaças contra as quais se sentem indefesas, de decisões que sempre parecem prejudicá-las e sobre as quais não têm qualquer influência. Sentem que tudo vai mal, e que precisa acontecer alguma coisa, senão tudo ficará pior. Já buscaram super-heróis em diferentes cantos da política e, de uma forma ou de outra, se decepcionaram com eles. Agora, enxergam em Bolsonaro alguém que é, ao menos em aparência, inimigo de todos eles. Em um Brasil onde tudo é desencanto, e na falta aparente de opção melhor, Bolsonaro se fortalece, em uma espécie de manifestação coletiva de desagrado.

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É esse movimento de sedução, essa inclinação coletiva para o abismo, que pode – e deve – ser enfrentada. Com uma postura que fale a esses desencantos, mas que seja capaz de acolhê-los onde possível, sem simplesmente ridicularizá-los e fechar a porta. E que demonstre, da forma mais clara possível, o engodo que Bolsonaro deixa explícito a cada frase, cada posicionamento.

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Bolsonaro não resiste a um debate de ideias. E sabe disso. Todos em torno dele sabem.

É por isso que foge de situações onde será questionado e confrontado: porque seus arremedos de ideia são tão paupérrimos que qualquer argumentação coerente o deixaria nu em questão de minutos, pronto para ser esquecido como a fraude grosseira que de fato é. Quer falar sozinho, porque falando sozinho poderá sempre dizer que deu a última palavra. E é precisamente isso que não pode ter, que não podemos permitir que tenha em hipótese alguma.

A tentação de resumir o espectro político oposto em um ou dois aspectos simples e refutáveis é grande, mas nem sempre traz resultados positivos – isso quando não cria problemas ainda maiores. A verdade é que, hoje, ninguém sabe bem qual é o teto de Jair Bolsonaro. Cabe aos que se opõem a ele (e ao caldo grosseiro e trágico de fascismos, rancores, intolerâncias e incompetências que ele traz consigo) impedir que esse teto cresça.

Deixá-lo falando sozinho, se um dia foi opção, já deixou de ser há tempos: agora, é preciso forçá-lo a falar conosco. E derrotá-lo, o que só é possível (não garantido, mas possível) nesse corpo-a-corpo.

Foto: Wilson Dias / Agência Brasil