Hoje em dia, internet praticamente significa vídeo, e vice-versa. Passa dos 86% o total de internautas brasileiros que assistem a vídeos online. A mudança não é apenas de mídia, plataforma. Linguagem e estética também passaram por uma forte adaptação. Como figuras de destaque nessa nova onda millenial da comunicação, estão os Youtubers. Uma câmera no celular, um quarto de cenário e uma ideia de fama na cabeça. E não é que deu certo? Milhares, ou milhões, de fãs e seguidores depois, o que começou não como opção, mas como solução para viabilizar a produção com limitações de verba, equipamentos e conhecimento técnico, acabou se tornando uma prisão. O público associou essa estética caseira à sensação de verdade, vida real – e se identificou.
De fato, era isso mesmo; a gurizada mostrava como jogava aquele game, como se maquiava, o que comprava e o que gostava. Fisgou a toda uma geração. E às marcas também. Estas, passaram a querer inserir seus produtos nos vídeos daqueles. Eles, ficaram tentados a ter uma renda bem maior à proporcionada apenas pelas visualizações do Youtube.
Os games, as maquiagens, as compras e as viagens começam a se transformar em presentes. E mais, acompanhados de substanciosos cachês. Daria pra comprar uma câmera melhorzinha, um microfone, quem sabe até um quarto novo, em um apartamento novo. Mas se a coisa ficar bonita e produzida, para onde vão os seguidores (e, junto, as marcas e o dinheiro que elas colocam que poderia bancar tudo isso)?
A partir desse ponto, vemos o que era solução, se transformar em opção. Mais do que isso, passa a ser quase uma interpretação. O pensamento dominante é fingir que continua caseiro e humilde, para o público fingir que continua achando que é verdadeiro. Faz de conta que era esse jogo mesmo que eu ia comprar; que é a opção mais legal. Que esse é o BB Cream que cobre melhor as manchas, que é o perfume que eu procuro sempre pra comprar parcelado na Renner e que eu sempre quis conhecer a NASA, mais do que a Disney. Vai mais longe: faz de conta que fui eu mesmo quem escreveu esse livro que todo adolescente vai comprar e quase nenhum vai ler de fato.
E assim, vemos surgir uma geração de garotos-propaganda travestidos de influenciadores. E um mercado fracamente disfarçado de verdade, mas que, por conveniência, os interlocutores fingem não ver. O quarto virou mercado negro.
