Samir Oliveira

Por que as críticas a Pabllo Vittar são tão duras?

Samir Oliveira
4 de janeiro de 2018
Foto: Mídia Ninja

É bem possível que nenhum artista contemporâneo seja tão criticado no Brasil como Pabllo Vittar. Suas apresentações são minuciosamente analisadas. Qualquer deslize vocal torna-se imperdoável. O prazer em desqualificar seu trabalho revela a compulsão obsessiva de seus haters. A caixa de comentários – sempre ela – em qualquer post sobre a artista nas redes sociais e em portais de notícia comprova o que estou dizendo.

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Estou há algum tempo tentando entender esse fenômeno. Não encontrei respostas definitivas, mas tenho algumas hipóteses.

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Primeiramente, busquei no próprio sucesso de Pabllo Vittar a explicação para as críticas. Afinal parece natural que qualquer artista com uma grande base de fãs tenha, também, uma grande base de haters. Mas isso não é totalmente verdade. Caetano Veloso, Chico Buarque, Paul McCartney… Tento pensar em outros artistas com projeção multitudinária e não me recordo de ver nenhum deles gerar uma forte carga negativa de comentários em publicações a seu respeito.

Descartada esta hipótese, passo a focar na técnica vocal de Pabllo Vittar. Não entendo absolutamente nada de música e canto, tecnicamente falando. É claro que consigo identificar quando alguém desafina, quando algo está errado ou um pouco estranho. Mas é só. E Pabllo nunca me soou desconfortável de ouvir. Qual grande artista nunca desafinou, nunca falhou ao tentar atingir determinada nota ou alcançar um tom? Surpreendentemente, todos os haters de Pabllo Vittar tornaram-se críticos musicais de uma hora para outra, especialistas na mais fina análise de técnicas vocais.

https://youtu.be/EmxPMJ7UZ88

O mais recente campo de batalha neste sentido foi provocado por Ed Motta. Com mais de 400 mil seguidores no Facebook e um público cativo, o cantor postou um vídeo de Pabllo interpretando o clássico I Have Nothing, da Whitney Houston, no programa Altas Horas. Ed Motta não economizou elogios: “Eu chorei de verdade vendo porque não imaginava essa musicalidade, timbre lindo nas notas graves e quando atingiu as notas altas foi com propriedade. Depois conferi pelo YouTube que faz tempo que o talento dela é verdadeiro e genuíno”.

O comentário de Ed Motta enfureceu seus fãs, que se viram realmente perplexos e incapazes de entender como o ídolo poderia gostar de Pabllo Vittar. Cumpriram a própria expectativa do cantor, que, mesmo sem conhecer profundamente o trabalho da drag queen, já havia percebido que ela é alvo de críticas desproporcionais: “Muita gente denominada/inventada pelo mercado como ‘artista’ com grandes vendagens, premiações simuladas, não tem um terço da capacidade vocal de Pablo Vittar. Pablo faz um sucesso imenso, mas tem um exército de ódio yang que se incomoda profundamente com o que isso representa na sociedade obediente e engessada”.

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Só me restou uma última hipótese: a do preconceito. Relutei em aceitá-la, de tão óbvia e simples que aparenta ser. Mas é a única explicação plausível

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Veja bem, não estou aqui dizendo que quem não gosta de Pabllo Vittar é preconceituoso e homofóbico. Estou dizendo que preconceituoso e homofóbico é quem se orgulha de não gostar de Pabllo Vittar. Quem gosta de odiar seu trabalho, quem se incomoda com sua projeção e sente uma necessidade incontrolável de demonstrar a todo mundo o quão desconfortável se sente com a existência da artista.

O pior é quando utilizam outros ícones da arte LGBT para camuflar o preconceito. Como se gostar de Renato Russo, Freddie Mercury e Cazuza isentasse qualquer um de ser homofóbico. É o velho e bom “não tenho nada contra, inclusive tenho amigos que são”.

Discussões a respeito da qualidade técnica e artística de produções e agentes culturais são sempre perigosas. Primeiro, porque são extremamente subjetivas. Segundo, porque podem facilmente cair na vala comum do elitismo, que se expressa em todas as ideologias. Enquanto os conservadores de direita opõem uma certa noção elevada de cultura ao que se costuma classificar inferiormente como “cultura popular”, uma esquerda mais ortodoxa não cansa de responsabilizar as superestruturas da indústria cultural pela massificação de produções com suposta baixa qualidade. Um debate deste tipo está condenado a terminar pior do que quando começou.

O que importa é que uma drag queen de fora do circuito Rio-São Paulo, de origem humilde e vinda dos grotões do Brasil, esteja atingindo projeção internacional em sua carreira. No país que mais mata LGBTs no mundo, não é pouca coisa.

Foto: Mídia Ninja

Geórgia Santos

Racismo é coisa de branco 

Geórgia Santos
14 de novembro de 2017

Em um vídeo que vazou na semana passada, o jornalista William Waack condenou determinado comportamento como “coisa de preto”, se referindo à toda a comunidade negra com um desprezo que se nota também em seus olhos, na expressão corporal. Ele foi afastado de suas funções pela Rede Globo e o episódio provocou, em um primeiro momento, a esperada e adequada indignação. Mas os defensores não demoraram a aparecer, alegando que era uma frase fora de contexto, que foi um comentário inocente fora do ar, que ele é o melhor jornalista do mundo – como se isso fosse relevante diante de um caso como esse. Ouviu-se, inclusive, que ele estava sendo perseguidos por abjetos da patrulha do politicamente correto. Que era coisa de esquerdopata. Enfim, que não era racismo.

Acontece que a frase não é aleatória e, assim como as defesas, revela muito sobre a forma como nossa sociedade é construída.

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O que William Waack disse não é deslize, é racismo

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É o mais cristalino reflexo de uma estrutura elitista e branca que invisibiliza os negros como ruídos de segunda categoria. O que William Waack disse também não é piada. É o que pensam aqueles que acreditam estar na Casa Grande, acima daqueles que consideram estorvos se não estão a seu serviço.

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E defender o que William Waack disse não é solidariedade, é dissimular o fato de que os brancos são o problema

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A onipresença do racismo

Eu nasci em uma cidade colonizada por italianos no interior do Rio Grande do Sul. Sou branca, assim como 99,9% da população de Paraí. Ouvi que algo era “coisa de preto” ainda quando criança. Não entendi o sentido, mesmo assim, em algum momento, reproduzi a frase em casa. Imediatamente meus pais conversaram comigo sobre o problema do preconceito, lembrando inclusive que tenho dois primos negros. E somente no momento daquela conversa percebi o que aquilo realmente significava. Mas não parou por aí, a cantilena se renova com o passar dos anos, frequentemente resumida a um “nigri, pó”. Uma expressão que simplesmente explica um erro com a palavra “negro” em italiano. E eu continuei testemunhando coisas do tipo em Porto Alegre, na faculdade, no trabalho, fora do Rio Grande do Sul, no exterior.

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Sempre contado como piada, como algo engraçado

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Isso mostra, mesmo que superficialmente, que as palavras de Waack não foram aleatórias. São parte de uma estrutura muito maior que, historicamente, oprime os negros no Brasil. Como disse Juremir Machado da Silva de maneira brilhante no espaço que ocupa no Correio do Povo, “o imaginário de William Waack vazou”. E com ele vazou o imaginário do branco brasileiro. Afinal de contas, o racismo também se encontra no silêncio. Paulo Sotero, interlocutor de William Waack no momento do comentário, foi cúmplice. Riu. Ajudou a perpetuar um estereótipo vil.

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E essa engrenagem cruel não vai parar a menos que cada um de nós reconheça o seu papel nessa estrutura pérfida e assuma que racismo é coisa de branco 

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Com esse episódio, revisitei minha história apenas para concluir, dolorosamente, que eu faço parte dessa estrutura e que já me beneficiei dela inúmeras vezes. Não mais. Já passou da hora de o brasileiro admitir a existência do racismo e a sordidez da origem desse preconceito – assim como já passou da hora de fazer alguma coisa para mudar essa realidade. Afinal, não são os brancos desconfortáveis com o flagra que precisam ser respeitados.

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O Justificando convidou a mestre em Filosofia Djamila Ribeiro para falar sobre o caso de William Waack. A autora do livro “O Que é Lugar de Fala” alerta para a importância de se refletir de maneira crítica sobre o racismo estrutural no Brasil, especialmente os brancos. Ela ressalta que é fundamental compreender que o “racismo é um sistema de opressão que nega direitos à população negra”.

 

ECOO

Horário de verão é assunto sério

Geórgia Santos
24 de setembro de 2017

Todo mundo tem opinião sobre o horário de verão e não há unanimidade. Enquanto eu, particularmente, adoro o fato de que o dia fica maior e dá pra tomar um chopinho na calçadas às 21h, há quem considere uma desvantagem. E agora, com a intenção de acabar com o horário de verão, o governo federal reacende esse debate.

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A justificativa é que a adoção do horário de verão para economia de energia, não se justifica mais

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O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Romeu Rufino, disse que “a avaliação é que, sob a perspectiva do setor elétrico, o horário de verão não se justifica”. Isso porque, segundo dados do governo, a economia gerada com a aplicação do horário de verão diminuiu nos últimos quatro anos. Entre 2013 e 2016, caiu de R$405 milhões para R$159,9 milhões.

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Confesso que não compreendo essa justificativa. Mesmo que a economia tenha diminuído, ela ainda existe, certo?

Por que alguém não ia querer economizar R$ 159 milhões?

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No Brasil, o horário de verão é aplicado nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, além do Distrito Federal (Brasília). De acordo com os dados divulgados pelo Ministério de Minas e Energia nos últimos quatro anos, o Brasil economizou cerca de R$1,4 bilhão. A adoção do horário de verão gerou uma economia de R$853 milhões para os consumidores. Tanto que especialistas recomendam a manutenção da extensão do dia.

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Mas a discussão está centrada em uma abordagem equivocada

Testemunhei jornalistas bradando em suas TLs sobre achar o horário de verão ótimo ou desagradável e, lamento, mas considero essa abordagem extremamente leviana. Até agora, as justificativas que apresentei se sustentam na questão financeira. Obviamente é um fator importante, mas não podemos nos esquecer que economia na geração de energia é, antes de mais nada, uma redução no impacto ambiental. Em tempos de negação da ciência e do aquecimento global, é preciso levar em conta este aspecto do horário do verão, que é uma medida adotada pela maioria dos países ocidentais, com resultados efetivos e eficazes.

Por outro lado, há cientistas que acreditam que o horário de verão contribui para o aquecimento global, e não o contrário, uma vez que o ar-condicionado permaneceria ligado por mais tempo. O problema com essa afirmação é que ela é derrubada pela redução do consumo de energia, afinal, ar-condicionado depende da mesma eletricidade que a lâmpada.

Pode não parecer, mas horário de verão é assunto sério e precisa tratado como tal, com seus prós e contras devidamente pesados. Por isso formulamos uma lista de benefícios e malefícios (formulada a partir de uma pesquisa com múltiplas opiniões), para que você possa tomar uma decisão informada caso o governo resolva consultar a população. Não pensa no choppinho no final da tarde, não pensa no dia que não termina nunca. Pensa no planeta.

BENEFÍCIOS

  • Economia de energia
  • Redução de impacto ambiental (com a economia de energia elétrica)
  • Redução no número de acidentes nos horários de pico
  • Redução no número de assaltos

MALEFÍCIOS

 

Foto: Pixabay

Geórgia Santos

A pouca-vergonha dos postais que eu trouxe da Europa

Geórgia Santos
18 de setembro de 2017

Esse episódio do fechamento da exposição Queermuseu (sim, ainda vou falar disso), me fez pensar em um hábito de viagem que tenho. Eu não coleciono postais, mas sempre que visito um museu e deparo com uma obra da qual gosto muito, faço questão de comprar um postal desse quadro ou miniatura de uma determinada escultura. Diferente de outros souvenirs que faço questão de expor em um totem na sala do meu apartamento, os postais ficam guardados.

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Eles representam um momento íntimo, em que uma obra de arte me tocou profundamente

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Os motivos variam. Em Amsterdam, foras as cores de Van Gogh que me impressionaram – com o perdão do trocadilho impressionista. Em Florença, fiquei hipnotizada com o realismo de David, de Michelangelo, governando o espaço interno da Galleria dell´Accademia. Também me tocou a beleza crua da Vênus de Botticelli, exposta na galeria Uffizi. Na minha diminuta coleção de postais também está um fragmento da Capela Sistina que me atraiu pelas cores já que, confesso, não fiquei tão impressionada com o conjunto. Me julguem, acho que tem a ver com o fato de ficar olhando para cima.

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E nessa jornada, há dois postais particularmente interessantes. Que, certamente, devem considerados DEGENERADOS por quem foi favorável ao fechamento da exposição

Isso se há lógica nesse ato tão tosco

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O primeiro eu encontrei em Paris, em janeiro de 2007. Fazia minha primeira viagem a Europa e o fazia sozinha. Fui ao Louvre, é claro, que impressiona só pela existência, mas foi no Musée D´Orsay que encontrei algo que fez com que eu ficasse muito tempo olhando para o mesmo quadro. A obra em questão era A Origem do Mundo, do pintor realista Gustave Courbet, pintada em 1866. O que me chamou a atenção não foi o traço, somente, mas sua combinação com o nome. O desenho e o nome criavam uma relação de cumplicidade em que o nu feminino em sua forma mais crua era a origem de tudo. Nada mais puro.

Curioso é que, segundo a Wikipédia, é o segundo postal mais vendido no museu. Atrás somente do Le Moulin de la Galette, de Renoir – do qual comprei um quebra-cabeça, inclusive.

O segundo a que me refiro encontrei em Madri, na Espanha, em 2011. Quando visitava o Museu do Prado e já estava relativamente entediada, dei de cara com O Jardim das Delícias Terrenas, um tríptico de Hieronymus Bosch. Na tela, ele também descreve a criação do Mundo, mas com uma perspectiva bastante diferente. Apresenta o paraíso terrestre e o Inferno nas laterais e, ao centro, celebra os prazeres da carne. O que vemos é uma orgia quase lúdica com cores vibrantes em que assistimos aos participantes desinibidos e sem culpa. São símbolos e atividades sexuais retratados sem julgamento de valor. Uma representação. Entre o bem e o mal, há o pecado. Esse quadro foi pintado em 1504.

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Quase tenho vontade de rir quando penso no retrocesso a que estamos testemunhando, de tão esdrúxulo

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A representação das artes plásticas chocam as mentes fechadas e hipócritas. “Nudez não é arte”, dizia um. “Pouca vergonha”, escrevia o outro. Me disseram inclusive que Michelangelo e Caravaggio não precisavam provocar ninguém. “Se tu é pervertida, o problema é teu, apologia à zoofilia não é arte”, disse alguém em algum momento daquele triste final de semana. Não precisamos todos gostar ou apreciar, isso não torna menos arte. Conseguimos perder, enfim, a capacidade de abstração.

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Assim estamos, perdidos em algum tempo da história

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A propósito, O Jardim das Delícias Terrenas também é um dos mais populares do museu. Também comprei um quebra-cabeça.

Raquel Grabauska

Cuidado Que Ronca – Um espetáculo gestado por muito tempo

Raquel Grabauska
15 de setembro de 2017

O “Cuidado que Ronca” é inspirado em muitas barrigas, um espetáculo gestado por muito tempo

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Estava indo pra São Paulo para uma apresentação do Cuidado Que Mancha. No avião, estava emocionada pensando no filho do meu sócio que estava para nascer. Pensando em como seria lindo vê-lo crescer assistindo nossas peças. Nesse momento pensei que seria legal fazer um espetáculo para ele. Um espetáculo de canções de ninar para bebês. Inscrevi um projeto no Programa Petrobras Cultural e ganhamos o concurso para a criação do Livro/CD.

Ganhamos esse projeto quando eu estava grávida do meu filho mais velho. Passou o tempo, pesquisamos, criamos, trabalhamos… Ficou pronto o Livro-CD. Foi lançado pela Editora Projeto na Feira do livro de Porto Alegre e fizemos um mini-show nesse dia. Na plateia, a presença ilustre do meu bebê. Meu segundo filho foi criado junto com o livro. Ele na barriga, inspirava. Essa semana tivemos ensaio do espetáculo. No meu colo estava a Olívia, filha da Bárbara Borges, cantora do espetáculo. E assim vamos, cantando para os bebês que estão nas barrigas e fora delas.

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Mini Temporada do Cuidado Que Ronca

Onde: Espaço Cuidado Que Mancha (Rua Vicente Lopes dos Santos, 250)

Quando: dias 16 e 17 de setembro (com duas sessões extra)

Horário: 17h

Ingresso: R$ 20,00

 

Geórgia Santos

Escandalopédia – Os CINCO escândalos do dia

Geórgia Santos
6 de setembro de 2017

Ontem foi pesado, mesmo. Por isso criamos nossa Escandalopédia. O brasileiro tomou uma pedrada atrás da outra nessa terça-feira, 5. Quando acordamos, acreditávamos ter uma pedra no meio do caminho. Quando fomos deitar, tínhamos convicção de que estávamos soterrados. Veja quais foram os cinco principais escândalos do dia.

  1. 1. No meio do caminho, tinha o Geddel

O dia começou e terminou com as malas de Geddel. Pela manhã, acordamos com as fotografias de um apartamento de Geddel Vieira Lima (PMDB), ex-ministro dos governos de Michel Temer e Lula, entupido de dinheiro. Numa apreensão digna de séries de televisão – e estou falando de Narcos, não de House of Cards – vimos uma sala lotada de MUITA grana. À noite, fomos dormir com o barulho das máquinas da Polífica Federal contando o dinheiro apreendido: R$ 51 milhões e uns trocados. Aparentemente, ele guardou até as moedinhas.

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Mas e no meio?

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  1. 2. No meio do caminho, tinha o Joesley

O mais famoso delator da Lava-jato, Joesley Batista, foi gravado discutindo seus privilégios com o judiciário brasileiro. Nos áudios entregues à Procuradoria-Geral da República (PGR), o empresário fala em “dissolver o Supremo” com a ajuda de José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça do governo Dilma. Em conversa com o também empresário Ricardo Saud, podemos ouvi-lo dizer: “Eu vou entregar o Executivo e você vai entregar o Zé e o Zé vai entregar o Supremo.”

Mas não termina aí, essas descobertas podem levar a uma mudanças nos acordos de delação premiada. Afinal, os áudios indicam que Joesley omitiu informações em seus depoimentos e, pior, estava no comando da situação.

Mas ainda não termina aí. A gravação ainda implica o ex-procurador Marcelo Miller. Segundo os executivos da JBS, ele atuava em favor da empresa antes da exoneração. Agora é aguardar, porque tudo indica que Joesley perderá seus privilégios. Não por ter mentido, mas por ter omitido e manipulado a própria delação premiada. Parece mentira, mas é Brasil.

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  1. 3. No meio do caminho, tinha a Olimpíada

Como desgraça pouca é bobagem, o mar de lama chegou aos Jogos Olímpicos do Rio. A nova fase da Operação Lava Jato, deflagrada na manhã de ontem (05), investiga um esquema de corrupção de compra de votos para a escolha do Rio como sede da Olimpíada. Durante a Operação Unfair Play (Jogo Sujo, em inglês), a Polícia Federal apreendeu R$480 mil na casa de Carlos Arthur Nuzman, presidente no Comitê Olímpico Brasileiro (COB).

Mas não termina por aí, claro que não. Há uma série de outras investigações em torno da Olimpíada do Rio que envolvem acusações de propinas e superfaturamentos.

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  1. 4. No meio do caminho, tinha o Funaro

O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), homologou a delação premiada do corretor Lúcio Funaro. Ele admitiu ser o operador financeiro do PMDB na Câmara dos Deputados e citou autoridades com foro privilegiado no STF. Inclusive o excelentíssimo presidente da República, Michel Temer. Espera-se que a denúncia contra Temer seja apresentada ainda essa semana. Funaro era aliado de Eduardo Cunha, inclusive. Temer cada vez mais enrolado.

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  1. 5. No meio do caminho, tinha o Lula – e a Dilma

Quando a gente achou que tinha acabado, a cereja do bolo. A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou, nesta terça (05) os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Eles são acusados de participar de organização criminosa para desviar dinheiro da Petrobras. O inquérito recebeu o apelido de “quadrilhão do PT”. O Procurador-geral da República, Rodrigo Janot, também denunciou os ex-ministros Antonio Palocci e Guido Mantega; a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), e seu marido, o ex-ministro das Comunicações Paulo Bernardo; e os ex-tesoureiros João Vaccari e Edinho Silva. Não há novidades em termos de investigação, é mais do mesmo, mas a denúncia é um balde de água fria aos admiradores do ex-presidente, principalmente porque não vem do “aqui-inimigo”, o Juiz Sérgio Moro. A denúncia parte de Janot, até este momento acusado de ser petista. E o mesmo balde serve pra Dilma, que até então vinha sendo inocentada e, agora, precisa mudar o discurso.

E isso que não listei aqui as discussões sobre a reforma política, a proposta de privatizar ou acabar com a UERJ, os R$ 350,00 que os professores gaúchos receberam, e por aí vai.

Carlos Drummond de Andrade disse que havia uma pedra no meio do caminho. Mal sabia ele que os brasileiros teriam pedreiras inteiras a bloquear o futuro.

Geórgia Santos

Nada de leite mau para os caretas (um ensaio sobre intolerância)

Geórgia Santos
4 de setembro de 2017

Meu amado marido me deu um disco da Gal. O Profana tem na primeira faixa uma das minhas músicas favoritas de todos os tempos: Vaca Profana, de Caetano Veloso. Ouvi a canção. Ouvi de novo. E de novo e de novo. Eu amo tudo a respeito desse som e do que ele diz. Comecei a pensar no porquê quando a letra respondeu à minha pergunta. Sim.

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Respeito muito minhas lágrimas

Mas ainda mais minha risada

Inscrevo, assim, minhas palavras

Na voz de uma mulher sagrada

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Sim. É isso. Mas vai além. Eu gosto do tom de berro e desabafo tão atuais. Em tempos de ódio e intolerância, é difícil ser amoroso e tolerante, eu confesso. E essa canção me dá a licença poética que eu preciso.

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Dona das divinas tetas

Derrama o leite bom na minha cara

E o leite mau na cara dos caretas

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Sim. Derrama o leite mau na cara dos caretas. Conforme vou ouvindo a música que consegue ser baiana e global ao mesmo tempo, mais eu cedo ao caminho fácil da intolerância. A canção vai me abrindo as portas da intransigência e eu não quero ser legal com os caretas. Quero que eles provem do próprio veneno.

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Vaca de divinas tetas

La leche buena toda en mi garganta

La mala leche para los “puretas”

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Sim. Quero que eles provem do leite mau. Mas será que quero, mesmo? Será que intolerância combate intolerância? Tenho a impressão que só funciona na matemática essa história de que “negativo” com “negativo” dá “positivo”. Conforme a música vai evoluindo, Gal canta sem ressentimentos e vai acalmando minha sanha.

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Caretas de Paris e New York

Sem mágoas, estamos aí

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Sim. Caretas de Sampa e Porto Alegre, sem mágoas, estamos aí. Tá, talvez não tão sem mágoas assim, mas acho que não vou desistir de me livrar delas. Não desistirei de me livrar das mágoas nem da intolerância. E conforme a agulha vai correndo o vinil, mais me convenço de que precisamos de muito amor e paciência pra resistir a essa batalha barulhenta.

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Dona das divinas tetas

Quero teu leite todo em minha alma

Nada de leite mau para os caretas

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No final das contas, nós, não caretas, também somos cheios de falhas e inconsistências. Temos nossos vícios e cometemos nossas injustiças. Ainda não aprendemos a tolerar o diferente, mesmo que nos cubramos de razão em nome do bom senso e, vejam só, da tolerância. Também sabemos ser hipócritas. Também nos deixamos cegar. A gente também sabe ser careta.

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De perto, ninguém é normal

Às vezes, segue em linha reta

A vida, que é “meu bem, meu mal”

Deusa de assombrosas tetas

Gotas de leite bom na minha cara

Chuva do mesmo bom sobre os caretas

 

ECOO

Faça você mesmo (DIY) – Talco para os pés

Geórgia Santos
6 de agosto de 2017

Um dos melhores amigos da minha família é o tal do Pó Pelotense. Pai e mãe sempre usaram e eu não ficava pra trás. Volta e meia esquecia, mas era só usar uma Melissa em um dia de calor que eu lembrava do porquê amávamos tanto o Pó Pelotense. A verdade é que ninguém gosta de chulé, né. E se pudermos usar algo pra espantar esse cara que insiste em nos acompanhar, tá valendo. Por isso pensei num talco para os pés que seja natural e que a gente pode ser em casa.

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Mas e quais as alternativas sustentáveis pra o chulé? 

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É mais fácil do que tu imaginas. Eu pesquisei sobre o tema na internet, além de perguntar pra algumas pessoas, e há inúmeras receitas pra espantar o mau cheiro nos pés, mas a melhor resposta é simples: BICARBONATO DE SÓDIO E AMIDO DE MILHO. Substitui o talco por uma mistura de partes iguais de bicarbonato de sódio com maisena e o resultado será absolutamente o mesmo. O amido controla a umidade (muito importante, senão o pé fica cheiroso porém encharcado) e o bicarbonato controla o chulé.

Se sentir falta de um cheirinho mentolado ou um cheirinho qualquer, pinga umas gotas de óleo de essencial e mistura com o pó. Deixa secar e coloca em um tubinho que facilite a aplicação, tipo esse aí embaixo.

Mas assim, usa um óleo que não tenha cor. Porque eu pinguei óleo de laranja (que é amarelo) e o resultado foi esse aí, ó =(

Muito idiota. Era óbvio que isso aconteceria, a meia ficou amarela por causa do oleo de laranja. Claro que se usar o calçado sem meias ou com uma meia escura, a cor do “talco” deixa de ser problema. Mas por via das dúvidas, eu evitaria.

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Chulé prévio

E o que fazer se o chulé já tomou conta do calçado? Ah, aí a trama complica. Quer dizer, nem tanto. Nesse caso, a solução também é muito simples: VINAGRE BRANCO. Mistura uma parte de vinagre (eu prefiro o de maçã) para cinco partes de água. Umedece um pano com essa mistura e passa no calçado fedorento. Deixa secar à sombra e pronto, o chulé vai embora. Depois é só usar o bicarbonato.

Geórgia Santos

Sobre bunda e política

Geórgia Santos
31 de julho de 2017

 

Vivo nos Estados Unidos há alguns meses por conta de uma pesquisa de doutorado na área da Ciência Política. Isso fez com que, naturalmente, eu passasse a conhecer movimentos que não nos são familiares no Brasil. Alguns interessantes, outros menos; alguns produtivos, outros desprezíveis. Faz parte. Um deles é o Alt-Right, conhecido como uma espécie de direita alternativa e que ficou “famoso” no mundo ao endossar a candidatura de Donald Trump com fervor.

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De maneira superficial, pode-se dizer que na base do seu pensamento está o nacionalismo e a supremacia branca, ou europeia como gostam de denominar com eufemismo desavergonhado. Eles defendem o nacionalismo branco

Uau! – só que não

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Fiquei intrigada e decidi pesquisar mais sobre qual é a desses caras. A verdade é que apesar do nome “moderninho” e do trocadilho batido com a tecla “alt”, esse povo representa o que há de mais antigo e retrógado do mundo. São basicamente racistas e preconceituosos, são homofóbicos, islamofóbicos, TUDOfóbicos. Com frequência, seus interesses se misturam aos do neonazismo. Delícia.

Richard Spencer é considerado um dos líderes da Alt-Right. O comediante W. Kamau Bell conversou com ele no programa United Shades of America (algo como “Tons Unidos da América”, tons se referindo aos diferentes tons de pele) e foi absolutamente brilhante. A conversa é bastante esclarecedora para quem não está familiarizado com o movimento.

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Mas afinal de contas o que tudo isso tem a ver com bunda,

dona Geórgia?

Perdão por este nariz de cera, como chamamos no jornalismo. Mas é importante para dar contexto. Acontece que durante minhas pesquisas sobre esses caras, encontrei um texto em que um ser humano falava que os Estados Unidos estavam dando um testemunho de mediocridade a partir do momento em que os americanos estavam deixando os SEIOS de lado e preferindo as BUNDAS. Sim, é isso mesmo.

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Ele dizia que POR CULPA DA ESQUERDA, o país estava ficando cheio de imigrantes latinos e de negros, e que isso estava fazendo com que os homens passassem a gostar mais de BUNDAS do que de SEIOS e que isso era sinal de decadência.

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Vocês acreditam nisso? Eu não vou colar o link aqui porque me recuso a dar mais audiência para um imbecil desses. Mas o argumento dele se organiza em torno do fato de que homens ricos, sofisticados e DE BERÇO preferem os seios das mulheres. E homens pobres e sem modos preferem a bunda, porque são primitivos e era como as mulheres atraíam os homens quando ainda não éramos Homo Sapiens Sapiens. Logo, se a preferência nacional se tornar a bunda, será um testemunho de decadência.

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Agora me diz se pode um negócio desses?

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Eu juro que comecei a rir. Aquilo era tão absurdo, tão vulgar, tão grotesco e tão pequeno que simplesmente não valia a pena. Isso que nem mencionei o quanto isso é agressivo com as mulheres, né. Mas pensei que era só um maluco berrando sozinho na internet e pronto.

Qual não é minha surpresa quando vejo um JORNALISTA da REDE GLOBO DE TELEVISÃO, conceituadíssimo (por muitos, não por mim), escrevendo isso:

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Então cá estamos, lendo que os americanos são mais evoluídos porque gostam de seios e os brasileiros merecem as merdas que acontecem com eles porque gostam de bunda

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Isso foi escrito por um jornalista do mainstream, fora do submundo dos Alt-Right na internet – e curtido por MILHARES DE PESSOAS;

Isso foi escrito pelo mesmo cara que acha que o aquecimento global é uma farsa porque faz frio no sul do Brasil;

Isso foi escrito pelo mesmo cara que acha que precisamos revisar a idade penal;

Isso foi escrito pelo mesmo cara que ficou chocado com os “maus modos” das senadoras que protestavam contra a reforma trabalhista;

Isso foi escrito pelo mesmo cara que diz que Direitos Humanos é pra defender bandido;

Isso foi escrito pelo mesmo cara que debochou DO LATIM do relator da denúncia contra Temer – e cometeu um erro ao fazê-lo;

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Isso foi escrito por um comentarista político e econômico da Rede Globo, âncora de telejornais da Globo News e que é seguido por mais de 250mil pessoas

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Então cá estamos, lendo que os problemas políticos e sociais que os brasileiros enfrentam todos os dias é culpa da bunda. E isso, claro, é culpa da esquerda. Agora me digam se não tá tudo errado nesse mundo. Ou com esse cara, pelo menos.

Foto: Pixabay

ECOO

Cinco passos para uma vida mais sustentável

Geórgia Santos
30 de julho de 2017

Há poucos dias eu conversava com meus pais sobre o problema do aquecimento global. Mais especificamente, discutíamos o fato de o iceberg gigante ter se desprendido de plataforma de gelo na Antártica. Conforma a conversa evoluiu, começamos a conversar sobre os efeitos do nosso estilo de vida. Um artigo da revista New York fala que algumas partes da terra estarão inabitáveis já nos próximos 100 anos. Mesmo os cientistas que discordam do alarmismo e questionam alguns dados ressaltam que a situação é grave. Eles afirmam, porém, que é reversível.

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Papo vai, papo vem, minha mãe perguntou: o que eu posso fazer ?

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A dúvida que ela tem é a mesma de milhares de pessoas. E assim como a dona Tude, essas milhares de pessoas acreditam que levar uma vida mais sustentável é difícil e caro. Mas é mais simples do que se imagina. Mais do que isso, é totalmente possível. Por isso nós preparamos algumas dicas para quem não sabe por onde começar.

 

Cinco passos para começar a levar uma vida sustentável

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  1. 1. Economize energia

Essa era meio óbvia, né? Nem por isso a gente se preocupa o suficiente. E eu sou a primeira a assumir a culpa por deixar todas as luzes da casa ligadas – ou pelo menos deixava, no passado.

Começa por aí, apagando as luzes; desligando aparelhos que não estão em uso; tirando os carregadores da tomada; tomando banhos mais curtos; secando a roupa no varal; lavando a roupa e a louça à mão sempre que possível. Também evite usar o ar condicionado o tempo inteiro e escolha lâmpadas que consumam menos energia.

Se quiser dar um passo adiante, comece a utilizar fontes de energia renovável, como a solar – tem até c. Essas medidas não só ajudam o meio ambiente, mas reduzem – e muito – a conta de luz no final do mês. Ser sustentável economiza até grana. E nunca é demais lembrar que vivemos uma grave crise de energia. Quem não lembra dos apagões?

  1. 2. Economize água

Há estimativas de que 50% da água consumida em uma casa seja desperdiçada. E olha, eu lembro de fazer uma apresentação no colégio cantando aquela música horrível do Guilherme Arantes, Planeta Água, para chamar atenção para o desperdício. Isso há mil anos. Será que a gente não evoluiu nem um pouquinho?

Vamos lá, precisamos tomar banhos mais curtos (estou melhorando esse item); fechar a torneira enquanto escovamos os dentes; enquanto lavamos a louça; consertando vazamentos. Sem contar que já passou a era em que era necessário lavar calçada, né? Água da chuva tá aí pra essas e outras coisas.

As nossas fontes de água potável estão se esgotando e precisamos ser responsáveis quanto a isso. A quem acha que não passa de alarmismo, lembro que o nordeste brasileiro enfrentou, em 2017, a pior seca em 100 anos. Agora mesmo, fazendeiros do sul da europa enfrentam a pior estiagem em décadas. O estado da California, nos Estados Unidos, de onde escrevo neste momento, enfrentou os piores anos de seca de sua história. Estudos atestam que foi a pior estiagem em 1200 anos. É isso mesmo, eu não escrevi errado, em MIL E DUZENTOS ANOS.

Abaixo, o vídeo do National Geographic explica: menos de 3% da água do planeta é potável; apenas 0,3% está disponível para consumo humano; e isso é tudo o que temos. E deu. 

 

  1. 3. Abandone o carro

Ande a pé ou de bicicleta sempre que possível. Além de ser saudável, é outra maneira de ser gentil com o ambiente. Se usar o carro for imperativo, opte por um modelo mais econômico, de preferencia elétrico. Parece um contrassenso, mas há maneiras de abastecer o carro em plugues alimentados por energia solar. Sem contar que é BEM mais barato que gasolina.

 

  1. 4. Evite o plástico

Esse não é simples, há plástico por tudo e em tudo. Mas também não é impossível, é só mudar alguns hábitos. Troque as mil sacolas de plástico por uma de tecido; use uma garrafa reutilizável em vez de garrafa plástica; tenha uma caneca no trabalho, além de talheres de metal; evite pedir teleentrega; coloque as frutas e verduras da feira em saquinhos de tecido; use gilete reutilizável; prefira alimentos naturais e evite os industrializados e processados.

Enfim, evite o plástico sempre que possível. Prefira as alternativas produzias em materiais naturais e biodegradáveis. Esse pequeno documentário divulgado pela ONU Brasil ajuda a compreender o problema. 

 

  1. 5. Adote uma rotina de higiene natural

Essa passa por evitar os químicos, e também é uma alternativa saudável. Opte sempre por produtos naturais, desde sabonetes; desodorantes; maquiagem; xampu e condicionador; pasta de dentes; hidratantes para o rosto e corpo e por aí vai.

 

E aí, tá afim de experimentar uma vida mais verde? Vale a pena. Ah, e não esquece de separar o lixo 😉

 

Foto: Pixabay