10 coisas que odeio em vocês, os do Twitter – e em mim
Geórgia Santos
21 de junho de 2017
Fiquei umas duas semanas relativamente afastada do Twitter. É impressionante o nosso poder de não evoluir em duas semanas. E falo de mim, de ti e de vocês, que continuaram no Twitter. Hoje foi a primeira vez em 15 dias que parei efetivamente para ler o que as pessoas estão a dizer no infame microblog e descobri dez coisas que odeio em vocês, os do Twitter – e em mim, claro
.
1. Somos malvados
Já perceberam a facilidade que temos pra xingar alguém com base em 140 caracteres? E a gente acha bonito. Retuita e curte e comenta e xinga e fala da bunda daquela, da celulite daquela outra, fulano é ladrão, sicrano é assassino, vai estudar, vai se enxergar, tu não sabe nada, sua ridícula.
2. Somos desonestos intelectualmente
Todo mundo tem uma agenda e não tem nada de errado com isso. Vou escrever e retuitar o que me interessa e colocar as coisas nos meus termos. O problema é quando a gente fala algo sabendo que não é verdade, especialmente quando temos grande audiências. Só um exemplinho de hoje: o deputado estadual Marcel Van Hattem (PP) disse que a repórter Vitória Famer, da Rádio Guaíba, é uma “militante de esquerda radical” e disse que ela tem “postura de militante de extrema esquerda”. Nem vou entrar no mérito da competência da Vitória porque não precisa, mas o deputado Van Hattem é um cara informado e familiarizado com a Ciência Política, até onde sei. Sendo assim, ele sabe que nem a Vera Guasso é extrema esquerda e, mesmo assim, coloca esse rótulo em uma repórter que simplesmente falou algo que ele não gostou. Porque cola com o público dele, pronto. Temos dois problemas aí: ele está atingindo a integridade do trabalho de uma repórter e está fazendo isso com uma afirmação que ele sabe que é não é verdade. E a verdade é que a gente tem uma tendenciazinha a fazer isso com nossas coisas, também. A menos que eu esteja superestimando as pessoas.
PS.: a desonestidade intelectual do deputado acometeu muitos dos seus seguidores, que passaram a atacar a repórter de várias maneiras nas redes sociais. Não estou dizendo que foi a gênese, mas é parte de um fenômeno bizarro.
3. Somos obcecados com a dupla Grenal
Eu sou gremista, torço, choro, sofro e todo o pacote. Falo de Grêmio, corneteio o colorado e tudo o mais, mas a gente é obcecado. Hoje teve a tal da coluna pedindo pra parar com a corneta, o que foi ridículo. Mas é motivo pra passar o DIA INTEIRO FALANDO DISSO?
4. Somos cegos politicamente
Não precisa de explicação, né? É nosso, é lindo. É deles, é feio. Essa é nossa base política.
5. Não temos senso de humor
Assim como xingamos a galera rapidinho, nos ofendemos com QUALQUER COISA com a mesma velocidade. E não, não estou falando de preconceito, assédio, agressão verbal etc. Estou falando de escrever uma cornetinha, fazer uma piadinha e receber MIL replies de pessoas que precisam de umas 12 horas de sono. É muito ressentimento, muita desconfiança. Por exemplo, meu marido é comentarista esportivo, e no Twitter, QUALQUER coisa que ele diga tem o objetivo de DESTRUIR Grêmio ou Inter (voltando ao ontem 3). Sério mesmo?
6. Juramos ser especialistas
Desse aqui sou culpada até o pescoço. Temos uma necessidade IMPRESSIONANTE de comentar todo e qualquer evento que aconteça na Via Láctea e juramos ser especialistas de absolutamente tudo. A gente tem certeza que tem as respostas certas e soluções para todos os males do mundo. Preguiiiiiça.
7. Somos preconceituosos
A todo instante é possível ler algum tuíte em que alguém fala mal de gays, estrangeiros, refugiados, mulheres, negros, pobres, ricos, petistas, tucanos, de direita, de esquerda, disso, daquilo. E quando paramos pra pensar, há nenhuma lógica por trás do preconceito puro e simples. É normal ter receio com o desconhecido, afinal, não conhecemos. Mas a quantidade de discursos inflamados sobre o desconhecido é assustadora. A quantidade de discursos inflamados contra a pura e simples existência de determinadas pessoas é desoladora.
8. Somos provincianos
É impressionante como somos atrasados, simples assim. A impressão que dá é que ficamos andando em círculos. Vocês se deram conta que, de uma forma ou outra, ainda rivalizamos sobre a Revolução Farroupilha? Sem falar nesse papo de somos melhores em tudo.
9. Não conseguimos mudar de assunto
É sempre a mesma coisa.
10. Odiamos demais
Quer prova maior do que eu fazer uma lista sobre o que odeio?
Substituindo – Sacolas plásticas por sacolas de pano
Geórgia Santos
18 de junho de 2017
Quando a gente fala em adotar hábitos mais sustentáveis, de imediato imaginamos imensos sacrifícios. Coisas caras, gastos em excesso, investimentos que a gente simplesmente não tem como bancar.
.
A verdade é que alguns hábitos não são apenas simples de adotar, são baratos e economizam dinheiro e o planeta.
.
A melhor maneira de começar a fazer isso é substituir aquela sacola plástica de supermercado por sacolas de pano – ou outro material, desde que seja grande e possa ser reutilizado. Pode ser até uma bolsa de palha. Tá super na moda e é sustentável, um belo combo. Aquilo que nona chamava de sporta, mesmo =)
É muito simples: é só deixar algumas sacolas de pano no porta-malas e levá-las pra o mercado na hora de fazer as compras do mês ou qualquer outra. Se não dirige, não é problema. Eu não tenho carro e sempre que vou ao mercado levo minha sacola de pano dentro da mochila ou da bolsa e pronto, tá resolvido o problema.
.
Impacto das sacolas plásticas ao meio ambiente
Parece bobagem, afinal, que tanto impacto uma sacolinha pode causar? Uma sacolinha, pouco, o problema é que se estima que cada pessoa use 25 mil sacolas plásticas ao longo da vida. Pra se ter uma ideia, OITO MILHÕES DE TONELADAS vão parar nos oceanos todos os anos. Só os brasileiros consomem um milhão e meio de sacolas plásticas POR HORA.
.
Agora junta tudo isso ao fato de que o plástico leva 400 anos para se decompor. Temos um problema
.
Como lidar com o problema?
É complicado, óbvio. Primeiro porque não existe substituto perfeito. Há duas alternativas: 1) Sacola reutilizável, que é o que proponho aqui. Ainda assim, uma sacola de pano tem de ser usada mais de cem vezes para compensar a troca, mas é um começo se a pessoa não jogar fora a sacola de pano, né; 2) Sacolas biodegradáveis ou compostáveis. As primeiras se deterioram no meio ambiente e as segundas podem ser recicladas por indústrias especializadas.
Com relação a políticas públicas, observa-se dois movimentos. O primeiro é a taxação, em que as sacolas plásticas não são distribuídas gratuitamente, fazendo com que o consumidor seja estimulado a levar sua sacola reutilizável. O segundo é o banimento completo de sacolas que não são biodegradáveis. A Itália foi o primeiro país a aderir a essa medida, ainda em 2011. Aqui no Brasil, o Ministério do Meio Ambiente tem um programa chamado Saco é um Saco, que trabalha com a conscientização para o uso de sacolas plásticas.
Nesta semana visitei Balboa (a ilha e a península), na Califórnia. O lance é que não tem como não lembrar de Arrested Development ao ver essa placa, pois é lá que grande parte da série se passa.
.
Mas o lance mais lance, mesmo, é que o serviço de streaming Netflix confirmou a tão esperada quinta temporada da série para 2018 e para nooooooooossa alegria. O retorno desse (já) clássico da TV americana mantém o estilo e o formato, já que o criador original, Mitchell Hurwitz, está de volta. Além disso, o elenco regular é exatamente o mesmo das temporadas anteriores.
Arrested Development gira em torno de Michael Bluth (Jason Bateman) e sua (mais do que) excêntrica família. Ele é o primogênito de George Bluth Sr. (Jeffrey Tambor), notório por fraudar absolutamente tudo o que é possível em seus empreendimentos imobiliários e ser preso já no primeiro capítulo, e Lucille (Jessica Walter), uma socialite egocentrica e péssima mãe que oscila entre ser superprotetora e super negligente. Michael ainda é pai solteiro e cria, sozinho, o filho George-Michael (Michael Cera). Sim, o nome dele é esse.
.
O desafio desse cara é manter os negócios funcionando após a prisão do pai e tentar impedir que a família mimada gaste o que eles já não tem.
.
Após as contas da família e da empresa serem congeladas, ele percebe o quanto seus estranhos irmãos George Oscar Bluth II (Will Arnett), Buster Bluth (Tony Hale) e a irmã Lindsay Funke (Portia de Rossi) gastam. Sem contar no bizarro cunhado, Tobias (David Cross) que teve sua licença de psiquiatra cassada e agora persegue carreira no teatro (e toma banho de short jeans). Os dois tem uma filha, Maeby (Alia Shawkat) – que em inglês soa como Talvez.
.
“Foi indicada a 25 Emmy Awards e venceu seis, aclamada pela crítica”
.
Originalmente, Arrested Development foi ao ar por três temporadas na Fox, entre 2004-2006. Apesar de nunca ter alcançado grandes índices de audiência, a série se tornou referência como uma das melhores de todos os tempos. Tanto que foi indicada a 25 Emmy Awards e venceu seis, aclamada pela crítica. Hoje é uma das queridinhas do público cult, tanto que a Netflix resolveu contratar o elenco para uma quarta temporada em 2013. E agora, cá estamos no aguardo da próxima etapa.
Em um comunicado no mês passado, Hurwitz disse que “em conversas com executivos da Netflix, nós todos sentimos que histórias sobre uma família narcisista e de comportamento errático no ramo imobiliário – e seus desesperados abusos de poder – não são representadas adequadamente na TV”, em uma clara e cômica referência à família Trump.
.
“Eu sou tão agradecido a eles por esse sonho se tornar realidade e poder trazer os Bluths de volta à vida, George Sr., Lucille e as crianças; Michael, Ivanka, Don Jr., Eric, George-Michael, e quem eu estou esquecendo? Ah, Tiffany. Eu disse Tiffany?”
.
Se ainda não viu Arrested Development, todas as temporadas estão disponíveis na Netflix.
Sou contratada como repórter. É o que mais gosto e melhor sei fazer como jornalista. Seria muito feliz sendo repórter o resto da vida. Porém, de uns tempos pra cá venho observando que o mercado nem sempre nos leva pelo caminho mais romântico ou nem sempre conseguimos conduzir nossa carreira por ele. Precisamos ser, digamos assim, mais versáteis.
.
A gente amadurece e é surpreendido a cada passo. Se descobre também. Vê que tem outros talentos. E isso também pode ser legal.
.
Digo isso não pra jogar a toalha, mas porque as coisas estão mudando muito e toda esta movimentação das “placas jornalísticas” desperta o vulcão da reflexão sobre a necessidade de sermos cada vez mais versáteis e, no bom linguajar popular, “pau pra toda obra”. Um exemplo: a figura do repórter especial tem sido extinta aos poucos. Não encontramos mais nas redações um cara destacado somente para grandes matérias ou coberturas especiais.
.
O repórter que consegue fazer pautas mais trabalhadas é o mesmo que apurou ocorrência policial a semana toda e que fez bico na produção quando o colega foi para o departamento médico.
.
Outro exemplo: as editorias estão sendo extintas. O enxugamento das redações provoca a pulverização das pautas conforme a demanda e a equipe. Hoje eu cubro economia, amanhã me pautam para meio ambiente. Provoca também dança das cadeiras, o que nem sempre agrada a gregos e troianos. Mais um exemplo: oportunidades diferentes/inéditas surgem conforme o andar da carruagem. Quando menos se espera, vem o convite para cobrir uma editoria aqui, uma ancoragem ali, uma função nova acolá.
.
Aproveitar estas janelas pode ser uma forma de descobrir novos talentos e aptidões.
.
Último exemplo: a boa notícia desta movimentação é que ela abre espaço, e muito, para iniciativas e projetos inovadores dentro do jornalismo. Enquanto a mídia convencional está encolhendo, uma mídia ousada, em tempo real, também confiável, às vezes até bem segmentada, está crescendo.
Volto a dizer: não sou a favor de jogar a toalha e desistir de toda a estratégia inicial de jogo, mas voto na versatilidade. Aproveitar novas oportunidades não é perda de tempo. E repórter que é repórter vai ser sempre, porque isso tá no sangue.
Uma ode a Belchior – Amar e mudar as coisas, me interessa mais
Geórgia Santos
1 de maio de 2017
Toda vez que eu ligo o computador, sem exceção, leio algo que me deixa devastada. Pode ser uma notícia, um tuíte aleatório de uma pessoa errática, ou o comentário em um portal de hardnews que, de maneira quase sádica, eu insisto em ler.
A minha alucinação, é, de fato, suportar o dia-a-dia. E o meu delírio é a experiência com coisas reais quando já parece que não pertenço a esse mundo
Não posso pertencer a um mundo em que o ódio é a gênese do que se acredita ser raciocínio lógico; em que existe origem certa ou errada; em que mulher é sinônimo de nada; em que ditadores são aclamados. Eu não posso pertencer a um mundo em que um rapaz delicado e alegre, que canta e requebra, seja ridicularizado e em que o amar é pecado.
Às vezes eu simplesmente sinto que o sinal está fechado pra nós, que somos jovens. Parece exagero, eu sei. Pior ainda, soa como reprise, como o desespero que era moda em 76. Mas ando mesmo descontente e quero que esse canto torto ecoe e, feito faca, corte a carne de vocês.
Nós não podemos amar o passado e viver como nossos pais, precisamos evoluir. Precisamos acordar e fazer o destino com o suor das nossas mãos. Aproveitar o momento em que nossa voz resiste e, por isso, podemos cantar muito mais.
Me assusta que meus horrores não assustem a todos. Confesso. E me assusta porque ao vivo é muito pior
Meninos de 14 anos acham que estupro é culpa da menina que usa saia curta. Adolescentes acham que ser gay é errado. Crianças rejeitam o colega diferente. Jovens gritam, a plenos pulmões, que comunistas tem que morrer.
Ainda assim, acredito nos bons ventos do futuro. Que uma nova mudança, em breve, vai acontecer e que o passado de preconceitos é uma roupa que não nos serve mais. E a minha parte eu faço, amando e mudando. Tenho ouvido muitos discos, conversado com pessoas, caminhado meu caminho. Porque amar e mudar as coisas, me interessa mais.
Musico Belchior em 1977. FOTO DIVULGAÇÃO.
Obrigada, Belchior, por me emprestar as palavras deste texto e algumas ideias. Obrigada, Belchior, por me permitir cantar política e a sociedade com a melodia de quem fala de amor.
Parece uma pregunta idiota, e é. É uma pergunta extremamente idiota. O problema é que a resposta da sociedade tem sido ainda mais imbecil. Sobre o que é mais importante, planeta ou lucro, estamos ficando com a segunda opção.
Alguém sempre vai dizer que é exagero, que não é bem assim. Que esse papo é coisa de ecochatos da esquerda autoritária que são contra o empreendedorismo. Que o planeta está a alvo e que o aquecimento global é invenção dos chineses (?). Acontece.
O problema é que esse alguém é o presidente dos Estados Unidos
Mesmo que o presidente em questão seja Donald Trump, o que é algo bizarro em si, é extremamente preocupante. Significa que o comandante em chefe do país mais poderoso do mundo acredita que a humanidade pode fazer o que quiser com os recursos naturais e que tudo ficará bem assim. Senão melhor. O absurdo chegou ao ponto em que se está negando a ciência. O resultado é que as pessoas foram obrigadas a marchar pelo senso comum, como bem disse o nosso colunista Sacha Nixon, no espaço Nós US.
Mas mesmo que seja uma marcha pelo mínimo e pelo óbvio, que coisa tão linda é ver lutarem pela bem estar comum
Sim, porque não estamos falando de um protesto baseado em questões individuais. Talvez na Marcha pela Ciência (March for Science) alguém tenha protestado porque perdeu financiamento para a pesquisa que estava realizando, mas no caso da Marcha das Pessoas pelo Clima (People´s Climate March), que ocorreu neste final de semana, a reivindicação é simplesmente continuar existindo.
Parece drástico, mas não é. Chegamos a um ponto em que absorvemos o descontrole em nossas rotinas como algo natural. Com a água, com o lixo, em nossas casas, na escola, em nossas indústrias. É mais barato, ganho mais, vendo mais, lucro mais, mais, mais, mais.
E vivemos menos, menos, menos, menos
Que bom que fomos às ruas para proteger nosso meio ambiente e declarar a responsabilidade do presidente dos Estados Unidos ao conduzir essa questão. Precisamos celebrar o fato de estarmos acordados para dizer, em alto e bom som e no meio da rua, que o planeta é mais importante. Respondendo a uma pergunta idiota.
Foi uma semana congelante no sul do Brasil, segundo relatos que recebi. Previsivelmente, a gauchada já começa a se coçar pra viajar pra serra e passar aquele frio gostoso enchendo a cara de vinho em frente a uma lareira e coisa e tal. Três amigas e eu resolvemos fazer isso e viajamos para Cambará do Sul há quase cinco anos. E valeu a pena, mas foi uma viagem turbulenta – óbvio.
O suposto atropelamento deixou a viagem estranha, mas bastante propensa a ataques de riso eventuais. No meu caso, de puro nervosismo. Provavelmente algo que herdei de minha mãe, considerando que não há ninguém no mundo que ria mais que ela ou o faça em situações mais inadequadas. E os risos eram realmente aleatórios, não estávamos bebendo nem fumando maconha. Só coca-cola e uns marlboros.
Quando avistamos a placa indicando que estávamos em Cambará do Sul, já havia passado de 1h da manhã. A cidade parecia o cenário de um filme do Clint Eastwood. Abandonada, escura, com uma baita neblina e sem uma viva alma na rua. Veja bem, almas, havia. Vivas, nenhuma.
Todos os celulares estavam sem bateria – lembrem, era 2012 e as fotos foram tiradas com câmera digital – e nós não tínhamos a menor ideia de como chegar à pousada. Estávamos condenadas a vagar até que alguma pessoa aparecesse. Renata começou a dirigir em círculos pela cidade, na esperança de que encontrássemos alguém que pudesse nos ajudar. Felizmente, de alguma forma, chegamos até a casa em que ficava a Brigada Militar.
Neste ponto é importante ressaltar que Fernanda e eu estávamos em meio a um dos piores ataques de riso de toda a viagem. Eu não conseguia respirar, meu diafragma estava distendido e louco pra soluçar e minha barriga estava tão tensa que a câimbra já se anunciava. Não bem câimbra, mas aquela dor que dá quando a gente corre sem ter o menor preparo físico, sabe. Por isso, Renata e Evelin, muito responsáveis, sugeriram que nós ficássemos no carro pra que os policiais não se sentissem ofendidos. Justo.
.
Elas desceram e começaram a bater na porta, aparentemente sem muito sucesso. Quando já estavam voltando pra o carro, aparece alguém na porta. Sem farda e armado. Elas se borraram, Fernanda e eu rimos ainda mais
.
Esclarecida a situação de estarmos vagando pela madrugada, as gurias pediram ajuda. Se desculparam pelo nosso comportamento infantil e eles, gentilmente, explicaram como chegar à pousada. Quando elas voltaram pra o carro, perguntei pra Renata se ela havia entendido, ao que ela me garantiu que sim. Mentira. Duas quadras depois ela não sabia mais pra onde ir e nós não conseguíamos mais encontrar a Brigada.
.
“Sem demora, notei que um carro nos seguia. As gurias estavam céticas, me chamaram de paranóica”
.
A essa altura nós já não ríamos mais. Estávamos com medo, mesmo. E tínhamos razão pra isso. Sem demora, notei que um carro nos seguia. As gurias estavam céticas, me chamaram de paranoica. Riram. Mas aquilo estava estranho. Renata resolveu testar o motorista e começou a entrar em ruelas improváveis. A cada curva que nós fazíamos, eles seguiam o mesmo trajeto. Viramos à direita. Eles também. Viramos à esquerda, eles também.
Ficamos desesperadas. Assustadas de verdade. Estávamos em uma cidade fantasma sendo seguidas por um automóvel que parecia ter quatro homens dentro – exatamente a quantidade de mulheres em nosso carro. Renata foi mais corajosa –e doida – e resolveu parar o carro e perguntar o que estava acontecendo. Não reagimos bem.
.
“Tu tá louca. Eles vão nos estuprar, nos matar, a gente não vai sair viva disso. Não para esse carro. A gente vai ser presa fácil. Não faz isso!!!”
.
Eu estava em pânico, a Fernanda chorava, a Évelin blasfemava e a Renata abaixou o vidro e perguntou: “O que vocês querem?” Notando o nosso desespero, o rapaz sorriu e disse: “A gente sabia que vocês iam se perder, por isso resolvemos ajudar.” Eram os brigadianos que decidiram nos seguir, garantindo que chegaríamos ao destino. “A gente leva vocês até lá, segue o carro”, explicou. Obviamente, diante do ridículo, caímos na gargalhada de novo e fizemos o que eles disseram.
Mas algo soou estranho. Eles não estavam de viatura ou fardados. Hm, não parecia certo. Ao mesmo tempo, o carro seguia para uma rua escura, de chão batido, sem casas ou prédios no entorno. Todas pensamos a mesma coisa.
.
“Nós somos muito trouxas. É uma emboscada!!!!”
.
Começamos a gritar, eu comecei a chorar e a Fernanda não parava de gritar que era uma emboscada. A Évelin e a Renata tentaram manter a calma, mas elas estavam apavoradas também. “Eles vão nos estuprar no mato, cortar nossos corpos em pedacinhos e ninguém nunca mais vai encontrar. Meu Deus, nossas famílias. Que horror. Arranca esse carro, foge. É uma emboscada! É uma emboscada!!!!”
Eu sei que parece coisa de quem vê muito Criminal Minds, mas a situação era tensa. Eu alternava entre risos e choro e estava muito assustada. Até que tudo ficou ainda pior. Eles pararam o carro em uma rua escura e, aparentemente, sem saída. Não conseguiríamos passar por eles. Nisso, outro carro surge do nada e nos fecha. Fodeu.
.
“Eu disse que era uma emboscada, a gente vai morrer!!!”, gritou a Fernanda
.
A essa altura do campeonato, todas nós acreditávamos nisso. De verdade. Quando eles desceram do carro, o discurso de despedida já começava a ser ensaiado e as lágrimas eram bastante intensas. Era o fim. Adieu. Era uma emboscada.
Exceto pelo fato de que estávamos em frente à pousada e o cara que “nos fechou” só estava entrando na garagem da própria casa. Mas também, dá uma olhada na rua do bagulho. Imagina à noite. Compreensível, né?
Sim, adivinhou, caímos na gargalhada. De novo. Só que dessa vez foi difícil de parar. Eu levei muito tempo. Acordamos o dono da pousada, demorei uma hora pra fazer a lareira funcionar (que já estava preparada e era só acender um fósforo) e quase fui expulsa do quarto ao melhor estilo Big Brother, com votação e tudo, porque não calava a boca.
Hoje “A Emboscada” virou nome de grupo no whatsapp. Mas a saga daquele final de semana não parou por aí. Ainda fizemos estragos em São Francisco de Paula…
.
Lugares para ver
Fortaleza e Itaimbezinho
O turismo em Cambará é totalmente voltado pra natureza e as grandes atrações são os canyons da Fortaleza e o Itaimbezinho. Particularmente, acho o da Fortaleza mais bonito e interessante. O único inconveniente é o acesso. A estrada pra chegar até lá é horrível. Mas não tem erro, é só seguir as placas, mesmo quando parece que alguém vai te matar no meio do nada. Chegando lá, é só caminhar bastante e explorar as trilhas ao máximo – e desviar dos boizinhos – e aproveitar a vista maravilhosa. Pra quem gostas de algo mais radical, é possível fazer a trilha no riacho que corta o canyon, mas pra isso é preciso procurar as empresas especializadas que oferecem esse serviço. Os hotéis e pousadas, na maioria, oferecem pacotes com passeios exclusivos por trilhas em diversos locais da região.
Já o Itaimbezinho tem uma infraestrutura mais preparada para receber turistas, com guias, banheiros e tudo muito bem sinalizado. Há duas trilhas, que o visitante escolhe de acordo com o quanto quer caminhar. Ao longo do caminho, há recantos lindos esperando por quem está afim de explorar o matagal, com riachos e cascatas pra recarregar as energias. Só tomem cuidado com os búfalos. Não é piada. Especialmente com neblina….
Turismo rural
Eu nasci na colônia, então passear por sítios e fazendas em meio a animais não me impressiona. Mas pra quem nasceu na cidade, pode ser um passeio interessante. Há uma série de estâncias que estão prontas para receber visitantes que queiram conhecer um pouco mais do universo campeiro. Os hotéis da região estão todos preparados pra indicar o melhor roteiro pra tua viagem.
.
Onde comer
Não é uma cidade grande, com grandes restaurantes. por isso, recomendo a hospedagem em um local que ofereça café da manhã. Os melhores restaurantes da cidade estão localizados no hotéis mais equipados – e caros -, que qualquer pessoa pode acessar. Mas há outras alternativas.
É um local delicioso que vende geleias e antepastos orgânicos, produzidos no local, a Querência Macanuda. Quando nós visitamos pela primeira vez, em 2012, só era possível fazer uma pequena degustação dos produtos. Hoje o sítio está preparado para receber quem queira degustar um espumante ou uma boa cerveja artesanal. Ainda oferecem tábuas de queijos, sorvetes e outras delícias.
O lugar perfeito pra quem quer experimentar uma boa comida campeira, sem falar na ótima seleção de cachaças que a casa oferece. É um espetáculo no inverno, com a comida reconfortante e fogões à lenha. A comida é maravilhosa e rola até um som bem gaudério.
Se tem grana sobrando, nem pense em ficar em outro lugar. É a experiência perfeita. Da vista à comida, dos spas à lareira. Desenhado para agradar até ao cliente mais exigente, é sofisticado sem apagar o clima rural da cidade.
Foram essas as cabanas difíceis de achar. Apesar do local ermo – que nem é tanto assim -, vale muito a pena. O preço é acessível e as cabanas são bem equipadas e aconchegantes. Uma ótima alternativa.
No espírito da Páscoa, flagrei a mim pensando em Jesus Cristo. Mentira, foi em chocolate. Mas não é o que parece. Pensei em como foi difícil descobrir que eu não era feita de chocolate. Ou seja, lembrei de quando percebi que nem todo mundo gostava de mim e que isso não ia mudar.
Nunca pensei que fosse tão atraente quanto cacau – e não falo do sentido físico, mas em termos de queridismo –, nem quando era criança. Mas por muito anos eu acreditei que se não fizesse mal a ninguém, as pessoas não teriam motivo pra não gostar de mim. Ledo engano.
Ainda na adolescência descobri que as pessoas podem não gostar umas das outras simplesmente porque sim
Fundamentalmente, não vejo problema nisso. Se eu vasculhar minha memória, vou encontrar pessoas de quem eu não gosto sem motivo pra não gostar. O lance é o impacto que isso causa nas nossas vidas. No meu caso, foram anos tentando desesperadamente agradar a todos.
Eu tentava ser a melhor aluna porque assim os professores gostariam de mim; falava bobagem com os meninos porque assim eu não seria uma menininha entediante; falava sobre meninices com as gurias porque assim eu seria uma amiga muito tri; me esforçava no vôlei pra ser escolhida na aula de educação física, e por aí vai. Eu sempre gostei do fato de as pessoas gostarem de mim. E nem sabia do que eu gostava mais.
O problema é que ao longo da vida isso foi ficando cada vez menos saudável – e mais submisso
Na faculdade era só uma versão crescida do colégio; na vida social, precisava emagrecer pra me acharem bonita; no trabalho, aceitava qualquer empreitada não pra “crescer na firma”, mas pra gostarem de mim. O resultado disso foi assédio moral e uma tremenda crise de identidade.
Eu não sabia mais quem eu queria ser
Talvez eu esteja exagerando um pouco afinal, carrego comigo essa tendência hiperbólica. Mas não é o que todos fazemos até certo ponto? A maioria de nós passa a vida tentando ser chocolate.
Me libertar disso foi muito interessante. Redescobri quem eu queria ser e virei esse sonho de cabeça pra baixo. Algumas pessoas me odeiam com razão e outras não tem motivo, e eu já não me importo com a segunda categoria. Dependendo da pessoa, acho até charmoso. É quase bom ser odiada por um mala.
Mas ei, nem Jesus era feito de chocolate, certo? Nem ele agradou a todos. E quanto aos pobres mortais, a gente vai conseguir ser, no máximo, uma barra de 70% cacau. Parece que é o melhor que há, charmosa, interessante, intensa e saborosa. Mas amarga pra alguns paladares.
Black-ish é uma mistura de tudo o que eu adoro: é engraçada, bem escrita e apresenta uma dura crítica à sociedade contemporânea sem pesar. A série de Kenya Barris está redefinindo o significado de sitcom.
Não precisa ser vazio para ser engraçado e não precisa ser pesado para ser relevante.
A série parte da premissa de que quando um negro norte-americano atinge um determinado status social, passa por uma espécie de branqueamento. Por isso o “ish”, em Black-ish, que em tradução livre seria algo como “Mais ou menos negro.” Ou seja, é difícil se manter conectado às origens e mais complicado ainda manter a família ciente de onde veio e do motivo pelo qual é importante lembrar disso.
Andre (Dre) Johnson Sr (Anthony Anderson) é um rico executivo do ramo da Publicidade e é casado com a médica Rainbow (Bow) Jhonson (Tracee Ellis Ross), com quem tem cinco filhos. A cada episódio, um dilema sobre como lembrar da relevância de sua origem e, principalmente, o longo caminho trilhado até aqui. Um bom exemplo pra quem nunca viu a série é o episódio em que Dre percebe que os filhos não sabem que Barak Obama é o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos. No mundo das crianças, isso é absolutamente normal. Obama é o único presidente que conhecem, afinal de contas. Chocado, o pai compreende que a família precisa saber do tortuoso caminho até a vitória do democrata em 2008 e valorizar o que ele representa.
Ele enfrenta, então, o dilema central: será que ele está desconectando os filhos de sua herança cultural ao oferecer os privilégios que ele não teve na infância?
Black-ish é diferente e nos mostra uma família tentando entender o mundo do qual faz parte, inclusive com suas brigas e dilemas morais. E o fato de ser sobre uma família negra não é acidental, é a identidade da série. Fala sobre racismo, sobre estereótipos, sobre brutalidade policial, Black Lives Matter, dilemas sobre relacionamentos entre negros e brancos e, em meio a isso tudo, encontra humor para divertir o telespectador brincando a duração (loooonga) dos cultos e com o fato de que Dre vê racismo em todo canto, pra citar alguns.
É, também, uma ótima oportunidade para nós, brancos, abrirmos os olhos de uma vez por todas. Eles simplesmente atacam temas sensíveis em todos os episódios e funciona: Obama ama, Trump considera racista. Isso diz muito.
Passamos pelos mosquitos de Cartagena, pelos sicários de Playa Blanca e, finalmente, chegamos ao final da saga da lua-de-mel nas ilhas caribenhas de San Andres e a comida mais do que suspeita.
Não tinha ouvido falar de San Andres até começar a pesquisar roteiros em potencial para relaxar com meu marido antes de voltar à realidade da vida. E conforme eu pesquisava, mais me convencia de que seria o final perfeito para um roteiro montado com muito amor. Afinal, é um pedaço de terra abençoado pelo universo e banhado pelo mar do caribe – sem custar os olhos, o nariz e a boca da cara como costuma ser com Cancuns da vida.
.
É, sem dúvida, um dos lugares mais lindos que já conheci na minha vida. E o melhor: é Zona Franca. Isso mesmo, gentes, muitas compras e nenhum imposto. Agora me digam se não é a definição de paraíso?
.
San Andres tem um probleminha, no entanto, não tem muitos lugares legais pra comer. Circulamos bastante pelo centro e após um jantar não muito agradável, chegamos à conclusão que o restaurante do nosso hotel era melhor e que era jogo comer por lá. E assim fizemos pelos cinco dias que ficamos por lá. E tudo correu bem, até que não correu mais – ou correu demais.
No último dia, já estávamos “empacotados” e vestidos para vazar. Almoçamos e fomos nos sentar em umas poltroninhas interessantes. Claro, eu comecei a passar mal. Minha pressão baixou de repente e eu senti um forte enjoo. Tentei jogar água no rosto, tirei os tênis e não passava. Me “pelei” ao máximo e me deitei na recepção mesmo e fiquei em posição fetal até o momento de sair. Quando fomos ao aeroporto, eu estava melhor, mas não 100%. Embarcamos e o enjoo voltou. Fui estranha até o Panamá.
.
No Panamá, tomei um Coca e tal e melhorei. Achei que o sufoco havia passado. Que nada. Comecei a jantar e já vi que não ia descer. A essas alturas, minha dor de barriga já havia ultrapassado todos os limites da vida. Quando nos aproximamos de Porto Alegre, ficou insustentável. Corri pro banheiro e fiquei lá. Por muito tempo. Muito. Voltei desmilinguida
.
Poucos minutos antes de aterrissarmos, comecei a suar. Estava correndo pra o banheiro que acolheu tão bem quando uma aeromoça me interrompe: “vuelve a su asiento, vamos aterrar”, ou algo assim. Eu só lembro de olhar pra ela e dizer: “não”. E quando o piloto iniciava a descida, eu iniciava outra coisa.
.
Voltei, apertei o cinto e combinei com o Cléber: “Assim que essa merda parar (o avião, no caso), eu vou sair correndo. Então tu pega nossas coisas e me encontra na esteira de bagagem.” E assim foi. Saí correndo
.
Fui ao banheiro mais duas vezes somente antes de as nossas malas chegarem. Imaginem como foi o resto do dia. Ou não. É melhor.
Não sei o que foi, não sei se foi algo que comi, se foi a água, se foi a pressão, se foi vírus, se foi bactéria. Mas que foi suspeito, foi. E, óbvio, não podia terminar uma viagem sem algo dar errado.
.
Lugares para ver
Centro
Na verdade, deveria ter uma categoria especial chamada “lugares para comprar”. O centro de San Andres é bem agradável à noite – nem adiante ir durante o dia, não existe. Com um calçadão enorme e uma série de barzinhos, é ótimo pra uma caminhada. Mas é melhor ainda pra torrar dinheiro na Zona Franca que tanto amamos. Perfumes, cosméticos, bebidas, acessórios e usa série de coisas legais. Fiz um rancho.
Johnny Cay
É um dos lugares mais lindos que já vi na minha vida. Daquele tipo que não parece de verdade, como se estivéssemos dentro de uma fotografia. Os barcos saem em dois horários do centro, às 11h30 e às 12h50. O passeio inclui almoço.
A ilha é paradisíaca, absolutamente linda, com um mar de um azul que chega a doer, comida boa, música divertida e ótimos drinques. Sim, ali na foto não é água de coco.
Rocky Cay
É uma ilha minúscula, mas bem bonitinha. É um passeio legal, mas só se estiver no teu caminho. Não vale desviar pra isso. Nós tínhamos o privilégio de ter acesso pelo nosso hotel.
El Acuario
A ilha é, de fato, um aquário natural. Há uma série de piscinas formadas por bancos de corais e uma diversidade incrível, de peixes pequenos a ouriços-do-mar, pepinos-do-mar (bizarros) e arraias. A ilha tem uma pequena infra, que inclui barracas que oferecem comida, bebida e ainda armários (guarda-volumes) e venda e aluguel de equipamentos para mergulho. Além de um sapato de neoprene, que eu achei basante útil pra caminhar por lá.
Há um passeio de barco muito legal que ajuda a conhecer melhor a região. O fundo da embarcação é de vidro, então dá pra ver uma quantidade imensa de animais marinhos. Até eu, que tenho medinho, curti.
Nesse passeio é possível notar sete cores diferentes no mar de San Andres.
.
Onde comer
Não sei mesmo, te vira. Mas os passeios incluem almoço.
Um hotel maravilhoso, com praia particular, de frente para a ilha Rocky Cay. Serviço impecável, quartos enormes, espaçosos e confortáveis. Café da manhã incluso e é uma delícia. Os drinques são uma perdição. Essa era a vibe, ó.
Como se movimentar
Táxi e barco no caso das ilhas, óbvio. Mas não tem muito mistério. Pergunte à gerência do seu hotel para providenciar os transportes.