Guia de Viagem

Tokyos – Retratos do Cotidiano

Geórgia Santos
22 de novembro de 2017

Desde que compreendi o prazer da leitura – há muito tempo – percebi a verdade por trás do clichê de que os livros nos fazem viajar. As palavras desenhadas por autores talentosos foram trampolins para a minha imaginação e, acreditem, Hemingway levou-me à Cuba, onde conheci o velho Santiago; e com Jorge Amado viajei à Bahia, no período do carnaval, onde conheci Dona Flor e seu marido Vadinho. Conforme o tempo foi passando, percebi que a possibilidade de viajar transcende a página de um livro e pertence à arte.

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E hoje vou viajar à Tóquio

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O projeto Tokyos – Retratos do Cotidiano apresenta a capital do Japão que os estereótipos de guias de viagem deixam de fora. Na exposição do fotógrafo Gustavo Mittelmann, Tóquio supera as grandes construções e o neon para ser desvendada em sua essência humana.

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Tóquio são as pessoas

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As fotos exibem a cidade de que só existe por uma fração de segundo e depois se transforma. Uma cidade viva, com grande contraste cultural e movida por uma engrenagem humana que não tem nada de fria.

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Gustavo está compartilhando conosco a poesia visual das ruas 

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Tokyos – Retratos do Cotidiano está em exposição no Centro Cultural Érico Veríssimo, na sala O Retrato, entre 23 de novembro e 16 de dezembro. Parte das fotos integrará, em janeiro de 2018, uma mostra coletiva na Agora Gallery, em Nova York.

Centro Cultural Érico Veríssimo – Rua dos Andradas, 1223 – Centro Histórico, Porto Alegre – RS

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Gustavo Mittelmann é publicitário de 38 anos formado pela UFRGS. Sócio e diretor de cena da Catraca Filmes há 11 anos, já atua no audiovisual desde o final dos anos 90. Foi nessa mesma época que a paixão pela fotografia começou a se manifestar. Não demorou muito para o quarto se transformar em um laboratório de fotos preto e branco.

Ao longo dos anos, a atividade profissional ajudou a aprimorar o hobby e vice-versa. Como resultado, vieram dois prêmios de fotografia amadora e duas publicações na revista francesa Photo, uma das mais importantes da área no mundo.

Catraqueanas

Amor e desilusão na Distribuição de conteúdo por assinatura

Gustavo Mittelmann
27 de fevereiro de 2017

No último texto, falei sobre o comodismo dos usuários mobile e como isso estava resultando em um formato vertical para os anúncios em vídeo nas redes sociais. Bom, preciso fazer a ressalva de que somos preguiçosos, mas exigentes. E essa segunda característica, algumas vezes, pesa mais. O exemplo mais claro dessa dominância, senti na minha própria pele através dos serviços de assinatura.

É possível fazer uma ressalva dentro da ressalva? Bom, o texto é meu, então… liberdade poética: na verdade nunca fui preguiçoso em se tratando de garimpar filmes, álbuns e literatura para baixar de forma obscura (por pura falta de oferta oficial). Mas, assim como cada um de vocês, também fui seduzido pela facilidade nascida com os distribuidores de conteúdo por assinatura. Abracei o comodismo nas diversas embalagens em que me foi oferecido.
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“Considero uma troca justa: o aplicativo poupa meu esforço de busca na grande rede, e, por por facilitar minha vida, recebe mensalmente uns reais do meu bolso”

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Com essa fórmula, o Netflix se transformou no queridinho da galera. Existe ônus? Existe, claro. Não encontro lá tudo que gostaria de ver; há uma curadoria do conteúdo disponível, seja por entraves com um ou outro estúdio, seja por qualquer outro motivo. Não vem ao caso. O que importa, de fato, é que as restrições são compensadas com opções de qualidade e investimento sério até mesmo em produções próprias. Eu fecho o mês achando que fiz um ótimo negócio.
Essa mesma sensação de compensação ganha decibéis de realidade cada vez que a estrada é longa e o churrasco pede trilha sonora. É como ter desenvolvido um superpoder musical, de escutar praticamente tudo que eu quiser na hora que quiser. O Spotify só tem um desafeto aqui em casa, e não é o Apple Music, que não faz nada além de gerar meia dúzia de playlists temáticas. A mágoa fica por conta do iPad e seus 160gb de músicas engavetadas para o esquecimento.
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A Amazon me traiu

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Mas já me senti enganado, traído e desconsolado por quem eu menos imaginava. Amazon, sua falsa! Anos passei invejando os americanos com seus kindles e ar pseudo-intelectual nos parques e metrôs. Sim, essa coluna toda é para tratar, de forma quase terapêutica, da minha desilusão e das feridas abertas pelo Kindle Unlimited. Me atirei de cabeça logo que o serviço passou a ser oferecido no Brasil. Esperando, ávido, por novos títulos para matar a minha demanda reprimida.
Com o passar dos meses, no entanto, essa espera foi se transformando em abatimento até que não me restou outra chance senão abandonar precocemente um relacionamento que nascera repleto de sonhos de um futuro juntos. Não me restara dúvidas de que eu tinha caído por uma bonitinha mas ordinária assinatura. Uma bonita embalagem, de boa família, mas recheada de folhetins sabrinescos, autoajudas de quinta categoria e meia dúzia de clássicos escolares. Cerca de 50 mil títulos em português para fazer volume apenas. Tudo que era bom, que era lançamento ou que era interessante de fato, eu tinha que comprar fora do plano Unlimited.
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“Abandonei a comodidade da relação por me sentir feito de idiota”

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Tive uma recaída na rede. Passei a buscar tudo que não encontrava no meu relacionamento Kindle: bons livros de grandes autores e editoras respeitáveis, e revistas dos mais variados temas e procedências. Abandonei a comodidade da relação por me sentir feito de idiota. Amazon, o problema não sou eu, é você.
Escuta o que vou te dizer pra não acabar os dias sozinha: mais importante que o tamanho do acervo é o entretenimento que proporciona. Investe um tempinho, paga uns bons drinks e usa esse mesmo papinho que tu usou comigo pra convencer as editoras que é mais vantajoso pra todos ganhar no volume de vendas, encorpar o sistema de assinatura mensal com conteúdo gratuito e se tornar uma referência de fato e por merecimento, do que ganhar um pouco mais por vendas avulsas e esparsas em um país sem o hábito de leitura. Quem sabe, daí, rola um revival entre nós.
Catraqueanas

Minha Verdade Sobre Vídeos Caiu; E Caiu De Pé

Gustavo Mittelmann
13 de fevereiro de 2017

Chega um dia na vida em que nossas verdades caem por terra. Há pouco, passei por uma situação dessas. Não, eu não estava errado; eu fiquei errado. Novos momentos trazem novas verdades, subvertem a ordem e convertem o outrora errado, ou disruptivo, em regra.

Por isso, cá estou, um arrogantão que já postou gifs debochando de quem gravava vídeos com o celular de pé, tendo que admitir que, além de ser válido, o formato vertical se tornou o melhor pro anunciante, ao menos quando estamos falando de redes sociais. Por quê? Eu explico.

Mais da metade das pessoas tem acessado as redes prioritariamente através dos seus aplicativos para smartphones. Estamos falando de dispositivos verticais por essência, com usuários cada vez mais exigentes com relação à experiência. Faz sentido demandar dele um esforço físico para ter a experiência certa de um vídeo que, na maioria das vezes, ele não pediu para assistir? As pessoas são espectadoras preguiçosas. Essa é uma verdade que não mudou desde a época de ouro da TV aberta. Por isso, os veículos retardaram tanto a entrada da tecnologia de controle remoto no Brasil; o público assistia, passivo, aos comerciais para não ter o esforço de ir até o televisor trocar de canal. E mais: ao gerar uma ação você também gera uma distração, interrompendo a experiência imersiva dos usuários.

“No Snap, os anúncios em vídeos verticais já estão sendo 9 vezes mais efetivos que os horizontais. Já no Facebook, os primeiros resultados já apontam para uma eficiência 3 vezes maior”

Claro que minha verdade não caiu sozinha. Teve muita gente grande que se deu conta disso antes e ajudou a derrubá-la. Facebook, Instagram (e Stories), Snapchat e Twitter eliminaram as barras laterais pretas dos vídeos verticais e expandiram sua visualização com aproveitamento de tela. Com algumas peculiaridades, claro, como a proporção 3:2 do Facebook.

Os resultados já começaram a aparecer: no Snap, os anúncios em vídeos verticais já estão sendo 9 vezes mais efetivos que os horizontais. Já no Facebook, os primeiros resultados já apontam para uma eficiência 3 vezes maior. É o que podemos chamar de um negócio win-win-adapt. Os dois primeiros a vencer com esses números são os anunciantes. Logicamente, com os anunciantes empolgados com tamanha efetividade e anunciando mais, Mark e companhia estão rindo à toa também.

Por fim – no último elo dessa corrente – estou eu, estão as outras produtoras e estão as agências, nos virando de cabeça pra cima e, mais uma vez, tendo de nos adaptar, reciclar, e evoluir linguagem e técnicas. Tudo isso para você ver mais anúncios e se incomodar menos, sem nem perceber.

*Dados: socialmediatoday.com

Catraqueanas

(Ainda) há relação entre (falta de) qualidade e verdade?

Gustavo Mittelmann
12 de setembro de 2016

Hoje em dia, internet praticamente significa vídeo, e vice-versa. Passa dos 86% o total de internautas brasileiros que assistem a vídeos online. A mudança não é apenas de mídia, plataforma. Linguagem e estética também passaram por uma forte adaptação. Como figuras de destaque nessa nova onda millenial da comunicação, estão os Youtubers. Uma câmera no celular, um quarto de cenário e uma ideia de fama na cabeça. E não é que deu certo? Milhares, ou milhões, de fãs e seguidores depois, o que começou não como opção, mas como solução para viabilizar a produção com limitações de verba, equipamentos e conhecimento técnico, acabou se tornando uma prisão. O público associou essa estética caseira à sensação de verdade, vida real – e se identificou.

De fato, era isso mesmo; a gurizada mostrava como jogava aquele game, como se maquiava, o que comprava e o que gostava. Fisgou a toda uma geração. E às marcas também. Estas, passaram a querer inserir seus produtos nos vídeos daqueles. Eles, ficaram tentados a ter uma renda bem maior à proporcionada apenas pelas visualizações do Youtube.

Os games, as maquiagens, as compras e as viagens começam a se transformar em presentes. E mais, acompanhados de substanciosos cachês. Daria pra comprar uma câmera melhorzinha, um microfone, quem sabe até um quarto novo, em um apartamento novo. Mas se a coisa ficar bonita e produzida, para onde vão os seguidores (e, junto, as marcas e o dinheiro que elas colocam que poderia bancar tudo isso)?

A partir desse ponto, vemos o que era solução, se transformar em opção. Mais do que isso, passa a ser quase uma interpretação. O pensamento dominante é fingir que continua caseiro e humilde, para o público fingir que continua achando que é verdadeiro. Faz de conta que era esse jogo mesmo que eu ia comprar; que é a opção mais legal. Que esse é o BB Cream que cobre melhor as manchas, que é o perfume que eu procuro sempre pra comprar parcelado na Renner e que eu sempre quis conhecer a NASA, mais do que a Disney. Vai mais longe: faz de conta que fui eu mesmo quem escreveu esse livro que todo adolescente vai comprar e quase nenhum vai ler de fato.

E assim, vemos surgir uma geração de garotos-propaganda travestidos de influenciadores. E um mercado fracamente disfarçado de verdade, mas que, por conveniência, os interlocutores fingem não ver. O quarto virou mercado negro.