Nós já discutimos os aspectos atípicos dessa eleição. Já discutimos o que o eleitor quer e como renovar a agenda eleitoral. E agora, a poucos dias da eleição, chegou a hora de escolher. Como faz?
No terceiro episódio do Bendita Sois Vós, Geórgia Santos, Tércio Saccol e Igor Natusch discutem a escolha que está entre a democracia e a ameaça autoritária. O professor e cientista político Rafael Madeira fala sobre o caminho da democratização no Brasil e o que é o voto útil, que provavelmente decidirá a eleição.
Já a professora e cientista política Teresa Schneider Marques fala sobre poder de influência do movimento #elenão, que pode não acontecer agora. Há quem diga que o movimento das mulheres é mimimi, então a gente separou algumas declarações machistas do candidato do PSL, do seu vice e uma musiquinha deplorável de seus apoiadores que mostram a importância do #elenão.
Por isso, no quadro Sobre Nós desta semana, o Machismo está em pauta. Com direção de Raquel Grabauska, atores interpretam relatos retirados do projeto The Every Day Sexism que mostram o machismo no ambiente de trabalho. Os depoimentos estão em contraste com comentários machistas retirados de sites de notícias.
Saúde . Candidatos apostam na informatização do atendimento e prevenção
Geórgia Santos
2 de outubro de 2018
Não é surpresa que a saúde seja citada como o maior problema dos brasileiros na atualidade – embora a competição com educação e segurança seja intensa. Pesquisa do Ibope mostra que a área é apontada como o principal desafio do próximo presidente da República. Em junho, 75% dos entrevistados avaliaram a saúde como ruim ou péssima – era 61% em 2011.
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Dentre os principais problemas estão demora e dificuldade de receber atendimento; falta de equipamento; falta de estrutura; e falta de médicos
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Um detalhe importante apontado pela pesquisa é que, em sete anos, um número maior de pessoas passou a utilizar o Sistema Único de Saúde. Passou de 51% em 2011 para 65% em 2018. Além disso, apesar de a Constituição prever um investimento mínimo de 15% da receita em saúde, há o empecilho da Emenda Constitucional nº 95, aprovada em 2016, antes conhecida como a PEC dos Gastos. O texto limita as despesas públicas à inflação do ano anterior, por 20 anos.
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O que o próximo presidente deve fazer, então, para melhorar a questão da saúde no Brasil?
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Nós investigamos os planos de governo de cada candidato e constatamos que o plano de ação principal é similar e gira em torno da informatização – ou modernização – para agilizar atendimento, foco na prevenção de doenças por meio da Estratégia de Saúde da Família e, até, criação de consórcios de saúde. Mas a forma de implantação difere bastante.
Em suas diretrizes gerais, Álvaro Dias fala em “Saúde com Pronto Atendimento” e diz que “um dos maiores problemas [do Brasil] é a saúde doente.” O candidato garante que a população poderá contar com um “sistema de saúde eficiente”.
Com relação às propostas, promete “promover e incentivar a criação de Consórcios Intermunicipais de Saúde, de Infraestrutura e de Desenvolvimento Regional; saúde com pronto atendimento;fila zero nas emergências e prontuário eletrônico; e genéricos sem imposto até 2022.”
O candidato do Patriota apresenta um plano com uma forte base em diagnóstico. Cabo Daciolo garante “dar fim ao desequilíbrio na relação com as operadoras de planos de saúde” e dá bastante destaque à prevenção. “Iremos melhorar a gestão de prevenção às enfermidades com o objetivo de reduzir a pressão sobre os prontos-socorros e hospitais.”
O candidato ainda promete articular as Diretrizes Nacionais de Gestão da Saúde Pública ao Sistema Único de Saúde (SUS) para padronizar as práticas de gestão. Em suas metas, garante “defender os princípios e diretrizes do SUS; adotar políticas, programas e ações de promoção, prevenção e atenção à saúde; dar transparência às informações de caráter público do SUS; interiorizar a medicina e o trabalho médico; criar uma carreira de Estado para os médicos que atuam na rede pública; melhorar a infraestrutura, as condições de trabalho e o atendimento; recuperar a rede de urgências e emergências; e aumentar a quantidade dos leitos de internação e de unidades de terapia intensiva.” Só não diz como.
Daciolo não vê aborto como questão de saúde pública, afirma que “não é possível conceber que a família em seus moldes naturais seja destruída, que a ideologia de gênero e a tese de legalização do aborto sejam disseminadas em nossa sociedade como algo normal’. Já a questão da dependência química é tratada como problema da segurança.
No plano de governo, o candidato do PDT afirma que é necessário revogar a EC95 e fazer uma revisão dos gastos para priorizar áreas como a saúde. Para Ciro Gomes, a chave para melhorar o atendimento está no aprimoramento do SUS. Ele diz que a atenção básica tem que ser reforçada e priorizada e que é necessário melhorar a gestão do atendimento médico e hospitalar de média e alta complexidade.
Na atenção básica, promete a Criação do Registro Eletrônico de Saúde, “que registrará o histórico do paciente e facilitará o atendimento do paciente em todas as esferas do SUS.”
Além de “incentivo às ações de promoção da saúde individuais e coletivas que estimulem hábitos saudáveis no âmbito dos postos de saúde; redução da la atual para realização de exames e procedimentos especializados através da compra de procedimentos junto ao setor privado.” Já no atendimento emergencial, garante a “ampliação da oferta de atendimento à urgência e emergência, reforçada por meio da constituição de consórcios em mesorregiões e da implementação de regiões de saúde.”
Na área de prevenção, Ciro prevê um reforço à vigilância sanitária e aos programas “bem-sucedidos” do SUS, como a estratégia de saúde da família (ESF), o programa de controle de HIV/AIDS, o programa de transplante de órgãos e o sistema nacional de imunização. Um ponto importante do programa é a recuperação urgente da cobertura vacinal para evitar uma epidemia de sarampo e o “combate intensivo” às doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti como dengue, zika e chikungunya.
O candidato do PDT também dedica parte do texto para a saúde das mulheres, em que dá a ” garantia de condições legais e de recursos para a interrupção da gravidez quando ocorrer de forma legal, combatendo a criminalização das mulheres atendidas nos pontos de atendimento na saúde.” Também prevê fortalecimento de programas que incentivem o parto natural e a humanização do SUS. Assim como há uma parte dedicada às mulheres, Ciro garante a ampliação da oferta de tratamentos e serviços de saúde para as necessidades especiais da população LGBT.
O plano enviado ao TSE promete “desenvolvimento e aplicação efetiva do SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE PÚBLICA”, assim, em caixa alta. No tem que chama de “Saúde Inteligente”, Eymael promete um programa com foco na prevenção, com ” a saúde chegando antes que a doença, impedindo que ela se instale, promovendo assim ganho de qualidade de vida e economia de recursos públicos.”
O programa de Fernando Haddad traça um diagnóstico bastante extenso, culpando Michel Temer por retrocessos na área da saúde como “aumento da mortalidade infantil”, a “diminuição da cobertura vacinal” e a “volta de doenças evitáveis”. O candidato do PT garante a luta pela” implantação total do SUS” por meio do “aumento imediato e progressivo do financiamento da saúde; valorização dos trabalhadores da saúde; investimento no complexo econômico-industrial da saúde; articulação federativa entre municípios, Estados e União; e diálogo permanente com a sociedade civil sobre o direito à saúde.”
O plano de governo foca no fortalecimento de programas como o Mais Médicos, as UPAs, o SAMU, a Farmácia Popular, a Saúde da Família, o Programa Nacional de Imunizações, entre outros.
Haddad garante, ainda, que fortalecerá a regionalização dos serviços de saúde. “Além disso, o governo federal, em parceria com Estados e municípios, vai criar a Rede de Especialidades Multiprofissional (REM). A REM contará com polos em cada região de saúde, integrada com a atenção básica, para garantir acesso a cuidados especializados por equipes multiprofissionais para superar a demanda reprimida de consultas, exames e cirurgias de média complexidade.” Segundo o texto, os polos serão organizados de forma regional, com unidades de saúde fixas e unidades móveis e apoio aos pacientes em tratamento fora de domicílio.
O candidato do Partido dos Trabalhadores promete a implantação do prontuário eletrônico “de forma universal” e no aperfeiçoamento da governança da saúde. “Ampliando a aplicação da internet e de aplicativos na promoção, prevenção, diagnóstico e educação em saúde.”
Com relação às mulheres, o texto prevê a promoção da saúde integral da mulher “para o pleno exercício dos direitos sexuais e reprodutivos”. O programa do PT ainda garante fortalecer “uma perspectiva inclusiva, não-sexista, não-racista e sem discriminação e violência contra LGBTI+ na educação e demais políticas públicas.” Além disso, há a previsão de ampliar a fiscalização para coibir a discriminação racial no SUS.
O candidato do PSDB tem dois planos, um mais curto, enviado ao TSE, e outro detalhado, disponível no site de sua candidatura. No segundo, ele destaca o desejo de que “todos os brasileiros tenham o seu médico da família; um médico que conheça o seu histórico de saúde e de doenças.”
Ele reconhece que isso exigirá investimento em sistemas de digitalização de dados, telemedicina e prontuário eletrônico, para a criação de um cadastro único de todos os usuários do SUS.
Alckmin, que é médico, afirma que a “convergência de tecnologias digital, físicas e biológicas” ajudarão a combater o desperdício, melhorar a qualidade da gestão da saúde e do atendimento, principalmente da saúde básica. O programa também garante prioridade à primeira infância por meio da integração de programas sociais, de saúde e educação do período pré-natal até os seis anos de idade.
O candidato tucano ainda promete ampliar o Programa Saúde da Família; criar um programa de credenciamento de ambulatórios e hospitais “amigos”; fomentar ações voltadas à prevenção da gravidez precoce;instituir o Cartão-Cidadão da Saúde, combinando o prontuário eletrônico, o histórico clínico individual e a prescrição eletrônica de medicamentos; fortalecer a Estratégia da Família; instituir a carreira nacional dos profissionais de saúde; aprofundar os avanços sanitários; ampliar a produção nacional de vacinas e o Programa Nacional de Imunizações; criar ações para combater o aumento de peso e a obesidade; e difundir o uso da telemedicina, permitindo a criação de um programa nacional de “segunda opinião”.
Alckmin também pretende criar o “programa nacional de prevenção, acolhimento, tratamento e inserção social dos pacientes usuários de álcool e drogas, com atenção especial aos jovens.”
O plano de governo do candidato do PSOL tem como base a defesa do Sistema Único de Saúde e falar da necessidade de revogar a EC 95 para reverter o “subfinanciamento crônico” do SUS. O objetivo de Boulos é tornar o sistema atraente para que as pessoas não fiquem reféns dos planos de saúde com o aumento do financiamento de 1,7% para 3% do PIB. Ele também promete ampliar a cobertura da Atenção Básica e priorizar o modelo de Estratégia de Saúde da Família.
Com relação ao problema do atendimento, Boulos propõe “um teto de espera para consultas e cirurgias” e utilizar recurso público para pagar por serviços na rede privada quando for “necessário e solicitado pela autoridade local”
O candidato do PSOL é o único a citar a Reforma Psiquiátrica e garante dar continuidade ao processo de substituição dos hospitais psiquiátricos por uma rede de atenção psicossocial que, segundo ele, foi paralisado por políticas públicas que ‘apostaram em métodos conservadores e na contramão das experiências internacionais, como as comunidades terapêuticas’.
Boulos também propõe medidas específicas para mulheres, negros e para a população LGBT. Aos negros, garante o financiamento e implementação da ‘Política Nacional de Saúde Integral da População Negra’, criada em 2009,com o foco no ‘enfrentamento às doenças com maior incidência na população negra’. Para as mulheres, garante a implementação da Política de Atenção Integral à Saúde da Mulher, crida em 2004. Além disso, o candidato do PSOL defende os direitos reprodutivos, o parto humanizado e o combate à violência obstétrica.
O plano de Guilherme Boulos ainda afirma que “a descriminalização e legalização do aborto de forma segura e gratuita é uma das pautas a serem defendidas como condição de vida das mulheres cis e homens trans em nosso país.”
Quanto à população LGBTI, propõe a “despatologização” das identidades LGBTI; o fim “das intervenções corporais indevidas em pessoas intersexo”; e das “internações forçadas e dos tratamentos anticientíficos para a mal chamada ‘cura gay’.”
Boulos ainda fala da necessidade de “trazer a política sobre drogas para o campo da saúde” uma vez que décadas de proibição não tiveram nenhum efeito sobre a violência já que há mais mortes relacionadas ao comércio do que ao consumo.
O candidato do MDB ressalta a obrigação de “levar dignidade e respeito a todos que dependem do Sistema Único de Saúde, fortalecendo a saúde preventiva.” Meirelles afirma que o SUS dá prioridade ao tratamento da doença, e não do paciente, e que esse modelo representa um grande custo para Estado. Ele propõe, então, inverter a lógica: aumentar os investimentos em promoção da saúde e qualidade de vida.
O forte do emedebista é a economia, por isso ele promete maior eficiência aos gastos do setor. “Dados do Banco Mundial mostram que o Brasil poderia aumentar os resultados de saúde em 10% com o mesmo nível de gastos. O estudo também aponta 37% de ineficiência na atenção primária e 71% nos cuidados de saúde secundários e terciários.”
Como solução, garante ampliar os serviços de atenção básica e a coordenação das redes de atenção à saúde; fortalecer e ampliar a cobertura do Programa Saúde da Família; facilitar o acesso da população a consultas e exames por meio da informatização das unidades de saúde; e promover o saneamento e a recuperação financeira dos hospitais filantrópicos e das Santas Casas. Além de retomar os mutirões da saúde.
O candidato do PSL traça linhas de ação para “Saúde e Educação”, em que garante “eficiência, gestão e respeito com a vida das pessoas.” Bolsonaro promete melhorar a saúde e lembra da participação das Forças Armadas no processo de atendimento, principalmente em áreas remotas do país.
O plano mostra que o Brasil apresenta gastos compatíveis com a média de países mais desenvolvidos e que, por isso, é preciso melhorar a gestão. Ele propõe a criação do Prontuário Eletrônico Nacional Interligado, que será “o pilar de uma saúde na base informatizada e perto de casa.”
Bolsonaro garante a manutenção do programa Mais Médicos. “Nossos irmãos cubanos serão libertados. Suas famílias poderão imigrar para o Brasil. Caso sejam aprovados no REVALIDA, passarão a receber integralmente o valor que lhes é roubado pelos ditadores de Cuba!” O texto, porém, parece ser uma ironia. Em campanha, ele disse: “Vamos expulsar com o Revalida os cubanos do Brasil”
Bolsonaro ainda garante criar a carreira de Médico de Estado, contrariando o perfil liberal do programa. E é algo que precisaria ser submetido ao Congresso em forma de Emenda Constitucional. Ele também afirma investir na prevenção, especialmente com relação à “saúde bucal e o bem estar da gestante.”
O candidato do partido Novo garante “Saúde Acessível com um novo modelo que trate a todos com dignidade.” O programa liberal pretende colocar o Brasil entre os países mais saudáveis da América Latina,aumentando a longevidade e reduzindo mortalidade infantil.
A longo prazo, a meta é “reduzir a mortalidade infantil para menos de 10 óbitos por mil nascidos vivos” e “aumentar para mais de 80 anos a expectativa de vida do brasileiro.”
Amoêdo pretende alcançar esses objetivos por meio do aprimoramento do acesso e da gestão da saúde pública; expansão e priorização dos programas de prevenção, como clínicas de família; e ampliação das parcerias público-privadas e com o terceiro setor para a gestão dos hospitais. O candidato do Novo também prevê mais autonomia para os gestores e regras de governança para os hospitais; a criação de consórcios de municípios para maior escala de e ciência e gestão regionalizada de recursos e prioridades e o uso intenso de tecnologia para prontuário único, universal e com o histórico de paciente; e utilização de plataformas digitais para marcação de consultas.
O candidato do PPL assume o compromisso de reformar o SUS. “Nossa meta é elevar até o final do mandato o orçamento da saúde para 15% da receita corrente bruta da União.” João Goulart Filho ainda fala em”alterar de 12% para 15% da arrecadação de impostos a obrigação dos estados (nos municípios, a taxa já é essa).”
O plano de governo ainda prevê atenção especial à população negra “em relação a problemas de saúde específicos – por exemplo, a anemia falciforme” e ao cidadão LGBT.
A candidata da Rede prevê a recuperação da “capacidade de atuação do SUS”, que passa pela combinação de promoção da saúde, atenção básica, urgências, atendimentos especializados e reabilitação. “Será necessário combinar descentralização com regionalização e escala para ter serviços realmente viáveis econômica e tecnicamente.”
Marina Silva promete “uma gestão integrada, participativa e verdadeiramente nacional”.por meio da divisão do país em cerca de 400 regiões de saúde, cuja gestão será compartilhada entre a União, Estados e Municípios, além de entidades filantrópicas e serviços privados. “Realizaremos o adequado mapeamento das necessidades e vazios assistenciais, promovendo um planejamento regionalizado da distribuição de serviços, leitos hospitalares e ambulatoriais”, diz o texto.
No plano, a candidata promete ampliar a cobertura da Atenção Básica e aprimorar a atuação territorial da Estratégia de Saúde da Família, valorizando cada vez mais a prevenção.
Marina ainda garante a modernização do atendimento, “como o agendamento de consultas por meio eletrônico e a criação de uma base única de dados do paciente, com objetivo de estabelecer um prontuário eletrônico que permita o acompanhamento integrado por diferentes profissionais da saúde.”
A candidata da Rede ainda dá destaque para a saúde mental. “Vamos, ainda, desenvolver campanhas para combater o estigma que as pessoas com transtornos mentais sofrem e que, muitas vezes, as impedem de buscar ajuda.” O programa inda prevê a ampliação da oferta de tratamentos adequados às necessidades da população LGBTI; ações de saúde integral das mulheres e “de seus direitos reprodutivos e sexuais envolvendo ações preventivas e efetividade dos Programa de Planejamento Repro- dutivo e Planejamento Familiar” e estímulo ao parto humanizado. O texto ainda dá conta de políticas específicas para a população idosa e que destaquem a importância da alimentação saudável, inclusive o estímulo a uma “alimentação saudável e pacífica, incluindo a alimentação vegetariana.”
A candidata do PSTU afirma que saúde não pode ser “mercadoria”. Por isso, pretende estatizar os hospitais privados para garantir assistência e tratamento médico integral para os trabalhadores e a população pobre.
Cultura . Apenas cinco candidaturas dão destaque à área
Flávia Cunha
2 de outubro de 2018
Em uma campanha eleitoral protagonizada por temas como segurança pública e crise financeira, além de rivalidades políticas e ideológicas, a Cultura aparece como secundária mesmo em candidaturas de partidos que historicamente defendem sua importância dentro da conjuntura brasileira. Apesar disso, na esfera das redes sociais, a Lei Rouanet é criticada com frequência, principalmente por Jair Bolsonaro, do PSL.
Com o intuito de entender a importância que a cultura tem para os candidatos à presidência, analisamos os Planos de Governo de cada um.
Apenas cinco candidaturas dão destaque à cultura; quatro candidatos mencionam o tema, mas não se aprofundam; e quatro candidatos sequer mencionam algum planejamento.
Nas propostas do candidato Alvaro Dias, do Podemos, o tema Cultura é citado em um item que engloba Ciência, Cultura e Ciência, por meio do subitem Cultura Livre, através do Cartão Cultura, sem dar mais detalhamentos.
O plano de Ciro Gomes, do PDT, traz duas páginas dedicadas ao tema. No capítulo “A Cultura como Afirmação da Identidade Nacional”, tem 10 itens com propostas de medidas. Entre elas, destaca-se:
Estímulo às manifestações culturais que propiciam a inclusão social e a cultura periférica de rua, como as danças, grafites e slams;
Estímulo às manifestações e à disseminação da cultura afro-brasileira;
Aperfeiçoamento dos objetivos e alcance da Lei Rouanet, precedido de amplo debate com a classe artística.
Eymael, da Democracia Cristã, propõe em seu plano de governo promover a Cultura através de ações de governo, políticas de incentivo e parceria com a iniciativa privada. Também cita a criação de novos espaços culturais e a produção cultural “nas suas várias manifestações”, através da parceria com empresas.
O programa de governo do candidato Fernando Haddad, do PT, tem um capítulo de cerca de duas páginas direcionado ao tema, chamado Cultura Para Garantir a Democracia, a Liberdade e a Diversidade. O textoressalta a necessidade de “aumentar progressivamente os recursos para o MinC [Ministério da Cultura], visando alcançar a meta de 1% do orçamento da União, assim como fortalecer o papel e ampliar os recursos do Fundo Nacional de Cultura (FNC).”
Há ações específicas mencionadas para diversas áreas, como música, dança, teatro, literatura, patrimônio público e audiovisual (cinema). Também menciona a retomada do diálogo com a classe artística.
O tema Cultura é mencionado duas vezes no programa de governo de Geraldo Alckmin, do PSDB, dentro de um capítulo chamado O Brasil da Esperança, com propostas para diferentes áreas. Um dos itens cita o desenvolvimento da economia criativa e ressalta o fomento ao “empreendedorismo em áreas de inovação, da cultura, do turismo e, especialmente, em áreas onde já somos líderes, como a agroindústria.”
Outro item refere-se ao reconhecimento “das diversas manifestações da cultura brasileira em seu valor intrínseco, como ferramenta de projeção do Brasil e como parte da política dedesenvolvimento econômico.”
O programa de Guilherme Boulos, do PSOL, conta com um capítulo dedicado ao tema, denominado A Cultura Contra a Desigualdade e Pela Democracia. Uma das propostas é o fim da polêmica Lei Rouanet:
“Nosso objetivo é o fim das leis de renúncia fiscal, em especial a Lei Rouanet, maior exemplo de privatização no campo cultural.”
Depois, são citadas oito propostas específicas para a área cultural, entre as quais destacamos duas:
Editais, leis, programas e um Fundo Nacional de Cultura com dotação orçamentária própria e continuada.
Apoiar a produção cultural vinda das periferias, culturas jovens, rurais e urbanas, culturas territoriais (indígenas, quilombolas), de matriz africana, etc.
O programa de governo do candidato Jair Bolsonaro, do PSL, também não traz propostas para o setor da Cultura. Porém, o assunto é mencionado com uma referência ao filósofo italiano Gramsci, que apontava a Cultura como influência para mudanças sociais. O texto também faz uma relação entre corrupção, classe artística e deturpação de valores familiares:
“Nos últimos 30 anos o marxismo cultural e suas derivações como o gramscismo, se uniu às oligarquias corruptas para minar os valores da Nação e da família brasileira.”
O tema Cultura é mencionado uma vez no programa de governo de João Amoêdo, do Novo, como uma proposta dentro de um capítulodedicado à área de Educação:
Novas formas de financiamento de cultura, do esporte e da ciência com fundos patrimoniais de doações.
O candidato João Goulart Filho, do PPL, traz em seu plano de governo diversas ações para a área cultural, afirmando que pretende “reestabelecer o protagonismo do Estado como formulador e indutor das prioridades culturais públicas”. Também menciona mudanças na Lei Rouanet, para restringir “as nocivas práticas de ‘incentivo’ baseadas na entrega de recursos públicos (via renúncia fiscal) a projetos privados, redirecionando ditos recursos às prioridades culturais públicas”.
O plano de Marina Silva, da Rede, conta com o capítulo Cultura e Valorização das Diversidades. Entre diversas propostas, Marina defende a democratização do acesso à Cultura, por meio da “educação artística, transformando a escola em espaço de ensino e difusão de arte e cultura”.
Também menciona o “fomento à produção cultural por meio de editais, bolsas e premiações e o estímulo à produção audiovisual”, além de trazer ações específicas para valorização do patrimônio e economia criativa, além de usar o capítulo para assumir o compromisso com a “plena garantia do direito à liberdade de expressão que será promovido e respeitado em todas as suas dimensões, incluindo a liberdade de imprensa e o direito à comunicação”.
Vocês já devem ter ouvido por aí a canção Strange Fruit, imortalizada na voz de Billie Holiday, mesmo que não sejam ouvintes habituais de jazz. Da minha parte, só fiquei sabendo recentemente do que se tratavam os “estranhos frutos” mencionados na música. A referência tem relação com a foto abaixo, que retrata os enforcamentos de negros nos Estados Unidos, principalmente nos estados sulistas, notoriamente racistas. Os linchamentos começaram no fim do século 19 e mantiveram-se (inacreditavelmente, eu diria) até a década de 1930.
Em 1939, Billie Holiday lançou a canção, que virou um símbolo contra a opressão aos negros norte-americanos mas enfrentou resistência de parte dos brancos, que não concordavam com o teor da música. Confira a letra completa da canção e a tradução aqui.
Aprendi isso (e muito mais) em um dos encontros da série de Audições Comentadas de Jazz, promovida pelo radialista e expert no assunto Paulo Moreira, realizada no dia 13 de setembro, no Instituto Ling. Durante o bate-papo entremeado por gravações de Billie Holiday, Moreira citou a história da canção Strange Fruit. Depois, a cantora Camila Toledo subiu ao palco e, antes de cantar essa música, leu o seguinte trecho do livro Strange Fruit: Billie Holiday e a biografia de uma canção:
Holiday cantou, sim, Strange Fruit para grandes plateias negras. […] Cantou a canção diversas vezes no famoso Apollo Theater, no Harlem. Jack Schiffmann, cuja família administrava o Apollo disse […] em suas memórias […] o que aconteceu quando ela finalmente se apresentou lá. ‘Se você a ouvisse em qualquer outro lugar, ficaria tocado e mais nada’, ele escreveu. ‘Mas no Apollo a canção assumia um profundo simbolismo. Não só você enxergava, em todo seu horror gráfico aquele “fruto” como via em Billie Holiday a esposa, a irmã ou a mãe da vítima, debaixo da árvore, quase prostrada de tristeza e fúria. Talvez se fosse essa sua índole – como era certamente a das platéias no Apollo – você visse e sentisse a agonia de outra vítima de linchamento. […] E quando ela arrancava as últimas palavras de sua boca, não havia uma única alma na platéia, negra ou branca, que não se sentisse meio estrangulada. Seguia-se um momento de silêncio pesado, opressivo, e então uma espécie de som sussurrante que eu nunca tinha ouvido antes. Era o som de quase 2 mil pessoas suspirando.”
Ainda não entendeu o que o assunto tem a ver com o momento político atual brasileiro?
Pense em relativização do racismo. Reflita sobre o questionamento da necessidade de cotas raciais em um país com uma “Lei Áurea” que condenou os negros à pobreza imediata, ao conceder uma libertação sem nenhum tipo de indenização financeira e sem facilitar o acesso à educação, moradia ou a empregos. Para os racistas brasileiras, é mera coincidência (para não dizer coisa pior) que, de 1888 para cá, a maioria da população carcerária do Brasil seja composta por negros, conforme aponta levantamento divulgado em 2017 pelo governo federal.
E para ampliar os horizontes de quem precisa e apoiar aqueles que batalham pela Cultura em Porto Alegre (RS) que divulgo novas oportunidades de conferir a cantora (e ativista da causa negra) Camila Toledo, com o projeto Camila e a Ponte. No dia 21 de outubro, a apresentação será no London Pub e, no dia 25, no barco Cisne Branco.
Além de homenagear lindamente as canções dessa diva do jazz, Camila também faz a leitura de trechos de outros livros além do mencionado nesse texto. Vale a pena conferir!
Mulheres protestam contra o presidenciável Jair Bolsonaro no centro do Rio
Jair Bolsonaro é um golpista e uma figura nefasta para o Brasil. Suas últimas falas (em especial esse absurdo inominável de só aceitar o resultado das urnas se ele for eleito) deixam claro que ele não deseja servir à democracia, mas sim sequestrá-la. Bolsonaro é a pura vulgaridade política, no sentido mais grotesco de preconceito, ódio e despreparo, mas nem é disso que estamos falando: o que pega, aqui, é a declaração clara de que deseja usar o processo democrático apenas como ponte – e se a ponte não servir, a democracia que se lasque.
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Seu desprezo pelas regras do jogo é um insulto a quem tenta construir uma democracia, ou ao menos algo perto disso, no Brasil. Nenhuma condenação é pouca para seus disparates. É dever de quem preza nossa ainda frágil tentativa de democracia enfrentar essa figura funesta e sua candidatura, deixando claro o engodo e o suicídio político que ela representa.
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Antes dessas falas, repudiar Bolsonaro ainda poderia, para alguns, parecer uma questão de preferência política. A partir delas, em especial, essa posição torna-se impossível sem uma dose considerável de desapego à realidade. Nada – muito mesmo o antipetismo, essa versão caricatural e fascista que o ódio aos pobres e/ou diferentes toma em nosso país – justifica jogar ao fogo o pouco de representatividade que temos, o muito de liberdade e coesão social que ainda precisamos construir. Há outros candidatos, há outras formas de combater o petismo, se isso é mesmo tão importante. Votar Bolsonaro, em termos de solução, equivale a incendiar o prédio porque não se consegue consertar um vazamento no terceiro andar.
Mas é ainda mais que isso.
Bolsonaro não é apenas uma ameaça conceitual: é concreta. Ele ameaça a nós todos. Sem disfarces. De modo arrogante – pois o que é dizer que “não pode falar pelos comandantes militares” caso Fernando Haddad vença, senão arrogância e disposição golpista? Ele diz que devemos nos ajoelhar não ao resultado das urnas, mas à vontade dele, Bolsonaro, e de mais ninguém. Isso é um insulto a todos nós – inclusive a seus eleitores, mesmo que esses não percebam. Me elejam, ou vou tocar o terror.
Quem Bolsonaro pensa que é, para falar com o Brasil inteiro desse jeito?
O fascismo é um ideário de morte. Celebrar a vida, e a liberdade de existir que é inerente ao viver, é um poderoso ato de resistência. E o Brasil, liderado pelas mulheres (nossa grande força transformadora, desde sempre e mais do que nunca), disse no último sábado que a morte se enfrenta vivendo, e que não vamos – nós, o que recusamos a ameaça personificada em Jair Bolsonaro – nos encolher em um canto, com medo da morte.
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O resultado das urnas ninguém sabe qual será. Pode ser inclusive a eleição de Jair Bolsonaro, por que não? Se a nação brasileira optar por jogar-se no abismo, assim será. Mas a liberdade não é algo que se entregue de mão beijada ao valentão que grita mais alto. Cabe enfrentar a ameaça, lutar até o fim para vencê-la e tentar sair mais fortes disso tudo.
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Derrotar Bolsonaro nas urnas, é claro, não resolve problema algum. O Brasil seguirá cindido, talvez mais do que nunca, e as inúmeras angústias que alimentam esse flerte coletivo com a autodestruição seguirão existindo e exigindo respostas. Reconstruir as pontes incendiadas nos últimos anos será uma tarefa imensa, talvez até irrealizável. Mas nenhuma solução, por mais difícil e dolorosa que seja, poderá nascer do que esse cidadão diz, pensa e faz. Bolsonaro não é um candidato comum: é um opressor e oportunista que deseja, de forma tosca e às nossas custas, transformar-se em tirano.
Não existe neutralidade possível diante da infâmia. Que todas as vozes e bandeiras alinhadas com a busca da democracia sigam se erguendo e, juntas, derrotem essa figura vulgar de volta à irrelevância da qual jamais deveria ter saído.
OUÇA Bendita Sois Vós #2 O que os eleitores querem?
Geórgia Santos
28 de setembro de 2018
No segundo episódio do Bendita Sois Vós, os jornalistas Geórgia Santos, Airan Albino, Igor Natusch e Tércio Saccol discutem a expectativa dos eleitores para o pleito deste ano e formas de renovar a agenda eleitoral. A entrevistada é a antropóloga Lúcia Scalco, que conduz pesquisa com jovens eleitores de Bolsonaro na periferia de Porto Alegre. E no quadro Sobre Nós, a fome em pauta.
* O Bendita Sois Vós, uma parceria do Vós com a Rádio Estação Web e vai ao ar todas quintas-feiras, das 19h às 20h. Clique aqui para saber como ouvir no seu celular e em aplicativos.
No último final de semana, o Vós participou do Festival 3i – Jornalismo Inovador, Inspirador e Independente, em Porto Alegre. O evento é uma iniciativa pioneira no Brasil no fomento de discussões atuais sobre um novo momento do jornalismo, em que veículos concebidos em ambiente digital tem mais relevância, além do surgimento de toda uma geração de jornalistas empreendedores. O festival é uma parceria das plataformas Agência Lupa, Agência Pública, BRIO, JOTA, Nexo, Nova Escola, Ponte Jornalismo e Repórter Brasil com o Google News Initiative.
O debate foi centrado nas eleições e foi dividido em três painéis, cada um com três palestrantes: “Os santinhos: o que investigar, como investigar?”, “Corpo a corpo: como novos eixos e perspectivas de cobertura podem renovar a agenda eleitoral?” e “Temos um vencedor: e agora, jornalismo?”. Eu participei da segunda mesa, ao lado da professora Rosane Borges (USP) e da jornalista Flavia Marreiro (El País).
Esse é um tema especialmente caro pra mim porque foi a partir dessa frustração que o Vós nasceu. A partir da frustração de sentir que não havia espaço na mídia tradicional para tratar de forma profunda sobre temas como aborto, encarceramento em massa, violência policial, racismo e outros temas sensíveis e urgentes da nossa sociedade.
Esse é um debate bastante complexo, que, a meu ver, enfrenta um obstáculo social, institucional e o agendamento da grande mídia. Isso porque a desigualdade faz com que os brasileiros tenham demandas que parecem mais urgentes, como a fome e o desemprego. Assim, assuntos como aborto e encarceramento em massa se tornam secundários no imaginários das pessoas, moldado por instituições e pela grande mídia.
É confortável pensar que o jornalismo sempre reflete a realidade, mas a verdade é que são decisões editoriais baseadas em uma série de fatores. Ou seja, é um recorte. E isso faz com que as pessoas enxerguem esse recorte como a realidade, como em um ciclo vicioso. O resultado é que temas desconfortáveis acabam sendo negligenciados. Não são tratados com a importância que merecem. No caso do aborto, como tema de saúde pública, por exemplo.
Penso que a maneira de enfrentar esses obstáculos é se posicionar. Sair de trás do véu da imparcialidade, porque não existe confronto sem posicionamento. Nós fazemos escolhas mesmo que a gente não perceba, melhor que as façamos às claras. Violações aos Direitos Humanos não podem ser tratadas como polêmica, mas como crime. Youtuber que relaciona Mbappé à arrastão não é polêmico, é racista. É preciso dar nome aos bois. Além disso, é preciso mudar o enfoque, é preciso trazer os problemas para a realidade das pessoas a mostrar a urgência desses temas. Forçar empatia.
Entre os convidados desta edição estavam Leandro Demori, editor-executivo do The Intercept Brasil, Flávia Marreiro, subeditora do El País, Jineth Prieto, editora do site colombiano La Silla Vacía, Sylvio Costa, fundador do Congresso em Foco, Alexandre de Santi, cofundador da Agência Fronteira e Francisco Leali, coordenador na sucursal de Brasília do jornal O Globo.
Ficou curioso? Dá uma olhada em como foram as discussões do Festival 3i.
Programação completa:
Mesa 1 – Os santinhos: o que investigar? Como investigar?
– Leandro Demori (editor-executivo do The Intercept Brasil)
– Taís Seibt (co-fundadora do Filtro Fact-Checking)
– Francisco Leali (coordenador na Sucursal de Brasília de O Globo)
Mediação: Breno Costa (BRIO)
Mesa 2 – Corpo a corpo: como o jornalismo pode renovar a agenda eleitoral
– Rosane Borges (USP)
– Flavia Marreiro (El País)
– Geórgia Santos (Vós)
Mediação: Antônio Junião (Ponte Jornalismo)
Mesa 3 – Temos um vencedor: e agora, jornalismo?
– Alexandre de Santi (editor no The Intercept Brasil e co-fundador da Fronteira)
– Sylvio Costa (diretor do Congresso em Foco)
– Jineth Prieto (editora do La Silla Vacía – Colômbia)
Mediação: Moreno Osório (Farol Jornalismo)
No primeiro episódio do Bendita Sois Vós, jornalistas discutem “Que eleição é essa?” O programa é apresentado pela jornalista Geórgia Santos e conta com a participação de Evelin Argenta, Igor Natusch e Tércio Saccol em um debate sobre os aspectos atípicos das eleições, o fenômeno Bolsonaro e a ameaça autoritária.
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Essa eleição é, de fato, estranha. Até pouco tempo tinha candidato preso, candidato esfaqueado, candidato jejuando no monte. Por isso separamos algumas declarações de candidatos à presidencia da República, ou relacionados a eles, que exemplificam um pouco da anormalidade do pleito de 2018. Além disso, uma conversa com o cientista político Augusto de Oliveira, professor da PUCRS, sobre como e porquê surge o fenômeno Bolsonaro.
Falar de Bolsonaro implica discutir, ainda, viabilidade democrática. Afinal, o candidato ainda não afirmou que vai respeitar o resultado das eleições caso perca. Sem contar as declarações do vice do candidato do PSL, General Hamilton Mourão, que deixou clara a possibilidade de autogolpe em entrevista à GloboNews.
Como uma resposta também ao General Mourão, o Bendita Sois Vós traz uma verdade crua revelada por meio da arte. O quadro “SOBRE NÓS” é produzido por Raquel Grabauska, que é atriz, produtora, diretora e está à frente do grupo Cuidado Que Mancha. Toda a semana, um grupo de atores traz relatos reais sobre temas que nos tiram o sono. Na primeira edição, depoimentos de quem sofreu tortura durante a Ditadura Militar. O texto foi extraído dos relatórios da Comissão da Verdade e mostra a cara desse herói que mata.
* O Bendita Sois Vós, uma parceria do Vós com a Rádio Estação Web e vai ao ar todas quintas-feiras, das 19h às 20h. Clique aqui para saber como ouvir no seu celular e em aplicativos.
Bendita Sois Vós é uma parceria com a Rádio Estação Web e estreou no dia 20 de setembro
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Nesta quinta-feira, 20 de setembro, estreia o Bendita Sois Vós, com apresentação da jornalista Geórgia Santos. O podcast é uma parceria do portal Vós com a Rádio Estação Web, que veiculará o programa todas as quintas-feiras, das 19h às 20h. Depois, o conteúdo ficará disponível em várias plataformas.
A ideia por trás dessa novidade é discutir política e sociedade de uma forma provocadora, como todo o conteúdo do Vós. Haverá entrevistas, debates entre a equipe do portal, reportagens e muita experimentação com novos formatos e linguagens. “A gente quer que as pessoas saiam da zona de conforto e a gente também se abre pra isso no Bendita, a gente se abre à dúvida e à contestação sem perder a essência do Vós, que é de fazer um jornalismo sério e objetivo mas que se posiciona e não se esconde na neutralidade”, explica Geórgia Santos, que idealizou o projeto.
O primeiro episódio se chama “Que eleição é essa?” e discute os aspectos atípicos do pleito de 2018. Além de Geórgia, que também é cientista política, participam do programa a jornalista Évelin Argenta; o jornalista e escritor Igor Natusch; e o jornalista e professor da Famecos Tércio Saccol. A parte técnica fica por conta do Rogério Barbosa, que também coordena a Rádio Estação Web. O entrevistado da semana é o cientista político Augusto de Oliveira, professor da PUCRS.
Há outros elementos para a estreia, mas permanecem uma surpresa. “A gente ainda quer que as pessoas reflitam sobre os riscos dessa eleição, por isso, além da entrevista e do debate, há um quadro muito especial sendo produzido pela Raquel Grabauska e um grupo incrível de atores. Um quadro que deve ser recorrente no programa e vai mexer com o emocional dos ouvintes. E a gente espera que os faça pensar, também”, adiantou Geórgia.
O Bendita Sois Vós vai ao ar todas as quintas-feiras, entre 19h e 20h, na Rádio Estação Web. O podcast ficará disponível para ouvir e para download no Vós. Então, é possível baixar no celular e ouvir no carro, no transporte público, correndo, fazendo ginástica, lavando a louça, enfim, da mesma maneira que se ouve rádio.
Se você tem um iPhone ou iPad, o aparelho já vem com o aplicativo Podcasts instalado. Basta procurar por Bendita Sois Vós e clicar em assinar. É gratuito. Depois que você assinar, o aplicativo avisa sempre que houver episódio novo e permite que você faça download. Assim, dá pra ouvir sem precisar da internet.
3. No celular –Para quem usa Android
Se você tem um celular que opera no sistema Android, você pode baixar aplicativos para ouvir o Bendita Sois Vós. Algumas opções:
•SoundCloud: pode ser acessado por computador, smartphone ou tablet, e está disponível para Android e iOS. Bbasta acessar o perfil do Vós. Ao clicar sobre um episódio, o programa começará a tocar automaticamente. Também é possível adicionar a uma playlist e compartilhar nas suas redes sociais.
• Spotify (em breve): pode ser acessado por computador, smartphone ou tablet, e também está disponível nos sistemas Android e iOS. Vá até a seção Navegar, clique em Podcasts e use a ferramenta de busca para procurar pelo Bendita Sois Vós. Para salvar o podcast, clique na opção Seguir.
Em breve, também estará disponível em outros apps como Overcast.
Na semana passada o Vós trouxe um compilado das propostas dos candidatos para as mulheres. No pleito de 2018 há duas candidaturas encabeçadas por elas e outras quatro compostas por mulheres na vice-candidatura, achamos interessante explorar o tema. Tão interessante, que procuramos duas pesquisadoras para comentar os planos.
Deisy Cioccari e Beatriz Pedreira estudam os temas mulher e política e, como já esperávamos, não ficaram surpresas com a falta de propostas para o público feminino. Para Deisy fica claro o uso a mulher como moeda de troca nas campanhas eleitorais. Já para Beatriz, temas como o aborto ainda ficam de fora , pois precisamos ainda desmistificar o tema antes de colocá-lo na berlinda. Separamos dois trechos da entrevista com cada uma delas.
Deisy Cioccari, jornalista, mestre em Produtos Midiáticos: Jornalismo e Entretenimento, doutora em Ciência Política e pós-doutoranda em Comunicação
A surpresa seria se as pautas do aborto e da equiparação salarial entre homens e mulheres estivessem bem específicas nos planos de governo. Lendo os planos de governo lembrei da presidente Dilma Rousseff na campanha de 2010. Ela tentou tocar na pauta do aborto e depois passou a campanha inteira sofrendo pelo que falou. Ela teve até que escrever uma carta à população e, ainda assim, foi super genérica. Eu costumo dizer que a política é feita de homens para homens e quando surge uma questão feminina eles silenciam. A conversa com o congresso (sobre o aborto) é quase impossível. As bancadas mais fortes na Câmara são a bancada ruralista, a bancada da bala e a bancada evangélica. E a bancada evangélica vai trancar qualquer pauta ligada ao aborto”
“A mulher é usada na propaganda eleitoral como moeda de troca. Quando interessa, ela aparece na pauta do debate eleitoral. Um exemplo é quando você vê o Bolsonaro falando algo sobre a mulher. Ele que é o candidato mais misógino que vimos nos últimos anos! Fora isso, a própria equiparação salarial não tem nenhuma proposta concreta. É tudo muito genérico quando a pauta é o feminismo. É uma política de homens para homens. Quando a mulher aparece nos planos de governo, ela aparece ainda associada a políticas voltadas para criação de creches, ou com alguma função mais familiar. A mulher não assume o protagonismo nos planos de governo. Mesmo tendo duas mulheres como candidatas a presidente e quatro como vices, não há protagonismo feminino.”
Beatriz Pedreira, é cientista social e especialista em inovação política, cofundadora do Instituto Update (instituto que mapeia iniciativas de inovação política na América Latina)
Eu não fiquei surpresa, mas fiquei impressionada com a pouca presença das mulheres nos planos, mesmo nos candidatos que têm uma visão mais progressista. Mesmo no que diz respeito a iniciativas de incentivo à equiparação salarial, qualquer mudança na legislação precisaria passar pelo Congresso. O que o presidente pode fazer é criar campanhas e incentivos para começar a discutir de uma forma mais direta isso na sociedade. A equiparação salarial entre homens e mulheres que ocupam os mesmos cargos já está na Constituição, só precisamos encontrar maneiras de cumprir.”
“O aborto é um tema muito sensível, um tema que não tem espaço para discussão na sociedade brasileira. Muitos candidatos, mesmo pessoalmente à favor, entendem essa iniciativa como inviável politicamente. É um tema extremamente impopular. Somos uma sociedade conservadora, religiosa, que tem pouquíssima informação sobre a descriminalização do aborto como política de saúde pública. Não temos nenhuma conscientização sobre isso. É outro tema que depende do Congresso. O que o presidente pode fazer é criar campanhas de conscientização, ir trabalhando isso na sociedade para desmistificar esse processo. Os números são muito racionalmente explicáveis, mas o tema é ainda muito tabu. É uma questão de tempo, não é algo para agora.”