Tão série

Black-ish

Geórgia Santos
15 de abril de 2017

Black-ish é uma mistura de tudo o que eu adoro: é engraçada, bem escrita e apresenta uma dura crítica à sociedade contemporânea sem pesar. A série de Kenya Barris está redefinindo o significado de sitcom.

Não precisa ser vazio para ser engraçado e não precisa ser pesado para ser relevante.

A série parte da premissa de que quando um negro norte-americano atinge um determinado status social, passa por uma espécie de branqueamento. Por isso o “ish”, em Black-ish, que em tradução livre seria algo como “Mais ou menos negro.” Ou seja, é difícil se manter conectado às origens e mais complicado ainda manter a família ciente de onde veio e do motivo pelo qual é importante lembrar disso.

Andre (Dre) Johnson Sr (Anthony Anderson) é um rico executivo do ramo da Publicidade e é casado com a médica Rainbow (Bow) Jhonson (Tracee Ellis Ross), com quem tem cinco filhos. A cada episódio, um dilema sobre como lembrar da relevância de sua origem e, principalmente, o longo caminho trilhado até aqui. Um bom exemplo pra quem nunca viu a série é o episódio em que Dre percebe que os filhos não sabem que Barak Obama é o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos. No mundo das crianças, isso é absolutamente normal. Obama é o único presidente que conhecem, afinal de contas. Chocado, o pai compreende que a família precisa saber do tortuoso caminho até a vitória do democrata em 2008 e valorizar o que ele representa.

Ele enfrenta, então, o dilema central: será que ele está desconectando os filhos de sua herança cultural ao oferecer os privilégios que ele não teve na infância?

Black-ish é diferente e nos mostra uma família tentando entender o mundo do qual faz parte, inclusive com suas brigas e dilemas morais. E o fato de ser sobre uma família negra não é acidental, é a identidade da série. Fala sobre racismo, sobre estereótipos, sobre brutalidade policial, Black Lives Matter, dilemas sobre relacionamentos entre negros e brancos e, em meio a isso tudo, encontra humor para divertir o telespectador brincando a duração (loooonga) dos cultos e com o fato de que Dre vê racismo em todo canto, pra citar alguns.

É, também, uma ótima oportunidade para nós, brancos, abrirmos os olhos de uma vez por todas. Eles simplesmente atacam temas sensíveis em todos os episódios e funciona: Obama ama, Trump considera racista. Isso diz muito.