Tão série

O Próximo Convidado Dispensa Apresentações

Geórgia Santos
4 de fevereiro de 2018

Antes de David Letterman encerrar a estada de 30 anos no comando do The Late Show, ele entrevistou o então presidente Barack Obama, em maio de 2015. Incerto do próprio futuro, perguntou quais os planos de aposentadoria do ainda jovem político.

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“Eu estava pensando, você e eu, nós poderíamos jogar dominó juntos, sei lá, ir até o Starbucks mais próximo”, disse Obama

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Bem, o entrevistador não esqueceu da sugestão. Com um dos conhecidos copos do Staburcks em primeiro plano e uma barba quase messiânica, telefonou ao ex-presidente e fez uma proposta. Aguardou. Compensou. Barack Obama é o primeiro entrevistado do novo projeto de Letterman no Netflix, My Next Guest Needs No IntroductionO Próximo Convidado Dispensa Apresentações. E, de fato, dispensa.

Alguns poucos reclamaram da empolgação de David Letterman ao entrevistar o ex-presidente. Não gostaram do que chamaram de bajulação. Não concordo. Aliás, discordo tanto quanto possível. O que se vê não é bajulação, e sim um homem grato por ter encontrado alguém por quem nutre imenso e verdadeiro respeito, como ele mesmo diz.

Ao longo de quase uma hora, Obama fala bastante, com a usual discrição. Prefere discutir o macro a entrar nas minúcias do novo governo. Mas esta não é uma entrevista qualquer. A conversa com o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos é permeada por uma pesada carga histórica e emocional. Letterman viajou à Selma, Alabama, para atravessar a ponte Edmund Pettus ao lado do deputado John Lewis, presente no Domingo Sangrento de 1965. Na ocasião, militantes do movimento pelos direitos civis realizaram um protesto pacífico para reivindicar o direito da população afro-americana ao voto. Foram recebidos com cassetetes, gás lacrimogêneo e sangue. Muito sangue.

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O jornalista perguntou a Lewis o que estava do outro lado da ponte, simbolicamente

E o ativista respondeu sem titubear: “Obama”

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E Obama sabe disso. Sabe que é fruto daquela luta. Sabe que sem Martin Luther Jr e a entrega e o sangue de milhares de outros ativistas, os Estados Unidos não teriam tido o primeiro presidente negro em 2008. Isso também é parte da preocupação do Democrata com a horizontalidade das políticas públicas e a diminuição da desigualdade.

 

Em poucos minutos, ele consegue explicar o problema da desigualdade crescente que assola o mundo. Mais do que isso, lança a pergunta fundamental a que devemos responder.

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Como fazer uma economia nesse ambiente tecnológico globalizado que seja boa para todos?

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Precisamos buscar essa resposta. Talvez a busca seja mais importante do que a resposta em si. A primeira temporada prevê seis episódios, lançados mensalmente. Além de Obama, serão entrevistados George Clooney, Malala Yousafzai, Jay-Z, Tina Fey e Howard Stern. Uau. Não sei quanto a vocês, mas eu estou muito ansiosa.

Tão série

Mindhunter – Para rever alguns conceitos

Geórgia Santos
27 de janeiro de 2018
MINDHUNTER

Na penitenciária de Vacaville, na Califórnia, Edmund Kemper  descreve como matou suas vítimas enquanto, amigavelmente, aperta a jugular de um agente do FBI. Concentrando os 140kg no indicador esquerdo, ele explica, sem alterar a voz, como sequestrou, matou e estuprou adolescentes. Sim, nesta ordem. Do alto de dois metros de altura, ainda conta como matou, decapitou e violentou a própria mãe. Sim, nesta ordem.

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Esta cena, retratada na imagem de capa, é a tônica de Mindhunter, a grata surpresa do ano passado e, na minha modesta opinião, uma das melhores séries de 2017. Confesso que, dentre tantos títulos do catálogo da Netflix, escolhi somente por causa da minha estranha obsessão com serial killers. Ou melhor, com suas histórias. Foi uma opção despretensiosa, mas que valeu a pena.

Nos anos 70, agente Holden Ford (Jonathan Groff), do FBI, se dedica a traçar um perfil psicológico para o então novo fenômeno dos assassinatos em série. A ideia é desenvolver um método que os ajude a compreender porquê a morte quando não há “motivo”. Para isso, eles passam a entrevistar assassinos já julgados e condenados a prisão perpétua ou ao corredor da morte. São todos personagens reais como o aterrorizante, estranho e simpático – sim, ele é – Ed Kemper (Cameron Britton).

A série foi criada por David Fincher  e é baseada em fatos reais. O roteiro foi adaptados do livro “Mindhunter: O primeiro caçador de serial killers americano”, de John Edward Douglas e Mark Olshaker. Douglas atuou como analista do FBI por 25 anos e foi pioneiro na elaboração de perfis psicológicos, tanto que o termo serial killer sequer existia. Apesar do realismo, Fincher não foge de uma boa dose de licença poética e suspense. São dez episódios de cerca de 40 minutos cada. Apesar da longa duração de cada capítulo, os ganchos típicos dos suspenses psicológicos prendem o espectador no sofá, com os olhos vidrados no espelho negro.

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O mais interessante, porém, é que não é uma série policial comum. Ao ponto de fazer com a gente reavalie todo um sistema interno de julgamento

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A produção da Netflix faz com que a gente abandone uma pré-concepção de que todo o crime é vazio, por maldade intrínseca. Não que não exista, mas a série é um exemplo concreto de que uma mente destruída por negligência e violência vai repetir os padrões que internalizou como normais. Afinal, não é produto de ficção. Não se engane, não é uma versão elaborada de Criminal Minds. Esqueça as grandes perseguições e os atos heróicos de Morgan e Hotchner. Mindhunter é um thriller sufocante e angustiante que nos faz questionar a própria existência e destino. Felizmente, a segunda temporada foi confirmada para 2018.

https://www.youtube.com/watch?v=7gZCfRD_zWE

Tão série

As piadas de Seth Meyers mostram o que está errado com a indústria do entretenimento

Geórgia Santos
13 de janeiro de 2018

O anfitrião do Globo de Ouro foi extremamente feliz. Seth Meyers tinha a ingrata missão de apresentar a premiação em uma noite dedicada às mulheres – só o fato de ele ser homem já era um problema de sensibilidade. Mas o que poderia ter sido um desastre foi uma aula sobre o que está errado com a indústria do entretenimento.

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Ele foi engraçado, foi sensível e foi certeiro

A gente ri, mas por dentro dá vontade de chorar

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1. Boa noite senhoras e senhores restantes;

2. Feliz Ano Novo, Hollywood. É 2018, a maconha é finalmente permitida e o assédio sexual finalmente não;

3. Uma nova era se inicia, e eu posso dizer isso porque fazia anos que um homem branco não ficava nervoso em Hollywood;

4. Aos homens indicados nesta noite, essa é a primeira vez em três meses que não vai ser assustador ouvir seu nome lido em voz alta;

5. Muitas pessoas pensam que seria mais apropriado se uma mulher apresentasse esta premiação, e eles podem estar certos. Mas se serve de consolo, e eu sou um homem sem absolutamente nenhum poder em Hollywood. Eu sequer sou o Seth mais poderoso desta sala. Aliás, lembram quando ELE (Seth Rogen) era o cara que arrumava confusão com a Coreia do Norte? Tempos mais simples;

6. Associação da Imprensa Estrangeira. Um conjunto de três palavras que não poderia ter sido melhor desenhado para irritar nosso presidente. O único nome que poderia deixá-lo mais irritado é Associação Hillary México Salada;

7. A Forma da Água recebeu mais indicações que qualquer filme neste ano. Um filme incrivelmente lindo, mas eu preciso admitir que quando  eu ouvi falar de um filme em que uma jovem mulher se apaixona por um monstro nojento, eu pensei, “Ah, cara, não outro filme do Woody Allen”;

8. O Globo de Ouro faz 75 anos. Mas a atriz que interpreta sua esposa ainda tem 32;

9. De acordo com um artigo recente, apenas 5% dos papeis de Hollywood são interpretados por atores asiáticos. Mas esses números podem estar errados já que o cálculo foi feito por uma pessoa branca;

10. E agora para apresentar nosso primeiro prêmio… Por favor não sejam dois caras brancos, por favor não sejam dois caras brancos. Oh, graças a Deus. Gal Gadot e Dwayne Johnson, pessoal!

Ah, isso sem falar na maravilhosa letra de Natalie Portman que, adequadamente, anunciou os HOMENS indicados a melhor direção.

 

Foto: Paul Drinkwater/NBCUniversal via Getty Images

Tão série

As 7 melhores séries de 2017

Geórgia Santos
30 de dezembro de 2017

É muito difícil fazer uma lista reduzindo grandes produções a números tão diminutos. Ao mesmo tempo, algumas são simplesmente melhores do que as outras. Por isso, escolhi sete séries que se destacaram em 2017 usando única e exclusivamente o critério do instinto. Lembrei dessas instantaneamente. Foram as mais memoráveis. As que mais marcaram o ano.

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Master of None

No último post, eu avisei que era importante que Master of None fosse vista antes de o ano acabar. Mas isso não impede que tu corra atrás depois da virada. Vale a pena. Afinal, o que era para ser só mais uma comédia romântica com o simpático Aziz Ansari acabou por tornar-se uma das produções mais representativas do momento em que a gente vive. Especialmente se tu estás na casa dos 30 anos. A segunda temporada tem episódio em preto e branco, episódio mudo, com e sem os protagonistas, história de amor, tolerância e, ainda por cima, o Dev falando “allora” durante o período em que ele vive na Itália – é muito fofo.

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Mindhunter

MINDHUNTER

A grata surpresa do ano. Confesso que, dentre tantos títulos do catálogo da Netflix, escolhi Mindhunter somente por causa da minha estranha obsessão com serial killers. Ou melhor, com suas histórias. Foi uma opção despretensiosa, mas que valeu a pena.

Nos anos 70, agente Holden Ford (Jonathan Groff), do FBI, se dedica a traçar um perfil psicológico para o então novo fenômeno dos serial killers. A ideia é desenvolver um método que os ajude a compreender porquê a morte quando não há “motivo”. Para isso, eles passam a entrevistar assassinos condenados. São todos personagens reais como o aterrorizante, estranho e simpático – sim, ele é – Ed Kemper (Cameron Britton).

A série foi criada por David Fincher (Seven) e é baseada em fatos reais, com uma boa dose de licença poética e suspense.

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Twin Peaks

No ultimo episódio da segunda temporada, Laura Palmer disse: “I´ll see you again in 25 years” – “Eu o verei novamente em 25 anos”. Atrasou, mas David Lynch cumpriu a promessa. E como o fez. No retorno de Twin Peaks, o diretor explora algumas lacunas das temporadas passadas e apresenta novos mistérios ao público.

Os longos episódios não são empecilho para não querer desgrudar da TV. Afinal, o suspense compensa a tensão. É uma bela obra em termos de estética e narrativa.

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The Handmaids Tale

Recomendar a série The Handmaids Tale ( O conto da Serva, em tradução livre) é um tanto desconfortável diante do contexto político no qual estamos inseridos. A obra da Hulu é uma adaptação do livro homônimo de Margaret Atwood, que apresenta um cenário distópico em que mulheres férteis são escravizadas por homens poderosos que as estupram com fins de reprodução.

Enquanto produto de entretenimento, apesar da bela fotografia e do suspense, é uma obra de linguagem arrastada por vezes, que atrasa o engajamento inicial. Mas é uma observação absolutamente pessoal, que resistiu à vontade de acompanhar aquela realidade tão distante e tão próxima. É uma produção importante e que deve ser vista. E que bom que eu insisti.

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This is Us

THIS IS US — “Last Christmas” Episode 110 — Pictured: (l-r) Sterling K. Brown as Randall, Justin Hartley as Kevin, Chrissy Metz as Kate, Susan Kelechi Watson as Beth — (Photo by: Ron Batzdorff/NBC)

A série só estreou no Brasil neste ano, mas já conquistou a quem teve a felicidade de cruzar seu caminho. This is Us é um drama familiar que inova em formato e linguagem, já que conta duas histórias paralelas com um gap temporal de mais de 30 anos.

A trama principal gira em torno de um grupo de pessoas que nasceu no mesmo dia. Na década de 80, o casal Jack (Milo Ventimiglia) e Rebecca (Mandy Moore), espera a chegada de trigêmeos. No presente, Kevin (Justin Hartley) é um ator de televisão frustrado com os papéis superficiais que interpreta; Kate (Chrissy Metz) luta contra a obesidade; e Randall (Sterling K. Brown) reencontra o pai que o abandonou quando ele era bebê.

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Veep

É quase um crime que eu ainda não tenha falado sobre a série que considero uma das melhores de sempre – e não apenas no gênero da comédia. Veep tem simplesmente um dos textos mais engraçados e ácidos da TV. É impossível não rir muito com a brilhante atuação de Julia Louis-Dreyfus no papel da ex- presidente Selina Meyer, que agora luta com todas as forças e falta de noção para não cair no ostracismo. Não à toa o papel já lhe rendeu cinco Emmys de Melhor Atriz.

O elenco é impecável e os personagens impecavelmente imbecis. E para pânico geral de todas as nações, a série é assustadoramente verossímil com suas lambanças na Casa branca e desencontros entre deputados, presidentes e quaisquer pessoas que passem por Washington DC.

Infelizmente, no momento, Julia Louis-Dreyfus luta contra um câncer. Veep deve volta para uma última temporada em 2019.

Orange is The New Black

A nova temporada começa três dias após a morte de Poussey Washington (Samira Wiley) e é de partir o coração. Mas mais do que isso, as detentas abordam temas que tem permeado a nossa realidade durante uma rebelião, como o movimento Black Lives Matter. A gente vê, através das grades da Penitenciária de Litchfield, o preconceito do nosso mundo enquanto mulheres tentam encontrar sua voz. Vale cada minutinho, cada grão de pipoca.

Tão série

Game of Thrones – O que esperar do primeiro capítulo

Geórgia Santos
16 de julho de 2017

O inverno está chegando, finalmente. E não, não me refiro à massa de ar polar que deve arrefecer o clima no sul do Brasil. Falo, obviamente, de Game of Thrones, umas das mais aclamadas séries da atualidade – e de outros tempos também.

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Logo vamos matar a curiosidade, mas enquanto isso, que tal tentar decifrar as pistas que a HBO vem dando nas últimas semanas?

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A estreia desta sétima temporada é similar à anterior, afinal, não há livro que a preceda. As Crônicas de Gelo e Fogo tem “apenas” cinco livros e o sexto e sétimo volumes ainda não foram escritos. Ou seja, não sabemos como a saga da Guerra dos Tronos continua.

A HBO vem dando algumas pistas vagas sobre o que deve acontecer no primeiro capítulo, que vai ao ar hoje à noite. Como não fomos convidados para a pré-exibição, que aconteceu em Los Angeles na última quarta-feira, só nos resta tentar decifrar o mistério.

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Episódio 61 – “Dragonstone” / “Pedra do Dragão”

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Jon (Kit Harington) organizes the defense of the North. Cersei (Lena Headey) tries to even the odds. Daenerys (Emilia Clarke) comes home.

Jon (Kit Harington) organiza a defesa do Norte. Cersei (Lena Headey) tenta igualar as probabilidades. Daenerys (Emilia Clarke) volta para casa.

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Retomando da última temporada, Jon Snow foi nomeado Rei do Norte. Como não poderia ser diferente, ele está tentando unir as forças que estavam divididas sob o reinado de Ramsay Bolton. O problema é que ele tem Mindinho em seu caminho, que está fazendo de tudo para afastar Sansa de Jon – provavelmente com o intuito de faze-la assumir o reino e destronar o (meio) irmão.

Mas afinal, contra o que ou quem o Norte precisa ser defendido? Juntando algumas teorias aqui e ali, podemos pensar no mais provável. Para ele, o maior inimigo está do outro lado da muralha. Por outro lado, desde a queda dos Boltons, Cersei sabe que já não tem amigos no norte e Jon pode estar armando uma defesa contra um possível ataque vindo das Terras Ocidentais.

Quanto a Cersei, não é segredo que ela está cercada por inimigos, logo, tentar igualar as (suas?) chances não é propriamente uma surpresa. A surpresa deve estar em COMO ela fará isso. Qual será o truque na manga, desta vez? Acredito que ela não consiga fazer nada sem a garantia de pelo menos um aliado, portanto, aposto que a tentativa de igualar as probabilidades é justamente a busca por uma nova aliança. Euron deve ser o nome que ela procura.

Daenerys voltar pra casa também não é propriamente uma grande novidade, afinal, a vemos sentada no trono no trailer que foi divulgado há mais de um mês. Trono do castelo que era a casa dos Targaryen.

Não é muito, mas ajuda a passer a ansiedade pelo novo episódio. Enquanto isso, dá uma curtida no trailer.

Tão série

Três maratonas para curtir durante as férias de julho

Geórgia Santos
8 de julho de 2017

As férias de julho estão aí, trazendo com elas o friozinho do inverno. E nada combina melhor com o inverno do que passar horas em frente à televisão – embaixo de um cobertor, claro. E comendo pipoca, óbvio. Por isso, pensamos em três maratonas para curtir durante as férias. São séries que estrearam no último mês no Netflix e que acomodam essa necessidade urgente de deixar a marca do bumbum no sofá.

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House of Cards

Já discutimos a nova temporada de House of Cards por aqui, e como se uma indicação não bastasse, aqui vai a segunda. Tem estômago para encarar um político de moralidade dúbia dando um jeitinho na legislação e contornando a Constituição para permanecer no poder? Não, eu não estou falando do Temer, só do casal Underwood. A maratona é perfeita para as férias de Julho, afinal, frieza é o que não falta. Prepara o cobertor!

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Orange Is The New Black

A nova temporada começa três dias após a morte de Poussey Washington (Samira Wiley), é de partir o coração. Mas mais do que isso, as detentas abordam temas que tem permeado a nossa realidade durante uma rebelião, como o movimento Black Lives Matter. A gente vê, através das grades da Penitenciária de Litchfield, o preconceito do nosso mundo enquanto mulheres tentam encontrar sua voz. É possível verVale cada minutinho, cada grão de pipoca.

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GLOW

Toda a exuberância da década de 80 transborda em GLOW – Gorgeous Ladies of Wrestling. Em tradução livre, Damas Maravilhosas da Luta. A série retrata os desafios de Ruth Wilder (Alison Brie), uma atriz cuja última chance em Hollywood é participar de um programa de TV sobre luta feminina. Collants, drogas, meias de lurex e mais um monte de coisas inapropriadas e engraçadas. A trama toda é baseada em uma história real, de um programa real.

Tão série

Black-ish

Geórgia Santos
15 de abril de 2017

Black-ish é uma mistura de tudo o que eu adoro: é engraçada, bem escrita e apresenta uma dura crítica à sociedade contemporânea sem pesar. A série de Kenya Barris está redefinindo o significado de sitcom.

Não precisa ser vazio para ser engraçado e não precisa ser pesado para ser relevante.

A série parte da premissa de que quando um negro norte-americano atinge um determinado status social, passa por uma espécie de branqueamento. Por isso o “ish”, em Black-ish, que em tradução livre seria algo como “Mais ou menos negro.” Ou seja, é difícil se manter conectado às origens e mais complicado ainda manter a família ciente de onde veio e do motivo pelo qual é importante lembrar disso.

Andre (Dre) Johnson Sr (Anthony Anderson) é um rico executivo do ramo da Publicidade e é casado com a médica Rainbow (Bow) Jhonson (Tracee Ellis Ross), com quem tem cinco filhos. A cada episódio, um dilema sobre como lembrar da relevância de sua origem e, principalmente, o longo caminho trilhado até aqui. Um bom exemplo pra quem nunca viu a série é o episódio em que Dre percebe que os filhos não sabem que Barak Obama é o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos. No mundo das crianças, isso é absolutamente normal. Obama é o único presidente que conhecem, afinal de contas. Chocado, o pai compreende que a família precisa saber do tortuoso caminho até a vitória do democrata em 2008 e valorizar o que ele representa.

Ele enfrenta, então, o dilema central: será que ele está desconectando os filhos de sua herança cultural ao oferecer os privilégios que ele não teve na infância?

Black-ish é diferente e nos mostra uma família tentando entender o mundo do qual faz parte, inclusive com suas brigas e dilemas morais. E o fato de ser sobre uma família negra não é acidental, é a identidade da série. Fala sobre racismo, sobre estereótipos, sobre brutalidade policial, Black Lives Matter, dilemas sobre relacionamentos entre negros e brancos e, em meio a isso tudo, encontra humor para divertir o telespectador brincando a duração (loooonga) dos cultos e com o fato de que Dre vê racismo em todo canto, pra citar alguns.

É, também, uma ótima oportunidade para nós, brancos, abrirmos os olhos de uma vez por todas. Eles simplesmente atacam temas sensíveis em todos os episódios e funciona: Obama ama, Trump considera racista. Isso diz muito.

Tão série

Mês das Mulheres – The Good Wife

Geórgia Santos
18 de março de 2017

 

O nome não parece ter a ver com empoderamento feminino, afinal, a premissa da “boa esposa” é herança da sociedade machista. Mas The Good Wife é o oposto disso. Ao longo de sete temporadas, a advogada Alicia Florrick (Julianna Margulies) se afasta daquilo que todos esperam dela: o estereótipo de bela, recatada e do lar.

Evolução da “boa esposa”

No primeiro episódio da primeira temporada, vemos uma Alicia pálida, mal vestida e com cara de dona de casa suburbana. Vemos uma esposa humilhada enquanto fica ao lado do marido, o procurador-geral que teve um caso com outra mulher e se envolveu em um escândalo de corrupção. Isso faz com que ela precise/queira mudar sua vida: ela volta a advogar e toma as rédeas da própria vida. Encontra um antigo amor dos tempos de faculdade, começa a trabalhar no escritório do bonitão e está armada a cama. Só precisamos deitar.

A trama tem tudo que a gente precisa pra não desgrudar os olhos da televisão: crimes, política, intrigas, sexo, affairs, mentiras, traições, mais crimes, mais intrigas e mais crimes. E sexo. E mentiras. E mais traições.

 

Com o passar do tempo, Alicia e a série amadurecem o suficiente para que fiquemos viciados na história dessa mulher poderosa que é uma mãe-dona-de-casa-que-trabalha-fora-e-é-casada-mas-não-é-e-ama-dois-caras-ao-mesmo-tempo-mas-não-tem-certeza-e-está-crescendo-profissionalmente-mas-talvez-não-saiba-lidar-bem-com-isso-ou-saiba. Ufa. Eu sei que ficou grande, mas na série também é assim, tudo ao mesmo tempo agora.

Mulheres poderosas

E não é somente Alicia. Temos Diane Lockhart (Christine Baranski), uma advogada fodona e Democrata até a alma, constantemente lutando contra os conservadores e pelos direitos da mulher, como regularização do aborto. Temos Kalinda Sharma (Archie Panjabi), uma mulher misteriosa e independente que não deixa que ninguém diga como viver a vida.

Então, se tu ainda não viu, corre pra assistir The Good Wife. A série está disponível no Netflix e vale cada clicada. É uma história de empoderamento e emancipação, uma história crua e real sobre os degraus que a mulher precisa subir ou escalar para conseguir ser vista. Eu não vou dar spoiler, mas se tu não te importa com isso, dá uma olhada neste texto da Time sobre o último episódio da série e entenda a evolução de uma personagem que estava em busca de si.

A série acabou, mas o nosso amor, não. Dá uma olhada no recap da primeira temporada e me diz se não é de viciar?

Tão série

Santa Clarita Diet – A única dieta que segui até o fim

Geórgia Santos
18 de fevereiro de 2017

Eu amo Bloody Mary. O drinque desprezado por brasileiros e brasileiras é dos meus favoritos. É picante. É intenso. É forte. É vermelho. Mas Sheila, a personagem de Drew Barrymore em Santa Clarita Diet, a nova série do Netflix, leva a devoção ao Bloody Mary a um outro patamar: com real blood – sangue de verdade.

A série retrata uma mulher de meia idade absolutamente comum e sem graça. Sheila é uma entediante corretora de imóveis que acha que rapidinhas são para cães de rua. Ela não fala palavrões, veste-se impecavelmente em tons neutros e atura ofensas do chefe com um sorriso no rosto. Ela vive em Santa Clarita, na California, com o marido Joel (Timothy Olyphant) e a filha Abby (Liv Hewson). São um casal bastante comum, com uma filha tão comum quanto sua relação.

“Ela vomita muito. Muito. Tipo muito, como frisa um colega de trabalho. Ela vomita tanto que vomita o coração”

A vida é bastante pacata. Até que Sheila encarna o exorcista e vomita uma gosma verde no carpete de uma casa que está mostrando a possíveis compradores. Ela vomita muito. Muito. Tipo muito, como frisa um colega de trabalho. Ela vomita tanto que vomita o coação. E é aí que uma série normalzinha sobre uma família de comercial de margarina se transforma em uma comédia de humor negro sobre zumbis e a hipocrisia permanente na qual estamos imersos.

Sheila transforma-se em um zumbi e só consegue comer carne crua. Carne de gado, de frango, essas coisas que toda a família tem em casa – exceto pelo tempo de forno, que difere um pouco das donas de casa comuns. Até que em um rompante de quem é guiado somente pelo instinto experimenta carne humana e não consegue voltar atrás.

As cenas podem ser bastante gráficas. A imagem da amiguinha do E.T. debruçada sobre um homem estripado pode ser muito chocante. Especialmente se notarmos que ela está com os intestinos do dito cujo na boca. Mas passado o choque, o que se tem é uma produção divertidíssima e inteligente. Sheila e o marido percebem que precisam matar outras pessoas para que ela possa sobreviver. Ainda assim, tentam manter a normalidade. E assim o público é brindado com uma mãe de família fazendo sua caminhada matinal enquanto bebe um smoothie de orelhas e nariz. Isso, sim, é um Bloody Mary.

“A Netflix usa da mais fina e ao mesmo tempo escrachada ironia para criticar a família americana “perfeita”

Ao mesmo tempo em que traz o elemento dos zumbis, um clássico de filmes de terror e de séries consagradas como The Walking Dead, a Netflix usa da mais fina e ao mesmo tempo escrachada ironia para criticar a família americana “perfeita”. Santa Clarita Diet é, também, uma crítica à sociedade das aparências: queremos o sangue do vizinho enquanto trocamos sorrisos e receitas de Brownie.

Em resumo, é a única dieta que segui até o fim – devorei os dez capítulos em um só dia. E não se preocupe, os pés e fígados que Drew Barrymore devora com tanto afinco são feitos de gominha de açúcar. Nhami.

Assista ao trailer