Igor Natusch

Algo está acontecendo no Brasil. E isso é péssimo para Bolsonaro

Igor Natusch
16 de maio de 2019

Fiquei durante cerca de 20 minutos no topo do Viaduto Otávio Rocha, nesta quarta-feira, observando os manifestantes de Porto Alegre que passavam logo baixo, de um ponto a outro da avenida Borges de Medeiros. Em nenhum momento consegui enxergar o final da massa humana, seja de um lado, seja do outro. Não sou bom nesse tipo de conta e não vou me arriscar, mas era muita gente. Mesmo. Bem mais do que eu imaginava que seria. Muitos universitários, sim, e muita gente ainda mais jovem, que quer ter a chance de ser universitário ou universitária um dia.

Ouvi buzinas e vi pessoas aplaudindo das janelas. Ouvi o motorista do ônibus que me levou até o Centro de Porto Alegre comentando com passageiros sobre o protesto, demonstrando concordância, explicando os cortes na educação com bastante propriedade. Vi outro cobrador, no circular que me levou ao trabalho no começo da tarde, usando o celular para registrar, solidário e sorridente, professoras que se dirigiam ao abraço simbólico em um instituto federal. Não vi um xingamento sequer – seja contra vagabundos, contra petralhas ou qualquer outra coisa.

Segundo o Nexo, manifestações em defesa da educação aconteceram em cerca de 200 cidades brasileiras.

Os atos de 15 de maio foram um grande sucesso. São indicativo claro de que algo está acontecendo. E, seja lá o que for, não é nada bom para Jair Bolsonaro.

A tentativa de listar brevemente os problemas do governo é um esforço condenado ao fracasso, pois é impossível ser breve com tanta coisa a mencionar. No curto espaço da metade de uma semana, vimos a derrota brutal do governo na convocação do ministro Amadeu Weintraub ao Congresso, observamos líderes partidários outrora favoráveis fumegando de raiva após serem chamados publicamente de mentirosos, vimos o presidente da Câmara dar repetidos sinais de que está lavando as mãos. A reforma da previdência, praticamente um sine qua non para a viabilidade do governo, parece uma miragem inalcancável. Os investimentos fogem do país, o desemprego cresce, os índices sociais são cada vez piores. Até a visitinha improvisada ao Texas rende constrangimentos à entourage presidencial, com um ex-presidente norte-americano admitindo que recebeu Bolsonaro em sua casa no improviso, apenas para não cometer uma indelicadeza com um chefe de Estado.

Jair Bolsonaro está desnorteado, sem trunfos na mão, carente de amigos, ausente de aliados. E tudo isso sem citar a quebra de sigilo bancário de Flávio Bolsonaro, que coloca a família inteira diante de perspectivas funestas na esfera criminal.

A posse, vale lembrar, foi há menos de cinco meses.

Penso que não há sentido em procurar grandes estratégias onde nada indica que elas existam. O que estamos vivenciando, no Brasil, não é um esforço coordenado e metódico de construir um regime duradouro: o que se vê é um plano semi-articulado de autoritarismo de direita, à Viktor Orban / Recep Erdogan, incapaz de manter sua própria coesão interna e ruindo muito antes de conseguir consolidar seus alicerces. Aliás, se há algo que esses regimes nos ensinam, é que o autocrata moderno não se faz com explosões espalhafatosas, mas contaminando e sequestrando a legalidade. É trabalho para populistas, sim, mas não para tolos: requer método, paciência e manutenção do apoio popular.

Dos três itens, Bolsonaro só tem – ainda – o último.

E aí está a tragédia que 15 de maio simboliza para o presidente: é um sinal claro de que essa popularidade está se esvaindo.

Brigar com as universidades foi um desastre tático. Graças a esse confronto inútil, rancoroso e impulsivo, as ruas trocaram de sinal. Agora, o barulho que ecoa delas é contra Bolsonaro.

Será preciso muito mais que sinais de arminha com a mão e hashtags fajutas no Twitter para reverter esse quadro.

Foto: Carol Ferraz / Sul21

Igor Natusch

Um governo de tarados

Igor Natusch
27 de abril de 2019

É tentador tratar os diferentes núcleos de interesse que constituem o governo de Jair Bolsonaro como uma coisa só. Uma inclinação que surge não só como atalho, mas também como reação: afinal, não é o que essas mesmas pessoas fazem o tempo todo, rotulando toda divergência como comunismo, todo conhecimento como libertinagem universitária, toda pauta identitária como ameaça à sociedade e à família?

Tentador, sim, mas equivocado e até mesmo contraproducente. O governo Bolsonaro está muito, muito longe de ser todo uma coisa só. E me parece que só é possível compreendê-lo minimamente (e, a partir disso, agir contra seus aspectos mais nefastos) reconhecendo as muitas distinções entre seus grupos, admitindo que estamos diante de uma geleia de motivações primárias e muitas vezes incoerentes entre si – mas que encontraram, na figura caricata de Jair Bolsonaro, um eficiente avatar coletivo.

O que não quer dizer, é claro, que nada aproxime esses núcleos. Estão, sim, unidos em vários aspectos.

O principal deles, penso eu, é a pressa.

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Talvez se possa dizer, em um resumo grosseiro, que se trata de um bando de recalcados. Não deixa de ser verdade, mas acho que outro termo define ainda melhor: penso que são, na verdade, uma legião de tarados.

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Não quero dizer, é claro, que são todos pervertidos sexuais. Alguns possivelmente sejam, e é evidente que questões de origem sexual estão no coração de boa parte das maluquices que temos testemunhado nos últimos tempos. Mas não quero brincar de psicanalista amador aqui. Me refiro à fixação doentia, que distorce o objeto da obsessão ao ponto de transformá-lo em monstruosidade intolerável – e que motiva o impulso incontrolável de reação, de confronto e, se possível, de destruição.

Como descrever, por exemplo, os discípulos de Olavo de Carvalho que querem “limpar” a educação brasileira? Pessoas forjadas no pleno desprezo às universidades supostamente apinhadas de comunistas, que defendem a necessidade de buscar o conhecimento fora do ambiente ideologizado da academia – e que, ao mesmo tempo, inventam títulos acadêmicos em um esforço de legitimação? Pessoas obcecadas em gravar cada ato de professoras e professores, resumindo os incontáveis problemas e carências das escolas brasileiras à atuação de doutrinadores desonestos contra crianças indefesas? Pessoas que não recebem o reconhecimento que consideram justo para sua suposta erudição e, como retaliação, atacam as faculdades que os rejeitam, querem extinguir os filósofos e sociólogos que se mancomunam para negar-lhes a glória? Não estamos nós diante de gente obsessiva, com recalques não resolvidos e que, agora, se apressa em eliminar o alvo ao mesmo tempo desejado e temido?

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Não são, por acaso, um bando de tarados?

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Não existe algo de tara em um ministro que, incapaz de disfarçar sua absoluta inaptidão para as relações internacionais, chega a convocar coletivas para enumerar suas ideias supostamente revolucionárias, ao mesmo tempo em que corre para deitar-se aos pés dos Estados Unidos como um cãozinho fiel? Não são, a seu modo, tarados os que loteiam o Ministério do Meio Ambiente para liberar a exploração irrestrita de recursos naturais, que aniquilam a Funai para lançar sobre os povos originários brasileiros a perspectiva de um genocídio ainda mais acelerado e brutal?

Não serão movidos por uma espécie de tara os que inserem na incontornável discussão sobre a Previdência maldades contra idosos em situação de miséria e trabalhadores rurais, para citar apenas dois casos? E não são tarados, mesmo que não sejam todos membros formais do atual governo, os que transformam a lei em salvação da alma nacional, os que fazem acusações a aplicam penas como se em missão divina, os que esperam que a lei se dobre à punição, e não o contrário?

Evidente que há muitas nuances e interesses atuando nesse cenário, e dizer que o Brasil está na mão de gente que só pensa na satisfação imediata de impulsos depravados seria cair no erro que coloquei lá no começo, de pegar uma etiqueta só e colocar em todos os produtos do estoque. Não existe uma só extrema-direita, e não existe só uma onda no mar reacionário, ainda que os efeitos terríveis sejam basicamente os mesmos. Mas não estariam juntos se algo não os unisse, e não é exatamente a família Bolsonaro que promove essa coesão, embora ela funcione bem como imagem pública e discurso catalisador.

Trata-se de um governo de tarados: cada um com um impulso diferente, mas todos consumidos pela mesma urgência, transformados em pelotão pela ânsia e pelo frenesi.

Foto: Divulgação / Governo Federal

Igor Natusch

Bolsonaro é o avatar divertido de um governo que ameaça desandar

Igor Natusch
15 de fevereiro de 2019

Ridicularizada por seus opositores, a insólita escolha de roupas para o encontro de ministros deve ter sido um dos maiores acertos de Jair Bolsonaro desde que assumiu a presidência. De sandálias, calça de tactel e camiseta pirata de time de futebol, o presidente faz uma poderosa declaração de princípios, que talvez passe batida para quem o detesta: afirma-se como outsider em todas as situações, o líder que despreza liturgias vazias, o cara simples que não se esforça em agradar os engravatados.

Ele não está tentando ser um dos poderosos: o presidente está, na verdade, trollando todos eles. E dessacralizando a instituição Presidência da República no processo.

Convenhamos: é exatamente para isso que os fãs de Bolsonaro o elegeram, é exatamente isso que esperam que ele faça. Essa inadequação deixa o sistema mais fraco diante de Bolsonaro, e não o contrário. Populismo moderno, em sua essência. Um golaço simbólico, goste você disso ou não.

Jair Bolsonaro é, de fato, muito bom em ser o avatar do movimento que encabeça. Talvez seja a única coisa em que ele é, de fato, acima da média.

A questão que fica é: será suficiente?

Porque qualquer um que olhe para os primeiros 45 dias de governo Bolsonaro com o mínimo de espírito inquiridor vai poder constatar que, no que se refere ao governar propriamente dito, o atual mandatário está sendo um desastre. Não há, por assim dizer, um governo: há uma maçaroca de interesses distintos e divergentes, uma coleção de agendas em conflito, uma explosão de impulsos, vaidades e recalques exigindo imediata gratificação.

O governo Bolsonaro é, na verdade, a geleia formada pela união dessas coisas todas, incapaz de passar firmeza e que dá sinais evidentes de estar prestes a desandar. E o comando de Jair Bolsonaro sobre esse agrupamento tem se mostrado precário, para não dizer inexistente.

A forma amadora e inepta como o governo federal lidou com a situação em torno de Gustavo Bebianno é o mais recente desdobramento dessa incapacidade – e, possivelmente, um dos mais graves para a gestão como um todo. Diante das graves acusações de candidaturas laranjas nas eleições de 2018, Carlos Bolsonaro não hesitou em expor o desafeto, chamando-o publicamente de mentiroso – e logo viria a própria conta de Jair Bolsonaro no Twitter dar RT na acusação, em uma fritura pública das mais escancaradas que já se viu.

O problema é que Bebianno, embora novato na política, não é um qualquer. Trata-se de uma figura bem vista pela ala militar do governo e um dos raros interlocutores do governo Bolsonaro no Congresso – ao ponto do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, deixar bem claro que a saída dele daria um recado tão ruim aos parlamentares que até a reforma da previdência poderia entrar em risco.

Diante da necessidade inarredável de decidir, Jair Bolsonaro ausentou-se. Recusou-se a receber seu suposto braço-direito em reunião, ficou esperando que ele se demitisse por vontade própria e, quando ficou claro que isso não aconteceria, foi preciso que Onyx Lorenzoni fosse até Bebianno assegurar-lhe que não haveria demissão. Se pensarmos que, há cerca de três anos, Bebbiano e Bolsonaro sequer se conheciam, o temor em desagradar o companheiro na berlinda sussurra coisas nada tranquilizadoras para o país.

Recém saído de uma longa internação hospitalar, tudo que Bolsonaro se dispôs a fazer diante da crise foi aparecer em uma reunião de governo de chinelos e calça de abrigo, usando a própria falta de jeito como ferramenta midiática.

Deu certo, até certo ponto: as redes sociais, pelo menos, estão discutindo mais o desalinho do presidente do que sua escancarada incapacidade de governar. Mas é pouco – e todos em Brasília e adjacências sabem disso, por mais que se esforcem para não admitir.

Preocupado com as manchetes, o governo precisa igualmente achar um jeito de, ao menos, tentar governar. Há uma reforma encomendada a aprovar, há investimentos internacionais para atrair, uma economia que ainda está longe de vender saúde, e nada disso irá embora com meia dúzia de aparições engraçadas e propostas (como a Lei Anti-Crime) que jogam para a torcida sem pensar no que virá depois. Isso pode funcionar para a fandom estabelecida, e tende a ter efeito transitório sobre os que depositaram um voto de angústia em Bolsonaro, mas nem todo mundo está disposto a apostar seu dinheiro e seu futuro em um avatar, como o Brasil fez. E logo grandes atores econômicos vão exigir algum tipo de certeza – de uma forma, ou de outra.

Mesmo porque, por mais divertidos que sejam, os avatares não são eternos. Quando a gente não se sente mais representado pela foto de perfil no Facebook, a gente troca por outra. Sabe como é.

Foto: Reprodução / @MajorVitorHugo / Twitter

Igor Natusch

Um dia com gosto de tragédia para Jair Bolsonaro

Igor Natusch
22 de janeiro de 2019
O Presidente da República, Jair Bolsonaro,durante reunião do Conselho Internacional de Negócios no Fórum Econômico Mundial em Davos

É bem possível que o dia 22 de janeiro de 2019 seja lembrado, futuramente, como uma das datas decisivas para o governo de Jair Bolsonaro. Seja pela capacidade de resistir a uma grave turbulência logo na largada do governo, seja pelos efeitos trágicos em um mandato que não chegou sequer ao primeiro mês.

Apostas são sempre muito difíceis de fazer na política, e se tornaram um exercício especialmente arriscado no volátil cenário brasileiro. Mas, se for inevitável fazer uma aposta, a minha seria na segunda opção. Foi uma série de más notícias em um período muito curto, e nenhuma delas parece dar o menor sinal de que possa se dissipar com o passar dos dias. Ao contrário: as nuvens parecem cada vez mais espessas, o horizonte profundamente inseguro e sombrio.

A participação de Bolsonaro no encontro de Davos pode não ter sido a tragédia cheia de gafes e frases escandalosas que muitos esperavam. Essa, considerando o histórico recente, é uma vitória em si mesma para o presidente. Mas essa pequena concessão não pode disfarçar de modo algum o visível fracasso de Bolsonaro em demonstrar uma visão segura ou, pelo menos, compreensível do próprio governo e do que ele tem a oferecer aos investidores internacionais.

Sim, o discurso foi curtíssimo – pouco mais de seis minutos, quando a janela para sua fala era de quarenta e cinco minutos, mais de sete vezes maior. Sim, o discurso foi uma maçaroca sem sentido, uma coleção de frases vazias e garantias sem consistência – sem contar o quase inexistente conteúdo econômico, o que nos faz pensar por onde andava o superministro Paulo Guedes durante a redação do fraquíssimo texto. Mas essas coisas, mesmo muito ruins, nem são o pior.

O que é realmente ruim – para o Brasil, acima de tudo – é a insistência em uma visão paupérrima de geopolítica, em que não avançamos um passo além da guerra fria e o Brasil escapou por um triz de virar uma Venezuela. Esse trololó pode colar (e cola, como bem vimos) no cenário local, mas toca todas as notas erradas quando repetido para investidores de alto calibre, que não têm absolutamente nenhuma preocupação com o fictício avanço do comunismo em escala global.

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Para quem está querendo investir no Brasil, essa papo só denota despreparo e desconexão da realidade, justamente o contrário da impressão que Bolsonaro pretendia causar. É o discurso errado, mas, acima de tudo, é o discurso no lugar errado.

Some-se isso à incapacidade de oferecer qualquer tipo de proposta concreta e a fala presidencial na abertura de Davos vira algo muito próximo do desastre.

Além de ignorante, Bolsonaro conseguiu convencer os líderes políticos e detentores do capital financeiro de que é um bicho do mato. Outro caso de incompreensão de cenário: bancar o humilde que almoça no bandejão pode ser interessante em uma visita à Catedral da Sé, mas passa uma péssima imagem em um encontro global, feito para as pessoas conversarem, estabelecerem relações, montarem estratégias conjuntas. Cada refeição, cada pausa para o café, cada troca de palavras no credenciamento ou dentro do elevador faz enorme diferença – não só para a imagem que se quer mostrar ao mundo, mas também no que o mundo espera do líder de uma das economias emergentes do planeta.

Tão grave foi a falta de diálogo de Bolsonaro e sua equipe que a União Europeia agendou uma reunião com a delegação brasileira, tentando esclarecer o que o Brasil tem em mente, já que simplesmente não houve a menor demonstração de interesse em manter o acordo entre Europa e Mercosul.

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Péssimo sinal para um país que, determinado a superar desconfianças, parece agir exclusivamente para ampliá-las.

E tudo isso é só o desastre internacional

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Ao desembarcar no Brasil, Bolsonaro terá um cenário explosivo pela frente, com seu filho Flávio enredado em denúncias que não consegue explicar – problemas aos quais, neste desastroso 22 de janeiro, somou-se a inexplicável proximidade com milícias que podem ter envolvimento até na morte da vereadora carioca Marielle Franco. A situação do senador eleito é tão grave que merece um texto à parte, mas aqui nos interessa o efeito sobre o governo – e quem comprar a narrativa pobre de “o filho é uma coisa, o pai outra” só poderá fazê-lo por ingenuidade ou interesse. Ou já esqueceu-se que a esposa de Bolsonaro recebeu, em sua conta, dinheiro de Fabrício Queiroz (alguém que pode, muito concretamente, receber dinheiro de milícias) destinado expressamente ao marido?

A realidade é uma só: trata-se de um tremendo escândalo, nitroglicerina pura, um enrosco que pode engolir a família inteira e jogar a governabilidade do patriarca no abismo. As revelações se atropelam, e é difícil até imaginar que estratégia Jair Bolsonaro poderá adotar para tentar escapar da lama que ameaça soterrá-lo.

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E aí surge a questão incontornável: será Bolsonaro capaz de avançar diante de sua primeira grande crise?

Eterno “outsider” junto ao parlamento, cercado de figuras caricatas e incompetentes, sem qualquer experiência de Executivo e visto na esfera internacional como um pateta, o presidente não encontra forças nem para conceder uma entrevista coletiva, que dirá para tomar as medidas enérgicas que possam dar rumo e autoridade a seu governo. Seus únicos amigos dignos de nota, no momento, parecem usar farda – e eles têm um general naquela que é, no momento, a posição mais estratégica da política brasileira: a vice-presidência da República. Quanto valerá a lealdade a Bolsonaro, caso a situação se torne insustentável?

Jair Bolsonaro sai desse 22 de janeiro de 2019 muito, muito pior do que entrou – e isso que ninguém poderá dizer que tudo estava bem antes do dia começar.

Claro que nada está gravado em pedra, ainda mais em um mandato que mal começou, e uma sequência de acontecimentos positivos pode ser suficiente para que o governo Bolsonaro consiga sair dessa encruzilhada. Mas será preciso uma tenacidade e uma habilidade política que nem Jair Bolsonaro, nem qualquer das pessoas decisivas em seu entorno parece ter. Mesmo Sergio Moro, principal fiador da credibilidade de Bolsonaro junto à opinião pública, mergulha em um silêncio que traz todas as notas de um mau presságio.

Renan Calheiros, a pessoa que melhor entende as intrincadas teias da política brasileira, teria dito que Bolsonaro começaria a fazer água com seis meses de governo. Parece incrível, mas, se ele falou mesmo tal coisa, enganou-se: a crise veio cinco meses e dez dias antes do imaginado.

Foto: Alan Santos/PR

Igor Natusch

A isenção de Sergio Moro: outro mito que vai para o espaço

Igor Natusch
1 de novembro de 2018

Há dois anos, o juiz Sergio Moro era enfático: jamais entraria para a vida política.

“Sou um homem de Justiça e, sem qualquer demérito, não sou um homem da política. É uma atividade importante, existe muito mérito em quem atua na política, mas eu sou um juiz, estou em outra realidade, outro perfil. Então, não existe jamais esse risco.” Sérgio Moro, em entrevista concedida ao Estado de São Paulo.

Muita coisa muda em dois anos. Nesta quinta-feira, Sergio Moro aceitou convite do presidente eleito Jair Bolsonaro para assumir uma espécie de super-ministério, reunindo as pastas de Justiça e Segurança Pública. Não só entrou na política, como aderiu imediatamente (e “muito honrado”, como ele mesmo coloca em nota oficial) ao primeiro governo federal que apresentou convite. Embora não seja, é claro, um governo qualquer – e essa simples constatação faz toda, absolutamente toda a diferença.

Para o governo Bolsonaro, escalar Sergio Moro traz benefícios claros. Menos de uma semana depois de ganhar a eleição, o recém-eleito já sofre abalos em apoio e popularidade, graças a decisões esdrúxulas como fundir Meio Ambiente e Agricultura, convidar pessoas enroladas com a Lei para ministérios e a possível criação de um insólito Ministério da Família, com ninguém menos que Magno Malta no timão. Contestado até por setores econômicos, dos quais depende decisivamente para evitar turbulências, Bolsonaro ganha uma injeção de popularidade muito bem-vinda ao colocar a boa aceitação da Lava-Jato no coração de seu ministério. A medida pode criar efeitos indesejados a médio prazo, mesmo porque demitir um ministro como Moro é quase impossível. Mas isso pouco importa no momento – em especial para o próprio núcleo do governo, que dá claros sinais de que não está preocupado em planejar muito adiante o que quer que seja.

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Nada disso, porém, pesa da mesma forma para o próprio Sergio Moro

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Acima de tudo, está definitivamente legitimado o discurso de atuação política na Lava-Jato. Ou alguém lembra de juízes da operação Mãos Limpas, na Itália, entrando no ministério de Silvio Berlusconi? Poderá alguém esquecer que os vários supostos erros de condução de Moro – a divulgação inacreditável de áudios de uma presidente em mandato, as articulações em plenas férias para evitar a soltura de Lula – foram sempre para um lado, sempre prejudiciais a uma esfera específica, e que (vejam só a surpresa) essa esfera calha de ser justamente a oposta ao presidente agora eleito?

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Será possível ignorar que, em plena campanha deste ano, Moro levantou sigilo sobre as delações de Antonio Palocci, que o próprio Ministério Público Federal declarou inúteis – e haverá quem, diante de indicações de que o convite de Bolsonaro ao juiz foi feito ainda antes das urnas, seja incapaz de unir os pontos e chegar a uma conclusão?

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Moro afirma que se afastará imediatamente das atividades da Lava-Jato, de forma a evitar “controvérsias desnecessárias”. Tarde demais: sua isenção já foi para o espaço, transformada em cargo político em um governo de inclinações ideológicas indisfarçáveis.  

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Ao aceitar o convite do futuro presidente, Sergio Moro não apenas lançou sombras sobre seu presente, mas cristalizou um discurso que há muito paira sobre sua atuação na Lava-Jato: a de que foi perseguidor e não juiz, atuando como braço de uma guerra política e não como guardião das leis.

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Mesmo os que defendiam a isenção do super-herói de Curitiba ficam sem argumentos diante da quase confissão simbólica que ele acaba de cometer. O conflito de interesse é cristalino, tão óbvio que colocá-lo em dúvida é pedir para passar vergonha.

Graças à obsessão pessoal de Sergio Moro contra Lula, o ex-presidente foi alijado da disputa eleitoral – e, como recompensa, o justiceiro foi convidado (mesmo antes do pleito acontecer) para ocupar um cargo ministerial na chapa mais obviamente beneficiada pela ausência do barbudo. Valendo dizer que a própria esposa de Moro comemorou abertamente a vitória de Bolsonaro, pouco antes do marido ganhar uma privilegiada oportunidade de emprego junto ao novo chefão do Brasil. Questionem o quanto desejarem essa leitura, mas ela é óbvia demais para ser ignorada – e certamente será majoritária em vários lugares, em especial fora do Brasil. Afinal, a Lava-Jato não é exatamente uma campeã de popularidade na mídia internacional, e Lula construiu muito bem a imagem de injustiçado e vítima de lawfare.

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Só um alienado age e pensa política ignorando a esfera internacional. E só um aloprado – ou alguém movido pela vaidade – poderá achar que ninguém vai estranhar que o juiz que prendeu Lula ganhe um super-ministério no governo do rival.

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O guerreiro contra a corrupção e que enfrentava de forma destemida o sistema ficou, definitivamente, nas séries do Netflix: na vida real, alinhou-se na primeira chance que teve com a ala política que favoreceu, dando fortes elementos para argumentar que sua atuação sempre foi movida por simpatias.

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E quem poderá dizer que, daqui para frente, deixará de tê-las?

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Diz-se que, envaidecido pelos aplausos das massas, Moro já cogita inclusive a Presidência da República. Mas as urnas ainda nem esfriaram do pleito deste ano, e 2022 ainda é uma ponte muito distante. Pisando nas nuvens, Sergio Moro talvez não perceba que é como a mulher de César: mais até do que ser honesto, precisa parecer sê-lo. E é precisamente isso que foi comprometido hoje, de forma que pode ser decisiva mais adiante.

Foto original: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil. Montagem: Vós

Eleições

Políticas para as mulheres . Quatro dos 13 candidatos sequer citam a palavra “mulher” nos planos de governo

Évelin Argenta
13 de setembro de 2018

O eleitorado feminino é maioria no universo de eleitores. Somos 52,5% do eleitorado no pleito de 2018 e também representamos a maioria dos indecisos. Segundo dados da última pesquisa Datafolha, divulgada em 11 de setembro, uma em cada duas mulheres ainda não sabe em quem votar. É quase o dobro da indefinição entre os homens, de 26%.

Não é de se surpreender que, nesse cenário, o público feminino tenha sido escolhido como parte do discurso dominante. Depois de seguidos movimentos denunciando abusos e agressões contra mulheres, o feminismo virou pauta (não sem antes virar mercadoria) na boca dos candidatos.

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Diante de um cenário ainda tão confuso, atrair a atenção desse segmento pode ser crucial para definir quem vai para o segundo turno

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Há duas mulheres disputando o pleito: Marina Silva (Rede) e Vera Lúcia (PSTU). Mas a preocupação com o eleitorado feminimo também tem como primeiro sinal a escolha dos vices nas campanhas. Embora não envolvidas diretamente com a pauta feminina, as candidaturas do PSDB e do PDT escolheram mulheres para dividir o governo. As senadoras Ana Amélia e Kátia Abreu, respectivamente, foram oficializadas no começo de agosto para compor as candidaturas. Uma terceira vice, mesmo que, inicialmente, em posição de stand-by, foi anunciada pelo PT. Trata-se da deputada gaúcha Manuela d’Ávila que chegou a oficializar a candidatura para presidente pelo PCdoB.

Mas será que o discurso condiz com a prática? O Vós analisou os planos de governo registrados pelas 13 candidaturas no TSE. A ordem de apresentação no texto segue a posição dos candidatos na última pesquisa Datafolha, divulgada no dia 11 de setembro.

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Jair Bolsonaro – O caminho da prosperidade

Candidato do PSL, o deputado federal Jair Bolsonaro tem maior prevalência de votos entre os homens. Entre as mulheres, a rejeição ao candidato ainda é grande: 49% do eleitorado feminino diz que não votaria em Bolsonaro de jeito nenhum.

O programa de governo dele disponível no TSE menciona uma única vez a palavra “mulheres” em 81 páginas.

As propostas apresentadas são em geral dirigidas a todos os “cidadãos”, às “pessoas” ou às famílias, sem direcioná-las a grupos específicos. Em suas manifestações públicas, Bolsonaro afirma que tratará os gêneros igualmente. Quando questionado sobre desigualdade salarial entre homens e mulheres, o candidato afirma que não cabe ao Estado interferir no mercado de trabalho e que a CLT já trata da equiparação salarial.

Os planos do PSL

  • Combater o estupro de mulheres e crianças, por meio de medidas como investimento policial, redução da maioridade penal de 18 para 16 anos e ampliação do acesso ao porte de armas;
  • Investir na saúde bucal e no bem-estar de gestantes, com foco na prevenção de doenças;
Ciro Gomes – Diretrizes para uma estratégia nacional de desenvolvimento para o Brasil

Candidato do PDT, o ex-governador do Ceará, Ciro Gomes afirma em seu programa que, se for eleito, ele pretende corrigir desigualdades sociais entre homens e mulheres e que isso faz parte de sua estratégia. O plano inclui as mulheres ao lado da população negra, LGBT e pessoas com deficiência.

Um dos tópicos é “respeito às mulheres”, em que propõe 32 medidas. A palavra mulheres aparece, igualmente, 32 vezes no programa.

Os planos do PDT

  • Recriar a Secretaria das Mulheres;
  • Promover ações de combate à violência contra a mulher;
  • Equiparar o número de homens e mulheres em cargos de comando no governo federal;
  • Aumentar as vagas em creches (não fala em números ou prazos);
  • Fortalecer programas de qualificação profissional;
  • Criar programas de microcrédito;
  • Promover ações com foco no aumento de mulheres na política;
  • Garantir cumprimento da lei que determina igualdade salarial entre homens e mulheres com igual função e carga horária;
  • Incentivar criação de novas delegacias de atenção à mulher.
Marina Silva – Brasil justo, ético, próspero e sustentável

Candidata da Rede, a ex-ministra Marina Silva fala das mulheres em pontos do programa dedicados à saúde, educação e emprego. As ações são articuladas a propostas que incluem também as populações LGBT, negra e povos indígenas.

A palavra “mulher” aparece nove vezes no programa da candidata.

No capítulo “Direitos Humanos e cidadania plena”, por exemplo, o programa fala em definir políticas específicas para “as desigualdades que atingem mulheres, população negra“, entre outros grupos. Nesse ponto, há um tópico só para mulheres, em que Marina detalha algumas propostas.

Os planos da Rede

  • Ampliação das políticas de prevenção à violência contra a mulher;
  • Combate ao tráfico interno e internacional de pessoas, bem como o turismo sexual, que atingem majoritariamente as mulheres;
  • Criação de políticas que enfrentem a discriminação no mercado de trabalho, com o objetivo de garantir igualdade salarial para mulheres e homens;
  • Apoiar o empreendedorismo feminino, por meio de acesso a crédito e capacitação profissional;
  • Ampliar oferta de creches em tempo integral (como forma de facilitar o ingresso e a continuidade da mulher no mercado de trabalho);
  • Ampliação do tempo de licença paternidade e a construção de um modelo que possibilite uma transição gradual para um sistema de licença parental;
  • Promoção de ações preventivas e efetividade dos Programa de Planejamento Reprodutivo e Planejamento Familiar;
  • Oferta de contraceptivos pelas farmácias populares e estímulo ao parto humanizado;
  • Promover ações de prevenção e atendimento à gravidez na adolescência;
  • Ampliar as políticas de prevenção à violência contra mulher e a rede de atendimento às vítimas
Geraldo Alckmin – Diretrizes gerais

Candidato do PSDB, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin entregou um programa de governo enxuto. Ele é composto por propostas curtas, em formato de tópicos. Há três eixos principais de ação, que giram em torno do desenvolvimento econômico e do combate à corrupção e à desigualdade social.

A palavra “mulheres” aparece apenas duas vezes no plano do tucano.

O tema “mulheres” surge associado a políticas sociais e de segurança pública, que incluem outros grupos, como idosos, LGBT e “outras minorias”. Lembrando que as mulheres são a maioria da população e do eleitorado brasileiro. Lembrando, ainda, que em janeiro de 2015, quando o então eleito governador de São Paulo anunciou o secretariado, apenas duas das 25 pastas foram ocupadas por mulheres.

Os planos do PSDB

  • Incentivar a disseminação de “patrulhas Maria da Penha” nas PMs e nas Guardas Municipais com a padronização dos serviços em âmbito da Academia Nacional de Polícia;
  • Incentivar a criação de uma rede nacional de serviços especializados de atendimento a mulheres vítimas de violência (exame de corpo de delito, atendimento nas delegacias etc.);
  • Incentivar a criação de redes não-governamentais de atendimento às vítimas de violência doméstica, violência de gênero, violência racial, violência contra homossexuais, contra idosos, abuso sexual e exploração sexual de crianças e adolescentes;
Fernando Haddad – Plano Lula de governo

O plano registrado pelo PT foi oficializado ainda quando o partido tinha em sua cabeça de chapa o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba, condenado pela Lava-Jato. O partido dedicou um tópico a políticas para mulheres dentro do capítulo “Inaugurar um novo período histórico de afirmação de direitos”. De forma geral, o programa trata a temática de maneira conjunta com outros setores, destacando ações específicas para esse público em campos diversos, como economia, saúde, social e segurança pública.

A palavra mulheres aparece 25 vezes no programa do PT.

Em outros pontos do programa, o partido inclui as mulheres ao lado de outros grupos, como indígenas, negros e população LGBT, cuja participação promete “aumentar significativamente” nas instâncias de decisão do Poder Executivo.

Os planos do PT

  • Recriar as secretarias, com status de ministério, de Direitos Humanos, Políticas para as Mulheres e Promoção da Igualdade Racial;
  • Incentivo à produção de ciência e tecnologia pelas mulheres;
  • Aumentar o valor e o tempo do seguro-desemprego para as gestantes e lactantes (não traz números);
  • Aumentar significativamente a presença das mulheres e de negras/os nas instâncias de decisão do Poder Executivo, sobretudo na composição dos ministérios, do Poder Judiciário, do Poder Legislativo e Ministério Público;
  • Ampliar políticas de proteção e combate à violência contra a mulher;
  • Incentivar políticas de saúde voltadas a gestantes (como programas de valorização do parto normal) e ao combate à mortalidade infantil;
  • Apoiar prefeituras para ampliar oferta de vagas em creches (para facilitar o ingresso e a continuidade da mulher no mercado de trabalho);
  • Assegurar às mulheres a titularidade prioritária dos lotes em assentamentos de programas de reforma agrária;
    -Investir na estruturação do futebol feminino;
Alvaro Dias – Plano de metas 19+1: para refundar a República!

O plano de governo do candidato do Podemos, senador Alvaro Dias, não tem tópico específico sobre a temática de gênero ou ações direcionadas a mulheres ou outros grupos específicos. O tom do documento se destina essencialmente ao “povo brasileiro”.

A palavra “mulheres” não aparece uma única vez no plano do candidato.

A única menção ao público feminino aparece dentro de “sociedade”, no tópico “família unida”, em que o candidato promete acesso universal a creches para “as mães que trabalham”.

João Amoedo – Mais oportunidades, menos privilégios

Candidato do Novo, o empresário João Amoêdo não traz em seu plano de governo ações específicas a mulheres ou a outros grupos, como negros, indígenas ou população LGBT.

Mais uma vez, as “mulheres” não são citadas em nenhuma das 23 páginas do plano.

O candidato só fala ao público feminino quando fala da ideia de universalizar o acesso às creches (que permite que as mães possam trabalhar enquanto os filhos estudam), mas o programa não faz essa relação nem detalha a promessa com ações e prazos.

Henrique Meirelles – Pacto pela confiança!

Candidato do MDB, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles elaborou um plano direcionado quase que exclusivamente à economia, tema que abre o programa do candidato.

A palavra “mulheres” aparece duas vezes no plano do emedebista.

Em um trecho específico ele menciona a diferença salarial entre homens e mulheres, detalhando que trabalhamos, em média, três horas a mais todas as semanas e temos 76,5% do rendimento dos homens. Com efeito indireto para as mulheres, o plano enfatiza investimentos em educação infantil, mas o candidato não explicita essa relação no documento.

Os planos do MDB

  •  Incentivar a redução da diferença salarial entre homens e mulheres;
  • Criar o Pró-Criança, programa de transferência de renda para famílias colocarem filhos em creches particulares;
  • Retomar obras paradas de creches.
Guilherme Boulos – Programa da coligação Vamos sem medo de mudar o Brasil

Candidato do PSOL, o coordenador nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Guilherme Boulos, elaborou um programa amplo, com 228 páginas, que tem como prioridade o combate às desigualdades sociais.

A palavra “mulheres” aparece 125 vezes.

Boulos coloca como medidas centrais de seu plano, as ideias voltadas às mulheres, à população negra, LGBT e indígena e a pessoas com deficiência. A parcela que, nas palavras do candidato, representa a “maioria da classe trabalhadora brasileira”. O texto tem tópicos específicos para mulheres e ao menos 40 ações intersetoriais mencionadas em todo o programa.

Os planos do Psol

  • Realizar uma reforma eleitoral para assegurar cotas de participação a mulheres e negros nos partidos;
  • Instituir cotas para mulheres, negros e indígenas em cargos públicos;
  • Criar mecanismos de equiparação salarial entre homens e mulheres;
  • Criar um plano nacional contra a violência contra a mulher;
  • Destinação de 1% do PIB para combate à violência contra a mulher;
  • Implantar projetos de modelo de atenção à saúde mental das mulheres na perspectiva de gênero com os Centros de Atenção Psicossocial;
  • Garantir a equiparação salarial;
  • Descriminalizar e legalizar o aborto;
  • Ampliar o acesso à creche.
Vera Lúcia –16 pontos de um programa socialista para o Brasil contra a crise capitalista

Candidata do PSTU, a educadora sindical Vera Lúcia tem um plano de governo voltado para a classe trabalhadora, há referências a mulheres e população LGBT. O texto traz 16 pontos que tratam de questões trabalhistas, geração de emprego e melhorias na saúde e educação.

A palavra “mulher” é citada quatro vezes.

As referências de políticas voltadas ao público feminino não trazem detalhes de como essas propostas seriam colocadas em práticas.

Os planos do PSTU

  • Combater a violência contra mulher;
  • Equiparar salários entre homens e mulheres;
  • Legalizar o aborto.
Cabo Daciolo – Plano de nação para a colônia brasileira

O deputado federal Cabo Daciolo, candidato à presidência pelo Patriota, não traz nenhuma menção ou proposição específica para mulheres ou outros grupos, como população LGBT. As propostas, bastante generalistas, são divididas em cinco grupos: educação, saúde, economia, infraestrutura de transportes e segurança pública. No plano, um dos pontos que toca indiretamente as mulheres é o aborto. Daciolo critica o debate sobre a legalização do aborto.

A palavra “mulheres”, mais uma vez, não aparece no documento protocolado no TSE.

João Goulart Filho – Distribuir a renda, superar a crise e desenvolver o Brasil

Candidato do PPL, o escritor João Goulart Filho propôs um programa voltado à distribuição de renda e ao desenvolvimento econômico. A proposta é organizada em 20 tópicos. Em um deles, o candidato afirma que a situação da mulher é o principal “termômetro do avanço ou atraso de uma sociedade”, cabendo ao Estado assegurar o desenvolvimento das mulheres. A palavra “mulher” aparece 20 vezes no plano de 14 páginas.

O documento sinaliza que, se eleito, o candidato manterá as regras atuais (legalizado em casos de estupro, risco de vida da mãe e anencefalia). Ele ainda defende que o Estado proporcione acesso a métodos anticoncepcionais.

Os planos do PPL

  • Equiparar os salários entre homens e mulheres;
  • Aumentar para 1 ano a licença maternidade;
  • Reduzir a carga de trabalho que recai sobre as mulheres, ao desenvolver equipamentos sociais que reduzam as tarefas domésticas;
  • Incluir mulheres na titularidade de terras concedidas em programas de reforma agrária;
  • Instituição de policiamento específico – policiais femininas, delegacias da mulher, que devem ser restabelecidas, e outros aparelhamentos públicos;
  • Zerar o deficit de creches e garantir creche em horário integral (não apresenta metas ou prazos)
José Maria Eymael – Carta 27: diretrizes gerais de governo para construir um novo e melhor Brasil

Candidato pelo Democracia Cristã, o advogado José Maria Eymael apresentou um plano que tem como compromisso o cumprimento da Constituição e dos “valores éticos” da família. É mais um plano que sequer menciona a palavra “mulheres”. Eymael cita idosos e pessoas com deficiência, como aqueles que necessitam ações específicas, mas sem dizer quais são. Em educação e emprego, o programa propõe medidas voltadas a crianças e adolescentes.

Geórgia Santos

“Quem faz pesquisa é vagabundo que só quer estudar”

Geórgia Santos
3 de agosto de 2018

Pesquisa científica e desenvolvimento estão intimamente ligados pelo simples fato de que sem pesquisa, não há desenvolvimento. É por meio da pesquisa  que se encontra a cura para doenças; que é possível identificar padrões políticos e sociais; por meio da pesquisa surge a inovação; foi com pesquisa que se desenvolveu a penicilina, meu Deus do céu. A pesquisa é fundamental para o crescimento de qualquer país em absolutamente todas as áreas, da economia à medicina, da sociologia à biologia. Nada mais lógico, portanto, que os governos invistam pesado em pesquisa, especialmente em momentos de crise.

Por óbvio, não é diferente no Brasil, onde a maior parte da pesquisa é feita dentro de universidades durante a produção de dissertações de mestrado e teses de doutorado – e onde a maioria dos pós-graduandos não pode seguir estudando sem bolsa.

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A lógica, então, é que o governo brasileiro invista sempre e cada vez mais, certo? ERRADO

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A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), uma das principais agencias de fomento à pesquisa no país, afirmou, em nota enviada ao Ministério da Educação (MEC), que o teto de gastos previsto para o ano que vem pode inviabilizar o pagamento de bolsas de estudos. O documento foi assinado pelo presidente da Capes, Abilio Barra Neves, e indica que a entidade só teria recursos para cumprir os compromisso até agosto de 2019. A limitação do orçamento da Capes também afeta praticamente todos os programas de cooperação com o exterior.

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O número de prejudicados pode passar de 440 mil – 93 mil alunos de pós-graduação; 105 mil da Educação Básica; e 245mil pessoas ligadas à Universidade Aberta do Brasil (UAB)

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Em resposta ao jornal Folha de São Paulo, a assessoria do MEC disse que os limites de orçamento são definidos pelo Ministério do Planejamento. Este,  por sua vez, respondeu também em nota que estabelece apenas o montante global de cada pasta – que deve diminuir em 11% para o MEC. Ou seja, não se responsabiliza pela alocação de recursos.

O orçamento da entidade previsto para 2018 foi de R$ 3,880 bilhões. Isso significa que o orçamento para 2019 deve ser o cálculo desses R$ 3,880 bilhões mais a correção da inflação. A questão é que o projeto pode sofrer vetos do Executivo, e é justamente essa a parte que preocupa o Conselho da Capes. A entidade só resolveu encaminhar o ofício depois que recebeu a informação de que haveria redução de, pelo menos, R$ 580 milhões.

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Não é a primeira vez que a ciência é deixada de lado

Nos últimos anos, o orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação (MCTIC) sofre cortes constantes que afetam de forma direta a pesquisa produzida no Brasil. Em fevereiro deste ano, o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, anunciou um contingenciamento de R$ 16,2 bilhões no Orçamento da União. Desses, R$ 477 milhões seriam destinados ao investimento na ciência.

Esses cortes devem ser apenas uma amostra do que nos aguarda caso a regra do Teto de Gastos não seja revista. Essa mudança constitucional limitou o aumento dos gastos públicos à variação da inflação por duas décadas. Ou seja, ao longo de 20 anos, o governo brasileiro não poderá investir valores acima da inflação em saúde e educação, por exemplo.

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“Quem faz pesquisa é vagabundo que só quer estudar”

Essa frase apareceu no Twitter. E pensar que tudo o que a gente ouvia na infância era a mãe mandando a gente estudar. Agora virou coisa feia. Eu já ouvi coisas do tipo algumas vezes. Estou no último ano do Doutorado em Ciências Sociais e, certa vez, um cidadão disse que doutorado em humanas até orangotango fazia. Achei simpático. Estranhamente, a atividade de pesquisador não é vista com bons olhos por parte da sociedade brasileira, que não vê a função como um “trabalho de verdade.” Isso tem um reflexo direto na forma como a pesquisa é conduzia no país e, consequentemente, no lento desenvolvimento do Brasil, que perde grandes mentes para polos internacionais de pesquisa como Estados Unidos, Alemanha e China.

O Instituto de Estatística da Unesco tem um projeto em que é possível acompanhar os investimentos – públicos e privados – de cada país com Pesquisa e Desenvolvimento. Cerca de dez países são responsáveis por 80% dos gastos – o Brasil não é um deles, como se pode ver abaixo.

O nosso caminho é longo e tudo indica que não será encurtado em um futuro próximo. Enquanto há quem pense que “quem faz pesquisa é vagabundo que só quer estudar” (?) , o grande florão da América vai ficando para trás.

Igor Natusch

No fundo, Michel Temer sabe que não melhorou

Igor Natusch
24 de maio de 2018
O presidente Michel Temer participa do evento Governo Digital: Rumo a um Brasil Eficiente, no Palácio do Planalto.

O governo de Michel Temer tem utilizado, desde o início, um discurso bem menos de convencimento e muito mais de construção de realidade. Nas falas e nos materiais de divulgação, os últimos dois anos foram uma sequência gloriosa de sucessos, onde tudo melhora a olhos vistos e os olhos que não enxergam, bem, estão com má vontade e não querem enxergar. Trata-se de uma variação da profecia auto-realizável: o elogio auto-confirmatório, que se legitima até mesmo a partir da rejeição dos demais. Uma auto-estima daquelas, vamos combinar.

O problema, por óbvio, é que os acontecimentos nem sempre se moldam tão bem assim ao discurso.

A crise envolvendo a escalada quase diária do preço dos combustíveis (e que resultou numa greve-locaute que já coloca alguma das principais cidades brasileiras em animação suspensa) é, com todas as suas particularidades, mais um sintoma dessa divergência entre argumento e prática. Qualquer um que, ontem, usasse as ferramentas de pesquisa do Twitter poderia ver a hashtag #avançamos – incentivada pelo governo federal como forma de espalhar sua mensagem de quase euforia – lado a lado com notícias cada vez mais alarmantes de rodovias bloqueadas, transportes entrando em colapso por falta de combustível, postos de gasolina elevando preços a valores próximos dos R$ 10. Uma incongruência que chegava a ser tragicômica, com ênfase no trágico.

Em termos de prática política, Michel Temer faz um governo velho, muito velho. Submeteu o país à própria salvação política, em uma farra de emendas parlamentares totalmente contrária ao discurso pretensamente austero de colocar das contas públicas nos eixos. Promoveu, a toque de caixa, uma reforma trabalhista totalmente submissa aos interesses dos grandes detentores de capital, acelerando e multiplicando uma fragmentação/precarização das forças de trabalho que não tem (e nem parece disposto a ter) nenhum plano para minimizar. Assinou, por impulso e desespero político, uma intervenção na segurança do Rio de Janeiro que só trouxe incerteza e mais insegurança, com direito ao revoltante assassinato de uma vereadora no meio da rua. Apega-se a indicadores econômicos imprecisos para enxergar o copo sempre meio cheio, quase transbordando na verdade, e exaltar a chama da recuperação onde se pode ver, no máximo, uma fumacinha. E fala dessas coisas ao país como se fosse fácil iludir as massas ignorantes, sem dinheiro no bolso, trabalhando em condições cada vez piores, com angústia e medo do futuro. Ou como se a opinião delas simplesmente não tivesse qualquer importância.

Queria reeleger-se, Michel Temer. Tão embevecido estava com as próprias histórias gloriosas, e tão temeroso se encontra das consequências de ficar sem cargo eletivo, que achou que poderia reeleger-se. E externou esse desejo, conseguindo gerar apenas um dos mais inusitados casos de vergonha alheia do recente cenário político brasileira.

No fundo, Michel Temer sabe que quase nada melhorou coisíssima nenhuma, mas foi na repetição de ilusões e discursos vazios que sua gestão construiu seu quebradiço castelo, e a ela pretende apegar-se até o fim. Pela manhã, seu fiel escudeiro Carlos Marun criticava a imprensa por assumir que Temer desistiria de ser candidato; à tarde, o próprio ex-vice anunciava que estava abrindo caminho para Henrique Meirelles, que deve ser o nome do MDB na eleição que, ao que parece, se avizinha. Um auto-engano, diga-se, ao qual a própria legenda não se constrange em recorrer: depois de conseguir, com surpreendente sucesso, fingir que não tinha nada a ver com o governo petista ao qual se aliou durante anos a fio e no qual ocupou inúmeros ministérios, agora corrige a má imagem tirando uma letrinha da sigla, como o cidadão que tinge o cabelo e acha que voltou a ser jovem por passe de mágica.

Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Geórgia Santos

Em nome do povo brasileiro, não

Geórgia Santos
26 de outubro de 2017

A Câmara dos Deputados rejeitou, na noite passada (25), a segunda denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Michel Temer (PMDB). Desta vez, o presidente foi acusado de corrupção, organização criminosa e obstrução da justiça. Foram 251 votos a favor do relatório da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que recomendava o arquivamento da denúncia. Outros 233 votaram pelo prosseguimento das investigações, dois se abstiveram e 25 não compareceram.

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Os indícios contra Temer são mais do que robustos, especialmente após gravação em que o atual presidente negocia subornos com o dono da JBS, Joesley Batista

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Mas gravação nenhuma foi suficiente para abalar o poder de Michel Temer, que apesar de ter perdido parte do apoio, segue firme no Palácio do Planalto. Essa força surpreende inclusive a imprensa internacional. O jornal britânico The Guardian publicou, na semana passada, uma reportagem em que questiona os motivos que fazem com que ele permaneça presidente. Afinal, mesmo com sinais de recuperação econômica, o custo social das reformas é bastante alto – sem falar na portaria do trabalho escravo.

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Em nome do povo brasileiro, não

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Às vésperas da votação, o governo federal liberou o dobro de emendas em comparação com os meses anteriores. Como se não bastasse, o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), um dos homens da tropa de choque de Temer, foi flagrado com uma planilha intitulada “Propostas do Ministério da Agricultura” em que constam os campos “município”, “órgão”, “objeto” e “valor”. O parlamentar analisava a planilha, com uma caneta na mão, ao mesmo tempo em que conferia as presenças no painel de votação. Enquanto há suspeitas de que o repasse esteja associado à votação, Perondi garantiu ao portal GaúchaZH que eram demandas de prefeitos. O modus operandi, porém, não é novidade. Na ocasião da votação da primeira denúncia, o Planalto liberou mais de R$ 1 bilhão.

O que impressiona é a distância entre o a realidade e o discurso dos deputados. Mesmo que 97% da população desaprove o governo Temer, os parlamentares insistem em dizer que votam em nome do povo brasileiro. Abaixo, veja algumas das justificativas dos deputados que votaram a favor do presidente:

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“O presidente precisa responder à justiça, mas não agora”

(Domingos Sávio, PSDB-MG)

“Para que o país volte a ter paz”

(Heráclito Fortes, PSB-PI)

“Deixem o homem trabalhar”

(Wladimir Costa, SD-PA)

“Voto pela retomada econômica”

(João Carlos Bacelar, PR-BA)

“A favor do Brasil que dá certo”

(Alceu Moreira, PMDB-RS)

“Quadrilha organizada é do PT e os puxadinhos dali, voto sim”

(Laerte Bessa, PR-DF)

“Essa denúncia é frágil, inapta, pior do que a primeira. Voto com consciência de que o direito tem que ser preservado”

(Celso Russomano, PRB-SP)

“Perguntei aos meus seguidores quem eles gostariam que investigasse Temer, o Supremo Tribunal Federal ou o juiz Sérgio Moro. Pediram Moro. E pra o juiz Sérgio Moro julgá-lo, só em primeiro de janeiro de 2019”

(Marco Feliciano, PSC-SP)

“Quem quebrou o país foi o PT, e o Temer esta tentando recuperá-lo”

(Renato Molling, PP-RS)

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Mas não, não foi em nome do povo brasileiro, foi em nome de um projeto de governo que se solidifica com o arquivamento da denúncia. Além de estabilizar a relação do Planalto com a base, mesmo que ela precise ser alimentada com frequencia. E enquanto Temer alimenta os aliados, a falta de confiança do povo alimenta a gana por soluções autoritárias – algo que pode trazer graves consequências no próximo ano.

Foto: Beto Barata/PR

ECOO

Temer é o enfisema do mundo?

Geórgia Santos
27 de agosto de 2017

Sempre achei bonita a noção que aprendi na escola quando era menina, a de que a Amazônia é o pulmão do mundo. Nela está embutida uma responsabilidade pela nossa existência. Nós, brasileiros, somos diretamente responsáveis pela manutenção deste espaço sagrado, crucial para a continuidade do planeta como o conhecemos. Mas se a Amazônia é o pulmão do mundo, seria Michel Temer o enfisema?

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Se Temer é o enfisema do mundo, não sei.

Mas certamente não é o oxigênio

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Temer assinou decreto na última quarta-feira, 23, extinguindo a Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca), na Amazônia. Publicado no Diário Oficial da União no dia seguinte, 24, o decreto permite que uma área de 46 mil quilômetros quadrados seja explorada pela iniciativa privada. A área, maior que a extensão da Dinamarca, estava protegida desde 1984 e é rica em cobre e outros minerais.

Tudo isso foi feito sem aviso, explicação ou discussão e surpreendeu a muita gente. Tanto que a atitude de Temer foi notícia não apenas no Brasil, mas nos principais jornais internacionais em manchetes temerosas (sem trocadilho, juro). Em entrevista à BBC, o engenheiro Bruno Milanez, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora e membro do Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, que reúne 110 ONGs, sindicatos e movimentos sociais, disse que não houve qualquer comunicado.

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Mas alguém sabia

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A mesma reportagem da BBC mostra que, há cinco meses, o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, anunciou a empresários canadenses que essa área de preservação da Amazônia seria extinta que a exploração seria leiloada a empresas do setor privado. Raul Seixas alertou que a solução poderia ser alugar o Brasil, mas o nosso estimado governante a está vendendo, mesmo.

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Enquanto isso, nosso meio ambiente respira por aparelhos

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Foi preciso uma crítica da modelo Gisele Bundchen para que o governo federal se dignasse a emitir um comunicado. Mas que comunicado bem mequetrefe.

“A Renca não é um paraíso, como querem fazer parecer, erroneamente, alguns. Hoje, infelizmente, territórios da Renca original estão submetidos à degradação provocada pelo garimpo clandestino de ouro, que, além de espoliar as riquezas nacionais, destrói a natureza e polui os cursos d ‘água com mercúrio.”

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Ora, se há territórios degradados em função do garimpo clandestino, a solução é aumentar a proteção. Certo?

Não, a grande ideia de Temer é legalizar a exploração

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Não é a primeira vez que esse governo age desse forma. Há um mês, foi retirada a proteção da Floresta Nacional do Jamanxim. E a lógica (ou falta de) daquela decisão é similar a esta. Para evitar o DESMATAMENTO ILEGAL, o governo resolveu retirar a proteção que impede o desmatamento. Logo, o desmatamento passa a ser LEGAL e o conflito deixa de existir.

Se depois dessas Temer não é o enfisema do mundo é, no mínimo, um cigarrinho. Mas a gente não desiste.

Foto/arte: Greenpeace Brasil, www.todospelaamazonia.org.br