Guia de Viagem

Bendita Sois Vós #56  Elon Musk, a graça do presidente e o ministro pistoleiro

Geórgia Santos
27 de abril de 2022

Nesta semana, falamos de Elon Musk comprando o Twitter, a graça do presidente a Silveira e o absurdo do ministro pistoleiro.

O bilionário Elon Musk anunciou a compra do Twitter por mais de $43 bilhões. Ele que se diz um “absolutista da liberdade de expressão”, anunciou o fim dos bots e a verificação para todos os seres humanos. Mas o que essa compra representa. Tudo leva a crer que contas bloqueadas por Fake News, por exemplo, voltem à ativa.

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Por falar em contas que divulgam Fake News, o presidente da República deu mais um passo na direção da dissolução do que sobrou da nossa democracia

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O presidente Jair Bolsonaro anunciou na última quinta, dia 21, o perdão da pena ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado na véspera a oito anos e nove meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal. Bolsonaro concedeu o benefício da graça.

E como se não bastasse – essa frase tá comum por aqui, ultimamente – o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, disparou, acidentalmente, uma arma de fogo dentro do Aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília. Ele estava no balcão da companhia aérea Latam, mas quem foi atingida por estilhaços, embora sem gravidade, foi uma funcionária da Gol.

A apresentação é de Geórgia Santos. Participam Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no SpotifyItunes e Castbox

 

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PodCasts

Todo Dia Oito #5 Menininha, a primeira mãe-de-santo pop

Geórgia Santos
8 de julho de 2021
Todo dia Oito. Todo dia oito, uma história. Todo dia oito, uma mulher
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No quinto episódio do podcast, Menininha, a primeira mãe-de-santo pop. O título não é de nossa autoria. Quem disse que Mãe Menininha do Gantois foi a primeira mãe-de-santo pop foi Gilberto Gil. Mas, apesar de ser verdade – afinal, tinha mais de 700 filhos-de-santo, entre eles o próprio Gil, Caetano, Bethânia e Vinícius de Moraes – ela era muito mais que isso. Amada em todo o Brasil, Mãe Menininha é lembrada por advogar pela tolerância e liberdade religiosas.

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QUEM FAZ

Produção: Vós; Pesquisa: Flávia Cunha e Geórgia Santos; Roteiro: Geórgia Santos e Flávia Cunha; Direção Artística: Raquel Grabauska; Apresentação e edição: Geórgia Santos; Vocais: Cláudia Braga, Stefania Johnson e Geórgia Santos; Locução: Andrea Almeida e Cléber Grabauska; Trilha sonora original: Gustavo Finkler. O depoimento de mãe menininha e os tambores ouvidos ao longo do episódio foram extraídos do LP Mãe Menininha do Gantois. Disco gravado ao vivo no Gantois, em Salvador, na Bahia. Ainda ouvimos Vinícius e Toquinho com Tatamirô e Caetano, Bethania e Dona Canô com Oração de Mae Menininha, de autoria de Dorrival Caymmi

PodCasts

BSV Especial Coronavírus #16 Fake News em tempos de pandemia

Geórgia Santos
9 de julho de 2020

Desde março, os jornalistas do BSV discutem os diversos aspectos da pandemia e da política brasileira. Hoje, eles falam sobre as Fake News, que não só bagunçaram e bagunçam a política como já são um problema para quem quer se informar a respeito do coronavírus.

Uma pesquisa realizada pela Avaaz, uma comunidade de mobilização online que leva a voz da sociedade civil para os espaços de tomada de decisão em todo o mundo, indica que as Fake News sobre a pandemia atingem 110 milhões de pessoas no Brasil.  E o estudo mostra que sete em cada 10 brasileiros acreditam em pelo menos uma notícia falsa sobre o coronavírus.

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E qual a resposta institucional? Aprovar, às escuras e às pressas, o PL das Fake News

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Parece bom, um projeto de lei que visa combater a desinformação, mas o buraco é mais embaixo. Apesar de ter sido submetido a mudanças, o texto aprovador pelo Senado no dia 30 de junho implica em sérios riscos à privacidade, à liberdade de expressão, abre caminho para a autocensura e para a perseguição a jornalistas.

O convidado desta semana é o jornalista Marcelo Trasel, presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), uma das entidades que mais criticou o fato de o projeto ter sido aprovado sem discussão com a sociedade civil e com sérios problemas. Participam os jornalistas Geórgia Santos, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no SpotifyItunes e Castbox

Vós Pessoas no Plural · BSV Especial Coronavírus #16 Fake News em tempos de pandemia
Geórgia Santos

Facebook entre censura e responsabilidade

Geórgia Santos
26 de julho de 2018

O Facebook removeu de sua plataforma 283 contas brasileiras que, segundo comunicado oficial, violaram as políticas da empresa. As 196 páginas e 87 perfis eram vinculados à direita e, na maioria dos casos, ao Movimento Brasil Livre (MBL). Não foi por esse motivo, no entanto, que foram desativadas. Em nota divulgada ontem, a rede social garante que, após rigorosa investigação, detectou o uso de contas falsas com o propósito de espalhar desinformação.

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Essas Páginas e Perfis faziam parte de uma rede coordenada que se ocultava com o uso de contas falsas no Facebook, e escondia das pessoas a natureza e a origem de seu conteúdo com o propósito de gerar divisão e espalhar desinformação.

(Garantindo um ambiente autêntico e seguro, por Nathaniel Gleicher, líder de Cibersegurança)

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No comunicado, o líder de Cibersergurança da empresa, Nathaniel Gleicher, afirma que o trabalho de retirar essas contas do ar faz parte de uma ação permanente de agir contra pessoas “mal intencionadas” que violam as Políticas de Autenticidade e Padrões da Comunidade do Facebook.

Algumas das páginas e perfis desativados são conhecidos do grande público pelo hábito de difundir informação falsa e/ou manipular essas informações. Em outras palavras, são contas conhecidas por divulgar fake news como Jornalivre, Diário Nacional e Movimento Brasil 200.

Não é segredo que há uma rede organizada com o propósito de difundir a desinformação, mas os números surpreenderam inclusive quem estuda o tema.  O Monitor do Debate Político no Meio Digital, criado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), acompanha páginas de direita e esquerda desde 2016 com o objetivo de identificar a difusão de fake news. Nesses dois anos, o grupo mapeou 20 páginas que produziam, em média, 126 postagens por dia e somavam 150 milhões de interações somente no ano passado.

Em comunicado no Facebook, o grupo explica que essa desproporção sugere que o Facebook identificou a criação de uma rede de páginas que, provavelmente, seria usada durante a eleição. 

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Das que já estavam em atividade e eram relevantes, caíram a página do Jornalivre e do Diário Nacional. Como o Facebook não retira páginas que divulgam notícias falsas, mas apenas páginas administradas por perfis falsos, é provável que todas as páginas tinham sido criadas com contas falsas. Um dos perfis que supostamente administrava a página do Jornalivre também caiu, o que sugere que era falsa.

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Ficou bastante claro que o Facebook está “se vacinando” para evitar que aconteça no Brasil o que houve nos Estados Unidos. Afinal, a criação de uma rede virtual – mas bem real – para espalhar notícias falsas foi uma das estratégias utilizadas pela Alt-Right durante a campanha de Donald Trump. No Brasil, a rede de fake news já está bem articulada e financiada. E o Facebook já se prepara para combater isso. Nesta semana, no texto “Protegendo as Eleições no Brasil”, a empresa afirma  estar comprometida “em conter a disseminação de conteúdo de baixa qualidade e garantir que as pessoas saibam identificar fontes de notícias confiáveis.”

Uma pena que tenha demorado tanto a agir, já que há muito anos o Facebook se manteve omisso com relação a conteúdos falsos e, inclusive, ofensivos. Sempre  sob a justificativa de ser contrário à censura – o que é algo bastante diferente apesar do que o MBL diz.

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A resposta do MBL . mais informações falsas

O empresário Flávio Rocha, que financiava o Movimento Brasil 200 e, até poucos dias atrás era candidato à presidência da República pelo PRB, afirmou no Twitter que a ação do Facebook era “uma violência” e que  “nem no tempo da ditadura se verificava tamanho absurdo.” Já o MBL divulgou comunicado reconhecendo que várias das contas desativadas eram ligadas ao movimento e prometeu “tomar providências.” O texto diz ainda que o MBL e outras páginas vinculadas a direita estão sofrendo “censura” e “perseguição ideológica”.

O mais interessante da história é que o MBL reage com mais desinformação e distorção. Em um post no Facebook, por exemplo, o grupo diz o seguinte: “Facebook admite que exclusão de perfis não tem nada a ver com “fake news” E agora imprensa? Vão pedir desculpas pelo “erro”?” Isso é de uma desonestidade intelectual sem fim. O motivo de a rede social ter desativado as páginas diz respeito à violação das políticas da empresa, mas isso não exclui o fato de essas mesmas páginas divulgarem informações falsas. Tanto que a justificativa da empresa, por escrito, é o “propósito de espalhar desinformação.” Até porque, se o critério fosse a veracidade das informações, a página do MBL não resistiria à devassa.

A situação é tão absurda que, logo após o Facebook remover as páginas e perfis de sua plataforma, o MBL postou o seguinte:

O valor das ações da empresa realmente teve queda na Bolsa de Nova York, mas em função do balanço da empresa divulgado também na quarta-feira, que mostra que o Facebook não atingiu as projeções dos analistas e frustrou investidores. 

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Entre censura e responsabilidade

Após tantas reclamações de censura por parte do Facebook, recorri a um livro que considero fundamental no debate sobre liberdade de expressão: Free Speech – Ten Principles for a Connected World, de Timothy Garton Ash (Liberdade de Expressão – Dez princípios para um mundo conectado, em tradução livre). A obra de quase 400 páginas é um tratado sobre a liberdade de se expressar em um mundo conectado.

Primeiro, o que aconteceu com essas 283 páginas e perfis não é censura. Não que a censura seja exclusividade de governos, ela pode acontecer em instituições privadas. Mas neste caso, há um contrato em jogo. Quando se cria um conta no Facebook, “assinamos” um contrato em que concordamos com as políticas da empresa. Assinalar aquele quadradinho que quase sempre passa batido é dar poder a empresa para tomar esse tipo de decisão. Da mesma forma que não podemos publicar a gravura de uma mulher nua, ou fotos em que os mamilos apareçam.

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Ou seja, essas páginas violaram o contrato e, por isso, foram desativadas

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Mas não significa que o debate sobre censura e responsabilidade não seja importante. Eu, particularmente, acredito que as “grandes potências privadas”, como diz Garton Ash, devem, sim, assumir responsabilidades públicas e com o público. Não podem ser omissas diante da desinformação. E na lista incluo Google, Twitter, Amazon, Apple e, é claro, o Facebook. Essas empresas são, de certa forma, donas de espaços públicos. E fazem mais do que simplesmente oferecer a plataforma para debate. Elas determinam como se debate, com quem e sobre o que. 

Mas qual o limite entre a responsabilidade e a censura? Como se assume essa responsabilidade sem  impor, a exemplo de regimes totalitários, o que é ou não verdade? Como fazer isso? Se o Facebook desativar páginas com base no critério das fakes news, é uma boa notícia? Não sei. Não tenho respostas pra isso, apenas mais perguntas.

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“So the good sword of truth will only be kept sharp if it is constantly tried against the axes and bludgeons of falsehood.” 

“Assim a boa espada da verdade só será mantida afiada se for constantemente testada contra os machados e golpes da falsidade.”

(Garton Ash, 2016, p.75)

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Fiquei satisfeita com a retirada de páginas e perfis que tenham o propósito de desinformar. Espero que seja uma política perene, e não apenas preventiva, já que a eleição está virando a esquina. E também espero que renda um debate frutífero sobre como equilibrar liberdade e responsabilidade neste mundo conectado. Afinal, a liberdade de expressão é um teste constante sobre como viver em uma sociedade que é, por essência, diversa e conflituosa.

 

Geórgia Santos

A pouca-vergonha dos postais que eu trouxe da Europa

Geórgia Santos
18 de setembro de 2017

Esse episódio do fechamento da exposição Queermuseu (sim, ainda vou falar disso), me fez pensar em um hábito de viagem que tenho. Eu não coleciono postais, mas sempre que visito um museu e deparo com uma obra da qual gosto muito, faço questão de comprar um postal desse quadro ou miniatura de uma determinada escultura. Diferente de outros souvenirs que faço questão de expor em um totem na sala do meu apartamento, os postais ficam guardados.

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Eles representam um momento íntimo, em que uma obra de arte me tocou profundamente

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Os motivos variam. Em Amsterdam, foras as cores de Van Gogh que me impressionaram – com o perdão do trocadilho impressionista. Em Florença, fiquei hipnotizada com o realismo de David, de Michelangelo, governando o espaço interno da Galleria dell´Accademia. Também me tocou a beleza crua da Vênus de Botticelli, exposta na galeria Uffizi. Na minha diminuta coleção de postais também está um fragmento da Capela Sistina que me atraiu pelas cores já que, confesso, não fiquei tão impressionada com o conjunto. Me julguem, acho que tem a ver com o fato de ficar olhando para cima.

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E nessa jornada, há dois postais particularmente interessantes. Que, certamente, devem considerados DEGENERADOS por quem foi favorável ao fechamento da exposição

Isso se há lógica nesse ato tão tosco

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O primeiro eu encontrei em Paris, em janeiro de 2007. Fazia minha primeira viagem a Europa e o fazia sozinha. Fui ao Louvre, é claro, que impressiona só pela existência, mas foi no Musée D´Orsay que encontrei algo que fez com que eu ficasse muito tempo olhando para o mesmo quadro. A obra em questão era A Origem do Mundo, do pintor realista Gustave Courbet, pintada em 1866. O que me chamou a atenção não foi o traço, somente, mas sua combinação com o nome. O desenho e o nome criavam uma relação de cumplicidade em que o nu feminino em sua forma mais crua era a origem de tudo. Nada mais puro.

Curioso é que, segundo a Wikipédia, é o segundo postal mais vendido no museu. Atrás somente do Le Moulin de la Galette, de Renoir – do qual comprei um quebra-cabeça, inclusive.

O segundo a que me refiro encontrei em Madri, na Espanha, em 2011. Quando visitava o Museu do Prado e já estava relativamente entediada, dei de cara com O Jardim das Delícias Terrenas, um tríptico de Hieronymus Bosch. Na tela, ele também descreve a criação do Mundo, mas com uma perspectiva bastante diferente. Apresenta o paraíso terrestre e o Inferno nas laterais e, ao centro, celebra os prazeres da carne. O que vemos é uma orgia quase lúdica com cores vibrantes em que assistimos aos participantes desinibidos e sem culpa. São símbolos e atividades sexuais retratados sem julgamento de valor. Uma representação. Entre o bem e o mal, há o pecado. Esse quadro foi pintado em 1504.

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Quase tenho vontade de rir quando penso no retrocesso a que estamos testemunhando, de tão esdrúxulo

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A representação das artes plásticas chocam as mentes fechadas e hipócritas. “Nudez não é arte”, dizia um. “Pouca vergonha”, escrevia o outro. Me disseram inclusive que Michelangelo e Caravaggio não precisavam provocar ninguém. “Se tu é pervertida, o problema é teu, apologia à zoofilia não é arte”, disse alguém em algum momento daquele triste final de semana. Não precisamos todos gostar ou apreciar, isso não torna menos arte. Conseguimos perder, enfim, a capacidade de abstração.

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Assim estamos, perdidos em algum tempo da história

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A propósito, O Jardim das Delícias Terrenas também é um dos mais populares do museu. Também comprei um quebra-cabeça.

Voos Literários

Corrupção, ditadura e censura

Flávia Cunha
18 de julho de 2017

Sempre que alguém defende a volta da ditadura militar no Brasil alegando que naquela época não havia corrupção, me dá um frio na espinha. Pela ignorância ou pelo oportunismo da afirmação. Hoje, sabe-se que censura à imprensa foi uma das formas de garantir essa imagem de integridade associada aos governos militares. Aos eventuais nostálgicos daquele período que estiverem me lendo, recomendo informarem-se com essa matéria do UOL e também com a visita ao site Memórias da Ditadura.

Para reflexão literária, Tambores Silenciosos, do gaúcho Josué Guimarães, é um alerta de como a censura é um verdadeiro abuso de poder por parte das autoridades. No romance, situado na cidadezinha fictícia de Lagoa Branca, o prefeito resolve impedir que os moradores tenham acesso a jornais e a ouvir rádio, para que sejam mais felizes. O enredo é situado em 1936, época que antecede a implantação do Estado Novo de Getúlio Vargas.

O trecho a seguir mostra o diálogo do professor Ulisses com seus alunos, após ameaças veladas do prefeito contra o educador:

“[…] eu sei, meus filho, eu sei disso, estou fazendo o possível, estive mais de uma vez com Coronel João Cândido e o homem me pareceu meio inconseqüente, ele tem um bom coração, mas a cabeça não deve estar regulando bem, meteu dentro dela algo estranho, chegou a me dizer que estava decidido a tornar a gente desta cidade feliz por bem ou por mal; eu disse a ele que por bem, eu entendia, mas que por mal eu nunca tinha visto ninguém fazer outra pessoa feliz; e sabem o que ele me respondeu? Que respeitava muito a minha pessoa, contava comigo para o êxito de seu trabalho na prefeitura, mas que eu ficasse no meu lugar, ensinando os meus meninos e que deixasse de lado o seu plano de tornar Lagoa Branca uma cidade feliz como não havia outra no mundo.”

Os personagens que resolvem não seguir os desmandos do prefeito, são presos e torturados. Na conclusão do romance, há um boicote à Semana da Pátria por parte dos estudantes, que começam uma protesto apoiado pelas crianças e idosos da cidade. O prefeito acaba deposto pela população e se suicida.

Na vida real, Josué Guimarães enfrentou muitos percalços e ameaças de censura para conseguir lançar esse livro, no fim da década de 1970, antes do fim do regime militar no país. A obra recebeu prêmios e é um brado pela liberdade de expressão do povo. Altamente recomendável na atual conjuntura sociopolítica brasileira.