Bendita Sois Vós #56 Elon Musk, a graça do presidente e o ministro pistoleiro
Geórgia Santos
27 de abril de 2022
Nesta semana, falamos de Elon Musk comprando o Twitter, a graça do presidente a Silveira e o absurdo do ministro pistoleiro.
O bilionário Elon Musk anunciou a compra do Twitter por mais de $43 bilhões. Ele que se diz um “absolutista da liberdade de expressão”, anunciou o fim dos bots e a verificação para todos os seres humanos. Mas o que essa compra representa. Tudo leva a crer que contas bloqueadas por Fake News, por exemplo, voltem à ativa.
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Por falar em contas que divulgam Fake News, o presidente da República deu mais um passo na direção da dissolução do que sobrou da nossa democracia
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O presidente Jair Bolsonaro anunciou na última quinta, dia 21, o perdão da pena ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado na véspera a oito anos e nove meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal. Bolsonaro concedeu o benefício da graça.
E como se não bastasse – essa frase tá comum por aqui, ultimamente – o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, disparou, acidentalmente, uma arma de fogo dentro do Aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília. Ele estava no balcão da companhia aérea Latam, mas quem foi atingida por estilhaços, embora sem gravidade, foi uma funcionária da Gol.
A apresentação é de Geórgia Santos. Participam Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
OUÇA Bendita Sois Vós #17 Bolsonaro, uma nova forma ou uma “não-forma” de se comunicar?
Geórgia Santos
11 de janeiro de 2019
Jair Bolsonaro já é o presidente do Brasil, com direito a retrato oficial e tudo. Desde a campanha eleitoral, deixou claro o desprezo pelo jornalismo produzido no país. No dia em que tomou posse, a hostilidade tomou novas formas. Os jornalistas não tinham autorização para conversar com as fontes, enfrentaram restrições para beber água, e precisavam pedir autorização para usar o banheiro. Sentaram no chão e até maçãs eram revistadas. Tudo controlado. A orientação era para não levantar as câmeras, pois snipers estavam autorizados a atirar se detectassem qualquer movimento suspeito. Além disso, o Twitter é o novo canal oficial do presidente com os cidadãos, evitando a mediação. Diante disso, no episódio 17 do podcast Bendita Sois Vós, perguntamos: o governo Bolsonaro traz uma nova forma de se comunicar ou uma “não-forma” de se comunicar?
Participam os jornalistas Tércio Saccol, Flávia Cunha e Igor Natusch. Evelin Argenta entrevista a cientista social Tathiana Chicarino, especialista em mídias sociais e democracia.
No Sobre Nós, Raquel Grabauska fala d´O Homem Mais Mentiroso do Mundo
10 coisas que odeio em vocês, os do Twitter – e em mim
Geórgia Santos
21 de junho de 2017
Fiquei umas duas semanas relativamente afastada do Twitter. É impressionante o nosso poder de não evoluir em duas semanas. E falo de mim, de ti e de vocês, que continuaram no Twitter. Hoje foi a primeira vez em 15 dias que parei efetivamente para ler o que as pessoas estão a dizer no infame microblog e descobri dez coisas que odeio em vocês, os do Twitter – e em mim, claro
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1. Somos malvados
Já perceberam a facilidade que temos pra xingar alguém com base em 140 caracteres? E a gente acha bonito. Retuita e curte e comenta e xinga e fala da bunda daquela, da celulite daquela outra, fulano é ladrão, sicrano é assassino, vai estudar, vai se enxergar, tu não sabe nada, sua ridícula.
2. Somos desonestos intelectualmente
Todo mundo tem uma agenda e não tem nada de errado com isso. Vou escrever e retuitar o que me interessa e colocar as coisas nos meus termos. O problema é quando a gente fala algo sabendo que não é verdade, especialmente quando temos grande audiências. Só um exemplinho de hoje: o deputado estadual Marcel Van Hattem (PP) disse que a repórter Vitória Famer, da Rádio Guaíba, é uma “militante de esquerda radical” e disse que ela tem “postura de militante de extrema esquerda”. Nem vou entrar no mérito da competência da Vitória porque não precisa, mas o deputado Van Hattem é um cara informado e familiarizado com a Ciência Política, até onde sei. Sendo assim, ele sabe que nem a Vera Guasso é extrema esquerda e, mesmo assim, coloca esse rótulo em uma repórter que simplesmente falou algo que ele não gostou. Porque cola com o público dele, pronto. Temos dois problemas aí: ele está atingindo a integridade do trabalho de uma repórter e está fazendo isso com uma afirmação que ele sabe que é não é verdade. E a verdade é que a gente tem uma tendenciazinha a fazer isso com nossas coisas, também. A menos que eu esteja superestimando as pessoas.
PS.: a desonestidade intelectual do deputado acometeu muitos dos seus seguidores, que passaram a atacar a repórter de várias maneiras nas redes sociais. Não estou dizendo que foi a gênese, mas é parte de um fenômeno bizarro.
3. Somos obcecados com a dupla Grenal
Eu sou gremista, torço, choro, sofro e todo o pacote. Falo de Grêmio, corneteio o colorado e tudo o mais, mas a gente é obcecado. Hoje teve a tal da coluna pedindo pra parar com a corneta, o que foi ridículo. Mas é motivo pra passar o DIA INTEIRO FALANDO DISSO?
4. Somos cegos politicamente
Não precisa de explicação, né? É nosso, é lindo. É deles, é feio. Essa é nossa base política.
5. Não temos senso de humor
Assim como xingamos a galera rapidinho, nos ofendemos com QUALQUER COISA com a mesma velocidade. E não, não estou falando de preconceito, assédio, agressão verbal etc. Estou falando de escrever uma cornetinha, fazer uma piadinha e receber MIL replies de pessoas que precisam de umas 12 horas de sono. É muito ressentimento, muita desconfiança. Por exemplo, meu marido é comentarista esportivo, e no Twitter, QUALQUER coisa que ele diga tem o objetivo de DESTRUIR Grêmio ou Inter (voltando ao ontem 3). Sério mesmo?
6. Juramos ser especialistas
Desse aqui sou culpada até o pescoço. Temos uma necessidade IMPRESSIONANTE de comentar todo e qualquer evento que aconteça na Via Láctea e juramos ser especialistas de absolutamente tudo. A gente tem certeza que tem as respostas certas e soluções para todos os males do mundo. Preguiiiiiça.
7. Somos preconceituosos
A todo instante é possível ler algum tuíte em que alguém fala mal de gays, estrangeiros, refugiados, mulheres, negros, pobres, ricos, petistas, tucanos, de direita, de esquerda, disso, daquilo. E quando paramos pra pensar, há nenhuma lógica por trás do preconceito puro e simples. É normal ter receio com o desconhecido, afinal, não conhecemos. Mas a quantidade de discursos inflamados sobre o desconhecido é assustadora. A quantidade de discursos inflamados contra a pura e simples existência de determinadas pessoas é desoladora.
8. Somos provincianos
É impressionante como somos atrasados, simples assim. A impressão que dá é que ficamos andando em círculos. Vocês se deram conta que, de uma forma ou outra, ainda rivalizamos sobre a Revolução Farroupilha? Sem falar nesse papo de somos melhores em tudo.
9. Não conseguimos mudar de assunto
É sempre a mesma coisa.
10. Odiamos demais
Quer prova maior do que eu fazer uma lista sobre o que odeio?
Chega um dia na vida em que nossas verdades caem por terra. Há pouco, passei por uma situação dessas. Não, eu não estava errado; eu fiquei errado. Novos momentos trazem novas verdades, subvertem a ordem e convertem o outrora errado, ou disruptivo, em regra.
Por isso, cá estou, um arrogantão que já postou gifs debochando de quem gravava vídeos com o celular de pé, tendo que admitir que, além de ser válido, o formato vertical se tornou o melhor pro anunciante, ao menos quando estamos falando de redes sociais. Por quê? Eu explico.
Mais da metade das pessoas tem acessado as redes prioritariamente através dos seus aplicativos para smartphones. Estamos falando de dispositivos verticais por essência, com usuários cada vez mais exigentes com relação à experiência. Faz sentido demandar dele um esforço físico para ter a experiência certa de um vídeo que, na maioria das vezes, ele não pediu para assistir? As pessoas são espectadoras preguiçosas. Essa é uma verdade que não mudou desde a época de ouro da TV aberta. Por isso, os veículos retardaram tanto a entrada da tecnologia de controle remoto no Brasil; o público assistia, passivo, aos comerciais para não ter o esforço de ir até o televisor trocar de canal. E mais: ao gerar uma ação você também gera uma distração, interrompendo a experiência imersiva dos usuários.
“No Snap, os anúncios em vídeos verticais já estão sendo 9 vezes mais efetivos que os horizontais. Já no Facebook, os primeiros resultados já apontam para uma eficiência 3 vezes maior”
Claro que minha verdade não caiu sozinha. Teve muita gente grande que se deu conta disso antes e ajudou a derrubá-la. Facebook, Instagram (e Stories), Snapchat e Twitter eliminaram as barras laterais pretas dos vídeos verticais e expandiram sua visualização com aproveitamento de tela. Com algumas peculiaridades, claro, como a proporção 3:2 do Facebook.
Os resultados já começaram a aparecer: no Snap, os anúncios em vídeos verticais já estão sendo 9 vezes mais efetivos que os horizontais. Já no Facebook, os primeiros resultados já apontam para uma eficiência 3 vezes maior. É o que podemos chamar de um negócio win-win-adapt. Os dois primeiros a vencer com esses números são os anunciantes. Logicamente, com os anunciantes empolgados com tamanha efetividade e anunciando mais, Mark e companhia estão rindo à toa também.
Por fim – no último elo dessa corrente – estou eu, estão as outras produtoras e estão as agências, nos virando de cabeça pra cima e, mais uma vez, tendo de nos adaptar, reciclar, e evoluir linguagem e técnicas. Tudo isso para você ver mais anúncios e se incomodar menos, sem nem perceber.