BSV Especial Coronavírus #19 Aglomerações, centrão e a nota de 200
Geórgia Santos
4 de agosto de 2020
O Brasil está em um momento bastante delicado. Já passamos do 90 mil mortos em função do novo coronavírus, mas o presidente Jair Bolsonaro, que há algumas semanas testou positivo, parece não se preocupar, afinal, está em viagem pelo Brasil, provocando aglomerações, cumprimentando as pessoas e, é claro, removendo a máscara.
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Foi o que ele fez no Piauí, por exemplo, descumprindo TODOS os protocolos de segurança
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Bem, Ele pode não estar preocupado com a pandemia, mas há uma movimentação de bastidores que deve estar tirando o sono de Jair Bolsonaro. O racha do BLOCÃO. O Blocão da Câmara é um grupo de partidos formado, basicamente, por grande parte do Centrão e por deputados da base aliada do governo. Já o Centrão é o grupo informal de partidos que costumam buscar proximidade com o governo em troca de vantagens, sem muita solidez ideológica. O que acontece agora é que partidos que fazem parte do centrão como MDB, DEM, PTB e PROS estão desembarcando do blocão e isso pode ser um pepino enorme para o governo.
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Mas isso levanta uma questão maior. É possível governar sem o Centrão?
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Ah, não podemos deixar de falar, ainda, na nova nota de 200 reais. Que estampará o Lobo-Guará, embora o lugar de honra seja, nos nossos corações, da querida ema.
Participam Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
A eleição de Jair Bolsonaro infectou a democracia brasileira com um vírus antigo
O vírus do autoritarismo
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Desde 2013 testemunhamos a fragilização do regime democrático no Brasil. No começo de tudo, as manifestações, depois um derrotado que não admite o resultado das eleições, o que leva a mais manifestações e um golpe institucional. Depois a preferência por um candidato autoritário. Até que chegamos à militarização do governo, mesmo conhecendo a experiência da Ditadura. Tudo isso levou a uma constante perda de direitos, aumento da já profunda desigualdade social e um crescimento da radicalização política no país. Como se não bastasse, em 2020, o mundo é assolado por um vírus novo. O novo coronavírus, que no caso do Brasil acentua os problemas gerados pelo vírus antigo e hoje temos milhares de mortos por completa inaptidão de um governo autoritário e militarizado.
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Vivemos, hoje, em uma democracia infectada
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Produção: Geórgia Santos e Raquel Grabauska. Texto, apresentação e edição: Geórgia Santos. Direção artística e locução: Raquel Grabauska. Trilha Sonora: Gustavo Finkler
No Rio de Janeiro, um homem disse que pagava o salário dos fiscais sanitário e sua companheira foi rápida em dizer aos servidores que ele não era um cidadão, mas um engenheiro civil, “muito melhor do que você”. Em Santos, São Paulo, desde o dia primeiro de maio é obrigatório o uso de máscaras na cidade. Mas o desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo Eduardo Siqueira resolveu não usar. E ainda agrediu verbalmente os guardas municipais que estavam cumprindo sua função, chamando-os de analfabetos.
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Esse país é construído sobre a percepção do status. E isso é doente
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E por mais ridículo que seja, esse elitismo aparece em todos os cantos. Até na reportagem em que uma mulher que não usava máscara aparece dizendo que não usaria a proteção e que era advogada, “meu amor”. Em Porto Alegre, empresários decidem se haverá lockdown ou não, uma questão de saúde pública. Enfim, há muitas pessoas que se acham acima da pandemia. Ricos, doutores, professores, jornalistas, intelectuais que querem acabar com o novo coronavírus por decreto.
Para falar sobre a cultura do “você sabe com quem está falando?” e as diversas formas em que isso afeta a pandemia, participam do programa os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
Nesta edição, falamos da epítome da pauta que une coronavírus e política. O presidente da República Federativa do Brasil, senhor Jair Messias Bolsonaro, disse que testou positivo para o novo coronavírus. Após esconder os testes há alguns meses, ele convocou uma entrevista coletiva PRESENCIAL para dizer que está infectado.
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Bolsonaro ainda prestou o desserviço de retirar a máscara ao final da entrevista, colocando em risco os repórteres que estavam no local. E, é claro, reafirmou a eficácia da cloroquina no tratamento contra a Covid-19, mesmo sem eficácia comprovada cientificamente
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Desinformação à parte – ou não – a declaração do presidente gerou muita suspeita, afinal, ninguém nunca sabe se o que Bolsonaro diz é verdade ou mentira. De todo modo, isso ainda tem inúmeras implicações tanto no combate ao Covid-19 quanto na política brasileira. Depois de ele confirmar que está infectado, vimos pessoas torcendo pra que ele morra; outras dizendo que essa torcida é falta empatia; notamos o nítido enfraquecimento da popularidade de Bolsonaro; e, é claro, testemunhamos o presidente da República virando garoto-propaganda de um remédio que ele estocou sem respaldo cientifico e agora não tem onde desovar.
Participam do programa os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
BSV Especial Coronavírus #16 Fake News em tempos de pandemia
Geórgia Santos
9 de julho de 2020
Desde março, os jornalistas do BSV discutem os diversos aspectos da pandemia e da política brasileira. Hoje, eles falam sobre as Fake News, que não só bagunçaram e bagunçam a política como já são um problema para quem quer se informar a respeito do coronavírus.
Uma pesquisa realizada pela Avaaz, uma comunidade de mobilização online que leva a voz da sociedade civil para os espaços de tomada de decisão em todo o mundo, indica que as Fake News sobre a pandemia atingem 110 milhões de pessoas no Brasil.E o estudo mostra que sete em cada 10 brasileiros acreditam em pelo menos uma notícia falsa sobre o coronavírus.
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E qual a resposta institucional? Aprovar, às escuras e às pressas, o PL das Fake News
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Parece bom, um projeto de lei que visa combater a desinformação, mas o buraco é mais embaixo. Apesar de ter sido submetido a mudanças, o texto aprovador pelo Senado no dia 30 de junho implica em sérios riscos à privacidade, à liberdade de expressão, abre caminho para a autocensura e para a perseguição a jornalistas.
O convidado desta semana é o jornalista Marcelo Trasel, presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), uma das entidades que mais criticou o fato de o projeto ter sido aprovado sem discussão com a sociedade civil e com sérios problemas. Participam os jornalistas Geórgia Santos, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
BSV Especial Coronavírus #15 O novo levante antirracista
Geórgia Santos
29 de junho de 2020
Neste episódio mais do que especial, discutimos o novo levante antirracista que, esperamos, desperte consciências pelo mundo.
George Floyd disse que não conseguia respirar enquanto era asfixiado por um policial branco em Minneapolis, nos Estados Unidos. O assassinato de mais um homem negro pela polícia despertou alguns dos maiores protestos que os norte-americanos viram em muito tempo. E o levante chegou até aqui.
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Os brasileiros saíram às ruas, sim, em meio a uma pandemia, porque precisam gritar que o racismo é inadmissível. Saíram às ruas porque aqui também jovens negros são mortos pela polícia
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Segundo levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, dos mais de 6 mil registros de mortes por intervenções policiais entre 2017 e 2018, mais de 75% eram de pessoas negras. Sendo que no Brasil esse grupo represente 56% da população, segundo o IBGE. Mas essa é só uma faceta do racismo no Brasil. Afinal, como diz a autora e filósofa Djamila Ribeiro no livro Pequeno manual Antirracista, o que está em questão não é um posicionamento individual, mas um problema estrutural.
Talvez as mobilizações por aqui não tenham tido, nas ruas, o mesmo porte das manifestações do Estados Unidos, mas trouxeram a luta antirracista pra o centro do debate.
O jurista e filósofo Silvio Almeida, autor do livro Racismo Estrutural, foi entrevistado no programa Roda Viva e explicou que o racismo é parte da estrutura da nossa sociedade e não pode ser pensado de forma isolada. Isso significa que se gritamos que vidas negras importam, precisamos encarar o problema do racismo de frente. Entender que o racismo não necessita de intenção para se manifestar. E entender, que, principalmente, o silêncio torna nos torna ética e politicamente responsáveis pela manutenção do racismo.
Por isso a gente vai falar, sim, sobre racismo, sobre as nuances do racismo no Brasil e sobre, é claro, a luta antirracista. Participam os jornalistas Geórgia Santos e Airan Albino. Também há uma entrevista com o jornalista e pesquisador Wagner Machado, que fala sobre como o negro é retratado ou inviabilizado na televisão brasileira, seja no entretenimento ou no jornalismo. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
BSV Especial Coronavírus #14 Bolsonaro subindo no telhado
Geórgia Santos
20 de junho de 2020
Abraham Weintraub não é mais Ministro da Educação, para felicidade geral da nação e daqueles que, segundo ele, não tem Deus no coração. Mas muita água rolou nesta semana antes da saída de Weintraub. Muita.
Na segunda-feira, 15, a extremista bolsonarista Sara Winter foi presa pela Polícia Federal (PF) em função de sua participação em manifestações antidemocráticas. A prisão foi decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da Procuradoria Geral da República (PGR).
Na terça-feira, 16, como parte do mesmo inquérito que investiga a origem de recursos e a estrutura de financiamento desses grupos suspeitos da prática de atos antidemocráticos, a PF bateu à porta de aliados de Jair Bolsonaro. A polícia cumpriu uma série de mandados de busca e apreensão solicitados pela PGR. A ação atingiu parlamentares como o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) e influenciadores como o blogueiro Allan dos Santos. Fernando Lisboa, outro alvo, outro blogueiro, até chorou.
Na quarta, 17, o pleno do Tribunal de Contas da União (TCU) aprovou um pedido para fazer um levantamento do número de militares da ativa e da reserva nos últimos três governos. E, é claro, fazer um levantamento especialmente sobre os militares no governo Bolsonaro. A ideia é verificar se há uma militarização excessiva do serviço público. ?Mas o TCU seguiu dando o que falar na quinta-feira, 18, já que o Ministério Público (MP) solicitou que se investigue uma suspeita de compra superfaturada de cloroquina pelo exército.
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Mas a quinta-feira não acabou por aí
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Fabricio Queiroz foi preso. O Queiroz. O próprio. Acusado de gerenciar as rachadinhas dos salários de servidores dos gabinetes da família Bolsonaro, em especial o senador Flávio Bolsonaro. Ele também é apontado como uma das conexões do clã com milicianos e com o Escritório do Crime, no Rio. Queiroz foi preso em Atibaia (SP), em um imóvel de Frederick Wassef, advogado de Jair Bolsonaro. O próprio.
Bolsonaro fez questão de defender Queiroz publicamente, dizendo que foi uma prisão espetaculosa, como se ele fosse o pior bandido da face da terra. Bolsonaro ainda fez questão de dizer que ele não estava foragido e que não havia mandado de prisão impetrado contra ele.
Mas a quinta-feira ainda não acabou. Foi justamente na quinta-feira que os brasileiros se despediram do inadequado Abraham Weintraub do Ministério da Educação e testemunharam o abraço mais estranho de todos os tempos, como mostra a foto de capa. Aliás, bizarro e, assim como o ministro, inadequado em tempos de pandemia.
Na sexta-feira, 19, o nosso país, governado por um grupo criminoso e altamente disfuncional, atinge o número de um milhão de casos de coronavírus e quase 50 mil mortes.
Para fazer uma análise sobre o impacto de todos esses fatos no governo Bolsonaro, participam os jornalistas Geórgia Santos, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
Nós pensávamos que o assunto dominante seria o avanço da Covid-19 pelo Brasil, mas não é. O assunto dominante continua sendo Jair Bolsonaro, que está em guerra declarada contra o Supremo Tribunal Federal (STF).
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Bolsonaro afirma que o STF age contra a liberdade de expressão. Logo ele, que espantou a imprensa do Planalto. Pela primeira vez no período democrático, parte dos veículos da mídia tradicional se recusa a fazer cobertura por falta de segurança
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Esses defensores da liberdade de expressão que acham normal uma ameaça de morte. Como disse Eduardo Bolsonaro em entrevista ao jornalista José Luís Datena, na intimidade, até um pais pode dizer que quer matar o filho.
Que coronavírus, que nada, nem Ministro da Saúde temos. Participam os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol. Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
BSV Especial Coronavírus #11 Enfim, o vídeo de Bolsonaro
Geórgia Santos
22 de maio de 2020
E como já é de praxe, estamos sextando! De novo por culpa de Jair Bolsonaro. O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, derrubou o sigilo do vídeo da famigerada reunião ministerial do dia 22 de abril. Segundo Sérgio Moro, foi nesta reunião em que o presidente ameaçou interferir na Polícia Federal.
O vídeo é bastante claro com relação a tentativa de interferência e confirma a denúncia de Moro. Mostra que Bolsonaro incorreu em crime de responsabilidade. Mas o vídeo mostra mais que isso.
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Mostra que somos governados por pessoas ignorantes, grosseiras, ineptas e cruéis
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O ministro da educação, Abraham Weintraub, pede a prisão de ministros do STF e destila podridão. O ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, quer aproveitar que a mídia só fala em Covid para afrouxar regulação ambiental. O ministro da Economia, Paulo Guedes, garante que o Brasil surpreendera o mundo. Já está surpreendendo. Estamos perto de ser o país com o maior número de mortes por dia em função do coronavírus.
Participam os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natuch e Tércio Saccol.Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.
Mais de 7 mil pessoas morreram e o presidente fez o que Paulo Cintura – sim, aquele mesmo da Escolhinha do Professor Raimundo – chamou de FESTA MARAVILHOSA. Mais de 7 mil pessoas morreram e, no Twitter, o governo federal celebra os números do combate ao coronavírus no Brasil. Segundo o texto postado pelo perfil da secretaria de comunicação do Palácio do Planalto, os números seguem amplamente positivos.
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E nesse caldeirão de negação e irresponsabilidade que poderia ser classificado como criminoso, há milhares de brasileiros que escutam o presidente, defendem o presidente
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Há milhares de brasileiros que lutam por um projeto econômico que ninguém entende; que minimizam a doença; que fazem pouco caso das mortes; que protestam contra profissionais da saúde, contra quem defende o isolamento social amplamente apoiado pela ciência.
É dessas pessoas que vamos falar hoje. Na verdade, a ideia é tentar entender se há maneira de falar com essas pessoas, que acreditam que o coronavírus é uma gripezinha, e qual retórica usar para combater o bolsonarismo. Participam os jornalistas Geórgia Santos, Flávia Cunha, Igor Natusch e Tércio Saccol.Você também pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes e Castbox.